FILMES QUE MARCARAM ÉPOCA
NA CAICÓ DOS ANOS 50
UMA EXPOSIÇÃO IMPERDÍVEl
NA CAICÓ DOS ANOS 50
Clique na imagem
para verouvir
o trêiler de
Belinda
(Jean Negulesco, 1948)
BALAIO PORRETA 1986
n° 2760
Rio, 22 de agosto de 2009
Muita gente, no Brasil e fora do Brasil, emocionou-se com o drama da surda-muda, interpretada por Jane Wyman, que, violentada, ficaria grávida e terminaria por matar o seu agressor. Baseado numa história real, ocorrida no interior dos Estados Unidos na primeira metade do século passado, o filme Belinda, de fato, mobilizou uma série quase interminável de espectadores. Por que seria difefrente em Caicó, quando o Cinema Pax apresentou-o
por volta de 1953?
para verouvir
o trêiler de
Belinda
(Jean Negulesco, 1948)
BALAIO PORRETA 1986
n° 2760
Rio, 22 de agosto de 2009
Muita gente, no Brasil e fora do Brasil, emocionou-se com o drama da surda-muda, interpretada por Jane Wyman, que, violentada, ficaria grávida e terminaria por matar o seu agressor. Baseado numa história real, ocorrida no interior dos Estados Unidos na primeira metade do século passado, o filme Belinda, de fato, mobilizou uma série quase interminável de espectadores. Por que seria difefrente em Caicó, quando o Cinema Pax apresentou-o
por volta de 1953?
UMA EXPOSIÇÃO IMPERDÍVEl
O Centro Cultural Banco do Brasil (Rio) apresenta, só até amanhã, uma exposição que recomendamos com entusiasmo: Virada russa. Na mostra, originais de Marc Chagall (na ilustração, com as cores ligeiramente alteradas, o seu Passeio, de 1917), Kandinski, Maliévtch (com o seu famoso Quadrado negro, de 1923), Ródtchenko, Tátlin, Matiúchin. Em outras palavras, a nata da arte russa e soviética, em suas várias tendências, do construtivismo revolucionário a outras manifestações - ou seja, como diz o catálogo, com propriedade, "revelações de uma arte em transgressão".
PARA UM NEGRO
Adão Ventura
[ in Jornal de Poesia ]
para um negro
a cor da pele
é uma sombra
muitas vezes mais forte
que um soco.
para um negro
a cor da pele
é uma faca
que atinge
muito mais em cheio
o coração.
Adão Ventura
[ in Jornal de Poesia ]
para um negro
a cor da pele
é uma sombra
muitas vezes mais forte
que um soco.
para um negro
a cor da pele
é uma faca
que atinge
muito mais em cheio
o coração.
POEMA
Cássio Amaral
[ via O Refúgio, de Sandra Camurça ]
a madrugada
lambe o sono
enquanto o sonho acorda
Cássio Amaral
[ via O Refúgio, de Sandra Camurça ]
a madrugada
lambe o sono
enquanto o sonho acorda
Para um álbum de fotos
UM BAR É UM BAR É UM BAR
Moacy Cirne
UM BAR É UM BAR É UM BAR
Moacy Cirne
A mitologia de uma cidade - por menor que seja - não se constroi de repente, de um crepúsculo para a aurora, assim como não se constroi uma história da vida urbana apenas com as biografias de suas principais personalidades, de seus agentes culturais consagrados pelas classes dominantes, de seus monumentos arquitetônicos. O que dizer dos populares, dos trabalhadores e também dos loucos e dos boêmios que a fazem pulsar na memória afetiva de seus habitantes? O que dizer daqueles que, marcados pela mais pura insubordinação social, colocam-se à margem da margem, sempre e sempre?
O que dizer da história de um bar? Ou melhor: o que seria de uma cidade sem pelo menos um bar-referência, sem pelo menos um bar-emblema, sem pelo menos um bar-empolgação? Um bar capaz de reunir, através dos tempos, quer etilícos, quer rotineiros, figuras memoráveis? Um bar capaz de ser a soma de causos e mais causos? E Ferreirinha, em Caicó, é mais do que um bar conhecido desde 1959: é um buteco. Dos melhores. Dos mais envolventes. Dos mais representativos. Há bares metidos a besta e bares "da gente", há botecos pseudopopulares e butecos que são de todos nós.
Neste sentido, um álbum com fotos de um dado bar (como o de Ferreirinha, por ex., e que não é metido a besta), contando a sua história, recontando as suas emoções mais dionisíacas, registrando seus clientes, é mais do que "um retrato na parede", do que um livro de simples recordações inertes e/ou passivas. É um acontecimento social, em sendo um fato cultural. É um acontecimento plural, em sendo um fato editorial. A rigor, no caso presente, é uma acontecência etilicamente substantiva: e se "viver é muito perigoso", beber é muito saudável. Quando se sabe beber, bem entendido.
