Cartaz de
Era uma vez no Oeste,
de Sergio Leone
BALAIO PORRETA 1986
nº 2310
Rio, 10 de maio de 2008
DIVAGAÇÕES & PROVOCAÇÕES
No mundo do cinema, com seus mitos e suas fantasias, há faroestes que crescem com o tempo, de forma acentuada, consagrando-se como verdadeiras obras-primas. Segundo as minhas leituras crítico-afetivo-libertinárias, há que apontar, neste sentido, por ordem cronológica, os filmes My darling Clementine (Ford, 1946), Johnny Guitar (Ray, 1954), Rastros de ódio (Ford, 1956), Rio Bravo (Hawks, 1959) e Era uma vez no Oeste (Leone, 1968). Outros tendem a crescer, como Por uns dólares a mais (Leone, 1965) e Três homens em conflito (Leone, 1966). Há também aqueles clássicos que continuam clássicos inesquecíveis: No tempo das diligências (Ford, 1939), Rio Vermelho (Hawks, 1948), Matar ou morrer (Zinnemann, 1952) e O homem que matou o facínora (Ford, 1962). E há, ainda, aqueles que, a cada nova revisão, mais e mais decepcionam: Shane / Os brutos também amam (Stevens, 1953) é um deles.
Embora Charles Chaplin seja, sem dúvida, um clássico da tragicomédia - e filmes como Em busca do ouro (1925), Luzes da cidade (1931) e Tempos modernos (1936) sejam obras-primas praticamente indiscutíveis -, para mim, nos últimos 16 ou 18 anos, o nome que, nos anos 20, em se tratando de comédia, deve ser saudado como "o" grande gênio é o de Buster Keaton. Por um motivo muito simples: enquanto Chaplin investia mais no Humanismo através de suas propostas temáticas (com resultados ótimos, acrescente-se), Keaton investia mais no Cinema enquanto linguagem (haja vista Sherlock Jr. [1924], Sete amores [1925] e A General [1927], além de O homem das novidades [1928], onde teve participação decisiva como verdadeiro e "oculto" co-diretor).
Não se fazem mais críticos de cinema como José Lino Grünewald (Rio, cf. Um filme é um filme, pela Companhia das Letras, 2001), Francisco Luiz de Almeida Salles (SP, cf. Cinema e verdade, pela Companhia das Letras, 1988) e Paulo Emilio Salles Gomes (SP), ou mesmo, em tom menor, como Moniz Vianna (Rio). Vez por outra aparece um crítico interessante, claro. Mas eles são cada vez mais raros. E o que seria um bom crítico de cinema? Aquele capaz de relacionar o con/texto fílmico com a História, a Filosofia, a Poesia, a Literatura, o Social e a Estética das formas cinematográficas. Hoje, os críticos cedem lugar aos teóricos, e os temos com boa envergadura intelectual. É o caso de Ismail Xavier, em São Paulo.
Não, não vi, nem me interessei por Tropa de elite (José Padilha, 2007), embora tenha apreciado o seu filme anterior (Ônibus 174). Em compensação, vi e gostei muitíssimo de Estômago (Marcos Jorge, 2007), com João Miguel, Fabiula Nascimento, Babu Santana e Paulo Miklos. Preparo-me para ver Condor (Roberto Mader, 2007), um documentário sobre a terrível Operação Condor, quando policiais e torturadores do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Chile, nos anos 70, uniram-se contra a esquerda e a democracia da América Latina. Enquanto isso, o melhor lançamento cinematográfico do ano, até a presente data, é o emocionante Serra da Desordem (André Tonacci, 2006).
Era uma vez no Oeste,
de Sergio Leone
BALAIO PORRETA 1986
nº 2310
Rio, 10 de maio de 2008
DIVAGAÇÕES & PROVOCAÇÕES
No mundo do cinema, com seus mitos e suas fantasias, há faroestes que crescem com o tempo, de forma acentuada, consagrando-se como verdadeiras obras-primas. Segundo as minhas leituras crítico-afetivo-libertinárias, há que apontar, neste sentido, por ordem cronológica, os filmes My darling Clementine (Ford, 1946), Johnny Guitar (Ray, 1954), Rastros de ódio (Ford, 1956), Rio Bravo (Hawks, 1959) e Era uma vez no Oeste (Leone, 1968). Outros tendem a crescer, como Por uns dólares a mais (Leone, 1965) e Três homens em conflito (Leone, 1966). Há também aqueles clássicos que continuam clássicos inesquecíveis: No tempo das diligências (Ford, 1939), Rio Vermelho (Hawks, 1948), Matar ou morrer (Zinnemann, 1952) e O homem que matou o facínora (Ford, 1962). E há, ainda, aqueles que, a cada nova revisão, mais e mais decepcionam: Shane / Os brutos também amam (Stevens, 1953) é um deles.
