Cântico
Valentim
(Angola)
AD INITIUM
Namibiano Ferreira
[in Ondjira Sul ]
O vento soprava pelo simples prazer de soprar...
.............................................................................
Era no tempo em que não tinhamos tribo.
Andávamos na nudez aurora do tempo
recolhendo bagas doces de vento e rocio
caçando e pescando o pão nosso quotidiano
no espreguiçar matinal de cada dia de sol
partilhando os bens e os alimentos e nada era meu
porque essa foi a última palavra a ser inventada.
Era o tempo em que dávamos o nome primeiro
a todas as coisas e cada nome era um poema maduro
de símbolos e perfumado de metáforas luzidias.
Era, na verdade, o tempo sem os fardos preocupados
das filogéneses e ontogéneses, sem conceitos e preconceitos.
Era o tempo em que andávamos nus pintando
símbolos e riscando gravuras sobre as paredes
pedra útero das cavernas pelo mágico prazer de criar
sem estéticas e as frias racionalidades
simplesmente pintar riscar poetar e nada mais...
BALAIO PORRETA 1986
n° 2885
Rio, 30 de dezembro de 2009
Por mais raro que seja um verdadeiro amor, é ainda muito mais rara a verdeira amizade.
(La ROCHEFOUCAULD. Reflexões e máximas morais, 1664)
POEMAValentim
(Angola)
AD INITIUM
Namibiano Ferreira
[in Ondjira Sul ]
O vento soprava pelo simples prazer de soprar...
.............................................................................
Era no tempo em que não tinhamos tribo.
Andávamos na nudez aurora do tempo
recolhendo bagas doces de vento e rocio
caçando e pescando o pão nosso quotidiano
no espreguiçar matinal de cada dia de sol
partilhando os bens e os alimentos e nada era meu
porque essa foi a última palavra a ser inventada.
Era o tempo em que dávamos o nome primeiro
a todas as coisas e cada nome era um poema maduro
de símbolos e perfumado de metáforas luzidias.
Era, na verdade, o tempo sem os fardos preocupados
das filogéneses e ontogéneses, sem conceitos e preconceitos.
Era o tempo em que andávamos nus pintando
símbolos e riscando gravuras sobre as paredes
pedra útero das cavernas pelo mágico prazer de criar
sem estéticas e as frias racionalidades
simplesmente pintar riscar poetar e nada mais...
BALAIO PORRETA 1986
n° 2885
Rio, 30 de dezembro de 2009
Por mais raro que seja um verdadeiro amor, é ainda muito mais rara a verdeira amizade.
(La ROCHEFOUCAULD. Reflexões e máximas morais, 1664)
Romério Rômulo
[ in Matéria bruta, 2006 ]
as putas ferem a noite com um olhar de luz.
vermelhos, sabem quando a cama resvalada
pode ser vista dos ângulos.
sabem-se frutas tão nascidas quando
ressecadas
e a prenhez de suas valas cabem, de mãos,
toda a terra.
o homem furtivo lhes deriva a noite
como canto, quando o estalar da terra
fala, um novelo contém o corpo.
há que tocar o novelo, feri-lo e resguardar
seus montes.
(íntima, sua luz refrega a substância.)
A MULHER DISTANTE
Lourenço Medeiros
[ Rio de Janeiro, 2009 ]
A mulher distante
sabe das coisas:
sabe das falésias
sabe das auroras
sabe das maresias
sabe das distâncias
A mulher distante
sabe esperar:
pela língua
pelo olhar
pela viagem
pelo arco-íris
A mulher distante
sabe de tudo:
dos signos
dos mares
dos ventos
das chuvas
A mulher distante
sabe
Lourenço Medeiros
[ Rio de Janeiro, 2009 ]
A mulher distante
sabe das coisas:
sabe das falésias
sabe das auroras
sabe das maresias
sabe das distâncias
A mulher distante
sabe esperar:
pela língua
pelo olhar
pela viagem
pelo arco-íris
A mulher distante
sabe de tudo:
dos signos
dos mares
dos ventos
das chuvas
A mulher distante
sabe
12 comentários:
Meu caro,
A companhia de tao altos poetas me fazem sentir modesto mas feliz.
Bom 2010 para voce e Balaio.
No próximo ano conto publicar biografia de Valentim, está na agenda.
Kandandu
Boa leitura, sempre!
Além de boa, como mencionou o Henrique, obrigatória. ;)
Feliz 2010 procê, minino!
Beijos
Um Balaio de poesia e sutilezas. Abraço.
beleza de postagem, versos preciosos, gravuta linda!
besos
Os bons ventos sempre sopram as melhores poesias por aqui.
Além da belíssima gravura.
Um ótimo 2010!
Abraço.
queria ser uma mulher distante!
Nanuda, as mulheres distantes o sabem que são. Você é, eu sou. fico imaginando como seria isso recitado, assim há milhas e milhas de distância numa noite quente... mil sóis girariam pertoperto.
que balaio, camarada, que balaio camarada! há que se embriagar, camarada, que se embriagar, camarada!!! "de vinho, virtude, poesia" ou putas roméricas.
um cheiro.
Lindo Balaio, Moacy!
Da imagem, aos poemas!
Beijos
Mirse
Maravilha, Balaio Porreta. Fica-me a tilintar o verso de Romério: as putas ferem a noite com um olhar de luz.
Kandandu e até 2010.
Como disse o poeta Romério, Chico Doido não morreu.Saquem essa glosa.
Indivíduo de má fama, Não há como me enganar.
Já cheguei até trepar
Num bar do beco da lama.
Do balcão fiz uma cama
Pra começar o combate.
E depois no arremate
Gritei para todo o mundo:
"Aqui, neste bar imundo,
Comi Clotilde Alicate.
Mestre querido,
Cá estou de volta, depois de muitas turbulências e adversidades. Muito ainda tenho que juntar e colar, mas estamos aqui para isso, levantar e seguir em frente. A vida chama!
Fico com o poema do Romério, forte e intenso.
Feliz 2010, muita luz e muita paz pra você!
Beijos
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