sábado, 3 de outubro de 2009

FILMES QUE MARCARAM ÉPOCA
NA CAICÓ DOS ANOS 50
Clique na imagem de
María Antonieta Pons,
rumbeira cubana,
para verouvir uma cena do
filme mexicano
A rainha do mambo
(Ramón Pereda, 1950)
Os marmanjos caicoenses da minha época de infância e adolescência eram entusiastas de duas rumbeiras que faziam sucesso no cinema mexicano: Ninon Sevilla e María Antonieta Pons. Seus filmes significavam, para todos nós, momentos de puro prazer cinematográfico, com seus enredos simples e de fácil comunicação. Haja vista o exemplo de A rainha do mambo, exibido no velho Pax por volta de 1954.


BALAIO PORRETA 1986
n° 2801
Rio, 3 de outubro de 2009

Aqueles que são inimigos do povo, e pior, aqueles que têm raiva do nosso povo, raiva do olhar do nosso povo, raiva do calor do nosso povo, raiva do gingado do nosso povo, raiva da cor do nosso povo, raiva do sorriso do nosso povo, começaram, desde agora, a jogar contra. / Não passarão!
(Eduardo GOLDENBERG [diante do choro de Lula, logo após a escolha do Rio para sediar as Olimpíadas de 2016, in Buteco do Edu)


POEMA de
Chico Doido de Caicó

Tenho um segredo pra contar:
Muita gente pensa que eu comi
Maria Antonieta Pons,
A devassa do Cinema Pax,
Na Festa de Santana do ano passado.
Não é verdade:
Champrar mesmo pra valer
Eu champrei a pretinha Jurema
Em noites de muitas águas
Em águas de muitos sonhos
E em sonhos de muitas sombras
Às margens do Seridó, rio e mar
Do sertão do meu Caicó.
Arre, me lembrei agora.
Sesyom era poeta dos bons
Peidava como ninguém (1)
Lá pra bandas de Açu
Seu traque era tão forte
Que se escutava em Jaquerucu (2).
O ano passado eu morri
Mas esse ano eu não morro (3)
Nem que Zé Limeira me faça
Plagiá-lo como um zé-ninguém.
Tenho um segredo pra contar
Mas esse ano eu não conto.

Notas:
(1) Referência a uma das glosas mais famosas de Moysés Sesyom.
(2) Possível referência à cidade de Jucurutu, entre Caicó e Açu.
(3) Apropriação de conhecidos versos do poeta popular Zé Limeira.



ALUMIADA
Lilia Diniz
[ in Miolo de Pote ]

Careço de ti
iluminando meus dias
com a lamparina
dos teus olhos



INCENSÓRIO DO ANOITECER
Diogo Fontenelle
[ in Incensório do anoitecer, 1986,
cf. A poesia cearense no século XX, de Assis Brasil)

Logo mais deixarei este cais!

O poema é meu mantra,
A poesia é minha magia.
Louro Serafim, o que será de mim?

Logo mais deixarei este cais!
O poema é meu mantra,
A poesia é minha magia.
Anael, mostre-me as escadas do céu!

Logo mais deixarei este cais!
O poema é meu mantra,
A poesia é minha magia.
Anjo-Guardião, faça de mim uma canção!


VISITA NOTURNA
Lívio Oliveira
[ in O Teorema da Feira ]

Não reconheço a voz rouca e doce
negra
que invade o meu quarto
recebo-a, mesmo assim,
nos lençois,
revolvendo meu sonho proibido
de menino.


PASTOREIO
Joanyr de Oliveira
[ in Poesia Para Todos. Rio, n° 2, nov/2000 ]

Fui pastor de destinos
soltos nas ventanias.

Fui pastor de sonhos,
de abismos e insônias.

Fui pastor de ovelhas
enlouquecidas nas noites.

Hoje pastoreio as horas
colho o mel das palavras.

Pastoreio metáforas
na inocência do branco.

