OBRAS-PRIMAS DO CINEMA
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o trêiler de
Quando explode a vingança
(Sérgio Leone, 1971)
Os puristas do bangue-bangue que me desculpem, mas Sergio Leone é fundamental. Haja vista, por exemplo, Três homens em conflito (1966) e Era uma vez no Oeste (1968), duas de suas obras-primas. Como obra-prima me parece Quando explode a vingança (Giù la testa, no original italiano). Só que aqui não se trata de um western no sentido tradicional: com a ação no México revolucionário dos anos 10 do século passado, a trama se concentra no encontro - que se transforma em amizade - entre um bandoleiro analfabeto mexicano e um militante intelectual irlandês do IRA, especialista em explosivos: a união dos dois gera momentos de western, sim, mas vai além. O início (marcado por uma citação de Mao Tsé-tung!) já aponta para o anticlericalismo e a antiburguesice do enredo, em suas premissas conteudísticas, numa clara homenagem narracional ao Encouraçado Potemkin (1925), de Eisenstein. O filme é delirante, em muitas passagens surreais e plenas de humor. Há espaço, inclusive, para cenas de puro romantismo (no caso, em clima onírico, uma mulher para dois) em relação ao passado do personagem irlandês. Seria Quando explode a vingança um filme politicamente marxista? Claro que não; no máximo, anarquista - e mesmo assim com as devidas restrições. Mas o que importa, em primeiro lugar, é que (no meu entendimento) estamos diante de um grande feito cinematográfico, decerto com os reflexos políticos da época (anos 60-70).
BALAIO PORRETA 1986
n° 2782
Rio, 13 de setembro de 2009
A revolução não é convite para um jantar, a composição de uma obra literária, a pintura de um quadro ou a confecção de um bordado. A revolução não pode ser feita com elegância e educação. A revolução é um ato de violência.
(MAO Tsé-tung, citado por Sergio Leone
em Quando explode a vingança)
OUTROS GRANDES FILMES DE 1971
Laranja mecânica (Kubrick)
Carta para Jane (Godard & Gorin)
Morte em Veneza (Visconti)
A dor e a compaixão (Marcel Ophuls)
[ in Antologia brasileira de humor ]
Mundo transtornado chora a morte de Abel
Advogado do Diabo defenderá Caim
Paraíso perdido tem medo de outros crimes
Adão inconsolável: "Fiz tudo para evitar a tragédia"
Criminoso ainda comeu maçã depois do assassinato
POEMA
Miguel Cirilo
(São José do Seridó)
[ in Os elementos do caos, 1964)
- faltam dois galos vermelhos
para a morte nos unir:
amor que dorme, desperta,
não é hora de dormir.
me dá arsênico e rosa:
quero morrer sem sentir.
amor, já se acende a aurora:
ajuda-me a não fugir.
- abraça-me com o desgosto
da vida que não te dei.
- pelo muito que me deste:
não foi só a ti que amei.
entregaste-me uma sombra,
talvez com medo de mim.
- amor, a morte me assombra...
- só posso te amar assim...
ÁRVORE
Sônia Brandão
[ in Pássaro Impossível ]
Teu grito
meu silêncio
frutos da mesma dor
PRESA PREZA PRESSA
Betina Moraes
[ in Sensytiva ]
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o trêiler de
Quando explode a vingança
(Sérgio Leone, 1971)
Os puristas do bangue-bangue que me desculpem, mas Sergio Leone é fundamental. Haja vista, por exemplo, Três homens em conflito (1966) e Era uma vez no Oeste (1968), duas de suas obras-primas. Como obra-prima me parece Quando explode a vingança (Giù la testa, no original italiano). Só que aqui não se trata de um western no sentido tradicional: com a ação no México revolucionário dos anos 10 do século passado, a trama se concentra no encontro - que se transforma em amizade - entre um bandoleiro analfabeto mexicano e um militante intelectual irlandês do IRA, especialista em explosivos: a união dos dois gera momentos de western, sim, mas vai além. O início (marcado por uma citação de Mao Tsé-tung!) já aponta para o anticlericalismo e a antiburguesice do enredo, em suas premissas conteudísticas, numa clara homenagem narracional ao Encouraçado Potemkin (1925), de Eisenstein. O filme é delirante, em muitas passagens surreais e plenas de humor. Há espaço, inclusive, para cenas de puro romantismo (no caso, em clima onírico, uma mulher para dois) em relação ao passado do personagem irlandês. Seria Quando explode a vingança um filme politicamente marxista? Claro que não; no máximo, anarquista - e mesmo assim com as devidas restrições. Mas o que importa, em primeiro lugar, é que (no meu entendimento) estamos diante de um grande feito cinematográfico, decerto com os reflexos políticos da época (anos 60-70).
