MEMÓRIA TRICOLOR
Moacy Cirne
[ in Cinema Pax, 1983 ]
nos idos de 54
um suicídio abalava o país
e a criança que eu era
só tinha olhos para
os filmes de carlitos
os gibis do fantasma
e o fluminense de
castilho
píndaro
e pinheiro.
nos idos de 54
um suicídio abalava o país.
BALAIO PORRETA 1986
n° 2858
Natal, 3 de dezembro de 2009
Aqueles que amam o Fluminense
sabem o significado de uma paixão eterna.
(Moacy Cirne, 2009)
TEXTO
Marcelo F. Carvalho
[ in Resumo da Chuva ]
Queria alcançar o instante que nunca aconteceu, aquele que ensaiamos e que ventos mais fortes carregaram pro quando. Queria, neste momento, dizer o que nunca foi dito, a palavra descoberta, úmida, ainda por gritar, carregada de regionalismo. Queria a música tocada há dez anos, quando eu não era um covarde acomodado, quando ainda acreditava no amor, no peito aberto, no olhar carregado de clichês e sonhos.
Queria a sensibilidade do meu próximo de ontem, quando ele ainda não pensava em dinheiro, dinheiro e sexo, dinheiro e dinheiro.
Queria parar esse tempo tanto.
Queria tirar essa tristeza sem como.
Queria estancar esse querer tanta coisa.
O NAVIO
Cefas Carvalho
Leu o que havia escrito. Não gostou. Ou gostou de forma estranha, um gostar sem realmente apreciar. Na verdade, nunca amava o que escrevia. Ou talvez amasse, mas de forma inusitada, como deve ser o amor. Escrevera daquela vez sobre um navio, que, colhido em alto mar por uma tempestade, começava a afundar no oceano. Nunca estivera em um navio, antes, pelo menos não que se lembrasse. Teria feito uma analogia? Que seria o navio? Sua vida? O amor que poderia se afogar no oceano do dia a dia? Ou, seriam apenas suas leituras passadas, remotas – Moby Dick, Odisseia – que vinham brincar em sua mente e o induzir a escrever. O navio afundou, pois então. Havia um barco salva-vidas, mas apenas um e todos os quinze tripulantes fizeram um pacto para, juntos, morrerem no navio sagrado que construíram e com o qual sonharam em conquistar o mundo, ou pelo menos, um mundo, como o famigerado Cortés. Era o fim da história, então. Releu o que havia escrito. Sorriu para si mesmo e pensou se queria realmente ter escrito sobre um navio que afundava e um pacto de morte. Acendeu um isqueiro e queimou a folha de papel no cinzeiro...
DESERTO
Simone Oliveira
[ in Letras e Tempestades ]
A saudade
do teu corpo
silencia
minhas mãos
e minha boca.
CONCEITUAL
Nel Meirelles
[ in Fala Poética ]
o que é um poema
se não um pedaço
de sonho incrustado
entre palavras?
Moacy Cirne
[ in Cinema Pax, 1983 ]
nos idos de 54
um suicídio abalava o país
e a criança que eu era
só tinha olhos para
os filmes de carlitos
os gibis do fantasma
e o fluminense de
castilho
píndaro
e pinheiro.
nos idos de 54
um suicídio abalava o país.
BALAIO PORRETA 1986
n° 2858
Natal, 3 de dezembro de 2009
Aqueles que amam o Fluminense
sabem o significado de uma paixão eterna.
(Moacy Cirne, 2009)
TEXTO
Marcelo F. Carvalho
[ in Resumo da Chuva ]
Queria alcançar o instante que nunca aconteceu, aquele que ensaiamos e que ventos mais fortes carregaram pro quando. Queria, neste momento, dizer o que nunca foi dito, a palavra descoberta, úmida, ainda por gritar, carregada de regionalismo. Queria a música tocada há dez anos, quando eu não era um covarde acomodado, quando ainda acreditava no amor, no peito aberto, no olhar carregado de clichês e sonhos.
Queria a sensibilidade do meu próximo de ontem, quando ele ainda não pensava em dinheiro, dinheiro e sexo, dinheiro e dinheiro.
Queria parar esse tempo tanto.
Queria tirar essa tristeza sem como.
Queria estancar esse querer tanta coisa.
