RECOMENDAMOS ESPECIALMENTE: Mais um número da revista paulistana Paisà, o oitavo (nas bancas e livrarias), editada por Filipe Furtado e Sérgio Alpendre, destacando, de forma particular, o cinema – extraordinário – de John Cassavetes. O Tops Especial da vez é o filme de terror feito nos Estados Unidos da América da Morte. O trocadilho, aqui, faz sentido. Há, entre outros assuntos de real interesse para todos nós, um bom texto de Sérgio Alpendre sobre Serras da desordem (André Tonacci). Enfim, uma revista cada vez melhor. Para maiores contatos, eis o emeio da turma: revistapaisa@revistapaisa.com.br (ou, melhor ainda, clique aqui para ver a sua versão eletrônica).
BALAIO PORRETA 1986
nº 2001
Rio, 21 de abril de 2007
nº 2001
Rio, 21 de abril de 2007
A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (12/111)
666 livros indispensáveis (12/111)
Era uma vez Eros, de Nei Leandro de Castro. Rio de Janeiro: Lidador, 1993, 90p. [] Provavelmente, o mais belo livro de poemas eróticos publicado no Brasil, até o momento. Ou, ao menos, um dos mais bem realizados, temática e formalmente, dentro de uma perspectiva poeticamente estrutural. Aliás, trata-se de obra de expressiva feitura, seja qual for a vertente significante de seus impulsos literários. “Uma bela e ardente poesia”, como dizia Carlos Drummond de Andrade, referindo-se à bibliografia anterior do poeta potiguar. Aqui, temos a reunião – belamente ilustrada por Mem de Sá – de três livros: Uma nova zona erógena, Era uma vez Eros (inéditos) e Zona erógena (1981). O cuidado verbal, o apuro semântico-sensual, o verso na medida certa da tensão e da contensão fazem do presente livro um manjar (literário) dos deuses. O jornalista Luiz Lobo resumiu-o bem: “E assim, sem cerimônia e falsos pudores, com amor e humor, velho fauno bom de posições e cantatas, Nei Leandro tem uma musa nada ostusa e é capaz de compor escargots de pêlo e de reinventar a zona erógena”. São muitos os poemas de alto nível que se encontram neste volume. Basta ver, para exemplificar:
Amor Amora
Me lembro que trazias na boca
o gosto e a cor de uma fruta selvagem:
amor? amora?
Me lembro de tua calcinha
suavemente encharcada
que deixava teu leite
nos meus dedos.
Me lembro do teu beijo
com o exato gosto da amora
e me lembro que eu dizia aos teus ouvidos
todas as palavras que os deuses
permitem a um amante dizer a outro amante
na manchada planície de uma cama.
Me lembro que te lambia,
te mordia, te feria. E não cedias.
(p.38)
o gosto e a cor de uma fruta selvagem:
amor? amora?
Me lembro de tua calcinha
suavemente encharcada
que deixava teu leite
nos meus dedos.
Me lembro do teu beijo
com o exato gosto da amora
e me lembro que eu dizia aos teus ouvidos
todas as palavras que os deuses
permitem a um amante dizer a outro amante
na manchada planície de uma cama.
Me lembro que te lambia,
te mordia, te feria. E não cedias.
(p.38)
Les fleurs du mal [1857], par Charles Baudelaire. /Edition du centenaire./ Paris: Jean-Jacques Pauvert, 1957, 466p. [Volume adquirido no sebo Luzes da Cidade, em Botafogo, Rio.] O livro inaugural da poesia moderna em se tratando da história literária do Ocidente, para se dizer o mínimo dos mínimos. E para se dizer tudo. Ou mais alguma coisa, pois “J’ai plus de souvenirs que si j’avais mille ans”. Obra bastante cultuada por escritores, poetas e anarquistas das mais variadas tendências políticas e sociais. Em nossa opinião crítico-afetivo- libertinária, um dos 20 ou 30 maiores livros de todos os tempos. Simplesmente indispensável em qualquer boa biblioteca. Vejamos, como simples exemplo, os quatro versos inicias de um de seus poemas mais conhecidos, o Spleen – LXXXVIII:
Je suis comme le roi d’un pays pluvieux,
Riche, mais impuissant, jeune et pourtant très-vieux,
Qui, de ses précepteurs méprisant les courbettes,
S’ennuie avec ses chiens comme avec d’autres bêtes.
(p.199)
Riche, mais impuissant, jeune et pourtant très-vieux,
Qui, de ses précepteurs méprisant les courbettes,
S’ennuie avec ses chiens comme avec d’autres bêtes.
(p.199)
As flores do mal, de Charles Baudelaire. Tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. /Edição bilíngüe./ Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, 658p. [Volume adquirido na Livraria Dazibao, centro do Rio.] Em se tratando da história literária do Ocidente, obra que inaugura a poesia moderna. Para se dizer o mínimo. Para se dizer tudo. Ou mais alguma coisa, pois “Eu tenho mais recordações do que há em mil anos”. Peça literária que é um verdadeiro cult entre os amantes da boa poesia. Em nossa opinião de matriz crítico-afetivo-libertinária, um dos maiores livros de todos os tempos. Indispensável em qualquer biblioteca de respeito. Vejamos, como exemplo, segundo a tradução de Ivan Junqueira, os quatro versos iniciais de Spleen – LXXXVIII:
Sou como o rei sombrio de um país chuvoso,
Rico, mas incapaz, moço e no entanto idoso,
Que, desprezando do vassalo a cortesia,
Entre seus cães e os outros bichos se entedia.
