OS FILMES QUE MARCARAM ÉPOCA
NA CAICÓ DOS ANOS 50
(Repeteco)
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para verouvir
umas das cenas finais de
O ébrio
(Gilda de Abreu, 1946)
Exibido em Caicó em 1950/51, O ébrio - com Vicente Celestino - conseguiu a proeza de levar ao cinema de Seu Clóvis até mesmo o meu pai. Acredito que em toda a sua vida, Seu Luís não deve ter visto mais de cinco ou seis filmes. O ébrio foi um deles. Por aí se vê como a obra de Gilda de Abreu - o maior dramalhão da história do cinema brasileiro - marcou a vida social e cultural de uma cidade interiorana, na ocasião com aproximadamente 5 mil habitantes. Lembro-me perfeitamente: no final de cada sessão, a começar por Seu Clóvis e suas irmãs, o chororô era geral. A expressão "cinema de lágrimas", que coroaria igualmente alguns títulos mexicanos, não nasceu por acaso. Sem dúvida, trata-se de um filme importante, apesar de suas deficiências técnicas e de sua estética discutível.
BALAIO PORRETA 1986
n° 2821
Natal, 24 de outubro de 2009
Quais os filmes brasileiros que, hoje, eu levaria para uma temporada de aproximadamente três meses na encantantória São Saruê, de Manoel Camilo dos Santos? Poderiam ser os seguintes (não necessariamente os melhores): 1. Deus e o diabo na terra do sol; 2. Terra em transe; 3. Vidas secas; 4. Porto das Caixas; 5. O bandido da luz vermelha; 5. Cabra marcado para morrer; 6. Os fuzis; 7. São Bernardo; 8. Assuntina das Amérikas; 9. O padre e a moça; 10. Limite; 11. O país de São Saruê; 12. Tudo bem; 13. Ganga bruta; 14. LavourArcaica; 15. Nem Sansão nem Dalila; 16. Bangue-bangue.
A leitura da semana
CENAS BRASILEIRAS:
o cinema em perspectiva multidisciplinar,
de Marcos Silva & Bené Chaves (orgs.).
Natal: EdUFRN, 2009, 422p.
(1)
São Paulo, Sinfonia de uma metrópole [Adalberto Kemeney & Rodolpho Rex Lustig, 1929] tornou-se, depois de finalizado, um documentário não convencional. O olhar com o qual os autores veem a cidade não é, de modo algum, imparcial, como ocorre no documentário padrão. (Gilberto Stabile, p.25)
Sob uma primeira impressão, Limite (1931), de Mário Peixoto, provoca a sensação de infinitude. (Marcos Aurélio Felipe, p.31)
O filme [Alô, alô, Carnaval!, de Adhemar Gonzaga, 1936] teve grande sucesso de público e foi um precursor das famosas chanchadas, que iriam encantar o Brasil nas décadas seguintes. ... A canção popular é o principal personagem do filme. (João da Mata Costa, p.39)
O Ébrio [Gilda de Abreu,1946] é um filme que nos emociona ainda hoje, menos pela história em si e mais por nos permitir o encontro com um Brasil que já não existe mais. ... Lá está o nosso Brasil católico, mestiço e preconceituoso (todos os empregados do filme são negros ou mulatos), irreverente, romântico, melancólico, recheado de chavões algo apelativos, de um humor ingênuo, quase infantil. (Liane Barros, p.43)
Nesse limite ambíguo entre a citação e a irreverência, Carnaval Atlântida [José Carlos Burle1952] põe em oposição cultura erudita e cultura de massas, brinca com os elementos populares e elitistas e faz comédia sem descuidar da crítica. (Josimey Costa da Silva, p. 60);
Com relação ao filme Uma pulga na balança [Luciano Salce, 1953], há alguns aspectos que chamam imediatamente a atenção do apreciador do bom cinema. O primeiro refere-se situações cômicas do filme e às situações inteligentes apresentadas. (Nelson Marques, p.96)
- Continua -
CLIQUE AQUI
para ler e assinar (caso queira) o
Manifesto em defesa do MST
contra a violência do agronegócio
e a criminalização das lutas sociais.
Entre os que já o assinaram figuram
Eduardo Galeano, Emir Sader, Gilberto Maringoni,
István Mészáros, José Paulo Netto,
Lucia Maria Wanderley Neves, Michael Lowy,
Leandro Konder, Luís Fernando Veríssimo,
Angela Melim, Isabel Lustosa,
Antonio Candido e mais de 4.530 nomes, até o momento;
a nossa assinatura foi a de núm. 2495.
UM RETRATO EM QUE EVA APARECE REVELADA
E O DESEJO DE ADÃO ABRE AS PORTAS DA NOITE
Theo G. Alves
[ in Museu de Tudo, em 15/12/2007 ]
EVA
sua costela ímpar
não o deixa dormir
ele a deseja:
seu corpo e seu banquete
à noite
ela completará seu corpo
outra vez.