O NAVIO
Cefas Carvalho
Leu o que havia escrito. Não gostou. Ou gostou de forma estranha, um gostar sem realmente apreciar. Na verdade, nunca amava o que escrevia. Ou talvez amasse, mas de forma inusitada, como deve ser o amor. Escrevera daquela vez sobre um navio, que, colhido em alto mar por uma tempestade, começava a afundar no oceano. Nunca estivera em um navio, antes, pelo menos não que se lembrasse. Teria feito uma analogia? Que seria o navio? Sua vida? O amor que poderia se afogar no oceano do dia a dia? Ou, seriam apenas suas leituras passadas, remotas – Moby Dick, Odisseia – que vinham brincar em sua mente e o induzir a escrever. O navio afundou, pois então. Havia um barco salva-vidas, mas apenas um e todos os quinze tripulantes fizeram um pacto para, juntos, morrerem no navio sagrado que construíram e com o qual sonharam em conquistar o mundo, ou pelo menos, um mundo, como o famigerado Cortés. Era o fim da história, então. Releu o que havia escrito. Sorriu para si mesmo e pensou se queria realmente ter escrito sobre um navio que afundava e um pacto de morte. Acendeu um isqueiro e queimou a folha de papel no cinzeiro...
DESERTO
Simone Oliveira
[ in Letras e Tempestades ]
A saudade
do teu corpo
silencia
minhas mãos
e minha boca.
CONCEITUAL
Nel Meirelles
[ in Fala Poética ]
o que é um poema
se não um pedaço
de sonho incrustado
entre palavras?
Memória Natal 1916
O HUMOR D'O PARAFUSO
Em 1916, a capital potiguar não devia ter mais de 26 mil habitantes. Os pesquisadores Carlos e Fred Sizenando, em livro delicioso (Dos bondes ao Hippie Drive-In, EDUFRN, 2009), resgataram "fragmentos do cotidiano da Cidade do Natal". E entre esses fragmentos, alguns tópicos do núm. 1 d'O Parafuso, um pasquim "crítico, fogoso, humorístico e noticioso", dirigido anonimanente por "um rapaz", número publicado no dia 16 de janeiro de 1916.
Veja-se, neste sentido, o que publicava a coluna DIZEM...
* Que vai progredindo o namoro seboso de uma senhora casada.
* Que ninguém sabe com quem Ephitácio vai casar, se com a avó da mãe, se com a mãe da filha ou com a filha da mãe.
* Que um cidadão casado deu agora para errar a sua casa.
* Que o Cabo João é o maior corneteiro da Cidade Alta, porque é dos que empresta a corneta para se tocar nela.
DANO-ME / SCISMEI
* Com a calça encarnada de J. Augusto.
* Com um certo rapaz que abraçou a sua namorada às 22 na Rua Santo Antônio.
* Com as namoradas cabulosas do Zé Grande.
Memória Natal Anos 40
O BEIJO DA ATRIZ
Mais uma do livro Dos bondes ao Hippie Drive-In, narrando um fato ocorrido por volta de 1944, em plena segunda guerra mundial, com a capital do Rio Grande transformada em base norte-americana a partir de Parnamirim. Vamos ao relato:
"Numa visita que fez ao Hospital Juvino Barreto (atual HUOL) para confortar alguns feridos de guerra, a atriz Merle Oberon perguntou a soldados da Força Aliada:
- Você matou algum nazista? O soldado americano disse que tinha morto um.
- Com qual das mãos? Insistiu a atriz. E diante da resposta do soldado ela premiou-lhe a mão direita com um beijo.
Passando para o soldado brasileiro, ela repetiu a pergunta:
- E você, matou algum nazista?
- Matei sim e foi à dentada, disse o soldado pulando da cama".
UM ESCÂNDALO CHAMADO CARNATAL
O HUMOR D'O PARAFUSO
Em 1916, a capital potiguar não devia ter mais de 26 mil habitantes. Os pesquisadores Carlos e Fred Sizenando, em livro delicioso (Dos bondes ao Hippie Drive-In, EDUFRN, 2009), resgataram "fragmentos do cotidiano da Cidade do Natal". E entre esses fragmentos, alguns tópicos do núm. 1 d'O Parafuso, um pasquim "crítico, fogoso, humorístico e noticioso", dirigido anonimanente por "um rapaz", número publicado no dia 16 de janeiro de 1916.
Veja-se, neste sentido, o que publicava a coluna DIZEM...
* Que vai progredindo o namoro seboso de uma senhora casada.
* Que ninguém sabe com quem Ephitácio vai casar, se com a avó da mãe, se com a mãe da filha ou com a filha da mãe.
* Que um cidadão casado deu agora para errar a sua casa.
* Que o Cabo João é o maior corneteiro da Cidade Alta, porque é dos que empresta a corneta para se tocar nela.
DANO-ME / SCISMEI
* Com a calça encarnada de J. Augusto.
* Com um certo rapaz que abraçou a sua namorada às 22 na Rua Santo Antônio.
* Com as namoradas cabulosas do Zé Grande.
Memória Natal Anos 40
O BEIJO DA ATRIZ
Mais uma do livro Dos bondes ao Hippie Drive-In, narrando um fato ocorrido por volta de 1944, em plena segunda guerra mundial, com a capital do Rio Grande transformada em base norte-americana a partir de Parnamirim. Vamos ao relato:
"Numa visita que fez ao Hospital Juvino Barreto (atual HUOL) para confortar alguns feridos de guerra, a atriz Merle Oberon perguntou a soldados da Força Aliada:
- Você matou algum nazista? O soldado americano disse que tinha morto um.
