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Pascal Renoux
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BALAIO PORRETA 1986
n° 2405
Rio, 21 de agosto de 2008
Os poetas que eu amei me deixaram, no mínimo,
três imperfeições. Com as quais invento sonhos,
desenho caminhos e ergo muros.
(Sheyla AZEVEDO, in Bicho Esquisito, 18/08/2008)
POEMA
Sandra Camurça
[ in O Refúgio ]
sob o chumbo da nuvem
descarga elétrica forja a lâmina -
corta-me o céu da carne!
AMANHECENDO
Ana de Santana
[ in Em nome da pele, 2008 ]
Não conto o tempo quando demoro
os dedos sobre teus cardeais
Tudo que preciso amanhece no teu corpo
Criado pela infância das almas
Tudo é minguado
Se não sou vizinha do teu rosto
Se não sou eu mesma a manhã
Que te desperta o afã
de morar em mim
Ana de Santana
[ in Em nome da pele, 2008 ]
Não conto o tempo quando demoro
os dedos sobre teus cardeais
Tudo que preciso amanhece no teu corpo
Criado pela infância das almas
Tudo é minguado
Se não sou vizinha do teu rosto
Se não sou eu mesma a manhã
Que te desperta o afã
de morar em mim
DIVAGAÇÕES & PROVOCAÇÕES
Sou um homem
de poucas certezas e muitas e muitas dúvidas. Uma das raras certezas: Dom Quixote é o maior livro de todos os tempos. Outra certeza: Grande sertão: veredas continua insuperável, em se tratando de literatura brasileira. Mais uma: Moby Dick é o mais admirável dos romances norte-americanos. E mais: Antonioni, Godard, Renoir e Welles formam o "meu" quarteto mágico cinematográfico, assim como as Vésperas da Virgem, de Monteverdi (seja por Savall, seja por Gardiner), e a obra de Bach constituem as minhas principais referências musicais, ao lado das Cantigas de Santa Maria e dos últimos quartetos de Beethoven. Mas adianto: são certezas docemente provisórias, que enfrentam mil desafios. E mil dúvidas. Ou mil autoquestionamentos.
Sou ateu,
graças a Marx, Sartre e Darwin. A idéia de um Deus Superior não passa, para mim, de simples abstração político-metafísico-religiosa. Contudo, é bom registrar, como bom seridoense, caba criado nas veredas do sertão potiguar, tenho o maior carinho por Nossa Senhora de Sant'Ana, e procuro compreender, com respeito, e na medida do possível, a religiosidade popular que a cerca. Já o disse, antes: em minha sala de estudos, figuram - lado a lado - as imagens de Marx e Sant'Ana. Sem maiores problemas. Sem maiores ciúmes.
A minha pequena provocação
sobre a poesia (verbal) norte-riograndense suscitou alguns comentários interessantes no Substantivo Plural. Justas ou equivocadas, as preferências por mim anotadas (particularmente José Bezerra Gomes, Jorge Fernandes, Zila Mamede e Nei Leandro de Castro, além de Luís Carlos Guimarães) não excluem, decerto, a minha admiração por outros poetas e/ou poemas, nem todos citados. E mais: concordo com Marcos Silva - a importância de uma dada literatura também se faz com a inclusão de autores que eu nomearia como "supostamente menores ou de qualidade literária discutível". O que seria, aliás, uma "qualidade literária discutível"? A rigor, a não ser em casos extremos (outro ponto para discussão!), todos os autores são importantes, em maior ou menor grau. Posso ter restrições, por exemplo, a Walflan de Queiroz, Palmira Wanderley, Othoniel Menezes e/ou Antoniel Campos, mas reconheço a importância (cultural) de todos eles para a história da literatura potiguar.
