Zila Mamede
(1929-1985):
a paraibana que se tornou
a expressão maior da poesia do
Rio Grande do Norte
Foto redimensionada pelo
Balaio
(1929-1985):
a paraibana que se tornou
a expressão maior da poesia do
Rio Grande do Norte
Foto redimensionada pelo
Balaio
BALAIO PORRETA 1986
n° 2641
Rio, 27 de abril de 2009
Zila Mamede reencontra na Terra o encanto informe e concordante com a sua própria vida interior. Os poemas são frutos da terra e das almas, as almas poéticas que vivem em Zila Mamede, alma lírica, alma irônica, alma sonhadora, alma que espera, alma que confia.
(Notas de Luís da Câmara CASCUDO, in O arado, 1959)
10+2 GRANDES POETAS POTIGUARES
segundo
43 leitores e/ou amigos do
Balaio,
a partir de uma idéia lançada pelo
Substantivo Plural
1. ZILA MAMEDE (34 citações)
2. JORGE FERNANDES (30)
3. LUÍS CARLOS GUIMARÃES (26)
4. NEI LEANDRO DE CASTRO (23)
5. MARIZE CASTRO (20)
6. IRACEMA MACEDO (19)
7. JOSÉ BEZERRA GOMES (18)
8. MIGUEL CIRILO (14)
9. DIVA CUNHA (13)
10. FERREIRA ITAJUBÁ
e SANDERSON NEGREIROS (12)
12. ADRIANO DE SOUSA (11 citações)
UM POEMA DE
ZILA MAMEDE
[ in Corpo a corpo, 1978 ]
Onde
Entre a ânsia
e a distância
onde me ocultar?
Entre o medo
e o multiapego
onde me atirar?
Entre a querência
e a clarausência
onde me morrer?
Entre a razão
e tal paixão
onde me cumprir?
Algumas breves considerações
1. Será que poderíamos considerar esses nomes os mais adequados para o estabelecimento formal de um possível Cânone da Poesia Potiguar? Sim e não, provavelmente. Sim, porque todos eles são bastante representativos: há clássicos consagrados (Zila Mamede, Jorge Fernandes, José Bezerra Gomes, Ferreira Itajubá, além de Luís Carlos Guimarães e Miguel Cirilo, todos falecidos) e há nomes que já são referência obrigatória para a formação de nossa poeticidade (Nei Leandro de Castro e Sanderson Negreiros, praticamente dois clássicos em vida, e Marize Castro, Iracema Macedo, Diva Cunha, Adriano de Sousa). E não, porque a nossa enquete, mesmo sendo abrangente, não pode ouvir muita gente capacitada para opinar a respeito de suas preferências (ora pessoais, ora exclusivamente literárias). De qualquer modo, acreditamos que o resultado final não seria muito diferente daquele ora apresentado, com duas ou três possíveis exceções.
2. Alguns poderão estranhar - ou lamentar - a ausência de poetas que sempre apareceram em nossas melhores antologias: Auta de Sousa, Henrique Castriciano, Othoniel Menezes, Gothardo Neto, Juvenal Antunes, Newton Navarro, Gilberto Avelino ou mesmo o carioca-potiguar Homero Homem - nomes expressivos, sem dúvida, mas que, sobretudo no caso dos mais antigos, não mobilizam mais, ou mobilizam muito pouco, os leitores atentos dos nossos dias. De certo modo, ainda em relação àqueles que marcaram época nas primeiras décadas do século passado, são poetas que fazem parte da "arqueologia literária" do Estado. E o afirmamos sem qualquer peso pejorativo, apenas como adendo para a história da literatura do Rio Grande do Norte.
3. Destaquemos: além dos 12 nomes mais citados, receberam votos - de forma expressiva ou razoável, pode-se dizer - os poetas Paulo de Tarso Correia de Melo (9 citações), Moacy Cirne (9), Antonio Francisco (8), Jarbas Martins (8), João Lins Caldas (7), Carmen Vasconcelos (6), Myriam Coeli da Silveira (6), Walflan de Queiroz (6 citações). Ao todo, foram citados 86 poetas. Um bom número, sem dúvida. Mas a verdade é que não há lista perfeita, nem cânone que dure para sempre (a não ser em casos excepcionais, considerando-se alguns autores ou algumas obras).
