Foto:
Rafal Limburski
BALAIO PORRETA 1986
n° 2845
Natal, 17 de novembro de 2009
ensina-me, agora, a fertilidade da alegria.
(Mariana Botelho, in Suave Coisa)
CANÇÃO
Cecília Meireles
[ in Viagem, 1939 ]
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
— depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas. POEMA
Nydia Bonetti
[ in Longitudes ]
chuva e escuridão
o mesmo céu da infância
... sem lamparinas
Recomendamos a leitura do artigo
PV NO PODER?
QUE NADA, O PODER É DO PTV
- PARTIDO DA TV PONGA NEGRA
de Cefas Carvalho
[ in Noticiando ]
DAS ELEGIAS: DIDÁTICA
João Filho
[ in Hiperghetto ]
O áspero poema? Não mais quero.
O inviável abismo? Já descri.
Foi com inabalável esmero
que duramente me persegui.
Se tudo é insuficiente, espero.
O instante vence o tédio, senti.
Se a valsa mudou-se em bolero
o ritmo pouco importa, vivi.
Pelo tropeço suavizei o passo.
Seu corpo é o sentido que devasso
devagar, como quem respira.
Gota que se equilibra suspensa –
a vida. Mínima que é imensa,
quando pensa que é real, delira.
INFLEXÍVEL
Mariza Lourenço
[ in Blocos ]
às vezes meu corpo despenca
no imaginário de teus versos.
de resto continuo cumprindo a mesma rotina
de cerrar portas e janelas
à aproximação de qualquer rima.
Memória 1993
BALAIO INCOMUN
Folha Porreta
VII / n° 493
Rio, 1 jun 93
O DIÁRIO SECRETO DE LAMPIÃO
(Fonte inicial: Papa-Figo, de Recífilis)
Baixa-da-Égua (24/6/24)
Oiti-da-Mãe-Joana (24/8/24)
Pau-dos-Ferros-da-Gota-Serena (23/2/25)
Arre-Égua-do-Norte (25/3/25)
Canapi-da-Bosta-de-Jumento (13/7/25)
[ Texto estabelecido pelo Prof. Jomard Martins Marconi ]
Rafal Limburski
BALAIO PORRETA 1986
n° 2845
Natal, 17 de novembro de 2009
ensina-me, agora, a fertilidade da alegria.
(Mariana Botelho, in Suave Coisa)
CANÇÃO
Cecília Meireles
[ in Viagem, 1939 ]
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
— depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas. POEMA
Nydia Bonetti
[ in Longitudes ]
chuva e escuridão
o mesmo céu da infância
... sem lamparinas
Recomendamos a leitura do artigo
PV NO PODER?
QUE NADA, O PODER É DO PTV
- PARTIDO DA TV PONGA NEGRA
de Cefas Carvalho
[ in Noticiando ]
DAS ELEGIAS: DIDÁTICA
João Filho
[ in Hiperghetto ]
O áspero poema? Não mais quero.
O inviável abismo? Já descri.
Foi com inabalável esmero
que duramente me persegui.
Se tudo é insuficiente, espero.
O instante vence o tédio, senti.
Se a valsa mudou-se em bolero
o ritmo pouco importa, vivi.
Pelo tropeço suavizei o passo.
Seu corpo é o sentido que devasso
devagar, como quem respira.
Gota que se equilibra suspensa –
a vida. Mínima que é imensa,
quando pensa que é real, delira.
INFLEXÍVEL
Mariza Lourenço
[ in Blocos ]
às vezes meu corpo despenca
no imaginário de teus versos.
de resto continuo cumprindo a mesma rotina
de cerrar portas e janelas
à aproximação de qualquer rima.
Memória 1993
BALAIO INCOMUN
Folha Porreta
VII / n° 493
Rio, 1 jun 93
O DIÁRIO SECRETO DE LAMPIÃO
(Fonte inicial: Papa-Figo, de Recífilis)
Baixa-da-Égua (24/6/24)
Querido diarim. Hoje tô tão arretado que capei cinco e arranquei as pregas de mais oito cabras que soltaram uma indecência para Maria Bunita. A culpa também foi dela, pra que eu fui deixar a danada passar o carnaval em Olinda? A criatura voltou cheia de idéias, capaz inté de ter fumado maconha por lá. Ainda por cima agora tá achando que tá prenha. Se o minino sair galego eu sangro Corisco. Ou será que ele pensa que num tô notando o jeito que ele vive cubando as entrecoxas de Maria Bunita quando ela tá de cócas. Também ela precisa acabar com essa mania besta de não usar calçolas, parece inté que a sua priquita num tem dono. Tem, sim senhor.
