quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Aceitar a prostituição televisiva da imagem é empobrecer o olhar e o saber do público. Aceitar o mercado ocupado pelo lixo que vem de fora, é romper com sonhos, revoltas e utopias. Ora, o que sabem as companhias estrangeiras da nossa história ou das nossas necessidades? Claro, que nossos empobrecidos noveleiros indiferentes a toda e qualquer linguagem mais profunda, não medem esforços para vender um Brasil colorido e feliz tipo coca-cola, onde a emoção em si é ser o outro. Ser o outro como extensão dos baixos interesses econômicos. (...) Antes de mais nada, é preciso frear essa dominação autoritária que vem de fora. O saber não é uma mercadoria como o papel higiênico. São coisas diferentes. (Luiz ROSEMBERG Filho & Sindoval AGUIAR, Cinema & o Mercado Brasil, in Via Política)

BALAIO PORRETA 1986
n° 1943
Rio, 31 de janeiro de 2007
Poema/Processo, 40 anos
Contato: balaio86@oi.com.br


Cinco momentos
de NEI LEANDRO DE CASTRO (RN)

1.
Mulher. Doce mistério.
Fauna. Enigma. Flora.
Não a decifro,
ela me devora.

2.
Úmida faísca, o beijo
acende os raios
do desejo.

3.
Prendam, detenham o pudor.
Ele vive para inibir
as mais doces loucuras do amor.

4.
Amar sem limites, de joelhos,
à beira do abismo,
como um ateu num surto
de misticismo.

5.
Por que a mulher seduz?
Porque é dança, contradança,
luz e contraluz.


POESIA NO BISTRÔ DO ARTEPLEX
Afonso Henriques Neto, um dos nossos melhores poetas, autor de Ossos do paraíso (1981), Tudo nenhum (1985), Avenida Eros (1992), Piano mudo (1992), Abismo com violinos (1995), entre outros, estará se apresentando hoje no Bistrô dos Cinemas Arteplex (Praia de Botafogo, 316), numa promoção Verdes Trigos, a partir de 20:30h. Para quem gosta de boa poesia, a noite promete ser excepcional.


Relendo o Balaio Vermelho
Segunda-feira, 8 dezembro, 2003
Memória
BALAIO 1474
Rio, 20/2/2002

AS TRÊS CIDADES DOS NOSSOS DELÍRIOS TROPICAIS

R i o d e J a n e i r o
Cidade às margens azuis do Rio São Francisco, ao sul do Ceará. Na Barra da Tijuca, tradicional bairro italiano, o inglês só é falado por marginais, banqueiros e piniqueiras sem califon; a população, em sua grande maioria, prefere se expressar em tupi-guarani e baianês. No Pacaembu, aos domingos, três clássicos, de maneira alternada, movimentam o futebol carioca: ABC x Cruzeiro, América/RN x Grêmio e Galo do Seridó x Corínthians. Do alto do Corcovado, na zona oeste da cidade, é possível vislumbrar os edifícios e o fumaréu de São Paulo, em Minas Gerais. Às sextas, Woden Madruga, Dácio Galvão, Tácito Costa e Chiquita Bacana (estudiosos do cotidiano) costumam freqüentar chopps e as sessões vespertinas do Estação Botafogo.
N a t a l
Cidade sertaneja, no Alto Xingu, cercada de auroras, cajus, mangas, mangabas e crepúsculos. Alguns de seus bairros (Mossoró, Ceará-Mirim, Acari, Currais Novos, Lapa, Catete e Lagoa Nova) são famosos por suas belas mulheres e seus bravos toureiros violetas, que sempre despertaram paixões enlouquecedoras na pernambucana Ava Gardner, irmã de Maria Bonita e Leila Diniz. A Fortaleza dos Reis Magos, na Praia de Pirangi, é o seu principal ponto turístico, sobretudo a partir de 22:22h. A Festa de Santana é famosa em toda a região, do Amapá a São Saruê. As sábados, Juca Kfouri, Carlos Zéfiro, Chico Doido de Caicó e Marieta Severo costumam passear pelo Pasquim21 e pela Praia do Leblon.
C a i c ó
Fundada em 1313, a bela Caicó (terra de Mário de Andrade e Luís da Câmara Cascudo) sempre se destacou por seus monumentos históricos: o Rio Nilo, o Maracanã, as chuvas de abril, a Catedral da Sé, o Pão de Açúcar. Paulinho da Viola, seu mais ilustre romancista, uma vez declarou: Caicó é mais animada do que Paris, é mais surpreendente do que Londres, é mais cosmopolita do que Nova York. Aos domingos, Nei Leandro, Danilo Bessa, Tarcísio Gurgel e Lúcia Nobre costumam viajar por vinhos e poemas de seus rios e riachos.
[ Texto incluído em A invenção de Caicó, de nossa autoria, livro editado pelo Sebo Vermelho, de Natal, em 2004 ]

5 comentários:

Matheus Trunk disse...

OI Moacy ! Genial o poema. As mulheres são isso mesmo. Aguarde: semana que vem uma nova Zingu! no ar. Abração e parabéns pelo novo blog !

o refúgio disse...

Bela e inspirada postagem, Moacy. Sempre me emocionando, sempre. Um beijo.

Iara Maria Carvalho disse...

Moacy, meu querido conterrâneo (minha família é todinha lá de Jardim do Seridó...)

É sempre um prazer te visitar e receber suas visitas sempre tão acompanhadas de carinho e estímulo.

Nei Leandro de Castro é mesmo incomparável. Minha identidade de mulher ficou faiscando com seus poemas, principalmente na contra-luz, que é onde prefiro estar.

Quanto ao Presente Líquido dedicado ao queridíssimo Bosco, fique à vontade para, quando quiser, publicá-lo; é sempre uma grata satisfação deixar meus rastros aqui no teu Balaio, principalmente com palavras em homenagem a alguém tão especial como Ele.

No mais, um forte abraço aqui de perto do Açudiquistão...rsrsrs...

Beijos...

Wescley J. Gama disse...

Moacy, mudança de ares, e no melhor estilo: sem perder, nunca, a essência...

Anônimo disse...

Belo post, Moacy. Sobretudo o poema de Nei.

Abraços