terça-feira, 16 de dezembro de 2008


O Seridoísmo
de
Jardim do Seridó,
poema/processo
de
Moacy Cirne
a partir de foto de
DSG Araújo


BALAIO PORRETA 1986
n° 2508
Natal, 16 de dezembro de 2008


A meu ver, a lenda é mais verdadeira do que a história.
(ALAIN. Les arts et les dieux, 1936)


Cinema / Memória
OS MELHORES FILMES
segundo Ingmar Bergman
[ in Variety, 1995 ]

1. Anos de chumbo (von Trotta)
2. O maestro (Wajda)
3. Andrei Rublev (Tarkóvski)
4. Kvarteret korpen (Widerberg)
5. Na estrada da vida (Fellini)
6. Rashomon (Kurosawa)
7. Crepúsculo dos deuses (Wilder)
8. Cais das sombras (Carné)
9. A paixão de Joana d'Arc (Dreyer)
10. O circo (Chaplin)


HUMOR PERNAMBUCANO ANOS 80
CRONISTA PAPAFIGAL LANÇA LIVRO DE VIAGENS


De Joca Aberto, em seu Itinerário de um viadante:
[] Na Inglaterra tem um relógio enorme chamado Big Ben. Ninguém sabe porque o nome, mas este repórter pesquisou e descobriu a razão. Big quer dizer grande em língua britânica e Ben é a badalada que ele faz, Ben, Ben, Ben. Daí Big Ben querer dizer grande badalada. Aliás, falando nisto, aconselho todo mundo a aprender mais de um idioma. Eu, por exemplo, já posso me considerar um pederasta, pois falo fluentemente três línguas.
[] Na Índia tive uma grande decepção, pois não vi nenhum índio lá. O país é cheio de uma gentinha parecida com a que vive no Nordeste, embora bem mais amundiçada. Um lixo!
[] Na França foi que vi quanto estamos por fora. No Brasil proliferam os cursos de inglês e em Paris, capital da moda, só vi gente falando francês. Ao que parece, francês é a última moda na França. E falando em moda propriamente dita, eu procurei a valer calças Pierre Encardido e descobri, com meu faro de repórter, que as tais calças só se fabricam na Paraíba, e na França não servem nem para tomar banho em lama medicinal.
[] Portugal é um país interessantíssimo. Não sei que idioma eles falam lá, mas dá pra gente entender tudo.

[ in Papa-Figo, núm, 26. Recífilis, 20 a 26 de março de 1985 ]


FRAGMENTOS DE UM DICIONÁRIO DE BOLSO
de Leon Eliachar

[] Biquini : é um pedaço de pano cercado de mulher por todos os lados.
[] Desastre : encontro pontual de dois veículos.
[] Imbecil : sujeito que nunca concorda conosco ou então concorda sempre.
[] Namoro : passatempo a quatro mãos.
[] Sexo : coisa que antes de Freud era indecência; depois, psicanálise.
[] Segredo : isso que vai rolando de ouvido em ouvido e volta sempre com mais detalhes.
[] Stripe-tease : uma mulher vestida de olhos.
[] Técnico : sujeito que se se especializa em não entender nada de apenas uma matéria.

( Fonte: O homem ao quadrado. Rio, 1960 )


POEMA DE BERILO WANDERLEY (RN)

A máscara

A máscara que uso, uso
por causa do meu vizinho,
que me viu nu;
que me viu arder na tarde
brava,
caos e ordem, rei azul.

Esta máscara em desuso
que hoje uso,
me fere o rosto.
Meu vizinho quis assim.
Mas, ontem, vi o rio e a ilha
e fui rei posto.

Juventude, eixo e todo
do meu corpo
que meu vizinho cortou.
Passa o alento, passa lento o vento,
já não sou.

