Crepusculecer no Rio Potengi, em Natal
Foto de
Fernando Dias
in
Olhares
BALAIO PORRETA 1986
n° 2785
Rio, 16 de setembro de 2009
Potengi, Potengi
de todos os sonhos e de todos os pecados,
na próxima semana voltaremos a nos encontrar.
(Moacy Cirne)
Foto de
Fernando Dias
in
Olhares
BALAIO PORRETA 1986
n° 2785
Rio, 16 de setembro de 2009
Potengi, Potengi
de todos os sonhos e de todos os pecados,
na próxima semana voltaremos a nos encontrar.
(Moacy Cirne)
URBANA II
Suzana Vargas
[ in Germina Literatura ]
Que sentimento me empurra
por janeiro e o ano inteiro?
que cavalos, que forças indizíveis
me lançam para a frente e para a frente?
De tão apressada engulo,
não mastigo minha sorte.
Não sei se é sede de vida
ou avidez pela morte.
E NEM MAR ERA AINDA
Paulo de Carvalho
[ in Casa de Taipa ]
há um dezembro perdido
num canto de noite
e toda a imensidão
d’um silêncio
consagrados ensejos
o sal e o verso
amei o que se cala
tão longínquo
onde
silencia
Suzana Vargas
[ in Germina Literatura ]
Que sentimento me empurra
por janeiro e o ano inteiro?
que cavalos, que forças indizíveis
me lançam para a frente e para a frente?
De tão apressada engulo,
não mastigo minha sorte.
Não sei se é sede de vida
ou avidez pela morte.
E NEM MAR ERA AINDA
Paulo de Carvalho
[ in Casa de Taipa ]
há um dezembro perdido
num canto de noite
e toda a imensidão
d’um silêncio
consagrados ensejos
o sal e o verso
amei o que se cala
tão longínquo
onde
silencia
CÂMARA SECRETA
Henrique Pimenta
[ in Poivre ]
Pequenas quantidades são secretas
Na boca; se a saúde é respeitada.
As glândulas salivam irrequietas;
Se há males por entorno da dentada.
Permitem-se aos humores, são concretas.
Permitem-se com gosto, requintadas.
Sabor emocionante para a meta,
Ao sugo: glande e talo na mamada.
O morno da saliva colabora
Com os beijos de sandia e de indecência
No falo do mortal e é por agora
Que há lava contra lava na afluência
Das glândulas que pulsam, e estertora,
Não cessa de ser deus à decadência.
ESPERANÇA
Ada Lima
[ in Menina Gauche ]
Apesar de tudo
ainda misturo
tons de rosa
laranja
e amarelo
em minha tela.
Pintando aquarela
sem esperar
o pôr-de-sol no quadro
enquanto aguardo
a aurora
no céu.
PÊSSEGO A 40º
Fugu F
[ in Fruit de la Passion, blogue desativado ]
Daqui a pouco chega o tempo quente dos figos e pêssegos, das frutas que se abrem e oferecem. Com os figos é fácil. Só de olhar e tocar com a ponta dos dedos, já sei se estão bons, já adivinho o que prometem - e cumprem.
Mas os pêssegos são maliciosos. Expostos nas barracas, sob 35º de sol, me chamam de longe, pelo cheiro. Arrepiam a penugem quando os toco. Exibem rosados promissores sob a luz forte da rua. No entanto, só ao cravar-lhe os dentes posso saber se cumprem o que insinuam.
Minha boceta tem alma de pêssego, mas Fugu tem o condão de transformá-la em figo bíblico. Quando, depois de me abrir em gozo tantas vezes, atendo a seu olhar insistente e mergulho meus dedos entre as pernas, o que encontro me surpreende.
Um calor de feira livre, um defazer-se de lábios em gomos firmes, uma profusão de sumos e cheiros, o grelo como uma semente nova, pronta para germinar.
Fugu faz brotar em mim uma nova fruta. Alegre, devoradora, oferecida, engole meus dedos, explode contra o indicador como uma tempestade tropical. Pernas ainda abertas, olhos ainda fechados, sinto quando ele retoma seu território.
A fruta engole o tronco de onde brota o paraíso.
E inaugura mais um verão.
Fugu F
[ in Fruit de la Passion, blogue desativado ]
Daqui a pouco chega o tempo quente dos figos e pêssegos, das frutas que se abrem e oferecem. Com os figos é fácil. Só de olhar e tocar com a ponta dos dedos, já sei se estão bons, já adivinho o que prometem - e cumprem.