É assim que um registro fotográfico, amadorístico ou não, artístico ou não, arretado ou não, pode adquirir sustança memorialística. Não importa se o registro de um grande evento - do social ao esportivo, do estético ao político -, ou se o registro de alguns amigos reunidos em torno de uma mesa de bar. Um registro é um registro: tem sua significação simbólica, sua história por trás da história, sua leitura particular. Decerto Caicó já teve seu grande cronista fotográfico (José Azelino, dos anos 20 ao início dos anos 50), mas o campo da imaginação fotográfica concretiza-se pelos mais variados caminhos.
E eis que os irmãos Pituleira, radialista, e Roberto Fontes, jornalista, que sabem beber, que sabem organizar, que sabem divulgar, que sabem festejar, oferecem - através de imagens - 50 anos de história: a história do simpático e atraente Bar de Ferreirinha. O mesmo Ferreirinha que, flamenguista fanático, tinha um irmão vascaíno, o amigo Celso Moraes, pessoa da melhor qualidade humana. O mesmo Ferreirinha que, aos 80 anos, ainda é capaz de ter olhos amorosos para as mulheres que frequentam a Praça da Matriz e a Praça da Liberdade. E outras praças. E outras viagens. E outras miragens.
São fotos que dizem da alegria do caicoense. São fotos que dizem da simpatia de Ferreirinha. São fotos que, quase sempre sem maiores "pretensões artísticas", documentam 50 anos da história de um bar. Já imaginaram como era Caicó em 1959? E nos anos seguintes? Era uma cidade que fazia do seridoísmo a sua energia mais vibrante. Comos antes, nos anos 40. E também nos anos 30. E também nos 20. Ou bem antes. Ou como hoje, apesar de tudo, é capaz de fazê-lo. Não é por acaso que ainda somos capazes de vibrar com a sangria do Itans. Com a Festa de Sant'Ana. Com uma cerveja bem gelada.
E assim é, e assim será. Quando a história e a mitologia se encontram há todo um espaço socializante aberto para a antropologia cultural. No caso presente, para a antropologia dos bêbados que compõem o universo etilíco-dionisíaco do Bar de Ferreirinha, em pleno sertão seridoense da Cidade de Caicó.
Um brinde para todos! Ferreirinha, seus clientes e seus amigos fazem por merecê-lo.
O que dizer da história de um bar? Ou melhor: o que seria de uma cidade sem pelo menos um bar-referência, sem pelo menos um bar-emblema, sem pelo menos um bar-empolgação? Um bar capaz de reunir, através dos tempos, quer etilícos, quer rotineiros, figuras memoráveis? Um bar capaz de ser a soma de causos e mais causos? E Ferreirinha, em Caicó, é mais do que um bar conhecido desde 1959: é um buteco. Dos melhores. Dos mais envolventes. Dos mais representativos. Há bares metidos a besta e bares "da gente", há botecos pseudopopulares e butecos que são de todos nós.
Neste sentido, um álbum com fotos de um dado bar (como o de Ferreirinha, por ex., e que não é metido a besta), contando a sua história, recontando as suas emoções mais dionisíacas, registrando seus clientes, é mais do que "um retrato na parede", do que um livro de simples recordações inertes e/ou passivas. É um acontecimento social, em sendo um fato cultural. É um acontecimento plural, em sendo um fato editorial. A rigor, no caso presente, é uma acontecência etilicamente substantiva: e se "viver é muito perigoso", beber é muito saudável. Quando se sabe beber, bem entendido.
É assim que um registro fotográfico, amadorístico ou não, artístico ou não, arretado ou não, pode adquirir sustança memorialística. Não importa se o registro de um grande evento - do social ao esportivo, do estético ao político -, ou se o registro de alguns amigos reunidos em torno de uma mesa de bar. Um registro é um registro: tem sua significação simbólica, sua história por trás da história, sua leitura particular. Decerto Caicó já teve seu grande cronista fotográfico (José Azelino, dos anos 20 ao início dos anos 50), mas o campo da imaginação fotográfica concretiza-se pelos mais variados caminhos.
E eis que os irmãos Pituleira, radialista, e Roberto Fontes, jornalista, que sabem beber, que sabem organizar, que sabem divulgar, que sabem festejar, oferecem - através de imagens - 50 anos de história: a história do simpático e atraente Bar de Ferreirinha. O mesmo Ferreirinha que, flamenguista fanático, tinha um irmão vascaíno, o amigo Celso Moraes, pessoa da melhor qualidade humana. O mesmo Ferreirinha que, aos 80 anos, ainda é capaz de ter olhos amorosos para as mulheres que frequentam a Praça da Matriz e a Praça da Liberdade. E outras praças. E outras viagens. E outras miragens.
