Baía Azul, em Benguela - Angola
Foto:
Matthias Offodile
(Dica visual: Angola - Os Poetas)
Benguela, ao sul de Luanda, capital da província do mesmo nome, também é conhecida como a Cidade das Acácias Rubras. Sua população atual ultrapassa os 500 mil habitantes.
PRESENÇA AFRICANA
/ fragmento /
Alda Lara
[ in Angola - Os Poetas ]
e apesar de tudo
assim sou a mesma!
livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou
mãe-África!
(...)
a do sol bom,
mordendo
o chão das ingombotas...
a das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas
longas e floridas...
sim, ainda sou a mesma
a do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11... Rua 11)
pelos negros meninos
de barriga inchada
e olhos fundos
(...)
BALAIO PORRETA 1986
n° 2941
Natal, 23 de fevereiro de 2010
OBSIDIANA
Renata Pagliarussi
[ in Fênix em Verso e Prosa ]
Não é perturbador que minha primeira palavra,
agora que acordo, seja a dos teus olhos?
POEMA
de
Chico Doido de Caicó
Rio de Janeiro! Rio de Janeiro!
Só de pensar no meu Botafogo
Me dá uma vontade danada
De fazer poesia.
Rio de Janeiro! Rio de Janeiro!
Só de pensar em suas mulheres
Me dá uma vontade danada
De ficar com a língua dura.
PARA UMA BIBLIOTECA PORRETA
(56 / 66)
Rumo à Estação Finlândia (Wilson, 1940)
O Castelo de Axel (Wilson, 1931)
Fenomenolgia do Espírito (Hegel, 1806)
Curso de estética: o belo na arte (Hegel, ed. bras. 1996)
O tempo das catedrais (Duby, 1967)
A sociedade feudal (Bloch, 1940)
Dialética do esclarecimento (Adorno & Horkheimer, 1947)
Teoria estética (Adorno, 1968)
Ensaios sobre ceticismo (Russell, 1963)
Tudo que é sólido desmancha no ar (Berman, 1982)
De MARCONI LEAL
[ in 10 conceitos-chave do conservador moderno ]
Foto:
Matthias Offodile
(Dica visual: Angola - Os Poetas)
Benguela, ao sul de Luanda, capital da província do mesmo nome, também é conhecida como a Cidade das Acácias Rubras. Sua população atual ultrapassa os 500 mil habitantes.
PRESENÇA AFRICANA
/ fragmento /
Alda Lara
[ in Angola - Os Poetas ]
e apesar de tudo
assim sou a mesma!
livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou
mãe-África!
(...)
a do sol bom,
mordendo
o chão das ingombotas...
a das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas
longas e floridas...
sim, ainda sou a mesma
a do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11... Rua 11)
pelos negros meninos
de barriga inchada
e olhos fundos
(...)
BALAIO PORRETA 1986
n° 2941
Natal, 23 de fevereiro de 2010
OBSIDIANA
Renata Pagliarussi
[ in Fênix em Verso e Prosa ]
Não é perturbador que minha primeira palavra,
agora que acordo, seja a dos teus olhos?
POEMA
de
Chico Doido de Caicó
Rio de Janeiro! Rio de Janeiro!
Só de pensar no meu Botafogo
Me dá uma vontade danada
De fazer poesia.
Rio de Janeiro! Rio de Janeiro!
Só de pensar em suas mulheres
Me dá uma vontade danada
De ficar com a língua dura.
PARA UMA BIBLIOTECA PORRETA
(56 / 66)
Rumo à Estação Finlândia (Wilson, 1940)
O Castelo de Axel (Wilson, 1931)
Fenomenolgia do Espírito (Hegel, 1806)
Curso de estética: o belo na arte (Hegel, ed. bras. 1996)
O tempo das catedrais (Duby, 1967)
A sociedade feudal (Bloch, 1940)
Dialética do esclarecimento (Adorno & Horkheimer, 1947)
Teoria estética (Adorno, 1968)
Ensaios sobre ceticismo (Russell, 1963)
Tudo que é sólido desmancha no ar (Berman, 1982)
De MARCONI LEAL
[ in 10 conceitos-chave do conservador moderno ]
Todos os problemas do universo, a começar pelas supernovas e a extinção do sol daqui a bilhões de anos, são culpa da esquerda, a quem se devem também alguns desastres naturais como o furacão Katrina.