Confesso a minha dificuldade
em aceitar o conceito de "pensador imbecil" aplicado a Ariano Suassuna (cf., mais uma vez, o Substantivo Plural). Sei que as suas opiniões, em se tratando de arte, música e literatura, são conservadoras ou mesmo retrógradas. Sei que a sua defesa do "nacionalismo armorial" pode levar a equívocos. Mas como negar a importância (inclusive estética), por exemplo, de um Antônio Madureira? Seu Romançal (ao lado de outros autores) é, seguramente, ou pelo menos assim me parece, uma verdadeira obra-prima da sonoridade brasileira. Poder-se-á dizer: Romançal, Auto da Compadecida (do próprio Ariano), alguns discos de Antonio Nóbrega extrapolam o seu "pensamento vivo" - ou, se preferirem, o seu "pensamento morto". Neste caso, só uma discussão devidamente fundamentada contemplará o problema colocado por aqueles que o rejeitam de forma radical como possível pensador. De resto, o que seria um "pensamento imbecil"? Não haveria, aqui, uma contradição em termos? Digamos, como hipótese: Ariano é um sujeito imbecil ao falar de arte e, assim sendo, o seu pensamento é um pensamento "menor" quando comparado a outros pensadores e estetas. Resta a pergunta: será mesmo? Não se trata de simples filigrana semântica; discutir conceitos exige rigor crítico.
Sou um homem
de poucas certezas e muitas e muitas dúvidas. Uma das raras certezas: Dom Quixote é o maior livro de todos os tempos. Outra certeza: Grande sertão: veredas continua insuperável, em se tratando de literatura brasileira. Mais uma: Moby Dick é o mais admirável dos romances norte-americanos. E mais: Antonioni, Godard, Renoir e Welles formam o "meu" quarteto mágico cinematográfico, assim como as Vésperas da Virgem, de Monteverdi (seja por Savall, seja por Gardiner), e a obra de Bach constituem as minhas principais referências musicais, ao lado das Cantigas de Santa Maria e dos últimos quartetos de Beethoven. Mas adianto: são certezas docemente provisórias, que enfrentam mil desafios. E mil dúvidas. Ou mil autoquestionamentos.
Sou ateu,
graças a Marx, Sartre e Darwin. A idéia de um Deus Superior não passa, para mim, de simples abstração político-metafísico-religiosa. Contudo, é bom registrar, como bom seridoense, caba criado nas veredas do sertão potiguar, tenho o maior carinho por Nossa Senhora de Sant'Ana, e procuro compreender, com respeito, e na medida do possível, a religiosidade popular que a cerca. Já o disse, antes: em minha sala de estudos, figuram - lado a lado - as imagens de Marx e Sant'Ana. Sem maiores problemas. Sem maiores ciúmes.
A minha pequena provocação
sobre a poesia (verbal) norte-riograndense suscitou alguns comentários interessantes no Substantivo Plural. Justas ou equivocadas, as preferências por mim anotadas (particularmente José Bezerra Gomes, Jorge Fernandes, Zila Mamede e Nei Leandro de Castro, além de Luís Carlos Guimarães) não excluem, decerto, a minha admiração por outros poetas e/ou poemas, nem todos citados. E mais: concordo com Marcos Silva - a importância de uma dada literatura também se faz com a inclusão de autores que eu nomearia como "supostamente menores ou de qualidade literária discutível". O que seria, aliás, uma "qualidade literária discutível"? A rigor, a não ser em casos extremos (outro ponto para discussão!), todos os autores são importantes, em maior ou menor grau. Posso ter restrições, por exemplo, a Walflan de Queiroz, Palmira Wanderley, Othoniel Menezes e/ou Antoniel Campos, mas reconheço a importância (cultural) de todos eles para a história da literatura potiguar.
