Imagem:
Haleh Bryan
BALAIO PORRETA 1986
n° 2729
Rio, 21 de julho de 2009
O trágico na amizade é o dilacerado abismo da convivência.
(Nelson RODRIGUES, in Entrevistas /com/ Clarice Lispector)
Haleh Bryan
BALAIO PORRETA 1986
n° 2729
Rio, 21 de julho de 2009
O trágico na amizade é o dilacerado abismo da convivência.
(Nelson RODRIGUES, in Entrevistas /com/ Clarice Lispector)
VERTIGEM
Adrianna Coelho
[ in Metamorfraseando ]
a ausência da rosa na boca
o silêncio alarmado
de quem sabe espinhos
e idas e beijos
e quases
e esses vermelhos
que te inflamam
toda
de abismos
e quedas
Adrianna Coelho
[ in Metamorfraseando ]
a ausência da rosa na boca
o silêncio alarmado
de quem sabe espinhos
e idas e beijos
e quases
e esses vermelhos
que te inflamam
toda
de abismos
e quedas
NOSSO AMOR
Sandra Camurça
[ in O Refúgio ]
dê-me uma lua cheia
que eu te dou o sol mais quente
e ninguém verá eclipse mais obsceno que o nosso
Sandra Camurça
[ in O Refúgio ]
dê-me uma lua cheia
que eu te dou o sol mais quente
e ninguém verá eclipse mais obsceno que o nosso
MIRAGEM
Paulo Jorge Dumaresq
[ Natal, RN ]
Sertão
Ser tao grande ócio
Do Seridó ao umbigo
Tal qual jazigo sonhado
Por macambiras e bichos-preguiça
Entre Caicó e o infinito
É tudo tão tamanha sina
Que alucina o errante argonauta
Da rasa caatinga
Brotam messiânicas esperanças
Sob um céu púrpura de lirismo
Sertão
Ser tao de grande vereda
Onde convivem humanas catervas
E rebanhos nutridos de indigência
Na vã esperança de escaparem ao abate.
Paulo Jorge Dumaresq
[ Natal, RN ]
Sertão
Ser tao grande ócio
Do Seridó ao umbigo
Tal qual jazigo sonhado
Por macambiras e bichos-preguiça
Entre Caicó e o infinito
É tudo tão tamanha sina
Que alucina o errante argonauta
Da rasa caatinga
Brotam messiânicas esperanças
Sob um céu púrpura de lirismo
Sertão
Ser tao de grande vereda
Onde convivem humanas catervas
E rebanhos nutridos de indigência
Na vã esperança de escaparem ao abate.
POEMA
Carito
[ in Os Poetas Elétricos ]
Tenho medo de objetos cortantes.
Principalmente palavras.
EM TEMPO
Tuitar? Nem pensar.
Tenho mais o que fazer.
Se querem me seguir,
que sigam o Balaio.
Quanto a mim,
procuro seguir
apenas a poesia dos outros.
Nos livros. Nos blogues. Nos jornais.
Ou em papos amigos,
nas mesas dos bares.
(Moacy Cirne)
Carito
[ in Os Poetas Elétricos ]
Tenho medo de objetos cortantes.
Principalmente palavras.
EM TEMPO
Tuitar? Nem pensar.
Tenho mais o que fazer.
Se querem me seguir,
que sigam o Balaio.
Quanto a mim,
procuro seguir
apenas a poesia dos outros.
Nos livros. Nos blogues. Nos jornais.
Ou em papos amigos,
nas mesas dos bares.
(Moacy Cirne)
SHEYLÂNCIAS NEM SEMPRE ESQUISITAS
de Sheyla Azevedo: Bicho Esquisito
[ Seleção : Balaio Porreta ]
Quando eu crescer quero escrever poemas. Para compreender melhor esse torpor que alimenta minhas veias quando leio palavras de Hilda Hilst, Anna Akhmátova, Adília Lopes, Sílvia Plath. (14/09/2007)
É incrível como as manhãs guardam uma certa inocência. Um certo ar de que só hoje as coisas podem dar muito certo. (27/09/2007)
Não encontro cais para essa angústia que às vezes nem minha é. E é só minha. Portanto, ora nado contra a maré, ora sou um marinheiro atrasado, vendo o transatlântico passar. (2/1/2008)
Vou contar um segredo: eu adivinho o meu passado. (8/1/2008)
Escrever como se as palavras tivessem acabado de ser inventadas. (30/5/2008)
Em dias de chuva sinto saudades do mar. Tão perto e tão longe. Sinto vontade de temperar o corpo com o sal e segurar o sol com os braços do vento. (10/7/2008)
Ser gente é doer no espelho e arder no silêncio. (2/10/2008)
Palavras tristes fazem festa dentro de mim. Por isso, estou reequilibrando meu silêncio, para que elas não consumam todo o meu olhar. (12/1/2009)
Às vezes fecho os olhos e fico me olhando por dentro. Prefiro. Lá dentro é mais confuso e mais familiar. (12/5/2009)
Eu cruzei palavras, bordei sentidos, costurei versos e esfriei a dor como quem abana uma queimadura de verão ... (26/6/2009)
Alma
A minha alma não obedece aos ponteiros do tempo dos homens.