Os problemas do Brasil começaram quando, em vez de ensinar os índios a serem escravizados e torturados de acordo com as leis do mercado, Pedro Álvares Cabral, notório esquerdista, preferiu distribuir Bolsas Pau-Brasil entre eles, acabando com a vontade de trabalhar dos selvagens e transformando-os em alcoólatras, vagabundos e hippies.
Os problemas do Brasil começaram quando, em vez de ensinar os índios a serem escravizados e torturados de acordo com as leis do mercado, Pedro Álvares Cabral, notório esquerdista, preferiu distribuir Bolsas Pau-Brasil entre eles, acabando com a vontade de trabalhar dos selvagens e transformando-os em alcoólatras, vagabundos e hippies.
A UMA AFRICANA
Eduardo Neves
(Angola, séc. XIX)
nos teus olhos pestanudos
eu vejo um mar de desejos,
nos lábios, talvez carnudos,
um labyrinto de beijos.
[ Clique aqui para ler o poema na íntegra ]
Eduardo Neves
(Angola, séc. XIX)
nos teus olhos pestanudos
eu vejo um mar de desejos,
nos lábios, talvez carnudos,
um labyrinto de beijos.
[ Clique aqui para ler o poema na íntegra ]
METAMORFOSE DAS LINGUAGENS
Será hoje, dia 23, na Siciliano do xópim Midivaimal, a partir das 19h, o lançamento do livro Metamorfose das linguagens, organizado por Marcos Silva, Júlio Pimentel Pinto e Maurício Cardoso. Lendo-o, sem maiores pretensões, anotamos:
"As Vinhas da Ira, de John Ford, transformou-se num dos grandes clássicos do cinema universal, na transposição para a tela o romance sofre inúmeras adaptações. A mais importante delas está no final, mais esperançoso na tela do que no papel". (Gilberto Maringoni, p.24)
"Não há novidade alguma em dizer que desde muito cedo o cinema denominado comercial e/ou industrial estabeleceu uma intensa ligação com a literatura". (Ana Paula Andrade, p.45)
"Glauber Rocha reflete em seus filmes o mito sertanejo, mas o faz como uma crítica à razão, ao racionalismo do colonizador europeu, com o objetivo de descolonizar a cultura dependente". (Irma Vianna, p.67)
Será hoje, dia 23, na Siciliano do xópim Midivaimal, a partir das 19h, o lançamento do livro Metamorfose das linguagens, organizado por Marcos Silva, Júlio Pimentel Pinto e Maurício Cardoso. Lendo-o, sem maiores pretensões, anotamos:
"As Vinhas da Ira, de John Ford, transformou-se num dos grandes clássicos do cinema universal, na transposição para a tela o romance sofre inúmeras adaptações. A mais importante delas está no final, mais esperançoso na tela do que no papel". (Gilberto Maringoni, p.24)
"Não há novidade alguma em dizer que desde muito cedo o cinema denominado comercial e/ou industrial estabeleceu uma intensa ligação com a literatura". (Ana Paula Andrade, p.45)
"Glauber Rocha reflete em seus filmes o mito sertanejo, mas o faz como uma crítica à razão, ao racionalismo do colonizador europeu, com o objetivo de descolonizar a cultura dependente". (Irma Vianna, p.67)
"Que está em jogo [no] final de Blow-up, que também é fim de jogo?