Mas os pêssegos são maliciosos. Expostos nas barracas, sob 35º de sol, me chamam de longe, pelo cheiro. Arrepiam a penugem quando os toco. Exibem rosados promissores sob a luz forte da rua. No entanto, só ao cravar-lhe os dentes posso saber se cumprem o que insinuam.
Minha boceta tem alma de pêssego, mas Fugu tem o condão de transformá-la em figo bíblico. Quando, depois de me abrir em gozo tantas vezes, atendo a seu olhar insistente e mergulho meus dedos entre as pernas, o que encontro me surpreende.
Um calor de feira livre, um defazer-se de lábios em gomos firmes, uma profusão de sumos e cheiros, o grelo como uma semente nova, pronta para germinar.
Fugu faz brotar em mim uma nova fruta. Alegre, devoradora, oferecida, engole meus dedos, explode contra o indicador como uma tempestade tropical. Pernas ainda abertas, olhos ainda fechados, sinto quando ele retoma seu território.
A fruta engole o tronco de onde brota o paraíso.
E inaugura mais um verão.
17 comentários:
Bela foto, como já é praxe aqui. Mas sabe, velho, posso estar "viajando": o trecho desse poema me fez lembrar aquele aviso no final de um capítulo dos velhos e inesquecíveis seriados, "veja (ou volte) na próxima semana. Um abraço.
Faustoso!
Mestre Moa,
agradeço pelo mérito de figurar no Balaio, em meio a tantas(os) feras!
Parabéns a todas(os)!
Namastê!
amei urbana II de suzana vargas e bela imagem. beijos, pedrita
olá, professor! me mudei para a irlanda e criei um novo blog. quando quiser, aparece...
Os poemas são lindíssimos. Imagina se o mar já fosse, o que o Paulo não escreveria? Adorei!
O soneto do Pimenta é um caso sério. Sonetos acontecem para ele.
E o pêssego...
beijos, Moa
Caro Moacy, a foto do Potengi revitaliza a alma. Música para os olhos. O "Pêssego a 40o" também é fantástico. Em suma, você não deixa a peteca cair nunca. Abração.
Paulo JD tem toooda razão. e eu não posso deixar de dizer eeeeebaaaa! vc virá em breve!
Moacy, linda foto!
Agradecida pela presença aqui.
Bjo!
Ada
Oi Moacy.
Bonita louvação ao "Potengi de todos os sonhos e de todos os pecados". O reencontro promete.
Ah sim, e que venha mais um verão de 40°.
Um abraço.
Meu querido Mestre,
no livro da Loba, fui convidada apenas para fazer a capa.
Mas o livro é dela e por ela foi editado. Vixe,as vezes faço algumas confusões nos meus posts,mas já foi devidamente consertado. No embalo do contentamento, bem provável que não fui muito correta nas minhas informções! Ah, mas um dia ainda faço um livro das minhas poesias (bem pretenciosa, mas sonhar não custa nada...rs)
Beijos carinhosos
mestre moa,
todo o mundo deveria ter um rio só para si!
aqui, navegamos no teu rio virtual,
inspiradas palavras como isca
levados na rede, pescados para dentro do balaio!
as correntezas deste rio nos levam para as margens de outros blogs através dos poetas que você recolheu para cá! e é sempre uma descoberta.
lindo o seu post!
um beijo!
Dentro de nós há muitos rios... ou um só. Importa que flua(m). Que belo post Moacy. beijo.
Caro mestre Moacy,
que bela foto! ah, rio potengi, rio dos camarões... Não é á toa que Câmara Cascudo não trocava este visual por nenhum outro no mundo.
Poemas belos, bem selecionados. E ah... Saudades da nossa amiga Fugu F.
Que pena ela ter deixado a blogosfera... Ninguém falava de culinária e sensualidade como ela!
Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.
Esse rio é lindo mesmo. Inesquecível!
Um abraço.
Moa,
Ada pinta, à esquerda e à direita. Os sonetos de Henrique Bardo costumam ser muito bons, e este não foge à regra. Sou fã do Paulo: pra mim, ele é um "clarinetista solo". Suzana explora bem as antíteses.
Por que desativaram o blogue original do pêssego caliente?! Oras...
Abração,
Marcelo.
Mestre!
Mais um belo Balaio!
Henrique Poivre gando seu show, como sonetista de primeira!
A imagaem e a citação, um louvor.
Aos demais poetas, sem exceção, parabéns!
Beijos
Mirse
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