Confesso a minha dificuldade
em aceitar o conceito de "pensador imbecil" aplicado a Ariano Suassuna (cf., mais uma vez, o Substantivo Plural). Sei que as suas opiniões, em se tratando de arte, música e literatura, são conservadoras ou mesmo retrógradas. Sei que a sua defesa do "nacionalismo armorial" pode levar a equívocos. Mas como negar a importância (inclusive estética), por exemplo, de um Antônio Madureira? Seu Romançal (ao lado de outros autores) é, seguramente, ou pelo menos assim me parece, uma verdadeira obra-prima da sonoridade brasileira. Poder-se-á dizer: Romançal, Auto da Compadecida (do próprio Ariano), alguns discos de Antonio Nóbrega extrapolam o seu "pensamento vivo" - ou, se preferirem, o seu "pensamento morto". Neste caso, só uma discussão devidamente fundamentada contemplará o problema colocado por aqueles que o rejeitam de forma radical como possível pensador. De resto, o que seria um "pensamento imbecil"? Não haveria, aqui, uma contradição em termos? Digamos, como hipótese: Ariano é um sujeito imbecil ao falar de arte e, assim sendo, o seu pensamento é um pensamento "menor" quando comparado a outros pensadores e estetas. Resta a pergunta: será mesmo? Não se trata de simples filigrana semântica; discutir conceitos exige rigor crítico.
10 comentários:
Caro Moacy, você acertou em tudo, hoje! Não tem uma palavra (ou imagem) fora do lugar e compartilho de suas opiniões sobre a poesia do RN e sobre Ariano. No entanto, faço uma observação: fazer listas (e você sabe e sabe e sabe disso) traz alguns probleminhas, vez ou outra!
Abs.
ana de santana é uma excelente aquisição para o Balaio, meu amigo, querido. e concordo com o lívio também. um beijo daqueles cheio de admiração e carinho.
Moacy: o seu texto 'divagações e provocações' tá um primor. E a idéia de um Deus é por aí. Acredito que seja um mito criado pelo medo do homem. E tal 'criação' terminou sendo 'necessária' para conformar desesperos e similitudes.
E que imagem sensual, hein?
Um abraço...
Parabéns pelo texto e pelas poesias, amigo. Lindo!
Obrigada pela visita! Nossa, "A Primeira Mulher de Deus" no Balaio! Será uma honra, amigo! Obrigada, meu rei! Publica logo, vai! kkkkkk
Beijão, querido!
O blog continua excelente, com a mescla de poesias,fotos e textos diversos que fazes. Continue assim. Um abraço!
Excelente postagem. "Divagações & Provocações" está ótimo, principalmente no que concerne a Ariano Suassuna - tenho amigos que odeiam seus pontos de vista e outros que o amam. Eu fico entre a certeza que ele é um excelente escritor e a dúvida se ele é um bom crítico...
No mais, grata pela descarga elétrica, rsrs...
Um cheiro!
Moacy,
Tomei uma decisão deveras importante: vou ficar sempre nas suas pegadas, porque com você, cultura, transborda, e assim, só vou aprender, nem que seja só um pouquinho! Te adimiro muito! Beijos de discípula, ávida por aprender
Moacy,
Primeiro, que beleza de foto! Segundo, concordo com você que Dom Quixote é o maior romance já escrito. Discordo, no entanto, quanto à sua avaliação sobre Moby Dick. Mas como você está careca de saber, cada um tem as suas opiniões e preferências, nas quais são envolvidos vários críterios. Terceiro: cara, precisava o Flu bater no MEU Náutico? Precisava, hem? Um abraço.
Olá Moacy,
Obrigado pela visita ao Rio Movediço. Demorei-me no agradecimento, é timidez e pensar demasiado antes de escrever. Mas já tinha vindo aqui fuçar o balaio (até remexi para ver s'encontrava em meus guardados algumas edições impressas que você distribuía lá na Travessa do Ouvidor). Belo balaio e excelentes reflexões sobre o trato literário que acabei de ler no 'post'. para acompanhar o processo, vou lá no substantivo cultural me informar mais.
Grandes Abraços!
Ô Moacy, beleza de Divagações & Provocações. Não concordo com tudo o que ele diz/escreve, mas gosto muito do Suassuna - um baita escritor.
Um abraço.
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