terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Preto e Ouro
(1908)
Henri Matisse


BALAIO PORRETA 1986
n° 2891
Rio, 5 de janeiro de 2010

O que mantém viva a nossa luta? A nossa consciência e a nossa indignação. O que alimenta a nossa indignação? Praticamente tudo. ... O Brazil não nos interessa; o que nos interessa, com paixão,
é o Brasil.

(Moacy CIRNE, in Balaio, n° 305, de 25/07/1991)


EXTRA! EXTRA
( Atualização às 10:14h )
O ITANS, EM CAICÓ, COMEÇOU
A PEGAR ÁGUA
[ Cf. Bar de Ferreirinha ]


MANHÃ NO CORAÇÃO DA ÁFRICA
Patrice Lumumba
(Congo, 1925-1961)
[ in
Leitura, n° 46, Rio, abril de 1961 ]
Por mil anos, negro, sofreste como uma besta.
Tuas cinzas se espalharam ao vento errante do deserto.
Teus tiranos construíram deslumbrantes, mágicos templos
para preservar tua alma, teu sofrimento,
e o bárbaro direito de esbofetear e o direito do látego.
A ti, negro, restava o direito à morte. E podias também chorar.
Em teus totens eles gravaram a fome sem fim e
no antigo refúgio dos bosques uma morte espantosa
te observava cruelmente, serpeante,
avançando sobre ti como os galhos e as copas das árvores,
abraçando teu corpo e tua alma dolente.
Então eles puseram sobre teu peito uma grande e pérfida víbora:
colocaram sobre teu pescoço o jugo de água fervente
compraram tua doce mulher
tuas incríveis riquezas que ninguém poderia avaliar,
com o brilho falso das falsas missangas.
De tua choça, o tam-tam - flecha obscura - varou o cicio da noite
elevando até os poderosos rios negros
crueis lamentos de moças violadas,
correntes de lágrimas e sangue,
lamentos do barco que zarpava para o país onde o homenzinho
se espoja num formigueiro, onde o dólar é o Rei
na maldita terra que eles chamam pátria.

Ali teu filho e tua mulher foram triturados noite e dia
pelo espantoso e inclemente moinho,
destruídos na dor sem nome.

Tu és um homem como os outros.
Eles te inculcaram a crença de que o bom deus branco
reconciliará todos os homens no final.

Ficaste aflito de impotência e entoaste a queixosa canção
do mendigo sem teto que canta nas portas estranhas.
Mas quando foste possuído do delírio e teu sangue ferveu,
ó noite,
bailaste,
gemeste.
Com a fúria de uma tormenta, fazias lirismo e eras viril.
Uma grande força surgiu de ti pelos mil anos de miséria
na metálica voz do jazz, no aberto alarido
que retumbou pelo continente em gigantesco marulhar.
O mundo surpreendido despertou em pânico
ao violento ritmo do sangue, ao violento ritmo do jazz;
o homem branco empalideceu ante o novo canto
que conduzia a tocha purpúrea através da noite obscura.

Eis a aurora, meu irmão. Eis a aurora!
Vê nossas faces: uma nova manhã irrompe em nossa velha África.
Só agora a terra será nossa, a água, os rios poderosos
onde o pobre negro foi submetido durante mil anos...
As duras tochas do sol brilharão novamente para nós,
secarão as lágrimas de teus olhos, o escarro em teu rosto.

No momento em que romperes as cadeias,
os pesados grilhões não voltarão jamais,
o tempo cruel e perverso se irá.

Um Congo jovem e livre nascerá da sujeira branca,
um Congo jovem e heroico:
a negra floração,
negra semente.

15 comentários:

Mme. S. disse...

Bom dia meu caro!
Saudades de vir por aqui.
Um beijo, Sheyla.

Unknown disse...

Bom tempo, quando ainda se produziam versos de libertação.

líria porto disse...

"Eis a aurora, meu irmão. Eis a aurora!"

o brasil (a)os brasileiros!!!

besos

Unknown disse...

Bom dia Moacy!

Linda imagem de Matisse

Belíssimo e triste POEMA!

Emocionante!

Beijos

Mirse

BAR DO BARDO disse...

... bom...

nina rizzi disse...

esqueça os poemas de amor. fodam-se as auroras e os crepúsculos, mangas e goiabas. pra quê fazer poesia em papel higiênico e se...

quando tiver oitenta anos, vamos aos poemas de amor, agora, ora, à luta, né.

viva as águas do Itans, transbordante poesia; Evoé o doirado negro de Matisse. às putas, às Áfricas, à luta, camarada!

sim, um abraço, camarada.

Anônimo disse...

Só quem morou em Caicó sabe a importância sw noticiar que o Itans está tomando água.
Forte abraço e lhe aguardamos no na Troça de Ferreirinha.
Roberto

Marcelo F. Carvalho disse...

Matisse, eterno!
______________________
O que falta a este Brasil, este Sertão, estes mistérios!, é a gente parar com a Petrobrax, com o Neo-qualquer-coisa-liberalismo, com tudo que foge e não fala a nossa língua!
_____________________
A gente precisa parar com esse outro Brazil...
__________________
Abraço forte!

Paulo Jorge Dumaresq disse...

Bela composição esse quadro de Matisse. O poema d'África tbm merece loas. Vivamos encantados com o belo!

Anônimo disse...

Os vereadores de Natal querem mudar o nome das ruas do Alecrim, de origem indígena, como rua dos Caicós, Canindés... Conclamo a torcida do meu time, o glorioso Verdão, para impedir tal abuso. A
Taba está alerta.

nc disse...

"rua da aurora...
como eram lindos os nomes da rua da minha infânia
rua do sol
tenho medo que hoje se chame do doutor fulano de tal..." manuel bandeira.

Alcenir Guedes disse...

Olha gente,eu não sei se o povo do Alecrim está preocupado com
a toponímia indígena do Alecrim.Também parece que nem está aí para os vereadores como João da Mata e o historiador Luís da Câmara Cascudo.O povo do Alecrim continuará chamando as ruas do seu bairro,à sua maneira: rua 1, rua 2,
rua 3 por aí

nydia bonetti disse...

Tantas Áfricas a espera do sol. Que venham as auroras!

Abraços, Moacy.

Anônimo disse...

Mudar o nome da rua dos Tororós para rua Desembargador Wilson Dantas. Uma vergonha.Além de apagar da memória a lembrança do nosso passado indígena, tenta-se impor um nome medíocre.E de biografia, onde consta passagens nada democráticas. Antes da Ditadura Militar foi o chefão da Delegacia de Ordem Social.Costumava gabar-se que, à frente daquela instituição, foi responsável por ter elaborado uma lista completa com os nomes de todos os comunistas do Estado.É só pesquisar nossos arquivos.

critiloaraujo disse...

Moacy sabia que mudaram o nome do açude itans para Ministro José Américo de Almeida? Agora a brincadeira rola solta (!): o ministro sangrou? tomou trinta centímetro? aguenta? afogaram o ganso no ministro e etc etc etc. Uma piada para quem já viu a Praça da Liberdade virá Dinarte Mariz, a do Rosário, fulano de tal. Só esperamos que Caicó vire a BAgaceira, como consequencia lógica do primeiro ato.