sábado, 31 de março de 2007

O SERIDÓ SOMOS NÓS
Para Oswaldo Lamartine de Faria


Nossas águas, nossas oiticicas, nossos sonhos – o Seridó somos nós.
Nossos sertões, nossas canjicas, nossas alegrias – nós somos o Seridó.
Nossos aboios, nossas gentes, nossas quimeras – o Seridó somos nós.

Nós somos o Sertão, mesmo quando somos Pirapora Natal e Olinda.
Mesmo quando somos o Fluminense, o Flamengo, o ABC e o América.
Porque somos a chuva, o relampo, o trovão, o rio de barreira a barreira.

Porque somos nossas cruvianas, nossas virações, nossos horizontes.
Porque somos: Caicó Cruzeta Acari Ouro Branco e Jardim do Seridó.
Carnaúba Parelhas São José Currais Novos e Timbaúba. Porque somos.

O Seridó em todos nós: Serra Negra do Norte Jucurutu serrote solidão.
O ambó o barreiro o açudeco o açude o Itans o boi a boiada e o boiadeiro.
A caatinga o caatingueiro o chapéu-de-sol o chapéu-de-couro. E o sertão.

O Seridó somos nós. Nós somos o Seridó, capelas santanas e vaqueiros.

Moacy Cirne


BALAIO PORRETA 1986
nº 1985
Rio, 31 de março de 2007


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (9/111)

Sertões do Seridó, de Oswaldo Lamartine de Faria. Brasília: Senado Federal, 1980, 232p. [] Reunião de cinco pequenas obras do Autor: Açudes dos sertões do Seridó, Conservação de alimentos nos sertões do Seridó, Algumas abelhas dos sertões, ABC da pescaria de açude no Seridó e A caça nos sertões do Seridó. Louve-se, em Oswaldo Lamartine, o estilo ágil e deliciosamente fluente, a pesquisa etnográfica, a vivência nordestina, o saber sertanejo. Um escritor como poucos em nosso país: a escrita sensível a serviço da informação humanística e de uma certa sociologia da leitura comprometida com a aventura do Homem em toda a sua plenitude social, cultural, religiosa, mística. E seridoense, acima de tudo, em nosso caso particular.

Ensaio sobre a noção de profundidade na música, de Eric Rohmer. Trad. Leda Tenório da Motta & Arthur Nestrovski. Rio de Janeiro: Imago, 1997, 240p. [] Rohmer não é apenas um cineasta rigoroso, é também um ouvinte consciente e intelectualmente preparado para as aventuras criadoras da música erudita. O subtítulo da obra é bastante sintomático: Mozart em Beethoven. Afinal, o que seria da humanidade sem música, poesia, literatura, pintura, teatro, escultura, arquitetura, quadrinhos, cinema e a paixão que nos move em direção ao saber e à consciência crítica? "Eu não diria que Mozart, para mim, é o maior dos músicos: Bach e Beethoven ficam na mesma altura. Mas é o mais profundo" (p.21).

A vontade radical, de Susan Sontag. Trad. João Roberto Martins Filho. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, 262p. [] Coletânea de ensaios de alto nível político e literário, publicada originalmente nos Estados Unidos em 1969. Em destaque: A imaginação pornográfica; Persona, de Bergman; Godard; O que está acontecendo na América (1966). Quando o lemos pela primeira vez, em 1987, ficamos entusiasmados com a sua clareza crítica. E com a sua agudeza ensaística. Sontag nos mostra que é possível pensar criticamente a realidade sem que recorramos ao formalismo barato de muitos. O saber militante passa necessariamente pelo conhecimento ontológico: o mundo que nos cerca é muito mais complexo do que aparenta ser.

Aventuras de Alice no País das Maravilhas [1865] & Através do espelho 1872] /Edição comentada/, de Lewis Carroll. Trad. Maria Luiza Borges; ilust. John Tenniel; int. & notas Martin Gardner. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002, 303p. [] Embora prefiramos as traduções de Sebastião Uchoa Leite, publicadas antes, esta edição é primorosa, seja pelo acabamento gráfico, seja pelas ilustrações de Tenniel ou pelas notas de Gardner. E os dois títulos, aqui reunidos no mesmo volume, e que se completam esteticamente, são clássicos inegáveis da literatura mundial. O seu lado fantástico, extremamente criativo, extrapola possíveis conotações psigológicas que, infelizmente, poderiam tornar duvidoso o legado humanístico do autor.

Notas sobre o cinematógrafo, de Robert Bresson. São Paulo: Iluminuras, 2005, 143p. [] Breves anotações, feitas por um grande diretor, de 1950-58 e 1960-74 e que são importantes para uma melhor compreensão do sistema cinematográfico que o alimenta formalmente. Exemplos: "Opor ao relevo do teatro a superfície lisa do cinematógrafo" (p.27); "Tenha certeza de ter esgotado tudo o que se comunica pela imobilidade e pelo silêncio" (p.29); "O cinema sonoro inventou o silêncio" (p.42); "Um som não deve jamais socorrer uma imagem, nem uma imagem socorrer um som" (p.52); "Traduzir o vento invisível através da água que ele esculpe passando" (p.62); "O verdadeiro é inimitável, o falso imutável" (p.67).

As crônicas marcianas [1950], de Ray Bradbury. Trad. José Sanz. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980, 212p. [] Se fôssemos apontar os melhores relatos ficcionais americanos de todos os tempos, decerto o livro de Bradbury (contos que se relacionam romanescamente) ocuparia um lugar especial. Nunca a ficção científica, antes ou depois, atingiu uma plenitude poética tão esplendorosa quanto aqui. Quando o lemos pela primeira vez, no final dos anos 60, ficamos fascinados: seja por sua imaginação criadora, seja por seus delírios humanísticos, seja por suas possibilidades temáticas. Aqueles que acreditam que a FC se resume em guerras interplanetárias, em robôs assassinos, em aventuras espaciais, só conhecem uma pequena parte de seu universo ficcional. Alguns dos melhores capítulos/contos: Os homens da Terra, A terceira expedição, A manhã verde, Encontro noturno, O marciano.