BALAIO PORRETA 1986
n° 2782
Rio, 13 de setembro de 2009
A revolução não é convite para um jantar, a composição de uma obra literária, a pintura de um quadro ou a confecção de um bordado. A revolução não pode ser feita com elegância e educação. A revolução é um ato de violência.
(MAO Tsé-tung, citado por Sergio Leone
em Quando explode a vingança)
OUTROS GRANDES FILMES DE 1971
Laranja mecânica (Kubrick)
Carta para Jane (Godard & Gorin)
Morte em Veneza (Visconti)
A dor e a compaixão (Marcel Ophuls)
O PRIMEIRO CRIME EM MANCHETE NOS DIAS DE HOJE
por ALDU (Alaor Dutra Oliveira)[ in Antologia brasileira de humor ]
Escândalo no Paraíso
Crime horroroso no ParaísoDeus expulsará Caim ainda hoje
Tragédia no Paraíso: Caim matou Abel
Polícia suspeita de CaimCiúme foi a causa do crime
Paraíso não é mais o mesmo
Pancadaria no Éden: um morto e vários feridosMundo transtornado chora a morte de Abel
Advogado do Diabo defenderá Caim
Paraíso perdido tem medo de outros crimes
Adão inconsolável: "Fiz tudo para evitar a tragédia"
Criminoso ainda comeu maçã depois do assassinato
POEMA
Miguel Cirilo
(São José do Seridó)
[ in Os elementos do caos, 1964)
- faltam dois galos vermelhos
para a morte nos unir:
amor que dorme, desperta,
não é hora de dormir.
me dá arsênico e rosa:
quero morrer sem sentir.
amor, já se acende a aurora:
ajuda-me a não fugir.
- abraça-me com o desgosto
da vida que não te dei.
- pelo muito que me deste:
não foi só a ti que amei.
entregaste-me uma sombra,
talvez com medo de mim.
- amor, a morte me assombra...
- só posso te amar assim...
ÁRVORE
Sônia Brandão
[ in Pássaro Impossível ]
Teu grito
meu silêncio
frutos da mesma dor
PRESA PREZA PRESSA
Betina Moraes
[ in Sensytiva ]
Longa noite te aguarda
Eu em guarda guardo
Labor, torpor, rubor,
Lembro lábio, resguardo,
Preciso de você e você
Veste silhueta de tempo
Não demora nem devora
Depende tudo de hora
Desprendo tudo de você.
POEMA
Carito
[ in Os Poetas Elétricos ]
porque me entristeci
estou de volta e estou de vulto
meu tanto é meu pranto
quando sou muito assim
nado em nada
escrevo e escravo, não e sim, vejo no fim
um recomeço.
hoje vou mudar
de endereço e os adereços
abandonar, procurar
rimas sem rumos
não pesar a gramétrica, balança-chamas
cometer deslize, copiar marize
plantar cortes, suportar
as dores do mundo, me atirar
mar e muralha, vala que a valha
sorte da navalha, poesia pra hortar os pulsos
adubar impulsos, papéis avulsos
incendiar.
Carito
[ in Os Poetas Elétricos ]
porque me entristeci
estou de volta e estou de vulto
meu tanto é meu pranto
quando sou muito assim
nado em nada
escrevo e escravo, não e sim, vejo no fim
um recomeço.
hoje vou mudar
de endereço e os adereços
abandonar, procurar
rimas sem rumos
não pesar a gramétrica, balança-chamas
cometer deslize, copiar marize
plantar cortes, suportar
as dores do mundo, me atirar
mar e muralha, vala que a valha
sorte da navalha, poesia pra hortar os pulsos
adubar impulsos, papéis avulsos
incendiar.
MEMÓRIA DE INFÂNCIA
Namibiano Ferreira
Namibiano Ferreira
Está o soba sob a sombra
que a mulemba traz sobre o chão.
Sob o soba está a esteira
estendida sobre o solo.
Dorme a sesta sob a sombra
o soba que o sol não sente
porque a sabida mulemba
ensombra o sol e sombra o soba.
Está o soba sob a sombra
da mulemba da sanzala
sob o soba está a esteira
estendida sobre o sonho
sob a sombra da mulemba.
que a mulemba traz sobre o chão.
Sob o soba está a esteira
estendida sobre o solo.
Dorme a sesta sob a sombra
o soba que o sol não sente
porque a sabida mulemba
ensombra o sol e sombra o soba.
Está o soba sob a sombra
da mulemba da sanzala
sob o soba está a esteira
estendida sobre o sonho
sob a sombra da mulemba.