NA CAICÓ DOS ANOS 50
(Repeteco)
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umas das cenas finais de
O ébrio
(Gilda de Abreu, 1946)
Exibido em Caicó em 1950/51, O ébrio - com Vicente Celestino - conseguiu a proeza de levar ao cinema de Seu Clóvis até mesmo o meu pai. Acredito que em toda a sua vida, Seu Luís não deve ter visto mais de cinco ou seis filmes. O ébrio foi um deles. Por aí se vê como a obra de Gilda de Abreu - o maior dramalhão da história do cinema brasileiro - marcou a vida social e cultural de uma cidade interiorana, na ocasião com aproximadamente 5 mil habitantes. Lembro-me perfeitamente: no final de cada sessão, a começar por Seu Clóvis e suas irmãs, o chororô era geral. A expressão "cinema de lágrimas", que coroaria igualmente alguns títulos mexicanos, não nasceu por acaso. Sem dúvida, trata-se de um filme importante, apesar de suas deficiências técnicas e de sua estética discutível.
BALAIO PORRETA 1986
n° 2821
Natal, 24 de outubro de 2009
Quais os filmes brasileiros que, hoje, eu levaria para uma temporada de aproximadamente três meses na encantantória São Saruê, de Manoel Camilo dos Santos? Poderiam ser os seguintes (não necessariamente os melhores): 1. Deus e o diabo na terra do sol; 2. Terra em transe; 3. Vidas secas; 4. Porto das Caixas; 5. O bandido da luz vermelha; 5. Cabra marcado para morrer; 6. Os fuzis; 7. São Bernardo; 8. Assuntina das Amérikas; 9. O padre e a moça; 10. Limite; 11. O país de São Saruê; 12. Tudo bem; 13. Ganga bruta; 14. LavourArcaica; 15. Nem Sansão nem Dalila; 16. Bangue-bangue.
A leitura da semana
CENAS BRASILEIRAS:
o cinema em perspectiva multidisciplinar,
de Marcos Silva & Bené Chaves (orgs.).
Natal: EdUFRN, 2009, 422p.
(1)
São Paulo, Sinfonia de uma metrópole [Adalberto Kemeney & Rodolpho Rex Lustig, 1929] tornou-se, depois de finalizado, um documentário não convencional. O olhar com o qual os autores veem a cidade não é, de modo algum, imparcial, como ocorre no documentário padrão. (Gilberto Stabile, p.25)
Sob uma primeira impressão, Limite (1931), de Mário Peixoto, provoca a sensação de infinitude. (Marcos Aurélio Felipe, p.31)
O filme [Alô, alô, Carnaval!, de Adhemar Gonzaga, 1936] teve grande sucesso de público e foi um precursor das famosas chanchadas, que iriam encantar o Brasil nas décadas seguintes. ... A canção popular é o principal personagem do filme. (João da Mata Costa, p.39)
O Ébrio [Gilda de Abreu,1946] é um filme que nos emociona ainda hoje, menos pela história em si e mais por nos permitir o encontro com um Brasil que já não existe mais. ... Lá está o nosso Brasil católico, mestiço e preconceituoso (todos os empregados do filme são negros ou mulatos), irreverente, romântico, melancólico, recheado de chavões algo apelativos, de um humor ingênuo, quase infantil. (Liane Barros, p.43)
Nesse limite ambíguo entre a citação e a irreverência, Carnaval Atlântida [José Carlos Burle1952] põe em oposição cultura erudita e cultura de massas, brinca com os elementos populares e elitistas e faz comédia sem descuidar da crítica. (Josimey Costa da Silva, p. 60);
Com relação ao filme Uma pulga na balança [Luciano Salce, 1953], há alguns aspectos que chamam imediatamente a atenção do apreciador do bom cinema. O primeiro refere-se situações cômicas do filme e às situações inteligentes apresentadas. (Nelson Marques, p.96)
- Continua -
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para ler e assinar (caso queira) o
Manifesto em defesa do MST
contra a violência do agronegócio
e a criminalização das lutas sociais.
Entre os que já o assinaram figuram
Eduardo Galeano, Emir Sader, Gilberto Maringoni,
István Mészáros, José Paulo Netto,
Lucia Maria Wanderley Neves, Michael Lowy,
Leandro Konder, Luís Fernando Veríssimo,
Angela Melim, Isabel Lustosa,
Antonio Candido e mais de 4.530 nomes, até o momento;
a nossa assinatura foi a de núm. 2495.
UM RETRATO EM QUE EVA APARECE REVELADA
E O DESEJO DE ADÃO ABRE AS PORTAS DA NOITE
Theo G. Alves
[ in Museu de Tudo, em 15/12/2007 ]
EVA
sua costela ímpar
não o deixa dormir
ele a deseja:
seu corpo e seu banquete
à noite
ela completará seu corpo
outra vez.
POEMA
Li Tai Pô
[ in Germina Literatura ]
Na vida
é preciso tanto seriedade
quanto delírio.
Se tiveres mais de um pão,
vende um
e compra um lírio.
Li Tai Pô
[ in Germina Literatura ]
Na vida
é preciso tanto seriedade
quanto delírio.