Pastoreio murmúrios
diluídos nos ermos.

Pastoreio estribilhos
na memória e nas veias.

Ovelhas não navegam
as águas de meus olhos.

Ovelhas não ruminam
o itinerário de meu verbo.

Ovelhas não burilam
a sofreguidão de meu rosto.


Memória 1993
OS 30 MOMENTOS CAPITAIS DA HISTÓRIA DAS ARTES
segundo o poeta Glauco Mattoso, de São Paulo
[ in Balaio, n° 554, de 13/10/1993 ]

1. As mil e uma noites
2. Os 120 dias de Sodoma (Sade)
3. Bíblia Vulgata (Jerônimo)
4. O milagre da rosa (Genet)
5. Palito métrico (A.D. Ferrão & outros)
6. Os 120 dias de Sodoma/Salò (Pasolini)
7. Morte em Veneza (Visconti)
8. Laranja mecânica (Kubrick)
9. Garganta profunda (Damiano)
10. O massacre de Matupá (vídeo amador de Leno Durrenwald)
11. Sonatas para cravo (Scarlatti)
12. Sinfonia inacabada (Schubert)
13. A grande páscoa russa (Rimsky-Korsakov)
14. Rapsódia húngara (Liszt)
15. Dança eslava opus 27 n° 4, orquestrada (Dvorak)
16. Os lusíadas (Camões)
17. Sonetos (Bocage) [os pornôs, claro]
18. Sonetos luxuriosos (Aretino)
19. Nomenclatura y apología del carajo (Acuña de Figueroa)
20. Dr. Caganeira (cordel de João Martins de Athayde)
21. A cantora careca (Ionesco)
22. História de O (Guido Crepax)
23. Marie-Gabrielle de St. Eutrope (Pichard)
24. Bo Diddley (Bo Diddley)
25. Blue suede shoes (Carl Perkins)
26. Fusca modelo original [janela traseira oval]
27. Bota Doc Marten
28. Torre Eiffel
29. Big Ben & respectiva torre
30. Ônibus dois andares, modelo antigo [capota arredondada]


Chico Doido de Caicó
UMA SEGUNDA CARTA PARA A ABL
EM 3/01/1994
Publicada no Balaio n° 583
e protocolada na Secretaria da Academia na mesma data

Sr. Presidente
[da Academia Brasileira de Letras]:

Amigavelmente, quero vos dizer, dentro da maior cordialidade, e com a máxima consideração possível, que os poemas de Chico Doido de Caicó (Francisco Manoel de Souza Forte, 1922-1991) são bons pra caralho.

Aliás, são mil vezes melhores do que as bobagens supostamente "literárias" dos acadêmicos Lyra Tavares, Ivo Pitanguy, José Sarney e Roberto Marinho, além de D. Marcos Barbosa, entre outros.

Portanto, Sr. Presidente, a presença de Chico Doido na ABL, mesmo como simples e imortal "espírito", só servirá para dignificá-la, para prestigiá-la, para honrá-la. Afinal, como todo bom caicoense, Chico Doido é foda.

É preciso reconhecer, porém, que há um pequeno problema. A cadeira do patrono mais apropriado para ser ocupada pelo poeta do Rio Grande do Norte já tem "dono": é a cadeira 16, cujo patrono chama-se Gregório de Matos. Lygia Fagundes Telles (a bem da verdade, uma grande escritora) é sua ocupante. Neste caso, tenho uma sugestão que me parece bastante válida.

Tendo em vista que Bocage é portuga (a rigor, ele seria o nome ideal para respaldar a "imortalidade" do Chico Manoel), por que não homenagear o desenhista Carlos Zéfiro, de igual modo um grande sacana, criando a cadeira 69, que o teria, então, como patrono? Chico Doido, sem a menor dúvida, seria o candidato perfeito para ocupá-la; decerto, com pau duro, se vivo fosse.