Um grande cineasta, como Antonioni, constrói múltiplos significados em seus filmes. Ao invés de uma resposta, portanto, existe a riqueza de múltiplas perguntas". (Marcos Silva, p.96)
DIGESTÃO DA ESTRELA
Marcelo Novaes
[ in Prosas Poéticas ]
Estrelas caem, de qualquer maneira. Estando ou não alguém a vê-las. E as Luas Tripartidas sempre conviveram com elas: no Alto ou falidas. Luz Noturna como luxo não deveria ser vista: só migalha de espaço que se queda, etérea [no rastro de sombra espessa], e entra pela chaminé ou pela janela. E descansa na borda da mesa. Senta-se enfim, em cada casa nossa, em luz rarefeita. [Pedaço de Céu, Desfiada Estrela]. Senta-se na borda [da mesa] para ser comida. Come-se com os olhos a Migalha de Céu recolhida. Come-se com os ossos. Nutre-se, quando se sabe [e se soube] recolher o Presente Tripartido. [Tripartido Presente de Lua Tríplice: mutante & altiva]. Quando não se tem [ou não se junta], com a falta se contenta. Contenta-se. Porque ausência sustenta, também, buraco da fome. Buraco-da-fome [Celeste] também é Prece. Engole, mais tarde, Amor-ou-Fé-em-fragmento. Maná. Dádiva do Céu. Faz sentido? Nem Uno, nem Trino. Conceitos sagrados secretamente digeridos, rasgados [comidos] de cima abaixo. Discursos no sangue revolvidos. Gastos e digeridos [em suco gástrico] todas as Preces e Ritos. Cem Mil. Dez Mil. Duzentos. Cada qual comendo só o que lhe é possível, sem engasgo ou demasiado medo. Só isso. E isso, por si mesmo, constitui o primeiro passo para se fazer as pazes com o resto. E pagar o custo de ter olhado pro céu, sem susto, uma vez ao menos.
ROSA DE ALFENIM
Hercília Fernandes
[ in HF Diante do Espelho ]
voltou anjo, querubim
adoçou-me com flocos de
neve e aluá de gergelim
deixou-me apática, inerte
feito rosa de alfenim.
DIGESTÃO DA ESTRELA
Marcelo Novaes
[ in Prosas Poéticas ]
Estrelas caem, de qualquer maneira. Estando ou não alguém a vê-las. E as Luas Tripartidas sempre conviveram com elas: no Alto ou falidas. Luz Noturna como luxo não deveria ser vista: só migalha de espaço que se queda, etérea [no rastro de sombra espessa], e entra pela chaminé ou pela janela. E descansa na borda da mesa. Senta-se enfim, em cada casa nossa, em luz rarefeita. [Pedaço de Céu, Desfiada Estrela]. Senta-se na borda [da mesa] para ser comida. Come-se com os olhos a Migalha de Céu recolhida. Come-se com os ossos. Nutre-se, quando se sabe [e se soube] recolher o Presente Tripartido. [Tripartido Presente de Lua Tríplice: mutante & altiva]. Quando não se tem [ou não se junta], com a falta se contenta. Contenta-se. Porque ausência sustenta, também, buraco da fome. Buraco-da-fome [Celeste] também é Prece. Engole, mais tarde, Amor-ou-Fé-em-fragmento. Maná. Dádiva do Céu. Faz sentido? Nem Uno, nem Trino. Conceitos sagrados secretamente digeridos, rasgados [comidos] de cima abaixo. Discursos no sangue revolvidos. Gastos e digeridos [em suco gástrico] todas as Preces e Ritos. Cem Mil. Dez Mil. Duzentos. Cada qual comendo só o que lhe é possível, sem engasgo ou demasiado medo. Só isso. E isso, por si mesmo, constitui o primeiro passo para se fazer as pazes com o resto. E pagar o custo de ter olhado pro céu, sem susto, uma vez ao menos.
ROSA DE ALFENIM
Hercília Fernandes
[ in HF Diante do Espelho ]
voltou anjo, querubim
adoçou-me com flocos de
neve e aluá de gergelim
deixou-me apática, inerte
feito rosa de alfenim.
MINICONTO
Jeanne Araújo
E ela tomou o vinho... não estava nem tão frio assim, mas decidiu quebrar algumas regras na vida. Cansou de ser boazinha, aliás, ser boazinha era o que ela menos queria naquele momento. Pensou se estava bem vestida o suficiente. Achou que sim. Pensou se valeria a pena. Disse a si mesma que sim. E que parasse de pensar bobagens. Ela era bonita e pronto. Isso bastava.
Olhou-se uma vez mais no espelho e teve a idéia de abrir um dos botões da blusa. Insinuava seus belos seios. Sim, tinha belos seios. Sorriu sentindo o calor do vinho descendo pela garganta. Sim, estava pronta.
