Bebamos o vinho doado pela mulher amada...
[ Foto de Chema Madoz, in Escalextric ]
BALAIO PORRETA 1986
nº 2150
Rio, 29 de outubro de 2007
O VINHO DOS AMANTES
de Charles Baudelaire
[ in As flores do mal ]
Trad. Ivan Junqueira
O espaço hoje esplende de vida!
Livres de esporas, freio ou brida,
Cavalguemos no vinho: adiante
Se abre um céu puro e fulgurante.
Como dois anjos que tortura
Uma implacável calentura,
No límpido azul da paisagem
Sigamos a fugaz miragem!
Embalados no íntimo anelo
De um lúcido e febril afã,
Qual num delírio paralelo,
Lado a lado nadando, irmã,
Chegaremos, enfim, risonhos,
Ao paraíso de meus sonhos!
[ 1857-2007: 150 anos de As flores do mal ]
A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
Rede de dormir, de Luís da Câmara Cascudo. Rio de Janeiro : MEC, 1959, 242p. /Il./ [] Riquíssima pesquisa etnográfica, nos domínios da antropologia cultural: um livro saboroso, quer pelo estilo, quer pelas informações, quer pelo folclorismo, quer pelas sugestões. Dividido em duas partes: a primeira contém o ensaio propriamente dito; a segunda, uma antologia (sobretudo poética) centrada na rede. Aliás, no 4º capítulo, Cascudo afirmará: "Uma condição essencial para antropologistas e etnógrafos é ser um bom poeta. Mesmo que não faça versos" (p.79). Durante a sua fase de elaboração do livro, o autor potiguar solicitará a Carlos Drummond de Andrade, com um toque de poesia: "Venho pedir-lhe versos sobre a REDE DE DORMIR, brasileira desde 1500, ... Creio que a rede se enche mais de lirismo do que de carne humana". [Carta recebida por CDA em 4/8/1957; cf. acervo da Fundação Casa Rui Barbosa, no Rio.] O poema enviado por Drummond seria Iniciação amorosa, que se encontra em Alguma poesia, de 1930. Enfim, Rede de dormir é um clássico da literatura etnográfica nacional. Um clássico onde Cascudo - o Cascudinho da boemia natalense - se revela por inteiro: "A Ciência não existe fora da valorização humana" (p.80).
6 comentários:
Ah, li tão pouco de Câmara Cascudo... difícil encontrar publicações do cabra por aqui...
o máximo que se encontra é uma seleta qualquer com um ou dois ensaios do cabra lá no meio, perdidos.
Agora vocÊ atiçou minha saudade!
Sorte e saúde pra todos!
Caro Moacy,
Baudelaire e Cascudo: a reunião desses dois gigantes, cada um em sua praia, enriquece ainda mais o seu Balaio. Um abraço. Ah, ia me esquecendo de Drummond.
Olá Moacy,
Vim porque venho mesmo ahahahah também porque a Sandrinha deu um toque pra vir, pela postagem de ontem.
Ontem, hoje, é um prazer aos olhos, as imagens e à memória, as palavras.
Abração
Bela postagem mas vim aqui pra dizer que Trotsky se aboletou lá no meu refúgio...rsrs. Beijos.
Vinho, Baudelaire, São Jorge e Trostky: o Balaio está cada vez mais porreta.
Arriba!
Baudelaire é fantástico. Só não curto muito a formalidade da escrita, bem ao estilo parnasiano. O conteúdo, claro, é díspare.
Mas quem sou eu pra criticar o cara?
rsrs.
Beijos Moacy. Sempre.
Postar um comentário