quinta-feira, 5 de março de 2009

Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão,
na Ribeira, em Natal
Foto de
Sandro Fortunato


BALAIO PORRETA 1986
n° 2588
Natal, 5 de março de 2009

Aprendi com mamãe
que nunca teve queixa:
mulher perdida goza
mulher direita deixa.
(Glória PÉREZ, in Carne Viva)


PALAVRAS PALAVRAS PALAVRAS

Muitos blogues teem verificadores de palavras em seus comentários, às vezes chateando seus leitores com solicitações esdrúxulas para desnecessárias confirmações. E haja consoantes, e haja vogais, e haja números, e haja palavras sem o menor sentido. Ora irritantes, ora ridículas, nada dizem e nada provam. A não ser, talvez, a nossa capacidade de encarar com paciência todo um jogo de vocábulos vazios. E inúteis. E atoleimados.

Nos últimos meses, contudo, os verificadores de palavras passaram a ficar interessantes, abrindo expectativas para viagens imaginárias e/ou poemas paraconcretos. Alguns exemplos ao acaso, devidamente anotados: flosm, em Maria Maria; glythie, em Fernando Cisco Zappa; cleyium, em Adriana Monteiro de Barros; strundes, em Mariana Botelho; dismeb, em Marco Santos. Outros exemplos poderiam ser citados, como xessonic, em Douglas D.

Mas é no blogue Bicho Esquisito, de Sheyla Azevedo, entre aqueles que visitamos com frequência, que o Verificador de Palavras assume uma "personalidade" inesperada, muitas vezes se "identificando" com a própria autora das postagens. Ou não seriam doces, extremamente doces, com sua sonoridade afrancesada, os vocábulos blonisse, oflesse, phiesse? Aliás, com um toque literário em proustr, em busca de tempos perdidos.

É o caso de perguntar, a partir de seu (hoje) poético Verificador de Palavras: será que Sheyla Azevedo reside em Trizinga, com seus castelos medievais? Ou em Mismont, com suas montanhas geladas? No segundo caso, para cobrir seus sonhos, além da pessoa amada, que decerto a embalaria com suavidade, nada melhor do que um lonshol. Depois, ao acordar, poderia beber um suco de vochug, com seu sabor lembrando um mastag.

Haverá sempre a possibilidade, para a natalense Sheyla, de encontrar o seu amigo Carito, que para ela - por que não? - poderá compor uma poesia elétrica a partir de sons onomatopaicos, como phicloc. Enfim, em se tratando de um Verificador de Palavras criativo - como criativa é a Sheyla, com seus ternuramentos e alumbramentos - tudo é possível: até mesmo vocábulos obscuros como shair e mession, com seu francesismo.

Sim, sim, eu sei, vou forçar a barra, mas diria que que o Verificador de Palavras do Bicho Esquisito, retomando o título brasileiro de um conhecido bangue-bangue (Os brutos também amam), resolveu parafraseá-lo, como se estivéssemos num conto de ficção científica: As máquinas também amam. Ou seja, será que a nossa querida Sheyla Azevedo já percebeu que o seu sensível Verificador está apaixonado por ela?


ÊXODO
Gilberto Mendonça Teles
[ in Plural de Nuvens / Plurale di nuvole. Napoli, 2006 ]

Chegamos à planície, onde teus olhos
inventarão o azul dos horizontes
escandidos nas unhas, como os versos
na fábula dos dias impossíveis.
Aqui o tempo enrola seus casulos
de terras e de mares estrangeiros.
E o mito desenrola-se nas sedas
da longa solidão que desfazemos.
Nestes campos noturnos nosso povo
construirá seu reino na linguagem
da Terra Prometida, que buscávamos
neste êxodo sem fim, que agora finda.


SEDE
Ada Lima
[ in Menina Gauche ]

Uma ninfa e um marujo
habitam em mim.

Sinto fome
de algo
que não tem nome.

Tenho sede
de coisas inexistentes
que vivem nas pontas dos meus dedos
palpitantes
e suados

como alguém em derradeira agonia.


O SUBPENSAMENTO VIVO de
MARCONI LEAL

/Dois fragmentos/

A história é sempre contada pelos vencedores. Vejam, por exemplo, o diabo como foi injustiçado.

Durante décadas tentei manter um diálogo com deus. Desisti faz alguns anos. Não dá. Ele se acha muito superior.

13 comentários:

Cosmunicando disse...

ah Moacy, você tá certíssimo! o verificador de palavras da Sheyla tá demais da conta... rsrs... eu também notei =)
mas pergunto: como ele ia ficar indiferente àqueles textos e àquela doçura?
adorei os poemas, só tenho uma dúvida: pensei que Ana era Ada (do Menina Gauche).
beijos

Moacy Cirne disse...