A guerra dos mundos [1898], de H.G. Wells. Trad. Raul de Sá Barbosa. Ilust. Alvim Corrêa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981, 248p. [] Ficção científica antes da ficção científica (enquanto gênero formalmente constituído), este é um livro antenado com seu tempo, tempo esse que acreditava em suas descobertas, em seus avanços tecnológicos, em sua racionalidade quase religiosa. Mas que, para alguns, como Wells, terminou sendo um tempo apropriado para se pensar o pessimismo de modo abrasador, cujas incertezas filosóficas (que não se inscreviam no âmbito do materialismo dialético) entravam em choque com as certezas políticas voltadas para o sonho e para a utopia. Aliás, a ficção científica formou-se a partir de três vertentes básicas, ora literárias, ora filosóficas: o sentido do maravilhoso, o espírito de aventura e a possibilidade da utopia. De qualquer maneira, este é um livro que coloca a imaginação em primeiro plano, cujo tecido textual se constrói a serviço da boa literatura. Até mesmo uma suposta invasão de marcianos não se resumia à invasão em si: o seu simbolismo refletia uma nova maneira de olhar o mundo. Sem dúvida, estamos diante de um belo livro, aqui, como álbum, enriquecido pelas ilustrações do brasileiro Alvim Corrêa, que datam do início do século XX, fazendo com que essa seja uma edição preciosa. Bela e preciosa. Há que registrar que Alvim Corrêa fez mais pela visualização onírico-especulativa do livro de H.G. Wells do que todo o cinema que o adaptou até agora. Mesmo em relação aos quadrinhos, não conhecemos nada tão poético e fascinante, em sendo penumbroso, quanto os desenhos de Alvim Corrêa.

Quadrinhos em fúria, de Luiz Gê. São Paulo: Circo Editorial, 1984, 88p. [] As histórias-em-quadrinhos de Luiz Gê, desde os tempos heróicos da nanica Balão, nos anos 70 do século passado, são o melhor exemplo da pujança criativa do nosso grafismo seqüencial. Produzidas durante o mais duro período da ditadura militar que procurou nos arruinar, política e ideologicamente, as historinhas aqui republicadas sintetizam o que existe de mais instigante no quadrim tupiniquim: crítica e metacrítica, visão e cosmovisão, tesão e tensão, amor e humor, arte e artimanha, poética e política. Reproduzimos, a seguir, o que escrevemos para este álbum: "O quadrinho realista brasileiro, em sua vertente estilizada, tem momentos de raro fulgor gráfico, narrativo e semântico-temático na produção do paulista Luiz Gê, um dos (poucos) nomes ímpares de nossa 'banda desenhada'. Desde 1972, quando surgiu na paulicéia tresvairada, a revista Balão, de instigantes propostas alternativas, Luiz Gê tem-se destacado como um autor de exemplar modernidade. A arte de Luiz Ge é uma arte radicalmente nova, inserida no interior da própria radicalidade quadrinhística, à margem da indústria cultural. É assim que ela é moderna: nas alegorias, no simbolismo, na estesia gráfica. Assim é a obra-em-progresso que figura na primeira linha do quadrim tupiniquim, como se fora uma geometria do desejo gráfico, 'uma faca só lâmina', sem as facilidades de um certo escrachamento simplista que muitas vezes domina os caminhos humorístico-caricaturais de nossos quadrinhos. A porrada (gráfica) de Luiz Gê tem outra direção, outra voltagem".

sexta-feira, 30 de março de 2007

CONTOS DE
ROSA AMANDA STRAUSZ
(RJ)

Quase erótico

Tinha dedos ásperos e mãos enormes, pacientes. Eram capazes de rastejar entre vestidos e lençóis infinitas vezes até se enroscarem em torno de um seio ou dentro de uma cavidade escorregadia. Não importava quais. Sempre encontrou o caminho. Jamais o sentido.

A pedra

É preciso remover montanhas. Digo mais: é preciso fazê-lo sem fé. Arrojar-se com o pavor maravilhado de um ocidental que morda peixes crus.
Ele fazia isto a cada dia. Só pela urgência, tão maior que uma montanha sem religiosidade alguma. Por isso eu o amava. Embora também eu não passasse de um pedaço de cordilheira, à espera da imobilidade no eterno abraço da remoção.

Conto colorido

Quando lhe perguntaram o que queria ser quando crescesse, não vacilou: televisão.

[ in Mínimo múltiplo comum. Rio: José Olympio, 1990 ]


BALAIO PORRETA 1986

nº 1984
Rio, 30 de março de 2007


Cinema
UMA OBRA-PRIMA NA CIDADE

Fato raro no Rio: uma obra-prima do genial John Cassavetes em cartaz. Trata-se de Uma mulher sob influência, em exibição a partir de hoje no Estação Botafogo, sala 1. O ótimo crítico Ruy Gardnier acertou em cheio ao escrever hoje n'O Globo: "A ele [Cassavetes] pouco interessava o preciosismo do cinema bem-feito. O mais importante era que cada imagem vibrasse, tivesse uma energia transbordante que explodisse direto no espectador. O cinema só interessava como força viva./ 'A woman under the influence' (no original), feito em 1974, é um de seus melhores filmes, e de quebra é também uma das maiores atuações da história do cinema. Gena Rowlands vive uma mulher com problemas psicológicos, alternando momentos de euforia e depressão. No entanto, o importante para o filme não é estabelecer limites entre a loucura e a sanidade, e sim mostrar como o comportamento excessivo nasce de um excedente de vontade de viver, de carinho, de amor". Perfeito... Enquanto isso, já nos programamos para revê-lo uma, duas, três ou mais vezes...


