por As pelejas de Ojuara, de Nei Leandro de Castro, um dos grandes romances picarescos da literatura brasileira. E, de igual modo, da minha admiração pelas realizações teatrais de Moacyr Góes, no Rio de Janeiro. Por isso mesmo, quanto a mim, havia uma certa expectativa pela adaptação cinematográfica da obra, que recebeu o título cordelístico de O homem que desafiou o diabo. Um bom título, diga-se de passagem. O clima humorístico-nordestino do livro está presente no filme, sem dúvida. Há boas cenas, há bons momentos. Ao contrário de Marcos Palmeira (bom como Zé Araújo, ruim como Ojuara) e de Flávia Alessandra (uma Mãe de Pantanha tenebrosa em sua inexpressividade), o elenco destaca-se: Hélder Vasconcelos (como o Cão Miúdo), Leon Góes (como o corcunda), Tarcísio Gurgel (como o barbeiro de Jardim dos Caiacós), Juliana Porteous (como a jovem trapezista), entre outros, estão muito bem. Mas, de qualquer maneira, ao se marcar pelo cinemão-pipoca do seu produtor Barretão, o filme apresenta dois ou três problemas estéticos complicados, em última instância, para dizer o mínimo. Aliás, o crítico e jornalista Alex de Souza, em No Minuto (cf. Colunas: Bazar - Engolindo o mundo com cachaça) apreendeu a sua essência: bom como espetáculo, ruim como obra-de-arte. Decerto, é possível rediscutir / problematizar essa dicotomia bom/ruim no espaço mesmo de seus objetivos cinematográficos, devidamente "costurados" com uma boa dose de eficiência cinetelevisiva. Uma última observação: por mais que o governo estadual tenha exigido, não há como justificar aquele "final" depois do final - cartões postais de Natal que nada acrescentam à estrutura romanesca do filme.
BALAIO PORRETA 1986
nº 2128
Natal, 24 de setembro de 2007
EXIGÊNCIA
de Lisbeth Lima
[ in Felice. Natal, 2004 ]
Quero um colo que me cale;
que me fale enquanto calo.
POLITICAMENTE CORRETA
de Sandra Camurça
[ in O Refúgio ]
minha poesia é do tipo reciclável
recicla-me
ou te devoro
LUNAÇÃO
de Acantha
[ in La Vie Bohème ]
apaguei minha lua
nova.
estou cheia.
REBULIÇO
de Renato Caldas
[ in Fulô do mato,
republicado em Versos sacânicos. Natal, 2003 ]
Menina me arresponda
Sem se ri e sem chorá:
Pruque você se remexe
Quando vê homem passá?
Fica toda balançando,
Remexendo, remexendo...
Pensa, talvez, qui nós, véio,
Nem tem ôio e nem tá vendo?
Mas, si eu fosse turidade,
Si eu tivesse argum valô,
Eu botava na cadeia
Esse teu remexedô...
E, adespois dele tá preso,
Num logar, bem amarrado,
Eu pedia: - Minha nêga,
Remexe pru Delegado...
14 comentários:
Grata, Moacy, mais uma vez. Um beijo.
Caro Moacy,
Mesmo sem ter visto o filme (e nem vou ver), gostei do seu breve comentário. Não foi surpresa pra mim a qualidade do filme. Não confiava no diretor, nem no produtor, além, é claro, de boa parte do elenco, como a grande maioria dos filmes brasileiros, formado por atores da Poderosa. ´Mas o diabo, já que o título fala dele, é quem duvida se esse filme não ganhar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Oremos, como diziaa um colega (ateu), quando, num grupinho em que estava, se falava de algo ruim. Um abraço. EM TEMPO - E essa de colocar propagando do Estado, depois do filme. Onde já se viu isso? Cruz-credo!
Sandrix e Acantha de novo? Beleza! Clap! Clap! Clap!
Moacy,
adoro o Balaio! E estar nele... melhor ainda! Um abraço, Lisbeth
Caro mestre Moacy,
Eu não sou de apreciar a obra cinematográfica de Moacy Góes. No Teatro, até reconheço que seu início de carreira foi promissor. Depois, destrambelhou.
De qualquer forma, pretendo ver este filme por sua temática. gosto que me enrosco destes causos nordestinos. Sua resenha é absolutamente instigante. O poemas, entõ... vixe maria! Gostei muitíssimo do "Rebuliço". Mas gostei muito demais da conta!
Um abraço. Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.
Caro SOBREIRA: Apesar de tudo, vale a pena ver o filme. Nem que ser para questioiná-lo. Não é pior do que outros filmes exibidos comercialmente, aqui em Natal, no momento. E os "cartões postais" do final são uma propaganda indireta e não direta. Abraços.
Eu de novo?? Posso viciar-me, querido amigo.. Obrigada!!
Não li o livro (confesso que nem conhecia de nome o autor) nem vi o filme. Mas sei que essa necessidade, imposta pela bilheteria, de ter um global ou mais no elenco vem prejudicando seriamente o cinema e o teatro brasileiros. Há exceções, claro, gente que faz TV, cinema e teatro e é bom em todas essas mídias.
Caro Moacy, pretendo ver o filme, se não por outro motivo, ao menos p/ rever as paragens de Carnaúba dos Dantas, q parece ter servido de cenário p/ as locações. Tua opinião sempre conta muito. Abraço do Seridó!
Gostosoa Exigência da Lisbeth... ;o)
saudades tuas...
Xêro!
Moacy, rapaz, e nessa peneira de entretenimento não vazou nem um granzim de pó da terra de carnaúba? Seu breve estudo sobre o filme foi generoso e, vá ver, não há mal nenhum nisso. Pense bem: a gente deve mesmo esperar uma obra de arte dessa adaptação? Os autores e produtores tinham esse objetivo? Se não (a resposta parece óbvia) não custa analisar o resultado da adaptação levando em conta sua circunstância. Digo isso sem ter visto o dito cujo que, salvo engano, ainda não deu boas-tardes nos cinemas de Brasília.
O livro é um tributo à Literatura de Cordel, um grnde romance. O filme, ainda não vi. Eu me lembro que Nei Leandro teve alguns problemas com o primeiro diretor, mas ficou muito feliz quando Moacyr Góes assumiu a direção, no dizer de Nei Leandro, Moacyr falava a mesma língua que ele e o roteiro saiu com facilidade a mais prazer. Por conta do entusiasmo de Nei, comparado à agonia quando o diretor era outro, fiquei ansioso para ver o filme, mas ainda não tive oportunidade.
Lunação é muito boa.
Muito foda tudo isso aqui.
Abraços, Douglas.
Sandra e Acantha, fantásticas. Elas tem uma capacidade de síntese que me fascina.
Beijos
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