Caminhou devagar até a varanda onde a outra estava vestida de preto, os braços abertos... jogou-se neste abraço há tanto esperado e o vermelho-sangue-vinho espalhou-se pela escuridão adentro.
Jeanne Araújo
E ela tomou o vinho... não estava nem tão frio assim, mas decidiu quebrar algumas regras na vida. Cansou de ser boazinha, aliás, ser boazinha era o que ela menos queria naquele momento. Pensou se estava bem vestida o suficiente. Achou que sim. Pensou se valeria a pena. Disse a si mesma que sim. E que parasse de pensar bobagens. Ela era bonita e pronto. Isso bastava.
Olhou-se uma vez mais no espelho e teve a idéia de abrir um dos botões da blusa. Insinuava seus belos seios. Sim, tinha belos seios. Sorriu sentindo o calor do vinho descendo pela garganta. Sim, estava pronta.
Caminhou devagar até a varanda onde a outra estava vestida de preto, os braços abertos... jogou-se neste abraço há tanto esperado e o vermelho-sangue-vinho espalhou-se pela escuridão adentro.
13 comentários:
que beleza de balaio, moa - da água azul aos versos africanos, hercília rosa de alfenim, olhos pestanudos, chico doido, marcelo novais e jeanne araújo! de tirar o fôlego!
vou reler!
besos
Adorei a poesia do Chico Doido. hahahahaha.
beijos querido, quando vem por aqui?
Fico com as palavras da Líria e me calo diante do miniconto, avassalador. Abraço.
Caro Moacy,
Sobre o fragmento do texto de Vinhas da Ira, não acho que o final do filme de Ford seja "desesperançoso". Justamente a última fala é da matriarca da família, que diz (estou citando as palavras em legenda): "Nós viveremos para sempre, porque nós somos o povo". Se a frase no original não estiver deturpada, entendo-a, ao contrário, como um sinal da presença da esperança para aquela família, apesar dos inúmeros percalços por que passou. Um abraço.
Moa,
A presença africana é sempre significativa: nas fotos das musas, nas amostras poéticas que selecionas. Chico Doido de Caicó sabe das coisas. E o cinema se presta, mesmo, a revirar [ampliar, reler, fracionar ou multifacetar] o texto já escrito. Ou um texto ainda por escrever.
Obrigado pela inclusão do meu texto!
Abraço.
SOBREIRA:
Você tem razão. Na verdade, cometi um erro de digitação, ao acrescentar involuntariamente um "d" no início da palavra (d)esperançoso, o que alterou radicalmente o seu sentido. Ainda bem que você me alertou em tempo hábil; a correção já foi feita. Grato.
Um abraço.
Conjunto da obra de primeira. Parabéns ao Marcelo Novaes especialmente e ao Balaio cada vez mais porreta. beijo.
Com a vitória do Bota, CDC deve estar fazendo festa no Grande Bordel do Outro Lado.
Legal, e sempre oportuna, a lembrança de Edmund Wilson.
Abraço.
Moa, Balaio exalando ótimos poemas puro sangue e poemas em prosa. Em tempo: assisti ontem "Amor à tarde", de Eric Rohmer. Lembrei de você. Dos três Rohmer que vi foi o que mais me chamou a atenção. Ótimo filme. Abs.
Meu caro Moacy,
De volta do inferno (doze dias de internação, um infarto e duas angioplastias), só recebido por mais uma demonstraçAo de carinho e generosidade suas. Obrigado mais uma vez, caro amigo.
Saúde e alegria, sempre!
Forte abraço.
Meu caro Moacy,
De volta do inferno (doze dias de internação, um infarto e duas angioplastias), sou recebido por mais uma demonstração de carinho e generosidade suas. Obrigado mais uma vez, caro amigo.
Saúde e alegria, sempre!
Forte abraço.
Querido Moacy,
feliz por minha "Rosa de Alfenim" configurar neste balaio de boas letras & coisas.
Sempre uma grande honra ser lida nas páginas de seu precioso celeiro literário. Mais uma vez, muito obrigada!
Um forte abraço em seus leitores e leitoras,
H.F.
que praia maravilhosa. beijos, pedrita
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