quinta-feira, 29 de março de 2007

BALAIO PORRETA EXTRA


A MORTE DE UM ESCRITOR

O Balaio está de luto. Os nordestinos estão de luto. Perdemos um irmão sertanejo. Faleceu hoje, de manhã cedo, em Natal, beirando os 88 anos, "sobejo da seca de 1919", um dos maiores escritores do Rio Grande do Norte e do Nordeste: Oswaldo Lamartine de Faria. Nossa admiração por sua obra de etnógrafo e pesquisador das coisas do sertão sempre foi ressaltada. Entre seus livros, verdadeiras jóias do pensamento seridoense-potiguar, figuram Notas sobre a pescaria de açudes no Seridó (1950), A caça nos sertões do Seridó (1961), Vocabulário do criatório norte-rio-grandense (1966, em co-autoria), Encouramento e arreios do vaqueiro no Seridó (1969), Apontamentos sobre a faca de ponta (1988), Em alpendres d'Acauã; conversa com Oswaldo Lamartine de Faria (org. Natércia Campos, 2001).

O Brasil está de luto. "Conheci Oswaldo Lamartine quando começava a escrever o Memorial de Maria Moura, no início de 1990. E eis que surge aquele anjo magro, só querendo falar das coisas que ambos gostávamos - quer dizer do sertão. Hoje meu amigo, meu irmão, Oswaldo Lamartine. Acho que, no Brasil, ninguém entende mais do sertão e do Nordeste do que Oswaldo" (Rachel de Queiroz, in Em alpendres d'Acauã).

Em Oswaldo Lamartine, o cheiro da terra depois das primeiras chuvas dos invernos, os açudes de ontem e de sempre, os aboios pungentes e o sertão em total plenitude azulácea são a mais pura poesia da expressão seridoense-potiguar-nordestina. Em Oswaldo Lamartine (e poucos outros), o Rio Grande do Norte se faz Literatura. Assim sendo, em sua homenagem, mais do que justa, mais do que emocionada, passaremos boa parte da tarde/noite de hoje relendo algumas de suas mais vibrantes páginas.

De OSWALDO LAMARTINE DE FARIA:

"Os meus rastros são os meus livros. É que o sertão é mais que uma região fisiográfica. Além da terra, das plantas, dos bichos e do bicho-homem - tem o seu viver, os seus cheiros, cores e ruídos. O cheiro da água que nos desertos também cheira. O da terra molhada, do curral, da lenha queimada e de cada flor. O belo-horrível-cinzento dos chãos esturricados, o 'arrepio-verde' da babugem, a explosão em ouro das craibeiras em flor. Os ruídos dos ventos, das goteiras, do armador das redes, o balido das ovelhas, o canto do galo, o estalo do chicote dos matutos, o ganido dos cachorros em noite de lua, os tetéus, o dueto das casacas de couro, os gritos do socó a martelar silêncios, os aboios, o bater dos chocalhos, o mugido do gado e tantos outros que ferem nas ouças da saudade" (Em alpendres d'Acauã, p.10).

3 comentários:

Anônimo disse...

Oswaldo Lamartine merece a nossa homenagem, a dos seridoenses e potiguares e a do Brasil. Da leitura de Guimarães Rosa lembramos que o Sertão está em todo canto. Oswaldo está em todo canto.
Numa das poucas vezes em que estive com ele, pessoalmente,quando me autografava "Apontamentos sobre Faca de Ponta", escreveu-me: "Lívio, cuidado para não se cortar".
A vida é metade corte.
Homenageemos Oswaldo Lamartine.

Lívio Oliveira

Anônimo disse...

Professor,
Obrigado pelas palavras lá nos Disruptores. Para mim, aventurar pela FC é tatear no escuro: tenho mestres outros e pouca leitura no ramo. Por isso, a importância da opinião de uma "otoridade", inda mais sendo vsa. senhoria. Espero encontrá-lo pelo Sebo, para você aprofundar um pouco mais essas observações.

Alex de Souza

Maria Maria disse...

Moacy,é lamentável a perda desse grande SERIDOANO, que representou na literatura o solo em brasa da gente.
Ah, obrigada pela visita ao nosso Espartilho. Volte sempre, a casa é sua, aliás fique à vontade para publicar coisas minhas. Estou às ordens para enviar poesias.
Outra: meus avós são de Jardim do Seridó. Joventino e Francisca Medeiros, logo somos conterrâneos do mesmo chão, mesmo tendo nascido em currais.
Adorei sua janela eletrônica. Esse balaio cabe um bocado de nós. Um abraço carinhoso do coraçao de Currais. Maria Jósé Gomes ou Eme Gomes.