Memória
COMO SE PEDIA UMA BEBIDA NO RIO POR VOLTA DE 1900


Cachaça : Água de Nossa Senhora; Branquinha; Agüinha; Parati
Cerveja : Virgem Loira
Uísque : Cavalinho
Absinto : Prêmio-do-Céu
Vinho : Vinho [e ponto final].

[ in O Rio de Janeiro do meu tempo, de Luís Edmundo ]


GLOSSÁRIO CARIOCA DOS ANOS 10 E 20 DO SÉCULO PASSADO

Adufe : Espécie de pandeiro quadrado
Capitoso : Que embriaga, entontece
Chelpa : Dinheiro
Chufa : Caçoada, troça
Conventilho : Prostíbulo, puteiro
Dédalo : Cruzamento, encruzilhada
Dichote : Gracejo, zombaria
Esbórnia : Orgia, farra
Fine : Aguardente natural
Fúfia : Mulher desprezível
Gravateiro : Ladrão que ataca a vítima pela garganta
Latagão : Homem robusto e de grande estatura
Marçano : Aprendiz de caixeiro; p. ext., aprendiz, principiante
Misógino : O que tem aversão às mulheres
Montra : Vitrine comercial
Pornéia : Libertinagem, devassidão
Pulcro : Gentil, belo
Quizília : Aborrecimento, impaciência
Redoute : Festa, baile
Retacado : Indivíduo baixo e atarracado
Sigisbéu : Aquele que corteja com assiduidade uma mulher
Tavolagem : O vício de jogar
Tricana : Moça do povo ou do campo
Triques : Vestido com apuro, elegante
Zabumbar : Atordoar, aturdir

[ Fonte: A mulher e os espelhos (1919), de João do Rio ]


GLOSSÁRIO CARIOCA DOS ANOS 30 E 40 DO SÉCULO PASSADO

Abafante : Pessoa que encanta pelos predicados físicos
Atrasado : Carente de relações sexuais
Babaca : Vagina
Baile : Discussão acalorada
Bate-fundo : Briga
Brasileira : Tuberculose
Cabaçuda : Mulher virgem
Circuncisfláutico : Posudo
Estácio : Tolo, palerma
Flozô : Fazer-se de difícil
Fruta : Pederasta passivo
Gado : Prostituta
Leros : Palavrório, lengalenga
Minete : Sexo oral em mulher
Neruscóide de pitibiróides : Nada de nada; o mesmo que néris de pitibiriba
Pau pequeno : Caixa de fósforos pequena
Peru : Vinte mil réis
Piçuda : Irritada, furiosa
Pirantes : Os pés
Quirica : Vagina
Solinjada : Navalhada (da navalha da marca Solingen)
Tiragem : Grupo de policiais
Veado : Pederasta passivo
Vê-oito : Calcinha de mulher

[ Fonte: Desabrigo e outros trecos (1943), de Antônio Fraga ]


SOBRE OSWALDO LAMARTINE DE FARIA:

"O último umbuzeiro do sertão potiguar secou. Não teve água que desse jeito" (Rafael Duarte e Tádzio França, na Tribuna do Norte de hoje).

quinta-feira, 29 de março de 2007

BALAIO PORRETA EXTRA


A MORTE DE UM ESCRITOR

O Balaio está de luto. Os nordestinos estão de luto. Perdemos um irmão sertanejo. Faleceu hoje, de manhã cedo, em Natal, beirando os 88 anos, "sobejo da seca de 1919", um dos maiores escritores do Rio Grande do Norte e do Nordeste: Oswaldo Lamartine de Faria. Nossa admiração por sua obra de etnógrafo e pesquisador das coisas do sertão sempre foi ressaltada. Entre seus livros, verdadeiras jóias do pensamento seridoense-potiguar, figuram Notas sobre a pescaria de açudes no Seridó (1950), A caça nos sertões do Seridó (1961), Vocabulário do criatório norte-rio-grandense (1966, em co-autoria), Encouramento e arreios do vaqueiro no Seridó (1969), Apontamentos sobre a faca de ponta (1988), Em alpendres d'Acauã; conversa com Oswaldo Lamartine de Faria (org. Natércia Campos, 2001).

O Brasil está de luto. "Conheci Oswaldo Lamartine quando começava a escrever o Memorial de Maria Moura, no início de 1990. E eis que surge aquele anjo magro, só querendo falar das coisas que ambos gostávamos - quer dizer do sertão. Hoje meu amigo, meu irmão, Oswaldo Lamartine. Acho que, no Brasil, ninguém entende mais do sertão e do Nordeste do que Oswaldo" (Rachel de Queiroz, in Em alpendres d'Acauã).

Em Oswaldo Lamartine, o cheiro da terra depois das primeiras chuvas dos invernos, os açudes de ontem e de sempre, os aboios pungentes e o sertão em total plenitude azulácea são a mais pura poesia da expressão seridoense-potiguar-nordestina. Em Oswaldo Lamartine (e poucos outros), o Rio Grande do Norte se faz Literatura. Assim sendo, em sua homenagem, mais do que justa, mais do que emocionada, passaremos boa parte da tarde/noite de hoje relendo algumas de suas mais vibrantes páginas.