São fotos que dizem da alegria do caicoense. São fotos que dizem da simpatia de Ferreirinha. São fotos que, quase sempre sem maiores "pretensões artísticas", documentam 50 anos da história de um bar. Já imaginaram como era Caicó em 1959? E nos anos seguintes? Era uma cidade que fazia do seridoísmo a sua energia mais vibrante. Comos antes, nos anos 40. E também nos anos 30. E também nos 20. Ou bem antes. Ou como hoje, apesar de tudo, é capaz de fazê-lo. Não é por acaso que ainda somos capazes de vibrar com a sangria do Itans. Com a Festa de Sant'Ana. Com uma cerveja bem gelada.
E assim é, e assim será. Quando a história e a mitologia se encontram há todo um espaço socializante aberto para a antropologia cultural. No caso presente, para a antropologia dos bêbados que compõem o universo etilíco-dionisíaco do Bar de Ferreirinha, em pleno sertão seridoense da Cidade de Caicó.
Um brinde para todos! Ferreirinha, seus clientes e seus amigos fazem por merecê-lo.
19 comentários:
Valeu Mestre.Obrigado.
É mais que uma apresentação: é um poema ao boteco mais charmoso de Caicó.
Obrigado Moacy.
Roberto
Moacy,
Não vi esse filme, Mas, pelo menos, para a época foi um melodrama bem conduzido por Negulesco, que, naqueles anos, chegou a ser um bom realizador. Um abraço.
um brinde ao ferreirinha - com uma legítima havana - a famosa cachaça da minha minas!
Moacy: fica o registro de que 'Belinda' foi exibido aqui em Natal em 16 de março de 1958 no cine Rio Grande, de saudosa memória e hoje lamentavelmente transformado num 'palco do horror'.
Achei um bom filme na época e nunca mais o revi.
Um abraço...
Moacy: o comentário acima é meu, não sei porque o nome não saiu
Abraços...
Bené Chaves
BENÉ, meu caro,
se 'Belinda' foi exibido em Caicó por volta de 1953, e se o filme é de 1948, possivelmente a data mencionada por você - março de 1958 - é o de uma reapresentação, não? Ou será que ele demorou tanto assim para ser lançado em Natal?
Um abraço.
eu também não vi o filme, infelizmente. mas é interessante notar como as massas se mobilizam... posso até ver os quadros.
aliás, só por hoje, mas só por hoje, eu queria estar ali, bem pertinho da fétida baía de guanabara. céus, os russos e eu tão distante :(
gostei demais do poema pra negro. pense, moacy, num bom tambor de crioula, aiai, viu.. rsrsrs..
ah, e bem que podia ser nesse buteco aí. já é mitológico. e, claro, a mítica-materialista também quer :p (cheia dos quereres eu saio daqui).
inté :)
eu adoro filmes de terror, mas esse não vi. essa exposição no ccbb deve ser bacana. vou ficar de olho se passar por aqui. beijos, pedrita
Moacy: realmente você tem razão! Não poderia um filme demorar tanto(10 anos) para ser exibido depois de ser lançado, não é mesmo? Mas, o certo é que eu o vi no dia 16 de março de 58. Logicamente que numa reapresentação, claro que sim.
Um abraço...
Mestre, admirável o texto sobre o "buteco" do Ferreirinha. Também não vi "Belinda". Lastimo. Agora, a Virada Russa causou-me boa inveja. Meu caro, O Rio Grande com seu "Poema final" está na rua. Tenho um exemplar guardado para o amigo. Forte abraço.
apois - topázio de entre rios? preciso encomendar!
lembrei-me duns velsos antigos, se achá-los posto no blog
besosssss
Pôrra, Moacy, espetacular! Se bem que o Comendador Ferreirinha, Pituleira e Roberto mais do que ninguém merecem tamanhas palavras, afinal um bar de meio século, igualzinho a cinqüenta anos atrás, não é um bar qualquer. E veja que os dois irmãos nasceram em torno, e época, do surgimento do Bar de Ferreirinha.
Infelizmente nunca vi "Belinda" :(
Se não me engano Jane Wyman ganhou o Oscar de melhor atriz. Jean Negulesco era um diretor refinado.
E como eram bons os trailers de antigamente, não?
Um abraço!
queria estar nesse bar, pelo menos uma vez...
Aqui dos pampas, um brinde: Salve o Bar do Ferreirinha.
passei pra brindar com vocês, moacy! bom fim de semana! beijos.
Saudações Moacy,
muito bacana este texto seu, Buteco é o que há e o Bar do Ferreirinha deve de ser uma delícia de lugar.
E no mais tudo bom de se ler neste Balaio.
E esta animalidade racional dos animais humanos dotados da razão quando não há perdem para agirem animalescamente em nome da propriedade do poder de 'defender' os bens e do ódio, sim, aos semelhantes(?) de quererem dividir.
um abraço
Adriana vc está convidada.Apareça.Jens, obrigado.
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