nos anos 50, ao escrever suas crônicas sobre cinema para a Tribuna do Norte, de Natal, costumava brindar os leitores com duas cotações: uma, a partir de sua particular compreensão crítica do filme analisado; a segunda, considerando a possível reação do público. A rigor, era interessante o seu sistema de dupla avaliação. O problema maior é que, na maioria das vezes, o chamado "grande público" não estava (como ainda não está, em linhas gerais) minimamente informado sobre os meandros da linguagem cinematográfica. As coincidências (um filme ótimo para o público e para sua leitura crítica) eram poucas: alguns filmes de Hitchcock, Fellini, Ford, Minnelli, certos musicais da Metro - e assim por diante. Por que nos lembramos de Berilo, exatamente agora? Por causa do filme O homem que desafiou o diabo (baseado em As pelejas de Ojuara). As primeiras críticas no sul do país (O Globo, Época) são arrasadoras. Até uma segunda leitura - e pretendemos vê-lo mais uma vez - a nossa opinião não sofreu nenhum abalo: apesar de Marcos Palmeira, Flávia Alessandra, do final "turístico", da passagem malresolvida de Araújo para Ojuara, o filme consegue se sustentar como um bom espetáculo, padrão cinema-pipoca. Retomando o espírito do cronista BW, com um pequeno acréscimo, com as cotações supostamente variando entre 0 (péssimo) e 5 (excelente), assim o avaliamos: Para o público potiguar, 4; para o público do Sul-Matavilha, 3; para a crítica, 1,5. Ou seja, vale a pena ser conferido, já que a média 2,83 não é nada desprezível. E a crítica, qualquer crítica, não tem o direito de ser elitista. Hoje, por exemplo, se amamos os filmes de Antonioni, Bresson, Dreyer, Mizoguchi, Godard, Visconti, Bergman, Buñuel, Pasolini, Rossellini, Keaton, Kubrick, Murnau, Welles, Straub & Huillet, Hawks, Sergio Leone, Glauber Rocha e outros, vemos com simpatia as chanchadas com Oscarito e Grande Otelo, muitos dos filmes da Vera Cruz, o cinema da Boca do Lixo, alguns melodramas americanos dos 40 e 50. Por outro lado, o cinemão de Hollywood, à base de efeitos visuais e pirotécnicos, não nos interessa.
BALAIO PORRETA 1986
nº 2130
Natal, 28 de setembro de 2007
POESIA POPULAR
de Luiz Xavier
[ in Versos sacânicos, 2003 ]
Mote:
Tomei cachaça no céu,
lá no hotel de Jesus
Glosa:
Levando um litro de mel
dessa abelha italiana
com muita santa bacana
tomei cachaça no céu.
Aprontei, fiz escarcéu,
dancei com defuntos nus
quebrando a famosa cruz,
os anjos bateram palmas.
Sonhei mais cantando as almas
lá no hotel de Jesus.
nº 2130
Natal, 28 de setembro de 2007
POESIA POPULAR
de Luiz Xavier
[ in Versos sacânicos, 2003 ]
Mote:
Tomei cachaça no céu,
lá no hotel de Jesus
Glosa:
Levando um litro de mel
dessa abelha italiana
com muita santa bacana
tomei cachaça no céu.
Aprontei, fiz escarcéu,
dancei com defuntos nus
quebrando a famosa cruz,
os anjos bateram palmas.
Sonhei mais cantando as almas
lá no hotel de Jesus.
RETRATOS DO BRASIL
A Biblioteca EntreLivros, dedicada ao tema Retratos do Brasil, à venda nas bancas (ou cigarreiras, como se dizia em Natal, antigamente, quando, aqui, bebíamos garapinhadas nas sorveterias e caldo-de-cana acompanhado de pão doce, nas esquinas e mercados da cidade), apresenta uma lacuna indesculpável. Sim, numa primeira folheada, não vimos a menor referência a Luís da Câmara Cascudo. É possível que exista uma ou outra citação, acidentalmente. É pouco, muito pouco, para a grandeza de Cascudo. Voltaremos ao assunto, depois de lida com a devida atenção.
A Biblioteca EntreLivros, dedicada ao tema Retratos do Brasil, à venda nas bancas (ou cigarreiras, como se dizia em Natal, antigamente, quando, aqui, bebíamos garapinhadas nas sorveterias e caldo-de-cana acompanhado de pão doce, nas esquinas e mercados da cidade), apresenta uma lacuna indesculpável. Sim, numa primeira folheada, não vimos a menor referência a Luís da Câmara Cascudo. É possível que exista uma ou outra citação, acidentalmente. É pouco, muito pouco, para a grandeza de Cascudo. Voltaremos ao assunto, depois de lida com a devida atenção.