Se tiveres mais de um pão,
vende um
e compra um lírio.
BAGAGEM
Romério Rômulo
Romério Rômulo
trago
uma secura no meu lado direito
que me proíbe de vender bananas.
trago
um martelo, tonel de badalos
que me safira e empresa os olhos.
quando milhos, tenho tantos
que me encarrego do tombo.
a sutil faca me faz anacoreta.
A CASA
Lenilde Freitas
[ in Espaço neutro, 1991,
via A Meus Amigos ]
Da porta principal à derradeira,
um corredor. Só o piso de madeira.
As portas laterais, trancadas.
Todas elas.
Pelas janelas,
fogem os fantasmas gerados na cumeeira.
Que mais?
Que mais?
Ah, sim: uma goteira, sangrando... sangrando...
sujando a casa inteira.
PREDESTINAÇÃO
Ascenso Ferreira
[ in Xenhenhém, 1951 ]
- Entra pra dentro, Chiquinha!
Entra pra dentro, Chiquinha!
No caminho que você vai
você acaba prostituta!
E ela:
- Deus te ouça, minha mãe...
Deus te ouça...
Lenilde Freitas
[ in Espaço neutro, 1991,
via A Meus Amigos ]
Da porta principal à derradeira,
um corredor. Só o piso de madeira.
As portas laterais, trancadas.
Todas elas.
Pelas janelas,
fogem os fantasmas gerados na cumeeira.
Que mais?
Que mais?
Ah, sim: uma goteira, sangrando... sangrando...
sujando a casa inteira.
PREDESTINAÇÃO
Ascenso Ferreira
[ in Xenhenhém, 1951 ]
- Entra pra dentro, Chiquinha!
Entra pra dentro, Chiquinha!
No caminho que você vai
você acaba prostituta!
E ela:
- Deus te ouça, minha mãe...
Deus te ouça...
13 comentários:
moacy:
acabei de assinar o manifesto.
um abraço.
romério
Moa,
Ascenço Ferreira definiu bem a bênção materna. A Ascese de Romério, desbastando, constela imagens.
Belas postagens.
Abração,
Marcelo.
Bom tudo.
Boa Tarde, Moacy!
O Ébrio é um filme que não cansa, assim como a música que agora é o "must" dos adolecentes.
Romério Rômulo, com uma erudição exuberante, sempre arrasa. Uma vez Romério, sempre Renata!
Mas a PREDESTINAÇÃO de Ascenso Ferreira, está show de bola!
No mais tudo perfeito!
Beijos
Mirse
moacy, também tá no manifesto o plínio d arruda sampaio e muitos leitores seus (como o romério e vc mesmo) que também são nomes de peso... eu, infelizmente, sei lá porquê não consigo abrir a página nem com ocupação e resistência maciça nas lans houses. veja, nem mesmo aqui no interior.
tou numa cidadela charmosa e serrana: maranguape. o bandeira veio morar aqui por causa do clima ameno, mas não entendo: é que quente pra caramba, o que está piorando minha virose maledeta que já dura mais de uma semana. mas a luta continua e é pra valer, chego em caicó no próximo sábado com novidades vermelhas :) ah, sim, já ia me perdendo: estou em maranguape e alojados numa escola chamada: estado do rio grande do norte :)
sobre a filmografia: conseguiu angariar meus preferidos. e que belíssima imagem do ébrio, todo matuto...
e este poema do romério mexe tanto comigo, mas tanto, que já até me inspirou:
a valise
nina rizzi
se, esquerdatária, vivo tanto seca
posso vender qualquer coisa
pra que não sucumba, oh dona de adversidades.
uma faca de passar manteiga
- a espessa gordura que me cobre,
me serve de chave, burra, nos pulsos.
se, vivo de (me) ver-dura,
quedo horrorizada antes as carnes mortas.
é nos entretantos, os mais sutis, que me escamo-teio.
bem, parece que já falei demais.. um beijo :)
adorei bagagem do romério rômulo. beijos, pedrita
rapaz, quanta coisa boa num lugar só... eu, honrado mas sem a certeza de ser merecedor de tal honra, agradeço. e muito.
abraço!
Moa, tudo tão bom nesse balaio... mas o de Li Tai Po me pegou de jeito!!
bom final de semana
beijo
Oi Moacy.
Enquanto espero o GreNal (amanhã é tudo ou nada) vou lá assinar o manifesto em defesa do MST.
Um abraço e bom findi.
Moacy,
Como essa questão de lista é uma coisa muito subjetiva, eu só gosto (pra valer) de 9 da sua. Agora, cara, você citou "Tudo Bem" duas vezes. Será que não iria citar outro filme? Um abraço.
Grato, SOBREIRA. Fiz a devida correção.
Um abraço.
Boa a lista de filmes. O POEMA de
Li Tai Pô é duca. Ascenso em ascensão. Dia de começar.
Moacy:
A lista de filmes para temporada em São Saruê é muito boa. Eu acrescentaria "Couro de gato", "Macunaíma" e "Como era gostoso o meu francês".
Abraços:
Marcos Silva
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