Minha alma se espreme pelo corpo enquanto transborda pelas paredes.
A minha alma é meio lama, lodo,
Prata, vinho, som de silêncio.
A minha alma tem um quê de distração que me enerva, me atordoa, me distingue das formigas.
A minha alma tem inclinações para filmes trágicos, para espinhos e amendoim.
A minha alma cospe fogo e come brisa.
Ela se prende ao desabafo e é torturada pelas mentiras, principalmente as alheias. Porque são impossíveis de se pintar à mão.
A minha alma desenha estruturas insolúveis tendo como matéria-prima nuvens e
Depois sai para passear
A minha alma não tem nome, cor ou dono.
A minha alma chora com a chuva e brinca com os córregos como se ainda fosse uma menina.
A minha alma é nua da cintura para cima e usa calcinha bunda-rica
A minha alma tem vergonha do pudor, do desconcerto e da inabilidade alheia
A minha alma não perdoa porque prefere esquecer
A minha alma não se ajusta na trilha dos ponteiros dos outros
Porque ela é fogo que atordoa no silêncio.
É desabafo que espinha a garganta
E chora fino como chuva em fino córrego.
A minha alma tem um corpo que é brisa e atravessa as paredes cor de prata.
A minha alma não é exata, nem desatina. Ela é uma coisa assim sem rumo, diferente das formigas.
A minha alma fala no lugar da voz. Depois vai assistir a um filme, comendo amendoim.
(29/4/2008)
Minha alma se espreme pelo corpo enquanto transborda pelas paredes.
A minha alma é meio lama, lodo,
Prata, vinho, som de silêncio.
A minha alma tem um quê de distração que me enerva, me atordoa, me distingue das formigas.
A minha alma tem inclinações para filmes trágicos, para espinhos e amendoim.
A minha alma cospe fogo e come brisa.
Ela se prende ao desabafo e é torturada pelas mentiras, principalmente as alheias. Porque são impossíveis de se pintar à mão.
A minha alma desenha estruturas insolúveis tendo como matéria-prima nuvens e
Depois sai para passear
A minha alma não tem nome, cor ou dono.
A minha alma chora com a chuva e brinca com os córregos como se ainda fosse uma menina.
A minha alma é nua da cintura para cima e usa calcinha bunda-rica
A minha alma tem vergonha do pudor, do desconcerto e da inabilidade alheia
A minha alma não perdoa porque prefere esquecer
A minha alma não se ajusta na trilha dos ponteiros dos outros
Porque ela é fogo que atordoa no silêncio.
É desabafo que espinha a garganta
E chora fino como chuva em fino córrego.
A minha alma tem um corpo que é brisa e atravessa as paredes cor de prata.
A minha alma não é exata, nem desatina. Ela é uma coisa assim sem rumo, diferente das formigas.
A minha alma fala no lugar da voz. Depois vai assistir a um filme, comendo amendoim.
(29/4/2008)
17 comentários:
Caros amigos:
O jornal FSP, no caderno Mais de 19.7, publicou um bom escrito de Renato Janine Ribeiro, “Órfãos da majestade”. Ele faz um balanço dos debates sobre a Revolução Francesa entre historiadores importantes como Michel Vovelle e François Furet, evocando os clássicos Jules Michelet e Alexis de Tocqueville.
Seria fácil apenas optar por Vovelle ou Furet. Prefiro pensar a partir de suas boas discussões e tentar ir além.