[ in Telhado do sonho. Natal, 1956 ]


Repeteco
AUTOBIOGRAFIA COM FARINHA E RAPADURA
Moacy Cirne

Segundo o horóscopo chinês, sou caba da peste, parente de Lampião e Maria Bonita: nasci em São José da Jardinense Bonita, ao lado de Caicó, Campina Grande, Olinda, Currais Novos, Galinhos e Martins, antes do descobrimento da Terra de Santa Cruz, pelo poeta Bocage, companheiro de Manuel Bandeira nos cabarés da velha Ribeira, em Natal, capital potengíaca. Compadre de vários gentios tapuias, lutei contra os bandeirantes do Sul Maravilha que nos invadiram em 1600 e lá vai fumaça. Mergulhei no Poço de Santana [em Caicó] e fui sair no Rio Amazonas, entre uma talagada e outra de Malhada Vermelha, a cachaça preferida de Celso Japiassu, Nei Leandro e Luís da Câmara Cascudo. Conheci Marte, Júpiter e São Saruê nos anos 10 do século passado. Escrevi Os lusíadas, falsamente atribuído a um tal de Luiz Vaz de Camões, em apenas 10 dias e 10 noites. Depois, tornei-me pescador de auroras azuis e palavras seridolentes. Hoje, pai de duas filhas e casado com uma natalense, não sou amigo do rei, mas sou amigo de muita gente boa.

[ in Balaio Vermelho, 17 de julho de 2004 ]

11 comentários:

Adrianna Coelho disse...


esse post tá demais, moacy!
todo ele, e adorei a sua autobiografia...
vc não é amigo do rei, pq a gente não tem mais rei (tirando o rei, claro) rs
mas é vc que é gente boa, caba da peste! ahahaha

beijão

Mme. S. disse...

Moacy, essa sua auto-biografia está ótima! Um beijão e espero te ver em breve!

Anônimo disse...

Eita! Que autobiografia arretada!!! Quando é que a gente se encontra com Madame Sheyla?

Anônimo disse...

Olá Moacy, obrigada pela visita e já respondi sua questão lá. lindo o novo seridoísmo, mas, pensando bem, todo seridó em uma beleza mesmo. bj e boa semana.

Anônimo disse...

esse dicionário de bolso valeu o dia. Irreverente e inteligente.

Anônimo disse...

Como sempre, sua intervenção dá um toque especial à imagem (no caso, o Santuário do Sagrado Coração de Jesus), aqui, especialmente, conferindo poesia ao poema! Ah, um dia, Moacy, eu também quero tornar-me pescador de auroras azuis e palavras seridolentes!

Francisco Sobreira disse...

Moacy,
A lista de Bergman vem provar, de uma vez por todas, que os grandes cineastas não eram grandes cinéfilos. Dos filmes citados, embora não conhecendo Anos de Chumbo, Andrei Rublov e Kvarteret Karpen, não colocaria nem um deles entre os dez. Nem mesmo Rashomon, Crepúsculo dos Deuses e A Paixão de Joana D'Arc, verdadeiras obras-primas. E embora goste de O Circo, acho-o bem inferior a outros filmes de Chaplin, como Em Busca do Ouro, Luzes da Cidade e Tempos Modernos. E cadê Cidadão Kane? E tantos outros que não vou citar, para não me alongar tanto? Ainda sobre cinema, essa frase de Alain não lembra aquela epígrafe colocada em "O Homem que Matou o Facínora". Será que não foi inspirada nela? E belo poema de Berilo Sua postagem de hoje está "bombando" (rs). Um abraço.

Anônimo disse...

Balaio tá bombando mesmo.Muito porreta!
Eu gosto muito dessa "autobigrafia com farinha e rapadura". Eu já conhecia e na primeira vez que li achei que fosse um erro de digitação o "caba" da peste, mas acho que nem é. Sempre acjei que fosse cabra da peste. No google aparecem as duas formas...
desconhecia.
abraços moacy.

Cinecasulófilo disse...

Moacy,
como vão as coisas:: nunca vi esse filme da von trotta, é assim tão destacado::: um abraço,

Cosmunicando disse...

pois eu não duvido de nadica dessa autobiografia, oxenti! rsrs

o poema de Berilo é lindo, o dicionário do Leon é ótimo, e a lenda é sim no mais das vezes uma bela verdade =)

beijos

Anônimo disse...

Estava fora do mundo, meu caro Moacy.
Espero poder voltar a te visitar e aprender com teus ensinamentos.
Forte abraço.