Oiti-da-Mãe-Joana (24/8/24)
Querido diarim. Esse negócio de eu só escrevinhá no dia 24 é coincidência, viu, que eu sou muito do macho. Hoje tô de novo arretado, com vontade de arengar com o primeiro fidaputa que aparecer na minha frente. Corisco tá com jeito de quem tá querendo enfeitar minha testa, mas antes disso eu como os ovos dele com queijo e cuscuz. Aquele galego da pustema num tira o olho da minha nega. Só porque a mulher dele é Dadá ele pensa que toda mulher é só olhar que ela dá dá. Derna que disseram que ele vai aparecer num filme de um tal de Glauber Rocha que Corisco só tá querendo ser o coisa e tal, também com aquele cabelão de frango que ele usa tinha que terminar dando pra artista, viado ou professor da UFF. Vai acabar metido em grevença.
Pau-dos-Ferros-da-Gota-Serena (23/2/25)
Querido diarim. Andando por esse mundão de Deus e do meu Padim Ciço, dá pra perceber, o Brazil tá fudido. Tanta riqueza, tanta miséria e tanto cabra safado sem macheza nenhuma. Será que foi tudo capado? Não sô profeta, mas um dia, lá pelas horizontanças de 89, 91, 93, sei lá quando, machos e fêmeas que ensinam o abecê da filosomia e que trabalham pru guverno federal ainda vão pegar nas armas do saber e abalar o paiz. Maria Bunita e o cabra Leontino concordam comigo. Então, o sertão vai virar mar, o mar vai virar sertão.
Arre-Égua-do-Norte (25/3/25)
Querido Diarim. Hoje dei um trompaço num cabra que se meteu a besta com Maria Bunita. Depois mandei Jararaca arrombar o fi-o-fó lá dele e cortar a macheza do dito cujo. Eu num danço conforme a musga, danço conforme o contravento. Não sô homem pra perder tempo com miolo de quartinha. Por isso mesmo Corisco nunca mais olhou pras pernas da minha bichinha. Quem pode carrega e sai, quem num pode carrega e cai. Quem tem Maria Bunita, tem cheiro e cafuné.
Canapi-da-Bosta-de-Jumento (13/7/25)
Querido diarim. Bem que ocê poderia ser um Diadorim, se bem que Maria Bunita já é a neblina dos meus encantalamentos. Mas um dia um escrevinhador retado de luas e marés ainda vai diadorinhá a vida do grande sertão pra que os outros e muitos outros possam ler e aprender. Num sei se estarei vivo pra ver tudo isso escrito e bem escrito. Mas, num é nada, num é nada, esteja onde estiver, aqui, acolá, além, darei meu sorriso de sartisfação. Afinal, bangalafumenga nenhum, mesmo no Inferno, vai me impedir de continuar macho. A macacada que se cuide. Sei que desgraça pouca é bobagem, mas nos futuros um tal de Fernandim das Alagoas vai querer desgraçar a vida do paiz. É uma pena, já estarei morto, senão cozinhava em azeite de dendê as partes roxas lá dele. Os cabras iam adorar.
[ Texto estabelecido pelo Prof. Jomard Martins Marconi ]
15 comentários:
eita, balaio bão!
Que imagem é essa, minino!?! Que lindo!
E o texto, tá incrível.
obrigada por me permitir pertencer ao balaio. pq claro, já me sinto pertencida.
beijo
Moacy e demais amigos:
Considero esse poema de Cecília Meireles de excepcional beleza. Lamento que ele não tenha vindo inteiro, embora compreenda os limites de espaço do blog. Convido todos a lerem o resto do poema, que continua num crescendo de beleza incrível.
Abraços:
Marcos Silva
MARCOS:
O problema já soi solucionado.
Grato pela observação.
Um abraço.
Linda seleção. Refiro-me também à linda fotografia. D+++
Abraço.
Jefferson
Bom Dia, Moacy!
Òtima seleção de poemas. De Cecília à Lampião!
Lampião faz uma falta.....!
Parabéns, amigo!
Beijos
Mirse
neblina - essa palavra e me lembro mesmo de diadorim - tem nada mais bonito que o grande sertão!
beleza de balaio - de cabo a rabo
besos
tão bom estar aqui hoje, Moacy, neste balaio iluminado... beijo.
Impagável o Diário do Lampião.
Sensacional o Diário de Lampião.
É lampa, é lampa é Lampião
É o rei do cangaço
Delegado do sertão.
Um abraço.
lindo o verso da mariana.
e todo o balaio!
beijos...
Ô Balaio porreta de bom! Que seleção gostosa, Moacy. QUE BOM ESTAR AQUI!!!!!! Parabéns!
Um abraço.
moacy,
os versos da nana já me valiam uma noite. a rotina de marisa um dia todo.
o lampião... bem, eu era a virge maria. de sant'anna. e ele vinha na igreja e eu ali, toda bondosa e que nem um ás de paus há tantos anos, né...
- psiu, lampiããoo.. psiu, ô lampião...
eu era aquela moça daguerreótipa autêntica de lindos seios flácidos lá em cima...rsrsrs (é que, me parece, ela tá olhando no espelho).
e como eu já tou viajando demais, vou indo e deixando meu cheiro...
Balaio Incomum: ganhei o dia!
Muito bom de ler, esse Lampião meio profeta com vocação pra corno e baitola enrustido!
Cecília!
Postar um comentário