sábado, 1 de dezembro de 2007


Foto de
Claudia Perotti
in
Olhares


BALAIO PORRETA 1986
n° 2175
Rio, 1 de dezembro de 2007


Poema de
SANDRA CAMURÇA
(PE)
[ in O Refúgio ]

Sentimento do dia
Enlouquecer para não enlouquecer


SUICÍDIO
de ADA LIMA (RN)
[ in Menina Gauche ]

Ao poeta
medroso

resta

a caneta -
lâmina

que assina

o poema -
obituário


POEMA de
ZEMARIA PINTO (AM)
[ in Fragmento do silêncio, 1995 ]

dissolve-se a tarde
no alarido das araras
e em flocos de chumbo


Cinema
UMA PEQUENA OBRA-PRIMA

Toda revolução é um lance de dados
(1977), curta de Straub & Huillet, coloca algumas questões instigantes para aqueles que pensam a relação cinema/literatura fora dos padrões poéticos e romanescos. Alguns atores/personagens, sentados num gramado, lêem estática e friamente Un coup de dés, o famoso poema de Mallarmé escrito em 1897. Há
apenas duas ou três pequenas nuanças na "textura" das vozes, quase imperceptíveis. Há poucos planos. Há poucos movimentos de câmera. Para todos os efeitos, os dados estão/foram lançados: não se trata de uma leitura/adaptação concreto-mallarmaica, nem mesmo "literária" no sentido pleno do termo; trata-se de uma leitura sígnico-materialista, absolutamente "limpa" em sua proposta audiovisual. É preciso dizer e dizer: a experimentalidade em Straub & Huillet não é gráfico-espacial, não é expressionista; é antinarracional, é antibarroca. É antidionisíaca sem ser propriamente apolínea. O que temos, então? Um Mallarmé que, em sendo anticinema, se faz antiliteratura: "Toda constelação é um lance de da(r)dos", enfim, como se fora um enigmático Marienbad resnaisiano revisitado, décadas e décadas depois, por um vigoroso Mallarmé straubiano . E o filme - este particular filme - constrói-se em estado bruto, sem maiores arroubos formais ou emocionais. Em outras palavras: sem concessões literárias ou cinematográficas. Como toda a obra de Straub & Huillet, por sinal: uma obra árida e corrosiva em seu materialismo militante. Mas ao mesmo tempo fascinante. Por sua ousadia. Por sua coragem. Por sua signagem.

7 comentários:

Anônimo disse...

Moacy, muita grata pela sua presença no meu blog e pela surpresa.
Que lindo o poema do Zemaria, com seus 'flocos de chumbo'!
Abraço!

Anônimo disse...

Querido,

Que surpesa! Que honra!
Essa é uma das fotos que mais gosto da série publicada no Olhares. Adoro brincar com imagens, adoro sobrepô-las.

Agradeço-te, viu????

Beijinhosss

o refúgio disse...

Mas Menino! Eu de novo? Já avisei uma vez, vou ficar malacostumada...rs...
Grata grata grata.

Os poemas de Ada e Zeamaria são ótimos, inclusive os da postagem anterior. E que foto a da Cláudia, hein?

Adoro você!
Beijo, Beibe.

Ane Brasil disse...

Adorei os poemas!
Quanto ao filme, deu vontade de ver... já sei que vai ser um garimpo.
sorte e saúde pra todos!

Pedrita disse...

que post dramático. nunca ouvi falar nesse filme. eu tentei informações sobre o cd poemúsica para colocar no meu blog e não achei. vc tem algo pra me enviar? se só foi doado, vendido. não achei nada. beijos, pedrita

Marfil disse...

off post - Prezado Moacy Cirne: Em nome de todos os leitores do SPOILER, o BALAIO PORRETA 1986 foi indicado ao 5º Prêmio Spoiler de Cinema e Blogs na categoria de Melhor Conceito Filosófico. Parabéns!

Francisco Sobreira disse...

Moacy,
O poema de Ada Lima confirma que nos últimos anos têm surgido no RN mais poetas talentosos do sexo feminino do que no masculino. Abraço.