De OSWALDO LAMARTINE DE FARIA:

"Os meus rastros são os meus livros. É que o sertão é mais que uma região fisiográfica. Além da terra, das plantas, dos bichos e do bicho-homem - tem o seu viver, os seus cheiros, cores e ruídos. O cheiro da água que nos desertos também cheira. O da terra molhada, do curral, da lenha queimada e de cada flor. O belo-horrível-cinzento dos chãos esturricados, o 'arrepio-verde' da babugem, a explosão em ouro das craibeiras em flor. Os ruídos dos ventos, das goteiras, do armador das redes, o balido das ovelhas, o canto do galo, o estalo do chicote dos matutos, o ganido dos cachorros em noite de lua, os tetéus, o dueto das casacas de couro, os gritos do socó a martelar silêncios, os aboios, o bater dos chocalhos, o mugido do gado e tantos outros que ferem nas ouças da saudade" (Em alpendres d'Acauã, p.10).

POEMAS DE
SÉRGIO DE CASTRO PINTO
(PB)


escrever/não escrever

escrever é um suicídio branco.
um consumir-se
no fogo brando das palavras.

não escrever, um suicídio em branco.
um consumar-se sem metáforas.


recado a pound

pound, eu não sou
nenhuma antena.

eu sou a pane e a interferência
dos meus fantasmas

no tubo de imagens dos poemas.

[in O cerco da memória. João Pessoa, 1993 ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 1983
Rio, 29 de março de 2007



CARTAMAIOR, um saite a serviço da informação democrática, contra o pensamento globalpefelista, está precisando do apoio de seus admiradores. Como fazê-lo? Simplesmente acessando-o, e se possível assinando-o (gratuitamente), para que a média de leitores diários atinja a cota mínima exigida por seus patrocinadores. Considerando que se trata de um saite-portal bastante sério, bastante criterioso, vale a pena prestigiá-lo.


TRÊS POEMAS
de CHICO DOIDO DE CAICÓ (1922-1991)


( * )

Minas Gerais gerais
De lugares comuns alterosos
Minas onde viveu Zé Bezerra Gomes
Escrevendo romances
Queimando versos
E trepando feito um doido
Minas, o povo de Minas,
Nunca vi um povo tão mineiro.

( ** )

Gosto de mulher de tudo que é jeito
Até das muito bonitas
Que não sabem foder muito bem
E até mesmo daquelas
Que nunca deram o xibiu
Para o meu consumo.

( *** )

Uma talagada de cana
Uma amizade bacana
Uma buceta sacana
Pra que mais?
Pra que mais?
Uma poesia carnuda
Uma palavra cabeluda
Uma jovem bucetuda
Pra que mais?
Pra que mais?


CURIOSIDADE FUTEBOLÍSTICA

Vocês sabem por que o músico João Bosco é flamenguista, embora seu pai, amigo do grande Castilho, fosse tricolor? Simplesmente porque, ainda pré-adolescente, era fanático por Elvis Presley. E daí?, indagarão nossos amigos e amigas. Acontece que Dida, excepcional atacante rubro-negro dos anos 50, pelo menos para ele era a cara do Elvis, com o mesmo tipo de cabelo e tudo o mais. E se o cantor americano "jogava" no Flamengo, nada mais justo que, em homenagem ao seu ídolo, passasse a torcer pelo clube da Gávea. (Cf. entrevista com João Bosco no Buteco do Edu.)

quarta-feira, 28 de março de 2007

POEMV AZUL
para ser mastigado
ao som de
Tom Zé.
Ou de Hermeto.

(Moacy Cirne,
poema/processo,
projeto inaugural: 1998)


BALAIO PORRETA 1986
nº 1982
Rio, 28 de março de 2007



É Tudo Verdade 2007
MAIS KIESLOWSKI
Ontem, no CCBB (Rio)


** /Ótimo/:
Eu era um soldado (c-d: Titkow, 1970), curta
* /Bom/:
O escritório (1966), curta
# /Interessantes/:
O bonde (1966), curta
Concerto dos desejos (1967), curta
Da cidade de Lodz (1969), curta


UMA PIADA
Virgindade 2005


Primeira noite de um par recém-casado.
Quando vão para a cama, a moça diz ao rapaz:
-- Sabe, amor, eu não disse a você,
mas eu não sei fazer nada de nada.
-- Não se preocupe, minha linda. Você tira a roupa
e deita sobre a cama, abre as pernas
e deixa que eu faço o resto.
E ela, muito meigamente, responde:
-- Não! Trepar, eu trepo bem pra caralho.
O que eu não sei é lavar, passar, cozinhar...

[ in Contravento, de Acir Vidal ]


Repeteco
Humor via internet, através de uma amiga cearense
QUANDO OS CEARENSES DOMINAREM O MUNDO!
( Autoria anônima )


Todo mundo sabe que os cearenses estão por toda parte.

Em geral, o cearense é aquele sujeito baixinho que é o guardador de carro em São Paulo, o chef de um restaurante da Madison em Nova York ou o designer que bolou o logo da Eurocopa em Portugal. O que pouca gente sabe é que na verdade isso é uma bem arquitetada jogada que visa plantar gente nossa em postos-chave da administração mundial. Quando estivermos prontos, será deflagrada a grande tomada de poder e meu conselho é que você fique imediatamente amigo ou amante de um cearense, pois sabe como é: pros amigos tudo, para os inimigos, a lei!

Tomaremos o poder a partir de uma senha preestabelecida, que só um cearense saberá o significado oculto. Ao berros de Queima Raparigal! as hostes de cabeças-chatas invadirão os parlamentos e palácios e todos os jornais e as redes de tv do mundo ocidental e oriental.

Ninguém desconfiaria que Juvêncio Araripe, humilde faxineiro da CNN, na verdade é um professor do LIA, que rapidamente conectará a rede de Atlanta para nossos propósitos.

Elegeremos um papa cearense, Raimundo I, que canonizará Padre Cícero e determinará que daí por diante em todas as igrejas católicas a hóstia seja feita com macaxeira. Essa simples bula papal fará com que a economia do Ceará dê um salto. O único problema é achar uma mitra que caiba na cabeça do papa, mas nós cearenses sabemos improvisar: Raimundo I usará uma fronha de travesseiro enquanto não se encomenda outra.