Embora Charles Chaplin seja, sem dúvida, um clássico da tragicomédia - e filmes como Em busca do ouro (1925), Luzes da cidade (1931) e Tempos modernos (1936) sejam obras-primas praticamente indiscutíveis -, para mim, nos últimos 16 ou 18 anos, o nome que, nos anos 20, em se tratando de comédia, deve ser saudado como "o" grande gênio é o de Buster Keaton. Por um motivo muito simples: enquanto Chaplin investia mais no Humanismo através de suas propostas temáticas (com resultados ótimos, acrescente-se), Keaton investia mais no Cinema enquanto linguagem (haja vista Sherlock Jr. [1924], Sete amores [1925] e A General [1927], além de O homem das novidades [1928], onde teve participação decisiva como verdadeiro e "oculto" co-diretor).
Não se fazem mais críticos de cinema como José Lino Grünewald (Rio, cf. Um filme é um filme, pela Companhia das Letras, 2001), Francisco Luiz de Almeida Salles (SP, cf. Cinema e verdade, pela Companhia das Letras, 1988) e Paulo Emilio Salles Gomes (SP), ou mesmo, em tom menor, como Moniz Vianna (Rio). Vez por outra aparece um crítico interessante, claro. Mas eles são cada vez mais raros. E o que seria um bom crítico de cinema? Aquele capaz de relacionar o con/texto fílmico com a História, a Filosofia, a Poesia, a Literatura, o Social e a Estética das formas cinematográficas. Hoje, os críticos cedem lugar aos teóricos, e os temos com boa envergadura intelectual. É o caso de Ismail Xavier, em São Paulo.
Não, não vi, nem me interessei por Tropa de elite (José Padilha, 2007), embora tenha apreciado o seu filme anterior (Ônibus 174). Em compensação, vi e gostei muitíssimo de Estômago (Marcos Jorge, 2007), com João Miguel, Fabiula Nascimento, Babu Santana e Paulo Miklos. Preparo-me para ver Condor (Roberto Mader, 2007), um documentário sobre a terrível Operação Condor, quando policiais e torturadores do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Chile, nos anos 70, uniram-se contra a esquerda e a democracia da América Latina. Enquanto isso, o melhor lançamento cinematográfico do ano, até a presente data, é o emocionante Serra da Desordem (André Tonacci, 2006).
A DOR NO MUNDO ATRAVÉS DA PSICANÁLISE
O Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos, situado em Copacabana - Rio, Rua Barão de Ipanema, 56 (fone: [21]2257-9454; emeio: ebep@dh.com.br), promoverá nos próximos dias 16 e 17 a Jornada A Dor no Mundo. Em discussão (16/5), as Estéticas da dor, com Lia Rodrigues e outros; os Refúgios da dor, com Eliana Schueler Reis e outros; as Escritas da dor, com Antonio Torres, Andrea Menezes Masagão e Nelma de Mello Cabral. No dia seguinte: mais debates, mais informações, mais reflexões. Como dizem seus promotores: "A dor, física ou psíquica, sempre emerge como um limite: seja o limite impreciso entre o corpo e a psique, seja entre o eu e o outro, seja entre o apaziguamento e o desamparo". Vale a pena conferir.
O Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos, situado em Copacabana - Rio, Rua Barão de Ipanema, 56 (fone: [21]2257-9454; emeio: ebep@dh.com.br), promoverá nos próximos dias 16 e 17 a Jornada A Dor no Mundo. Em discussão (16/5), as Estéticas da dor, com Lia Rodrigues e outros; os Refúgios da dor, com Eliana Schueler Reis e outros; as Escritas da dor, com Antonio Torres, Andrea Menezes Masagão e Nelma de Mello Cabral. No dia seguinte: mais debates, mais informações, mais reflexões. Como dizem seus promotores: "A dor, física ou psíquica, sempre emerge como um limite: seja o limite impreciso entre o corpo e a psique, seja entre o eu e o outro, seja entre o apaziguamento e o desamparo". Vale a pena conferir.
RECOMENDAMOS
a leitura do artigo Os caninos do vampiro
(sobre o senador José Agripino Maia, do DEMo - RN, e a ministra Dilma Rousseff),
por Fávio Aguiar, em CartaMaior.