(p.295)
Rico, mas incapaz, moço e no entanto idoso,
Que, desprezando do vassalo a cortesia,
Entre seus cães e os outros bichos se entedia.
(p.295)
As flores do mal, de Charles Baudelaire. Tradução, prefácio e notas de Jamil Almansur Haddad. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1958, 358p. [Volume adquirido na Livraria Universitária, em Natal.] Um livro que se quer inaugural na história literária do Ocidente, em se tratando de Poesia. Para se dizer de sua importância. Para se dizer de sua beleza. Ou mais alguma coisa, pois “Tenho recordações como quem tem mil anos”. Obra bastante admirada por escritores, poetas e artistas das mais variadas tendências filosóficas. Em nossa opinião de simples crítico natalense, um dos maiores livros de todos os tempos. Vejamos, como exemplo, segundo a tradução de Jamil Almansur, os quatro versos iniciais de Spleen – LXXXVIII:
Eu sou tal qual um rei de algum país chuvoso,
Rico, mas impotente, e moço, embora idoso,
Que do aio desprezando as mesuras rituais,
Se enfada com os cães e os outros animais.
(p.224)
Rico, mas impotente, e moço, embora idoso,
Que do aio desprezando as mesuras rituais,
Se enfada com os cães e os outros animais.
(p.224)
O primo Basílio [1878], de Eça de Queiroz. São Paulo: Brasiliense, 1961, 464p. [] Eça é um dos monumentos da literatura portuguesa, ao lado de Camões, Fernando Pessoa e E.M. de Melo e Castro. Aqui temos a história de uma família burguesa lisboeta em pleno século XIX; na ausência de seu marido Jorge, a caprichosa e sentimental Luísa se deixa seduzir por seu primo Basílio, “um maroto, sem paixão nem justificação da sua tirania, que o que peretende é a vaidedezinha duma aventura e o amor grátis” (Augusto Pissarra, na Introdução). E se Luísa é artificial e um títere, na opinião de Machado de Assis, o que dizer dos demais? Alguns estudiosos apontam a influência, neste romance, de Flaubert, Zola e dos Goncourt.
Carta de Pero Vaz de Caminha; Mostra do Redescobrimento, de Nelson Aguilar (org.). São Paulo: Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais, 2000, 208p. [] Belíssimo álbum/catálogo, ricamente ilustrado. Reprodução fotográfica da Carta de Caminha, contendo versão atualizada e comentada e um valioso estudo de Fernando António Baptista Pereira. Na parte final, obras plásticas que repensam o “achamento” do Brasil, por Ana Vidigal, Graça Morais, João Vieira, Álvaro Lapa e outros. E outros: José de Guimarães, Costa Pinheiro, Júlio Resende, Fernando Lemos, Noronha da Costa e outros. E outros: Luiz Zerbini, Karin Lambrecht, Antônio Hélio Cabral, Siron Franco, José Roberto Aguilar, Rosângelo Rennó, Flávio Emanuel, Emmanuel Nassar, Glauco Rodrigues.
9 comentários:
Oba, sou o primeiro a comentar essa postagem muito boa. Um belo poeme de Nei e referência a grandes obras. Agora, embora goste de "O Primo Basílio" (como gosto de Eça), acho que a sua obra-prima e "Os Maias". Um abraço, caro Moacy.
Que pena, não sou a primeira a comentar...
Ulalá, Moacy, esse poema "Amor Amora" é uma coisa de louco.
Adorei você usar cor-de-rosa nos títulos dos livros!
Beijos.
esse livro de nei é meu sonho impossível de ter: não acho em canto nenhum... ;(
beijo!
Meu caro SOBREIRA: Concordo com você em relação à obra-prima de Eça; a Biblioteca ora apresentada, é bom lembrar, não é escolhida por ordem qualitativa. "Os Maias", mais cedo ou mais tarde, terão a sua vez. Um grande abraço.
Cara, valeu pela divulgação. Esta edição da revista ficou mesmo muito boa.
idem...valeu
Grande Moacy...
Virá a Caicó conferir o lançamento de "As Pelejas de Ojuara". É bem provável que o filme seja lançado em plena Festa de Santana! Recebi e-mail do jornalista Edson Soares que está filmando um curta-metragem. Ele dirigiu "O Caldeirão do Diabo". Produção Potiguar! Coisa boa, neh?
Grande Abraço!
menino, tá um requinte só essa sua postagem...
uma belezura!
beijão e grata pelas congratulações, a mim e à família que se faz agora.
Caro mestre Moacy,
Suas indicações são esplêndidas. Primo Basílio é uma verdadeira jóia. Tem trechos que a gente pode até deslocar do contexto que são muito belos.
Os demais livros também são admiráveis. Adorei a poesia erótica.
Um abraço
Bom domingo. Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.
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