- Com qual das mãos? Insistiu a atriz. E diante da resposta do soldado ela premiou-lhe a mão direita com um beijo.
Passando para o soldado brasileiro, ela repetiu a pergunta:
- E você, matou algum nazista?
- Matei sim e foi à dentada, disse o soldado pulando da cama".
UM ESCÂNDALO CHAMADO CARNATAL
A farra do dinheiro público a serviço de uma empresa privada (a Destaque, do vice-prefeito da cidade, com total apoio da senhora dona Micarla de Sousa, a prefeita do PV que não passa de uma dondoca, aliada do sr. José Agripino Maia, o falso moralista filhote da ditadura) adquire tonalidades pra lá de escandalosas (enquanto realização em si), já que afeta negativamente a vida de muitos cidadãos trabalhadores de nossa cidade. O Carnatal é um atentado à consciência, à história, à musicalidade e à política de nossa capital. Seus realizadores (públicos e privados) são tão inescrupulosos e irresponsáveis que ignoraram, inclusive, os comunicados oficiais das associações médicas competentes sobre o perigo que uma festa desse porte pode causar, provocando, entre nós, uma epidemia de gripe suína, cujas vítimas fatais, aliás, já começam a aparecer na Grande Natal. Para ver de forma mais apropriada alguns poblemas causados pelo Carnatal, clique aqui e leia o blogue do jornalista Ailton Medeiros.
14 comentários:
Moacy,que beleza.Natal em 1916 já era legal,tinha nomoro seboso(devia ser o maior barato)e outras ondas.Agora em 2009 tem essa merda desse Carnatal,é mole?Um abraço meu irmão.Pituleira...
Moacy que pena, O FLU jogou muito.Roberto quase enfarta.Pituleira...
Moa,
O Flu emergiu, com brio renovado, do sufoco deste ano. O jogo com o Coritiba, no domingo, só vai selar isso...
Abração,
Marcelo.
Moacy: concordo com vc sobre esse tal de Carnatal. E o mesmo já devia ter acabado há muito tempo. Pena que o dinheiro fale mais alto do que qualquer coisa. E isso é chover no molhado. Um verdadeiro absurdo o que fazem os ditos governantes e asseclas com o nosso dinheiro.
E eles ficam e ficam ricos cada vez mais em cima de uma suposta folia de um povo ingênuo.
Esse carnatal é uma espécie de corrupção em favor de um grupelho e apadrinhado pelas autoridades (in)competentes.
E sem avaliar aqui o problema de saúde que irá acarretar aos hipotéticos 'foliões'.
Um abraço...
Companheiro, a paixão é sempre um suicídio sem morte. Ou até a espera dela. A paixão pelo Flu é Conceitual, como esse belo poema de Nel Meireles. Um sonho.
Todo Fred tem seu dia de Zi Dane
damata
Bom dia,
Assistir ao flu foi um modo de me sentir mais gente naquele dia horrendo. Ai, que coisa mais linda foi ver (capotei nos 15 do segundo tempo) ver a gana dos jogadores...
O meu carnaval vai ser só ano que vem, então fico a recitar o deserto de Simone. O melhor jardi´m é emsmo o deserto?
Um beijo.
Gisele Bundchen
Para as belas do Balaio
A mais bela
Disse que é triste
Nem a beleza consegue esconder
Aqueles demoniozinhos que insistem em urtigar
Agradeço assim mesmo
Não pela tristeza que também é minha
A certeza de saber que só a terei envolta
No manto azulado dos sonhos.
Obrigado por espalhar a beleza
Aformosando os meus dias
Tristes e belos com você.
damata
Não me diga que você é assim tão tricolor!!!
Saudações entusiásticas e vamos em frente!
:D)
O Flu caiu de pé. Jogaço!
Agora é segurar o Coxa no domingo.
Dá-lhe, tricolor das Laranjeiras!
Um abraço.
fluminense é paixão mesmo - na primeira vez que fui ao rio era aniversário de um primo - o pequeno pediu um bolo com os jogadores do fluminense em campo, os balões, os enfeites, tudo que lembrasse o time! depois dos parabéns a você, quase morreu de chorar quando a mãe quis partir o bolo - parecia doer-lhe por dentro...
besos
(acho que vou torcer pro teu time, moa... )
Moacy,
Destaquei seu texto sobre o Carnatal lá no TEOREMA.
Abraço.
Lívio
bota o retrato do velho, bota no mesmo lugar...
vim pra te ler, reli...
besos
Achei lindo este "Conceitual", Moacy. O "Deserto" também. Hoje só tenho tempo para os curtíssimos.:)
Mas depois eu volto.
Beijos
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