A Literatura de Cordel ganhará status de arte maior, e Clodoaldo Mastrúcio ganhará o Nobel de Literatura com seu livrinho A moça que engravidou do cavalo e a besta da sua mãe. Polidamente, Clodoaldo recusará as coroas suecas, alegando que gosta mesmo é de uma bichinha mais nova. Aí explicarão o mal entendido e ele vai aceitar a grana numa boa. Nas artes plásticas, os desenhos com areia colorida irão ocupar alas e alas do Louvre. Para arranjar espaço para as garrafinhas de areia colorida, todas aquelas velharias do Turner e do Delacroix serão levadas para decorar a salinha do faxineiro ou serão jogadas no Sena. Menos a Monalisa, pois na avaliação de Serotônio Macêdo, novo curador do museu, ela é uma caboca danada de aprumada.

O novo secretário geral da ONU será Severino Cavalcante - nenhum parentesco, mas a cara é igualzinha -, que resolverá o conflito Israel/Palestina doando vastas extensões do sertão cearense pros brigões. A ata de doação será concisa e formal. Nas suas palavras: "Olha, bando de mulambeiros, a terra é seca do mesmo jeito e o mar é da mesma cor. Deixa de frescura que vocês nem vão notar a diferença e o Ceará ainda é maior que aquela tripinha de Gaza."

A música cearense tomará o planeta. Numa revanche histórica, teremos as categorias de música anglo-saxã e artista bretão no Grammy, para dar uma chance a esses aculturados, já que nossa música será hegemônica. O mesmo se dará com o Oscar (que passará a se chamar Oscarito, numa concessão que faremos a um grande cômico do sul do país). Bolaremos uma categoria que premiará o melhor filme de cangaço, melhor cena de amor numa jangada e melhor mocotó, dado para as atrizes mais pernudas. Para apresentar o Oscar, nada de Jon Stewart! Tiririca será o escolhido e Didi Mocó destronará Chaplin como ícone da comédia.

O rodeio será substituído pela Vaquejada, a coca-cola pela água de coco, Ipanema por Jericoacoara, chiclete por banana, Trafalgar Square pela Praça do Ferreira, Gandhi por Antônio Conselheiro, Átila por Virgulino Ferreira, Dick Cheney por Tasso; e por aí vai. Destruiremos Brasília e em seu lugar abriremos um depósito de lixo atômico. A Nova capital do mundo ainda será Nova York, mas a gente vai rebatizá-la de Nova Quixeramobim e vamos trocar aquela estátua cafona por uma enorme gostosona de biquini, bem feminina, bem cearense. Em todo o globo, os MacDonalds passarão a ter novo nome: MacQuixadá, cuja principal especialidade será hambúrger à base de rapadura.

Não vejo como o plano possa falhar, pois cada vez mais nossos agentes se espalham pelo Brasil e pelo mundo todo. Só nos resta esperar, numa rede... para fazer inveja aos baianos.

terça-feira, 27 de março de 2007

No Cais Natal de Ponta Negra
(para Márcia Philgueira,
Luciana Maria,
Iara Maria, Ana Lúcia
e Maria Elina)

[ in A Taberna ]

o mar à noite
me revela profunda beleza
e um apelo céltico à esperança...

o mar à noite
me entrega a sensação
de que
de alguma forma
sou imortal.

Wescley J. Gama (Currais Novos, RN)


BALAIO PORRETA 1986
Nº 1981
Rio, 27 de março de 2007


É tudo verdade 2007
OS DOCUMENTÁRIOS DE KRZYSTOF KIESLOWSKI
No Cinema Odeon (Cinelândia, Rio), em três sessões consecutivas:

** /Ótimos/:
Primeiro amor (1974), média
Curriculum vitae (1975), média
Cabeças falantes (1980), curta
O ponto de vista de um guarda noturno (1977), curta

* /Bons/:
Raio X (1974), curta
Pedreiro (1973), curta
A fábrica (1971), curta

# /Interessantes/:
Estação (1980), curta
Sete mulheres de idades distintas (1978), curta
Refrão (1972), curta
Hospital (1976), curta

º /Decepcionante/:
Claquete (1976), curta

"O documentário, já esgotado e destruído por sua linguagem, deve chegar ao real, e encontrar nele dramaturgia, ação e estilo. Deve criar uma nova linguagem resultante de um registro da realidade mais preciso do que o existente até agora" (Kieslowski, 1968).

Memória
OS 25 MELHORES FILMES ERÓTICOS DE TODOS OS TEMPOS

Segundo a revista Ele Ela (Rio), de novembro de 1990:

O império dos sentidos (Oshima, 1976)
Os cafajestes (Ruy Guerra, 1962)
Os amantes de Maria (Konchalovski, 1984)
E Deus criou a mulher (Vadim, 1956)
O último tango em Paris (Bertolucci, 1972)
Menina bonita (Malle, 1977)
A dama do lotação (Neville D’Almeida, 1978)
A bela da tarde (Buñuel, 1967)
Dona Flor e seus dois maridos (Bruno Barreto, 1976)
A vergonha da selva (Picha, 1976), animação
Histoire d’O (1975)
O pecado mora ao lado (Wilder, 1955)
Bete Balanço (Lael Rodrigues, 1984)
Calígula (1979)
Eu te amo (Arnaldo Jabor, 1981)
9 e ½ semanas de amor (Lyne, 1986)
Nosferatu, o vampiro da noite (Herzog, 1979)
A menina do lado (Alberto Salva, 1987)
Emmanuelle (Jaeckin, 1974)
O amante de Lady Chaterlley (Jaeckin, 1982)
Amor, estranho amor (Walter Hugo Khoury, 1982)
O ano azul (Sternberg, 1930)
A dama de vermelho (Wilder, 1984)
Crônica do amor louco (Ferreri, 1981)
A mulher do lado (Truffaut, 1981)

