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Pierre Lord Gabeon
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Sensualizarte
BALAIO PORRETA 1986
n° 2409
Rio, 25 de agosto de 2008
Quem me inundou esqueceu de orar para as estrelas.
(Marize CASTRO. Esperado ouro, 2005)
Memória 2005
BALAIO INCOMUN n° 1615
Desde 8 / 9 / 1986
Natal, 26 de outubro de 2005
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O LIVRO DESCONHECIDO
Estou à procura de um livro para ler. É um livro todo especial. Eu o imagino como a um rosto sem traços. Não lhe sei o nome nem o autor. Quem sabe, às vezes penso que estou à procura de um livro que eu mesma escreveria. Não sei. Mas faço tantas fantasias a respeito desse livro desconhecido e já tão profundamente amado. Uma das fantasias é assim: eu o estaria lendo e de súbito, a uma frase lida, com lágrimas nos olhos diria em êxtase de dor e de enfim libertação: "Mas é que eu não sabia que se pode tudo, meu Deus!" [CLARICE LISPECTOR. A descoberta do mundo; crônicas. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p. 233]
Estou à procura de um livro para escrever. Ou melhor, de um tema que possa ser transformado em livro. Já tenho o título, a partir de inspirações construídas com sangue, suor e lamentos. Também tenho minhas fantasias a respeito desse livro ainda inédito e, portanto, desconhecido inclusive para mim. Não será um livro qualquer. Eu, que já escrevi Os lusíadas e A divina Comédia, estou pronto para novos metaplágios e novas metacriações. Como todos sabem, Camões e Dante nunca existiram; foram criados pela minha imaginação. Contudo entretanto porém todavia, pensando bem, e desde já revelando a essência do meu ser angustiante-angustiado-borgeano, são vários os livros que escreverei nos próximos 120 anos. Os primeiros já podem ser nomeados, considerando-se a minha particular visão epistemológico-aramaico-tricolor-caicoense-existencial do mundo. Darei as dicas necessárias, para que não me acusem de tarado sexual. Ou de extra-terrestre enlouquecido pelas vogais do alfabeto greco-natalense-potengíaco. Eis os títulos e as devidas inspirações, com os inclassificáveis cuidados acadêmicos daqueles que, como eu, freqüentaram, na capital potiguar, Maria Boa e o Cova da Onça, nos anos 40 do século passado:
Perto do coração clandestino : baseado em Clarice Lispector, claro;
Os desesperados do Mar Vermelho : releitura da Bíblia, a partir de uma sugestão de Umberto Eco;
Os mortos são passageiros : inspirado em Newton Navarro;
As aventuras de James Joyce na Cidade do Caicó : a partir de indicações do historiador Muirakytan Macedo;
O triste fim de Dom Casmurro: Lima Barreto/Machado de Assis sob a ótica de um seridoense pra lá de Jucurutu;
Memórias sentimentais de José Bezerra Gomes : o encontro de Oswald de Andrade com o escritor currais-novense;
O canto de muro do jardim das delícias : Câmara Cascudo/Bosch, para alegrar o coração dos descontentes;
As dunas vermelhas de Caiçara do Rio dos Ventos : com a devida aprovação de Nei Leandro de Castro, mesmo que não existam dunas, sejam azuis, sejam amarelas ou vermelhas, em Caiçara de todos os rios e de todos os ventos;
Velhas comédias da vida privada : entre Milton Ribeiro e Luís Fernando Veríssimo;
Livro de poemas de Zila Mamede : de Jorge Fernandes à cristalina Zila, só a poesia e a música podem nos salvar;
Peleja de Zé Limeira da Paraíba com Chico Doido de Caicó : releitura das anotações de Orlando Tejo;
Para não esquecer a hora da estrela : Clarice Lispector, mais uma vez, para não dizer que não falei de águas vivas e maçãs no escuro.
8 comentários:
Prezado Moacy,
já posso dispor dos manuscritos, na verdade 1/3 do diário de joyce, encontrado entre os pertences de senhora triestina que fugindo do escândalo, aportou na casa de sua tia Dona Generosa Levinas, marrana seridoense. Nele podemos ler por exemplo: "rounded and ripened: rouded by the lathe of intermarriage and ripened in the forcing-house of seclusion of her race". Por fim conclui: "Envoy: Love me, love my umbrella". Em outra página de mesma caligrafia, estranhamente escrita com a mão oposta há a assinatura "Hai-kai-có, 12 de fervereiro de 1921, Giacomo"
grande abraço,
muirakytan
Maraviolhosos, desejaria degustar deliciosamente, desses criativos semiplágios regionais, rs.
Já imaginou "A Bagagem do esperado ouro à teus pés" ?
(uma celebração poética entre Adélia Prado, Marize Castro e Ana Cristina César)
um abraço
Adélia
Joyce em Caicó? Uau, este eu faço questão de ler.
Um abraço.
Fantasias! Essenciais ao bom escritor!
Moacy,
venho aqui toda vez, que quero viajar, no belo e no inimaginável, e é claro saio satisfeita! Continuo nas tuas pegadas para a aprendizagem! És um mestre! Beijos de amadora
Esqueci de dizer: que baita foto.
"Nunca vi uma bunda-lua,
talvez tenha visto uma
bunda-nua como a do cavalheiro
que se fez sol sobre mim".
Maria Maria
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