quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Em se tratando de carnaval, nada melhor do que o frevo, o maracatu, a ciranda, a marchinha, o samba, o coco-de-roda. Eis aí o glorioso reinado momesco de Recife, que não nos deixa mentir. Ousamos dizer: de longe, ou de perto, o mais emocionante e criativo carnaval do Brasil.


BALAIO PORRETA 1986
nº 1958
Natal, 22 de fevereiro de 2007
Poema/Processo, 40 anos


UM SONHO DANADO DE BOM

Sonhei um sonho arrochado, beleza pura. Sonhei que, nesta última terça, às 22:10h, em viagem decidida de última hora, encontrava-me no Marco Zero, do Recife Velho, com minha companheira e uma de suas irmãs, no meio de entusiasmada multidão, ansiosa pelo excelente (e mais do que) centenário frevo. Sonhei com um show de Alceu Valença, arrebatador. Já passava de meia-noite, ou mesmo de uma da madrugada, quando, depois do espetáculo alceuvalenciano, os bonecos gigantes de Olinda "invadiram" o largo do Marco Zero. E o sonho continuava. Veio uma chuva fina, quando a Orquestra Multicultural de Pernambuco, regida pelo Maestro Spok, afinava os instrumentos. Depois, sem chuva, começava a apoteose da frevançafrevolente (mais do que centenária); uma Fantasia especialmente composta para a ocasião, "emoldurada" por embriagadora queima de fogos. E se a numerosa Orquestra Multicultural brilhava com intensidade, enquanto, ao lado, passistas mágicos encantavam a todos com seu bailado danado de bom, no palco figuras lendárias do frevo, e alguns de seus novos talentos, revezavam-se de forma emocionante com vários nomes consagrados da música brasileira: o próprio Alceu, já citado, Claudionor Germano, Lenine, Moraes Moreira, Leo Galdeman, Gal Costa, Antônio Nóbrega. Às 4:50h, debaixo de torrencial chuva - que voltara para saudar os foliões -, 60 mil pessoas, completamente realizadas, ao som de Vassourinhas, sem empurra-empurra e sem confusão, despediam-se do carnaval recifense de 2007. E o sonho parecia tão real, tão vivo, que acordei, algumas poucas horas depois, num hotel de Boa Viagem. Para, logo a seguir, voltar a Natal. Depois de passar pelo charmoso Paço Alfândega.


PIRANGI PIRANGI

A rigor, já na segunda, à noite, sonhávamos com o carnaval. Em Pirangi do Norte, ao sul de Natal. Acompanhando a Banda do Cajueiro, mandando brasa em frevos e marchinhas. E vendo passar, com alegria, o Bloco das Virgens (o nome mais apropriado seria Bloco das Virgens Enlouquecidas) e o Bloco Xibiu com Açúcar. Um carnaval bastante animado, pra falar a verdade.


ALGUNS FREVOS INESQUECÍVEIS

Vassourinhas (Matias da Rocha & Joana Batista, 1909)
É de amargar (Capiba, 1934)
Gostosão (Nelson Ferreira, 1950)
Frevo da meia-noite (Felinto Carnera, 1950)
Sonhei que estava em Pernambuco (Clóvis Mamede, 1950)
Último dia (Levino Ferreira, 1951)
Relembrando o Norte (Severino Araújo, 1952)
Vão me levando (Dosinho, 1955)
Evocação nº 1 (Nelson Ferreira, 1957)
Voltei, Recife (Luiz Bandeira, 1959)
Madeira que cupim não rói (Capiba, 1963)
Frevo e ciranda (Capiba, 1974)

Nota:
Esta é uma primeira e provisória seleção de grandes frevos.
Aceitamos sugestões para ampliá-la. O frevo, não esqueçamos,
é patrimônio cultural da humanidade. Convém lembrá-lo. Sempre.


11 comentários:

Francisco Sobreira disse...

Moacy,
Concordo com você sobre o carnaval em Recife. O bom é que lá ainda se preservam as raízes da música pernambucana (ou, especificasmente, recifense). Já o carnaval da Bahia... Um abraço.

o refúgio disse...

Moacy, Moacy! Você me deixou emocionada rapaz! Faltou você acompanhar o Bloco Cinzas das Horas na madrugada de terça pra quarta. O bloco (com poucos metais) concentrado no Bar Royal, pertinho do Paço Alfândega, saiu pela ruas do Bairro do Recife (turisticamente mais conhecido como Recife Antigo), com o reforço de "pau e corda" do Bloco da Saudade (cê viu o Bloco da Saudade no Marco Zero? Lindo lindo!)e fomos até a Ponte Maurício de Nassau onde, literalmente, jogamos as cinzas da quarta-feira no rio para o carnaval de 2008 renascer dessas cinzas (lembrou da Fênix?). O "ritual" foi realizado ao som de Summertime de Gershwin (quanto charme, não?). Ah, acrescente na lista o Hino dos Batutas de São José - "Sabe lá o que é isso" (João Santiago): "...deixa o frevo rolar/eu só quero saber se você vai brincar/ ai, meu bem sem você não há carnaval/ vamos cair no paço e a vida gozar". E tb tem o hino do Elefante de Olinda: "ao som dos clarins de Momo o povo canta com muito amor, o Elefante exaltando a suas tradições e tb seu esplendor...". Tem mais, né? Mas vou parar por aqui, senão...

Beijos foliônicos!

o refúgio disse...

Putz! Escrevi "cair no paço". É passo! A não ser que se queira cair no Paço Alfândega, hihihi.

Mais beijos.

Anônimo disse...

Imagino que seja bem legal. Aqui no Sul não temos disso. O pessoal prefere chula e vanerão (perdoai-os, Senhor).
Um abraço.

Anônimo disse...

Que sonho danado de bom, hein! Aposto que virou realidade!

Anônimo disse...

Caro Moacy,
Tá uma festa só essa tua estada em Natal, ou melhor, no Nordeste.
Fico feliz por você.
Gostei muito do SONHO!
Forte abraço.

Anônimo disse...

Concordo em gênero, número e grau!
Se quiser ouvir uns frevos, têm nos meus dois blogues. E´pra dar uma geral nos Blocos daqui, em alguns deles, é só ir lá no mudança de ventos, viu?

Beijo do Recife.

Anônimo disse...

Concordo em gênero, número e grau!
Se quiser ouvir uns frevos, têm nos meus dois blogues. E pra dar uma geral nos Blocos daqui, em alguns deles, é só ir lá no mudança de ventos, viu?

Beijo do Recife.

Iara Maria Carvalho disse...

"Voltei Recife, foi a saudade que me trouxe pelo braço..."
É sempre bom rememorar, descortinar um tempo em que a fantasia se instalava nos corações. Em tempos de técnica como os nossos, a fantasia anda meio em extinção. A memória tem esse magnifico papel de nos colocar diante de um espelho. E a arte muito ajuda.
Beijos...

o refúgio disse...

ERRATA: No Hino do Elefante (Clídio Nigro)- "Ao som dos clarins de momo O POVO ACLAMA COM TODO ARDOR..."

Anônimo disse...

O meu carnaval foi um lixo. Fiquei em BH, onde não há carnaval. Carnaval em Belo Horizonte significa "viajar", e como fui displicente e não programei nada, me restou ficar em casa. Se inveja (mesmo da boa) matasse, Recife cairia fulminada.