Em tempo:
No mesmo número da Ele Ela, Nas graças de Beja, quadrinhos (coloridos) de Ofeliano d’Almeida, tendo como personagem principal – além de Dona Beja – um tal de Moacy Cirne, vivendo uma aventura erótico-delirante nas terras mineiras de Araxá.

segunda-feira, 26 de março de 2007

DO DESEJO

de Hilda Hilst

E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
(Do Desejo, 1992)


BALAIO PORRETA 1986
nº 1980
Rio, 26 de março de 2007

DIARIM DE MARIA BUNITA - I
(Divulgação: Menina Arretada do Seridó)
CAFUNDÓ-DO-JUDAS, 23/03/24 
Meu diarim, hoje eu tô aperriada qui nem a mulesta. 
E além do mais tô de boi. Já viu cuma é tá de boi
dentro
dessas brenha? Num gosto de usar calçola,
mais é o jeito.
Virgulino inté parece qui adivinha
e fica me
azucrinano o dia todo. Só dá vontade de
ficar espichada na baladêra,
vendo os cabra alimpá
as arma e contar os causos.

Onte, Virgulino aproveitô qui eu tô assim nesses dia e
se mandô pra zona de uma tar de Maria Lôra.
Voltô só de
menhazinha. Mais deste tá qui eu ainda furo
os óio dela,
é só passá essa marmota qui eu tô. Tumbém,
num sei pra
quê muié ter chilique todo meis. Tenho inté
TPM. Se arrete
não, diarim, eu isplico. TPM é toda pôrquera
do meis.

Tem mais é qui butá pra fora, né não?

(Continua)
 

DEMOCRATAS, FIDALGOS

E ARISTOCRATAS

O PFL vai mudar de nome. Na ânsia de cair nas graças do populacho, a sigla de Herr Bornhausen, ACM, ACMinho et caterva vai passar a chamar-se Partido Democrata – PD. “Agora vai”, devem ter pensado os pefelês, entusiasmados com a idéia certamente gestada por um marketeiro genial.
No entanto, a coisa começou mal.
Um estraga-prazer, que sempre os há, descobriu que PD é a gíria francesa para pederasta. “Assim não dá! Esse negócio não vai pegar bem!”, resmungaram os liberais, alvoroçados. O marketeiro genial sacou um coelho da cartola: o Partido Democrata não será chamado popularmente de PD, mas apenas de Democrata. Estranho, risível até, mas o marketeiro disse que vai dar certo e com essa gente não se discute.
Quem não gostou foi o Jorjão, membro da turma que freqüenta diuturnamente o Bar do Nereu. Além de faz-tudo, quebra-galho e contumaz barranqueador de éguas, Jorjão também faz parte da ala dos compositores da Sociedade Esportiva Recreativa Democratas do Samba. Ao saber da novidade dos liberais, reclamou:
- Pó, seu Jens, estes caras vão queimar o filme da nossa escola, disse ele.
Concordei em silêncio.
Depois de entornar um martelo de batida de maracujá, Jorjão concluiu:
- Considerando a turma do pefelê, acho que o mais adequado seria que se chamassem Fidalgos e Aristocratas, falou meu amigo, unindo a crítica política à alfinetada carnavalesca, visto que o Grêmio Recreativo Fidalgos e Aristocratas é inimigo figadal da SER Democratas do Samba.
Entornei meu martelinho de tequila e novamente concordei silenciosamente.
 

sábado, 24 de março de 2007

RECOMENDAMOS ESPECIALMENTE: As cachaças Topázio, de Entre Rios de Minas, a melhor entre as mineiras, e Samanaú, de Caicó, a melhor entre as nordestinas. Se Deus existisse, decerto entre lapadas das duas sagradas bebidas, e boas paredes de caju e queijo-de-coalho assado, tomaria porres celestiais. A bem da verdade, porres de fazer inveja aos demônios da Casa Branca, em Washington, o maior puteiro do mundo, e aos pinguços do Beco da Lama, em Natal, coração etílico da capital potiguar.


BALAIO PORRETA 1986

nº 1979

Rio, 24 de março de 2007


A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

666 livros indispensáveis (8/111)

Prelúdio da cachaça, de Luís da Câmara Cascudo. Belo Horizonte: Itatiaia, 1986, 82p. [] Mais do que uma saborosa sociologia da “água-que-passarinho-não-bebe”, uma aguardência etnografia da bebida de “cabra macho”. Um livro para ser lido enquanto tomamos algumas talagadas de Topázio. Ou Samanaú. Ou Ferreira. Ou Seleta. Ou Claudionor. Ou Mariana. Ou Germana. Ou Rainha. Se encontrarmos alguma garrafa mais antiga de Malhada Vermelha ou Olho d’Água (até 1986), a festa será completa. E sem ressaca.

Linhas tortas, de Graciliano Ramos. Rio de Janeiro: Record, 1985, 278p. [] Edição póstuma, com textos & crônicas que trazem a marca envolvente de GR. Alguns exemplos: Os donos da literatura, A marcha para o campo, As opiniões do respeitável público, Conversa de livraria. E por aí vai: Os sapateiros da literatura, Alguns tipos sem importância, Monólogo numa fila de ônibus, Conversa de bastidores, O fator econômico no romance brasileiro, Os amigos do povo, Prefácio para uma antologia. Tem mais, tem mais.

A mulher e os espelhos, de João do Rio. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1990, 154p. [] Volume da Coleção Biblioteca Carioca: narrativas que abarcam as carioquências dos primeiros anos do século passado. E que tinha o seu vocabulário próprio: airado (= leviano, irresponsável), capitoso (= que embriaga, entontece), chufa (= caçoada, troça), conventilho (=prostíbulo, cabaré), esbórnia (= orgia, farra). E o que dizer de pornéia (= libertinagem, devassidão)? E de outros vocábulos?