4. Para muitos dos consultados, com mais ou menos intensidade, fazíamos questão de salientar que a enquete tinha por objetivo destacar única e exclusivamente os poetas que trabalham a verbalidade. Mesmo assim poetas visuais como Anchieta Fernandes, Avelino de Araújo e Jota Medeiros foram contemplados com algumas (poucas) indicações. Sabemos que a questão da poesia visual é um tabu para muita gente. E como poeta/processo não temos o menor problema com a poesia verbal; preferimos privilegiar, na enquete, o que já estava subentendido na proposta inicial do Substantivo Plural: a nossa verbalidade, que encontra em Zila Mamede (a paraibana que, em criança, veio residir entre nós) o seu parâmetro estético-literário mais sólido. Ao lado do modernista Jorge Fernandes e dos demais.
16 comentários:
Era o que eu esperava em termos de resultado. A meu ver a poesia potiguar é muito abrangente e de qualidade.
Um abraço,
Maria Maria
Bom dia, Moacy!
Não posso me expressar. O sobrenome Mamede me ´s familiar, mas não creio que venha da literatura.
No mais, estou realmente out.
A poesia "ONDE" é magnífica em essência e beleza poética.
Beijos
Mirse
Linda postagem, Moacy.
O poema da Zila Mamede é belíssimo. Toda a produção poética do Rio Grande do Norte é significativamente boa. E, muitas belas vozes de hoje configurarão nas páginas dos compêndios escolares. É esperar pra ver!
Parabéns pela bela matéria. Esse balaio é Porreta!!
Grande abraço,
Maria Clara.
Miguel Cirilo é mais um orgulho para São José do Serido pelo seu talento e pela sua sensibilidade. Muita boa citação. Um bj de FERA pra vc Moacy.
moacy - a enquete despertou-me a vontade de conhecer a poesia potiguar - eu sabia de alguns autores, agora tenho uma lista preciosa!
obrigada
Oi Moacy.
Por desconhecimento não posso opinar sobre a lista dos grandes poetas potiguares. Fico devendo.
No mais, uma boa semana pra você.
Um abraço.
eu acho tão importante valorizar os artistas regionais, que não deviam ficar regionais, mas infelizmente as tvs estão na maioria no rj, pouco em são paulo e as regionais tem pouca penetração que o brasil acaba só conhecendo parte pequena da cultura do país. beijos, pedrita
Legal você exibir o resultado. O que eu percebi é que há uma certa homogeneidade democrática, inteligente e sensível aos 43 consultados. Um beijo grande, meu querido, como sempre, prestando um serviço a todos nós. E parabéns também ao SP.
"Ainda pequena, muda com a família para Currais Novos (RN), onde o pai monta uma máquina beneficiadora de algodão. Menina do sertão, o mar viria a ser uma forte presença em sua poesia. A primeira vez que o viu foi por volta dos doze ou treze anos, aquela coisa “balançando de um lado para o outro, uma coisa que eu jamais havia visto”:
“- Meu pai, isso é o mar?
Ele disse:
Não. Isso é um canavial”."
:)
Vi no http://memoriaviva.digi.com.br/zila/
Um bom começo de semana!
Cheers!
(...)por longo capinzal, cantarolando:
desfibrava os cabelos, a rodilha
e seus vestidos, presos nos tapumes
velando vales, curvas e ravinas
(a rosa de seu ventre, sóis no busto)
libertas nesse banho vesperal.
Moldava-se em sabão, estremecida,
cada vez que dos ombros escorrendo
o frio d'água era carícia antiga.
Secava-se no vento, recolhia
só noite e essências, mansa carregando-as
na morna geografia de seu corpo(...)
Depois, voltava lentamente os rastos
em deriva à cacimba, se encontrava
nas águas: infinita, liquefeita.
(Zila Mamede - banho (rural)
Muito bom o resultado da enquete, Moacy.Beijos e boa semana!
Não sou grande conhecedor da poesia potiguar, mas o que você nos mostra, Moacy, agrada-nos bastante. A Zila tem uma sensibilidade que me lembra MB, p.ex.
Um abç.
Acredito que você entendeu, Moacy, minha pequena análise.
Também votei em Zila.
Li "O Arado" e gostei. Zila Mamede, na verdade, é uma grande poetisa. Miguel Cirilo é bom e muito profundo para mim. Não o conheci, mas me orgulha o fato de ele ser são-joseense. Gosto de Moacy Cirne como poeta e seridoense.
Moacy, Zila é sempre Zila. Na Sabugilândia de hoje tem imagens que podem lhe interessar. Abraço!
adorei o poema de Zila, não conhecia essa poeta... lindo!
beijos
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