De qualquer maneira, espero que D. Eugênio Sales esteja cuidando do assunto com a devida atenção. Não esqueçamos que Sua Demência foi indicado procurador sobrenatural por vários poetas e escritores para tratar dos interesses de Chico Doido de Caicó perante a Academia Brasileira de Letras,

Sem mais,
mui literariamente,
Moacy Cirne
- em 3/01/1994

13 comentários:

Adriana Riess Karnal disse...

Moacy,
Grande seleção como sempre...quanto a lista do Glauco Matoso, não concordo muito não,sabes? E a carta sobre o Chico Doido, ah morri de rir, ele merece mais do q o Sarney,com certeza!!!

Unknown disse...

Que mambo MoacY! Fiquei pensando que o chapéu dela ia cair, e não caiu. FOCO ROJO. Maravilha!


Poemas todos lindos, mas destaco o do Lívio, que já tinha lido, mas é divino!

Eu apoio o Chico Doido para qualquer lugar da ABL, mas se ele for o presidente, melhor ainda. Coitado do Paulo Coelho, do Jose Sarney etc...etc....


Beom sábado, Moa!

Beijos

Mirse

Jens disse...

"Em noites de muitas águas
Em águas de muitos sonhos
E em sonhos de muitas sombras
Às margens do Seridó, rio e mar
Do sertão do meu Caicó."

PQP!!! Ducaralho!!!

***
Discordo, Moacy, da presença de CDC na ABL. Nada a ver. O que ele iria fazer lá na companhia de um general que assinava seus (maus) poemas com o codinome de "Adelita"? Furdunço na certa.
***
No mais, dá-lhe Rio, dá-lhe Brasil!
Valeu, Lula!

Um abraço.

Marcelo Novaes disse...

Moa,




A candidatura de Chico Doido é legítima, a julgar pelo poema postado. E ele é muito melhor do que os supracitados. Marinbondos me mordam (ou me incendeiem) se eu estiver mentindo...






Abração,










Marcelo.

Marcelo Novaes disse...

Opa!


Marimbondos!


;)

Dilberto L. Rosa disse...

E quem não gostaria de comer também, não é, meu caro?! Mais uma (ou mais de uma) lista fantástica - a propósito: segue uma listinha minha em homenagem a Vossa Senhoria nos Morcegos! Abração!

Lívio Oliveira disse...

Mui grato por estar aqui, Moacy.
Abs.

Unknown disse...

Moacy:

Guimarães Rosa entrou na ABL e morreu. Escritores de verdade deviam se precaver depois dessa - isso sem falar nuns que nunca entraram e fizeram muito bem (Drummond, Antonio Cândido...). Por esse motivo, proponho protegermos Chico Doido de uma segunda morte em tão más companhias. E pra tomar chá!
Abraços:

Marcos Silva

líria porto disse...

se o quintaninha não entrou, a abl é suspeita! chico doido é passaroco!!
sarney já era!
besos

BAR DO BARDO disse...

Um florilégio antológico. Que primavera do caralho!

Meg disse...

Moacy,
Há muito tempo que não passava pelo Balaio com a disponibilidade que tenho agora que estou de férias.
Leio e releio e aprendo... porque me encanta este espaço que não se compadece com uma leitura apressada.
Aqui saboreio cada palavra, cada poema, tomo notas para pesquisar... aqui venho para conhecer muito do Brasil que amo... e me lembra a minha África que fui obrigada a deixar para trás, no tempo, que não na saudade.

Um cheiro, meu Amigo!

Unknown disse...

Como é ruim um domingo
Sem sorrir, mesmo para si
É aí que sinto falta de ti
Te espero amanhã
Moacy!

Beijos

Mirse

João Quintino disse...

Moacy, o seu balaio como sempre é um caminhão, um navio cargueiro, uma arca de Noé. E por falar em Maria Antonieta Pons, ela está na Sabugilândia de hoje. Abraço!