Os mortos de sobrecasaca, de Álvaro Lins. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963, 460p. [] A boa e velha crítica impressionista, sem arroubos formalistas, mas com bagagem humanística. Ensaios, estudos e reflexões: de 1940 a 1960. Leituras, encantamentos e impressões: de Carlos Drummond de Andrade a Viana Moog. De Mário de Andrade a Lúcia Miguel Pereira. De João Cabral de Melo Neto a João Ribeiro. E assim por diante: A “humanidade” dos bichos em Guimarães Rosa, por exemplo. Há equívocos de interpretação, claro.

A psicanálise do fogo, de Gaston Bachelard. Lisboa: Estúdios Cor, 1972, 194p. [] A primeira das obras "noturnas" de Bachelard, lançada originalmente na França em 1938. A prosa poética por excelência de um dos maiores pensadores do século XX. Puro devaneio epistemológico numa escrita que é a própria síntese do prazer da leitura. A psicologia e a psicanálise das chamas sonhadoras. O fogo como manifestação do desejo e da poesia em estado de ambiguidade literária. Um livro obrigatório em nossas estantes. Tradução de Maria Isabel Braga. Há uma edição brasileira, pela Martins Fontes.

Os 300 de Esparta, de Frank Miller (roteiro e desenhos) & Lynn Varley (cores). São Paulo: Devir, 2006, 88p. [] Por seu grafismo carregado de intensa plasticidade, por seu roteiro aberto às inquietações da vida e da morte, por suas cores exuberantes a partir de uma visão expressionista do mundo, este é um quadrinho marcante, verdadeira obra-prima da arte seqüencial do século passado. Segundo as palavras do crítico de cinema José Carlos Monteiro, professor da UFF, “uma só de suas imagens vale pelo filme inteiro de Zack Snyder”. Ainda não vimos o filme, mas a HQ de Miller é soberba.


POEMA/PROCESSO, 40 ANOS

(I)

Um arco-íris.
Entre Natal e Currais Novos.
Entre o sonho e a realidade.
No meio de nuvens pintadas de
verde-seridó, azul-potengi e vermelho-maiakóvski.
Com seus passaredos e suas cores,
e seus bordados de Alecrim e Jasmim,
há que contemplar as festejanças do cinema de
José Bezerra Gomes,
Jorge Fernandes,
Zila Mamede,
Miguel Cirilo.
E Luís Carlos Guimarães.
Ao som de raras e doces violas.
Saboreando canjicas e azulências.
Título do poema:
Viagem a Jucurutu, Caicó, Acari, São José da Bonita
e Jardim do Seridó, através do romance do pavão misterioso,
em companhia de Macunaíma e Canção de Fogo,
no Dia da Poesia, em Currais Novos, RN.


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Exclusivo para o BALAIO:
Na próxima segunda, dia 26, depois de anos e anos de pesquisas antropológicas, epistemológicas e seridológicas, finalmente publicaremos o primeiro entre os vários e vários capítulos do famoso
Diarim de Maria Bunita, até então inédito, e cuja autenticidade foi comprovada pelo Tribunal das Causas Delirantes, situado na Casa Forte do Cuó, nas proximidades do Poço de Santana, devidamente presidido pelo historiador Muirakytan Macedo e pela professora e poeta Ana de Santana.
Depois do Diarim de Lampião, divulgado pelo Papa-Figo (Recífilis) e pelo próprio Balaio,

nada melhor do que o Diarim de Maria Bunita.

sexta-feira, 23 de março de 2007

PRECE
de DAIANY FERREIRA DANTAS (Mossoró, RN)

Para Auta de Souza

Como quem sonha um pássaro
como quem prende um suspiro
como quem caminha nu
transpirando luz e lírio
como ao orvalho da dor
eu te respiro

[ in 13 poetas novos. Natal: FJA, 2002 ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 1978
Rio, 23 de março de 2007
Poema/Processo, 40 anos


A UM AMIGO
de ANA MARIA COSTA (Porto, PORTUGAL)
[ in avozquenãosecala ]

A voz bêbada
é o eco
de uvas vazias.


CARTA POÉTICA
de JEANNE ARAÚJO (Acari, RN)

Por que a chuva chega a molhar minha alma? Por que sou tão seca num dia ensolarado? Minhas raízes estão lá no sertão e tiram da terra seca a essência da vida. Minha alma lança-se em fuga, empreende vôos inimagináveis para ser cerca de pedra e mandacaru. E se a alma levita de olho arregalado de espanto e prazer, o corpo padece as malquerenças do verão quase que perpétuo e se fixa no solo fincando raízes. Há pelo ar prenúncio de que todos os sonhos vêm com os ventos de inverno. E a brisa mansa com cheiro de verde acalenta com uma canção de rio manso correndo. Quem nunca viu a seca de perto jamais vai me entender. Quem nunca viu um choro sem lágrimas não sabe a dor de sorrir numa boca com fome. O sertão é tão vasto que existe em todas as almas. Ávida, busco o sumo doce da flor de mandacaru. Agressiva, devoro todos os quereres com a fome do carcará. E se há de ser lenta a agonia da morte, que venha como chuva fina que dá de beber à terra seca, de uma secura quase que eterna, mas que abriga em seu seio o mistério da vida e da morte...