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8 comentários:
Caro Moacy,
Como você já sabe, não sou um admirador incondicional de Era uma vez... no Oeste, não o colocando entre os 10 maiores do "western" (entre os 15, provavelmente). Também não coloco Johnny Guitar entre os maiores, me parecendo um filme superestimado, como Juventude Transviada, do mesmo Ray. Mas concordo com você quanto à queda de prestígio de Shane. Ainda o coloco entre os 10, mas aí pelo sétimo ou oitavo lugar. Quanto a Chaplin e Keaton, dois gênios, continuo preferindo o primeiro. Dos filmes que você citou de Keaton, não conheço Sete Amores, e A General não vi integralmente, porque quando peguei o filme, na tevê há alguns anos, ele já ia perto da metade. Mas gosto muito de Sherlock Jr e Nossa Hospitalidade, o primeiro mais. Mas, enfim, cada um tem os seus gostos, as suas opiniões. Um abraço.EM TEMPO - Não existem mesmo (e isso já faz tempo), críticos como os que você citou e outros não mencionados. Inclusive, sinto falta do estilo saboroso de Moniz, Almeida Salles, Ely e outros.
muito bom o artigo sobre o caso da galega do alecrim (esse era o modo como o chamávamos,qdo éramos crianças...). o danado do zé agripino, com a felicidade da expressão "autismo político", permaneceu exatamente onde sempre esteve: no vazio intelectual e político. mais uma para as pérolas dos parlamentos brasileiros...
agora um parêntese para o que realmente importa: essa fotografia de lisbeth (no post anterior), que coisa mais fantástica...essa lis é de flor mesmo!
grandes beijos...
Iara Maria
Moacy: gostei muito de 'Era uma vez no Oeste' quando o vi(pela primeira vez - incrível, não?)ano passado. Já não digo o mesmo de 'Johnny Guitar'. Mas, é certo que precisaria rever 'Shane' para ter uma avaliação melhor - faz um tempinho que não o vejo. E sobre os outros de Leone apenas achei-os bons filmes. Hoje talvez considere 'Rastros de ódio' o melhor faroeste dos últimos tempos.
Sobre Chaplin e Keaton, apesar de não conhecer o 'Sherlock Jr' e outros, tenho minha estima mais pelo primeiro. E também por 'Luzes da Cidade'.
Porém cada um tem suas preferências, não? Seria bom mesmo que revíssemos todos os filmes ao mesmo tempo e, então, faríamos uma geral apreciação. E que não esquecéssemos de um faroeste pouco visto, de produção modesta:'O Reinado do Terror'.
Um abraço...
sou um péssimo crítico: leone, leone e leone! todos o 3 citados por vosmicê.
e muito além do uésterne... de lambuja vai era uma vez na america, q mostra em q os cowboys (aqui no sentido não necessariamente do mocinho) se transformaram.
então, leone 4x!
sêo moacyr. já disse: todo dia venho aqui porque sou fraco do juizo(risos)e tuas obs. crítica fudentinas e fudedoras são especiais. sim amigo: é possível estabelecer um diálogo com uma tabaca mordida? si. quanto ao filme; "estômago" em alguns momentos os diálogos eram fraquim. reverberação de obviedades(vá ver num intendo de filme) a cena final foi escatológica. bastava o ótimo personagem do ótimo joão miguel ter subido a escada com a faca. o resto a imaginação emergiria. já que ele termina assando o cu da amante. diga mais
Não vi Serra da Desordem, mas concordo completamente quanto aos outros filmes nacionais que você cita. Também não vi e não gostei de Tropa de Elite, apesar do Ônibus ter sido um bom filme do gênero. Não entendo de cinema, mas gosto tanto de certos filmes que cheguei a me identificar com algumas personagens.//
Boa dica a jornada de psicanálise. Eliana Reis foi minha professora de teoria psicanalítica no IBMR aqui no Rio, gosto muito dela.//
Que história essa do Agripino e da Dilma, hein? Parece coisa de sádico mesmo. Vou ver o artigo.
Abraço grande.
também apoio a ministra Dilma. essa jornada A Dor no Mundo deve ser bem interessante. Um beijo.
Era uma vez no Oeste... Eu o assisti no antigo Metro Boavista. Maravilhoso!
Caro mestre Moacy, já foi assistir a Irina Palm? É um filme interessante.
Nos antigos westerns, tem um que nunce esqueço: Soldier Blue/Quando é preciso ser homem. Do Sam Peckimpah. Muito bom. Carpe Diem.
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