15 comentários:
Ao ler a poesia lembrei de uma música do Zeca Baleiro - Heavy Metal do Senhor - que diz: " o cara mais underground que eu conheço é o Diabo, que no inferno toca cover das canções celestiais......." Ora, então dá pra tomar umazinha tb, né?
rsrs.
Bjsssssssssssss
Moacy,
A crítica e o público nunca se entenderam (a não ser em exceções como você citou, ao falar do nosso inesquecível Berilo) e jamais vão se entender. E isso não vale apenas para o cinema, embora , no caso do cinema, por ser de todas as artes a mais popular, esse desentendimento é mais acentuado. Não li ainda as críticas sobre o filme de Ney, mas elas não me surpreenderam, porque o filme não prometia, pelo diretor, produtor, parte do elenco, etc e tal. Mudando de pau pra cacete: soube de um incidente envolvendo você numa livraria. Amigo, valeu a pena...?
Uma retificação no comentário anterior: ... "sobre o filme adaptado do livro de Ney".
Valeu a pena, sim, caro SOBREIRA. O sr. racine santos não merece o meu respeito. Ao contrário dele, não tenho medo de nomear as pessoas. Ele, como qualquer pessoa, tem todo o direito de não gostar das coisas que eu faço. Mas, na época (dez/06) o dito senhor tratou-me como um zé-ninguém. E zé-ninguém eu sei que não sou. Talvez ele o seja; eu, não. Mas, para mim, é assunto encerrado: o sr. racine santos, para mim, não existe. E tenho coisas mais importantes a fazer do que me preocupar com um pobre coitado. Um abraço.
Moacy, anotada a sugestão do filme. Mas quero falar sobre L. C. Cascudo. Dias atrás, cá na escola em que trabalhamos um colega e eu, quase desanimamos de vez quando, na elaboração de uma ação educativa envolvendo folclore e cultura popular, a maioria dos educadores revelou desconhecer o autor. Vamos parar onde? Um abraço.
tem poesia em Copa hoje, pra ver se você vai lá nos visitar!!!
O Balaio sempre me traz alguma delícia, MOACY. A de hoje, saber que o céu pode até trazer algum divertimento...
Mote:
Toda cidade que presta,
tem que ter cabaré
Glosa:
Samba, fandango, seresta,
animação pra quem quer
a noite inteira em festa
pode chegar quem quiser
toda cidade que presta
tem forró com muita mulher
bebendo cachaça sem pressa,
brincando, sorrindo a “grané”
mas pra farra ficar completa
tem que ter cabaré
Chico Suarê
Sucesso de crítica X fracasso de público (ou vice-versa): jogo interminável.
***
Ainda vou tomar uma cachaça no céu, no hotel de Jesus, e aprontar um escarcéu. Mas não já.
***
Um abraço.
(PS: viste o caso do plágio do Fausto Wolff lá no Marconi?)
Salve, sumido Moacy: concordo com você e com este crítico inteligente sobre a sempre necessária "dupla visão", mas este trabalho nacional em nada me apeteceu para ir ao cinema... Prefira O Cheiro do ralo, crônicas mais interessantes, ainda que com certas "perdas"... Abraço ao potiguar!
Caro Moacy, não concordo muito com essa de fazer pouco do cinema americano. Alguns dos melhores filmes foram feitos lá. Nem vou fazer lista, basta citar Cidadão Kane, um dos melhores filmes já feitos.
Caro mestre Moacy,
A crítica, por mais enfronhada em liguagem cinematográfica, será sempre uma opinião. Cada um tem direito à sua. Há muito eu deixei de me pautar pelos críticos do Rio.
A propósito: tem acompanhado o Festival de Cinema? Não tenho visto muitos, mas os que assisti foram bons ou muito bons. Ontem vi Clube de Leitura de Jane Austen. No sábado, Cristovão Colombo - O Enigma, do Manoel de Oliveira. Muito interessante!
Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.
(Em tempo: os versos de Luiz Xavier são divinos!)
vi sua lista de filmes dos anos 50 - ficaria, como vc, entre os primeiros com o Johnny guitar, mais listas são sempre assim - não agradam a todos.
abarços
Mestre Cirne, estou dando uma passadinha, me alimentando aqui e deixando um abraço carinhoso.
BJ
Casti
Ah! a crítica...
Há momentos em que penso " melhor não tomar conhecimento", mas o ser humano é muito curioso.
Ui, olha a estátua de sal.
um abraço, caro Mestre.
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