Furet tem o grande mérito de apontar a Revolução como invenção e memória (no Brasil, Carlos Vesentini e Edgar De Decca se beneficiaram desse debate, aplicando-o à memória de 1930). Alguns desdobramentos das análises de Furet são perigosamente conservadores: será que um historiador pode apostar que a monarquia faria isso ou aquilo SE a revolução não viesse em 1789? A resposta fica com as cartomantes – figuras muito respeitáveis noutras áreas do pensamento e que adivinham a História durante a doença do esquecimento, no roma nce “Cem anos de solidão”, de Gabriel Garcia Márquez; mas não fazem conhecimento histórico no sentido que os historiadores fazem.
Por outro lado, é legal sair da dicotomia bom povo / mau governo ('tadinho do povo!). Não vejo vantagem em travesti-la na dicotomia bom rei / maus aristocratas ('tadinho do rei!). Ou na similar bom governo / mau povo ('tadinho do governo!). Melhor ficar com a complexidade da experiência social. Caso contrário, substituiremos o brioche de Maria Antonieta por um pelotão de fuzilamento para poupar delicados pescoços aristocráticos, acostumados a massagens, babados e jóias.
Mas o artigo de Ribeiro é boa síntese e merece nossa atenção.
De quebra, o mesmo caderno inclui ótimos textos de Luiz Costa Lima e Modesto Carone (este último ainda traduz um conto magistral de Kafka).
Obs.: isto não é um comercial da FSP, jornal que eu leio com cuidado crítico especial. É uma evocação do primeiro Gilberto Gil: "Louvando o que bem merece / Deixando o ruim de lado".
Abraços:
Marcos Silva
Oi, Moa!
Hoje eu viria aqui de qq jeito avisar que voltei (bom, eu acho), mas vc foi mais rápido do que eu... :)
Claro que fico agradecida - e toda boba - com meu poema aqui. E hoje essa postagem vem especial: ótimos poemas, garimpo nas frases da linda Sheyla, e do Carito, de quem estou com saudade. O eclipse da Sandra e a miragem do Paulo.
Destaco: "E rebanhos nutridos de indigência
Na vã esperança de escaparem ao abate.. Nossa! Isso toca - ou tange - a gente.
E ainda mais especial: um poema seu!
Obrigada e um cheiro grandão!
vou destacar
o primor
&
a síntese
Adrianna Coelho
Bom dia, Moacy!
Belíssima imagem de Halen Bryan.
A genialidade de Nelson rodrigues está demais!!!!
Belíssimo o poema de Adriana Coelho! Redundante falar, mas fazer o que?
Carito, é bárbaro com seus medos de palavras cortantes.
Sheylâncias tem trechos muito bonitos. Bem destacados.
E o poema ALMA num todo maravilhoso!
Hoje o Balaio já brilha mais que o sol!
Beijos
Mirse
estou sem verba para programas. caixa menos que zero. zero já era alguma coisa. beijos, pedrita
salve, moacy!
tenho andado meio longe, mas sempre dou um jeito de passar por aqui e ver as coisas sempre boas. o silêncio tem justificativa boa dessa vez: filhinha recém nascida, mudança pra santa cruz, mudança de emprego... e haja coisa.
abraço!
bom dia, moacy :)
de fato, uma edição especial. destaco seu tempo e as cortantes paavras carito.
e aqui nem está chovendo, mas sinto a mesma saudade do mar que a sheyla.
mas oha... a miragem de dusmareq me deixou cheia de visages...
beijo :)
moacy, aqui é a lucidez da fome
Moacy, tudo perfeito. Mas Sandra Camurça é demais.
dê-me uma lua cheia
que eu te dou o sol mais quente
e ninguém verá eclipse mais obseno que o nosso.
Meio sem saber por onde começar a comentar... seleção maravilhosa.
Destaco Sandra Camurça, Paulo Jorge Dumaresq e Carito. Vi os poetas elétricos no dia da poesia, foi um show incrível.
Ah, e tuitar, nem pensar mesmo!
=)
Escolher é garimpar o que há de melhor.Senão é só pedra lascada...seu balaio é polido,iluminado.Adorei Adriana, e Carito é carito...
Só pra avisa, o post aí de cima é meu...rs..está com a conta dou meu filho,acontece nas melhores famílias da blogosfera...
Poesia sempre no Balaio...
"Sheylancias" foi tão meigo, querido. Você é mais que querido mesmo, não tem jeito...
Sheylinha.
Grata, Moacy, grata.
um beijo.
Postar um comentário