Cara Mercedes: Grato pela observação. Na verdade, foi um erro de digitação (já corrigido). Trata-se, sim, da ADA Lima.

Um beijo.

Mme. S. disse...

Moacy, eu acho que o verificador de palavras o BE tem um detector sensível aos visitantes. Essa é a explicação mais plausível... Ele se exibe para você, para a Mercedes, para o Carito, porque ele é apaixonado mesmo é pelos dedos e olhares alheios. O seu, por exemplo, ele já me confessou que se revela todo a você. Risos. Um beijo grande, sua sensível criatividade me comove. Vou postar esse seu texto lá no meu BE tá bom? um cheiro!

Jens disse...

Oi Moacy.
A labuta (jornal, site e preparação de 1 livro sobre arbitragem de futebol) deu uma folga e cá estou batendo o ponto no Balaio e me atualizando em relação às últimas postagens. Inteligente e bem humorada a crônica sobre o Verificador de Palavras (engraçado, lembrei que no meu tempo de piá existia o Fiscal de Bolinhas, que roubava nossas bolinhas de gude. Nada a ver, apenas uma daquelas insólitas associações de idéias). Voltando à crônica, se me permites a ousadia, acho que deverias brindar mais e mais os leitores com textos de tua autoria (aliás, num futuro próximo vou te fazer um convite neste sentido. Aguarde).
Também assino embaixo do texto sobre a FPSP.
Um abraço.

nina rizzi disse...

sempre viajei nessa das pá-lavras de verificação... achei que era a única doida.. rs.. m,as agora quero é viajar pra natal. que belíssimo lugar. acho que esta noite me seria mais feliz...

Marco disse...

Caro mestre Moacy,
o verificador de palavras tem utilidade, sim. Eu o coloquei por estar sendo atacado por uma chusma de spams que era uma coisa desagradável. Mas aí o tempo passou, eu quis tirar e me esqueci como faz. Fui deixando e esqueci dele. Mas já tinha reparado em outros blogs que as letras aleatórias tem formado palavras interessantes. Só não imaginei fazer um post tão bonito como esse a partir de um elemento aparentemente tão prosaico. O talentoso é aquele que vê poesia até no comezinho. Parabéns pelo poético post. Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.

Anônimo disse...

Moacy,
admiração pelo texto sobre o verificador de palavras e uma ponta de ciúme de Sheyla... risos...
Um abraço, Lisbeth

Unknown disse...

Moacy, que bom que alguém teve a coragem de com um humor refinado tocar em assunto tão delicado. às vezes as letras estão tão inclinadas e juntas e já pensei até em comprar uma lupa! Ou tentar poetizar essas palavrinhas . Seria então um poema desconcreto.
Belíssima a escolha dos poemas e venho sempre aqui para conhecer Natal.

Um forte abraço

Mirse

Marcelo F. Carvalho disse...

Marconi e Gilberto = Excelente postagem!

Adrianna Coelho disse...


oi, moa!

adorei o texto que vc fez para sheyla!
estava acompanhando os comentários do texto dela em que vc repetia as palavras de verificação, e eu ria e sorria com a sua atenção a detalhes como esses, o que é uma característica sua demonstrar tamanho zelo com os amigos.

sheyla é linda, nota-se ate pelos textos dela, além disso, sinto que ela seja (senti essa empatia na 1ª vez em que fui ao blog dela), e a confirmação veio por vc, ao falar dela com afeição.

palavras palavras palavras...

todas aqui estão lindas!

bem, o subpensamento está engraçado... rs

beijos beijos beijos

p.s. pega o seu, sheyla! :)

Pedrita disse...

eu reluto em colocar essas palavrinhas pq elas são muito chatas mesmo. eu padeço no blog de amigas que estão na alemanha, o blog é em português, mas foi criado lá, aí dá-lhe entender as letrinhas. mas qd começo a ter comentários exdrúxulos, fico pensando em colocar. beijos, pedrita

cisc o z appa disse...

tente com outros deuses marconi
o deus branco ocidental
criado pelo homem branco ocidental
é superior!

se fosse o caetano
leal como ele só aos próprios ditos
diria:

super i or not!

...

cisc o z appa disse...

e aqui
no balaio
as letras
não precisam serem expostas
à confirmação

elas exalam
demências
languidez
saudades
epopéias
exuberâncias
e
elegâncias...


evoé meu caro moacy!