Mulemba ou mulembeira - árvore de Angola
Soba - chefe tradicional
15 comentários:
Moacy, obrigado mas vou ter que fazer uma pequena rectificacao: faltam algumas palavras no início do poema:
Está o soba sob a sombra
que a mulemba traz sobre o chão.
Kandandu!!!
É uma honra fazer parte deste blogue...
"onde está o homem está o perigo"
gostei muito desses versos angolanos! e da sônia brandão, e do carito - e de tudo, afinal! e viva o bem e o mao!!
besos
Caro NAMIBIANO:
Acabo de fazer a correção/acréscimo.
Grato pela compreensão.
Um abraço.
sim, moa - está publicado em algum lugar do meu blog
besos
Moacy, deixei um poeta para voce no mneu site, o Joao Tala e acrescento este blogue http://10encantos.blogspot.com/
Kandandu, meu amigo!
eu vi morte em veneza em uma retrospectiva no cine sesi aqui em são paulo há uns anos. um pouco depois comprei o livro no sebo. adoro o thomas mann, mas esse ainda não tinha lido. maravilhoso! beijos, pedrita
... tudo muito bom, mas a betina moraes pega pesado!...
parabéns a todos os colaboradores!
abraço!
Belos, sobretudo, os poemas de Miguel Cirilo e Carito. Bom domingo pra você, Moacy amigo.
Bom Dia, Moacy!
Sua descriçãpo do filme foi espetacular. AStualmente, adoro westerns, menos violentos que o jornal Nacional ou qualquer outro noticiário.
Laranja Mecânica, por exemplo é um filme até lírico. nÃO HÁ VILOLÊNCIA ALGUMA. Revi outro dia e achei maravilhoso.
Violência, não passa em cinema, é o que temos em casa e o que vemos nas ruas.
O Primeiro crime? OHHHHHHHHHHHHHH
Que belo crime descrito por Aldu!
Miguel Cirilo! Fantástico!
Betina Moraes: FENOMENAL!
Destaco todos como excelentes e..Carito volte, porque sinto sua falta!
Excelente domingo blanc, vert, rouge!
Beijos Moacy!
Moa,
Namibiano trabalha bem o ritmo de pés marcados no solo. Carito trabalha as aloiterações até o limite do elástico do estilingue. Sua leitura do Western mostra que vc é, por vocação, um cronista da cultura. Eu jamais diria viva Mao: Mao foi um demente megalômano, como há dementes de todas as ideologias. O megalômano arruína tudo. Tirano digno de ter seu "livro vermelho" esmiuçado como uma análogo de "Bíblia laico-boçal". Mao é Fundamentalista. E todo Fundamentalista é, fundamentalmente, burro (seja ele freudiano, muçulmano, lacaniano, marxista, junguiano). Sim, há muitos fundamentalismos laicos. O "livro vermelho" de Mao, o "livro verde" de Gadhaffi, o "livro Orange" de Rajneesh (posteriormente, Osho: "Oceano de imbecilidades e pastiches das falas alheias"), todas essas "escrituras" laicas (ou pseudo-místicas, da entronização do próprio autor) poderiam ser tão bem esmiuçadas (e ridicularizadas em sua reescritura) como "O Livro dos Livros"...
Mao é lixo.
No mais, Betina é luxo.
Abraços,
Marcelo.
Obrigada por mais essa. Sinto-me feliz por estar aqui tão bem acompanhada.
bjs
Caro Moacy Cirne,
Nos últimos anos, seu encantador livro "Cinema, Cinema - Os Filmes dos Meus Sonhos" tem sido uma grande referência ( de cabeceira mesmo) para mim.
Que felicidade encontrar este seu maravilhoso blog. Estou fascinado com tudo que tenho visto e lido por este sítio.
Parabéns!
Abraço fraterno.
Mariano
Assisti Quando explode a vingança ainda na faculdade lá pela década de 80, quando os cinemas ainda tinham o direito de exibir filmes fora do circuito empresarial. Lembrou-me uma liberdade que não tínhamos, mas que de tão ansiada se fazia presente nos gestos, nas festas e no amor. A poesia do balaio tá arretada. Deixo o abraço.
nabiano, eu sou tua irmã, opanijé, ah se sou!
OI MOACY!
isso aqui já começou bem, três homens em conflito é um dos meus filmes preferidos e áinda tem aquela música tema do enio morricone que me deixa assim, bang-bang... aliás, o enio nunca ganhou um oscar, mas era amigo de sinatra e de eastwood que lhe deu um oscar. sério.
e, esse humor, me impede de chorar o meu silêncio e o grito dele, digo, o contrário, eu grito e ele silencia e depois nos revezamos... ai, tou eletrizada com esse carito.
beijo. beijo.
camarada moa, sempre fico assim com esse teu sim, rindo, amando, rimando à toa, camarada moa, tão camarada, moa...
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