Newton Navarro
(1928-1992),
poeta, contista e artista plástico natalense
BALAIO PORRETA 1986
n° 2513
Natal, 21 de dezembro de 2008
Como colorir um dia cinza?
(Ada LIMA. Blues, in Menina Gauche)
O MORTO
Newton Navarro
[ in Subúrbio do silêncio. Natal, 1953 ]
Despido de azul e de paisagem
O morto está.
Silenciosa semente de carne
Aguardando as raízes.
Sem pai, sem mãe,
Sem casa,
Sem sono.
Até sem mortos
O morto está.
Não lhe resta lembrança alguma,
Ignora a tarde e as flores
Que o cobrem
E a escura casaca
Com que o vestiram um dia.
Não tem pranto nos olhos.
Não tem olhos,
Nem saudade,
Nem lembrança.
Nem ele mesmo se possui
Nem mesmo alma.
Apodrecida semente
Que espera raízes,
Assim o morto está:
Incompleto, inconseqüente
E só.
Sem presença
Sem confiança de que será terra,
Infinito,
Assim o morto está.
Os sinos da cidade
Não o despertarão nunca.
Por que, então, o vosso pranto, Senhora?
Newton Navarro
[ in Subúrbio do silêncio. Natal, 1953 ]
Despido de azul e de paisagem
O morto está.
Silenciosa semente de carne
Aguardando as raízes.
Sem pai, sem mãe,
Sem casa,
Sem sono.
Até sem mortos
O morto está.
Não lhe resta lembrança alguma,
Ignora a tarde e as flores
Que o cobrem
E a escura casaca
Com que o vestiram um dia.
Não tem pranto nos olhos.
Não tem olhos,
Nem saudade,
Nem lembrança.
Nem ele mesmo se possui
Nem mesmo alma.
Apodrecida semente
Que espera raízes,
Assim o morto está:
Incompleto, inconseqüente
E só.
Sem presença
Sem confiança de que será terra,
Infinito,
Assim o morto está.
Os sinos da cidade
Não o despertarão nunca.
Por que, então, o vosso pranto, Senhora?
Repeteco
DIARIM DE MARIA BUNITA (1, 2 e 3)
Divulgação: Menina Arretada do Seridó
Depois de anos e anos de pesquisas antropológicas, epistemológicas, metafísicas, becolamistas e seridológicas, finalmente (re)publicamos, revisados, os três primeiros capítulos do famoso Diarim de Maria Bunita, até recentemente inédito, e cuja autenticidade foi comprovada pelo Tribunal das Causas Delirantes e Jupiterianas, situado na Casa Forte do Cuó, nas proximidades do Poço de Santana, em Caicó, devidamente presidido pelo historiador Muirakytan Macedo e pela professora e
poeta Ana de Santana.
Depois do Diarim de Lampião, divulgado pelo Papa-Figo (Recífilis) e pelo próprio Balaio, nada melhor do que o Diarim de Maria Bunita.
(1)
Divulgação: Menina Arretada do Seridó
Depois de anos e anos de pesquisas antropológicas, epistemológicas, metafísicas, becolamistas e seridológicas, finalmente (re)publicamos, revisados, os três primeiros capítulos do famoso
poeta Ana de Santana.
Depois do Diarim de Lampião, divulgado pelo Papa-Figo (Recífilis) e pelo próprio Balaio, nada melhor do que o Diarim de Maria Bunita.
(1)
Cafundós-do-Judas, 23/03/1924
Meu diarim, cumeçando a conversá
de Maria Bunita pra Maria Bunita:
hoje eu tô aperriada qui nem a mulesta.
E além do mais tô de boi. Já viu cuma é tá de boi
dentro dessas brenha? Num gosto de usar calçola,
mais é o jeito. Virgulino inté parece qui adivinha
e fica me azucrinano o dia todo. Só dá vontade de
ficar espichada na baladêra, vendo os cabra alimpá
as arma e contar os causos.
Onte, Virgulino aproveitô qui eu tô assim nesses dia e
se mandô pra zona de uma tar de Maria Lôra.
Voltô só de menhazinha. Mais deste tá qui eu ainda
furo os óio dela, é só passá essa marmota qui eu tô.
Tumbém, num sei pra quê muié tê chilique todo meis.
Tenho inté TPM. Se arrete não, diarim, eu isplico. TPM
é toda porquêra do meis.
Tem mais é qui butá pra fora, né não?
Qui mundão de Deus mais chei de noves-dentro!
(2)
Cafundós-do-Judas, 31/03/24
Meu diarim quirido, tô igual a lagatixa derna onte,
pois num eh qui o danado do Curismo, aquele safado
de cabelo lôro, anda cubano eu quando tô de cóca?
Ele pensa qui eu num tô vendo cum o canto dos ói?
Imagine se Virgulino pega ele cum aquele zói de
fogo pra cima deu? Inté parece qui o danado tá
querendo isprimentar as quintura do meu
xibiuzinho... Num sabe ele qui eu sô muié de um
hômi só?, e esse hômi se chama Capitão Virgulino,
sim sinhô. Vixe Maria, meu Padim Ciço, se Virgulino
discunfia, ele perde a macheza dele num piscá de ôio,
o qui é uma pena, inté qui o danado é bunitim qui só.
Fico inté arripiada só de pensá na safadeza qui nóis
ia fazer junto, arre égua!
(3)
Lá-pra-bandas-de-Acari, 12/06/24
Quando a gente pernambucava sem êra nem bêra,
o Capitão arresolveu me mandá passá uns dias
com umas tias arengueras em Olinda,
ao lado de um marzão mais besta
do que a besta-fera. Apois num é que, veja sim sinhô,
vi o danado do carnavá, era um tar de frevê pra cá,
de frevê pracolá, vixe Maria. E ainda me ofereceram
um cigarrim de paia diferente, com um xêro istranho,
fiquei rindo atoa, alegre pra xuxu, vôtes!, inté apareceu
um engraçadim com um miolo-de-quartinha isquisito,
sapequei cinco dedo nas fuça dele, deve tá rodopiando
qui nem pião inté agora. O Capitão pode ficá sartisfeito
com a bichinha dele, num vacilei, viu Diarim?,
queimei nas apragatas
e tô aqui isperando pelo meu hômi.
E tumbém, se Deus quizé e o Diabo ajudá,
posso isperá por um certo danadim lôro,
mais aí o Capitão num pode sabê
nem que a vaca tussa mil vêis.
Vixe, num sei cuma vai acabá essa istória.
Derna qui me intendo de gente, nunca tive tão
lutrida de quereres.
4 comentários:
tá demais isso aqui! desde o comecinho...
muito bom "o morto" do newton!
e o diarim de maria bunita... ahahaa
se deus quizé e o diabo ajudá, um dia vou ser arretada assim tbm! ahahahahaha
beijos, moacy!
Adorei esse diário arretadíssimo!!!!!!!!!!!
Moacy, grata pela lembrança. Adoro esse balaio!
Hoje, pra variar, você caprichou na postagem, meu caro mestre.
Forte abraço.
Ô diarim arretado que vem das bandas de um Acariciando que dá gosto!!!
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