Reencontro Acari. O cheiro de verde entre as narinas. Tudo concorre para a alegria. A feira de rua, o burburinho da chuva de ontem que ainda respinga das algarobas, a conversa mole no café do mercado, a beleza dura das pedras do Gargalheiras. A cidadezinha tem seus encantos escondidos em pedra bruta. Nos olhos das pessoas. Nos sonhos das meninas adolescentes, como um dia eu fui. Reencontro-a comovida. Mora dentro de mim como um espinho de coroa-de-frade, belo e dolorido. Tem altos e baixos como a minha alma discreta. Respiro a terra em que nasci e encontro em mim todos os seus becos com todos os seus pecados mais indecentes. Encontro em mim a beleza da canção do sino tocando a hora do Ângelus. Um anjo abençoa toda a cidade e encantado torna-se homem para viver por lá. A cantiga da carroça de boi, a roupa de couro, o queijo quente, a tapioca, o tamborete e a rede na varanda fazem parte de mim. Como não existiria a poesia, se ela está presente desde sempre em mim?

Ao mesmo tempo sinto-me uma farsa ao ler os livros que me emprestaste. Não sei se chegarei lá. Não aposte suas fichas todas em mim, meu querido. A tarefa é árdua por demais. Eu não gostaria de lhe decepcionar, e às vezes eu mesma fico desiludida. Mas vou, continuo nessa busca que não sei onde vai parar. Aliás, espero que não pare nunca, então não restará muita coisa a fazer. Quando minha busca terminar, aí será o caos, a doideira total, e isso, meu caro, sei que não vou suportar.

Jeanne.

MANHÃ CINZENTA

Na próxima sexta, dia 30, às 18h, o Arquivo Nacional (Praça da República, centro do Rio) apresentará o curta Manhã cinzenta (1969), de Olney São Paulo (já falecido), que receberá postumamente a Medalha Chico Mendes, anualmente distribuída pelo Grupo Tortura Nunca Mais. O filme de Olney, proibídíssimo pela censura da ditadura militar, focaliza, em cenas bastante fortes, a repressão que dominava o país, então. Chegou, pois, a hora de vê-lo. Ou revê-lo. Com a devida emoção.


[][][]

BALAIO
produzido ao som de
Auto do Natal 2005: Jesus de Natal,
trilha sonora por Mirabô Dantas, composições de Jubileu Filho.
[ Prefeitura da Cidade do Natal / FUNCARTE, 2006 ]

quinta-feira, 22 de março de 2007

A alegria é bicho
de estimação.
Esqueci quase
tudo de ti. Caras
desejos
sabor. Tua risada
entretanto, as
vezes pula no
meu colo e me
enreda com seus
novelos de luz

[ Napoleão de Paiva Sousa,
in Depois comigo. Natal, 2006 ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 1977
Rio, 22 de março de 2007
Poema/Processo, 40 anos



DE CINÉFILOS PARA CINÉFILOS

A revista Paisà, editada por Filipe Furtado e Sérgio Alpendre, blogueiros em alto estilo, chega ao núm. 7, com boas críticas, boas matérias, boas análises. Como já é do seu feitio. Há que destacar, no presente número (em livrarias), Os fantasmas de Clint Eastwood (por Filipe Furtado), Os melhores filmes de 2006 (segundo os redatores da revista), O músico pop no cinema (por Sérgio Alpendre), uma entrevista exclusiva com a cineasta Tata Amaral, várias análises de grandes filmes: Uma mulher sob influência (uma das obras-primas de John Cassavetes), Alemanha ano zero (de Roberto Rossellini, um dos filmes maiores do cinema italiano) e vários outros.


VIDA SEXUAL AOS 90

- Como é a vida sexual na sua idade? - perguntou um jornalista ao ator cômico Bob Hope, de 94 anos de idade.

- É como jogar sinuca com uma corda - respondeu rápido o ator, sem perder a pose e a piada.

[ in Nonadas - O livro das bobagens, de Flávio Moreira da Costa ]


Repeteco / Futebol
DEZ FRASES E UMA NARRAÇÃO RADIOFÔNICA

[1] Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu.
(Claudiomiro, ex-meia-direita do Internacional, ao chegar em Belém do Pará, para disputar um jogo contra o Paysandu, em 1972)

[2] Nem que eu tivesse dois pulmões, alcançaria essa bola"
(Bradock, amigo de Romário, reclamando de um passe longo)

[3] Eu não tenho sistema nervoso.
(Badidiu, zagueiro do ABC de Natal, quando perguntado por um repórter de campo, num dia de decisão de campeonato, como estava o seu sistema nervoso)

[4] Quando o jogo está a mil, minha naftalina sobe.
(Jardel, ex-atacante do Grêmio)

[5] Clássico é clássico, e vice-versa.
(Jardel, citado anteriormente)

[6] O gol é o orgasmo do futebol.
(Sabedoria popular, nos estádios brasileiros)

[7] A maior defesa da minha vida foi uma atrasada de Urai, beque do meu time.
(Harry Carey, goleiro do Treze de Campina Grande)

[8] Na Bahia todo mundo é muito simpático, é um povo muito hospitalar.
(Zanata, baiano, ex-lateral do Vasco)

[9] Jogador tem que ser completo como um pato, que é um bicho aquático e gramático.
(Vicente Matheus, ex-presidente do Corínthians)

[10] Haja o que hajar, o Corínthians vai ser campeão.
(Vicente Matheus, citado anteriormente)

[11] Quarenta minutos do segundo tempo, continua 0 a 0 no placar... o ABC já chutou três bolas na trave, não pára de invadir a área adversária, mas a bola não entra, meu Deus, assim não é possível, o goleiro fideumaégua agarra tudo, quando não é ele, é a danada da trave... haja sofrimento para o torcedor abecedista! Atenção para o contra-ataque do Atlético... o ponta-direita livrou-se de Biró, driblou Toré, vai chutar, chutou... pronto, deu-se a merda: gol, gol do Atlético.
(Locutor esportivo, narrando um jogo entre o ABC e o Atlético de Natal, nos anos 50)