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para verouvir o trêiler de
A chinesa
(Jean-Luc Godard, 1967)
Politicamente emblemático [ cf. o Balaio de ontem ], La chinoise marcou toda uma geração de cinéfilos e estudantes socialistas. O seu tema musical ('Mao Mao'), para muitos, figurou entre os "hinos revolucionários" dos anos 60. [Nota: A relação dos filmes fundamentais dos '60 foi reprogramada para o próximo domingo.]
BALAIO PORRETA 1986
n° 2974
Natal, 28 de março de 2010
MEU CORAÇÃO ESCONDE
Carmen Vasconcelos
[ in Chuva ácida. Natal, 2000 ]
Meu coração esconde,
a palavra escapa,
a palavra que preciso cuspir.
Mas não é porque me cobre
a túnica do silêncio,
que estarei despida de poesia
ou perecerá,
sobre o branco impecável desta página,
o meu reflexo.
PONTO FINAL
Maria Maria
[ in Espartilho de Eme ]
Hoje não me interessa pensar,
nem mesmo pescar algum boto.
Não me interessam as suas agruras,
os seus desconsolos ou soluços
roucos.
Chega de tanta mentira,
o meu choro já me basta.
Eu já me basto.
QUANDO ME DEITAS
Jeanne Araújo
Quando me deitas
vais abrindo meus caminhos lentamente
tocando os vãos, desvãos inacabados,
cheios de silêncios mórbidos.
Teu olhar me suga, vertiginosamente,
enquanto murmuras águas marinhas,
algas e um tanto de sal.
Pareces pequeno.
No entanto, consegues envolver-me
despojada e extrema
no teu peito vasto.
Quando me deitas
e percorres lentamente meus caminhos,
minhas flores se entregam nesse claustro
de anseios e sussurros.
E as tuas palavras, as mais doces,
vão queimando os muros,
lençóis e o pequeno quarto.
Pareces pequeno.
No entanto, abranges inocente,
todos os meus cantos e recantos.
E tudo é gozo de tanto tempo.
E tudo é cio e umidade.
para verouvir o trêiler de
A chinesa
(Jean-Luc Godard, 1967)
Politicamente emblemático [ cf. o Balaio de ontem ], La chinoise marcou toda uma geração de cinéfilos e estudantes socialistas. O seu tema musical ('Mao Mao'), para muitos, figurou entre os "hinos revolucionários" dos anos 60. [Nota: A relação dos filmes fundamentais dos '60 foi reprogramada para o próximo domingo.]
BALAIO PORRETA 1986
n° 2974
Natal, 28 de março de 2010
SAGRAÇÃO DO VERÃO
Luís Carlos Guimarães
[ in A lua no espelho. Natal, 1993 ]
De repente a mulher desabrochou nua
saindo do mar, pois a água não a vestia,
antes a desnudava, fazendo a sua
nudez mais nua à dura luz que afia
seu gume no sol da manhã que inaugura
o verão. Dezembro só luz reverbera
em seu corpo, doura-lhe as coxas, fulgura
nas ancas, no dorso ondulado de fera.
Fera que guarda no ventre uma colmeia
com a flor em brasa do sexo que ateia
fogo ao meu desejo e tanto me consome
a vulva, gruta, rosa de pêlos - que nome
tenha - que desfaleço como se em sangue
me esvaísse morrendo de amor. Exangue.
Luís Carlos Guimarães
[ in A lua no espelho. Natal, 1993 ]
De repente a mulher desabrochou nua
saindo do mar, pois a água não a vestia,
antes a desnudava, fazendo a sua
nudez mais nua à dura luz que afia
seu gume no sol da manhã que inaugura
o verão. Dezembro só luz reverbera
em seu corpo, doura-lhe as coxas, fulgura
nas ancas, no dorso ondulado de fera.
Fera que guarda no ventre uma colmeia
com a flor em brasa do sexo que ateia
fogo ao meu desejo e tanto me consome
a vulva, gruta, rosa de pêlos - que nome
tenha - que desfaleço como se em sangue
me esvaísse morrendo de amor. Exangue.
MEU CORAÇÃO ESCONDE
Carmen Vasconcelos
[ in Chuva ácida. Natal, 2000 ]
Meu coração esconde,
a palavra escapa,
a palavra que preciso cuspir.
Mas não é porque me cobre
a túnica do silêncio,
que estarei despida de poesia
ou perecerá,
sobre o branco impecável desta página,
o meu reflexo.
PONTO FINAL
Maria Maria
[ in Espartilho de Eme ]
Hoje não me interessa pensar,
nem mesmo pescar algum boto.
Não me interessam as suas agruras,
os seus desconsolos ou soluços
roucos.
Chega de tanta mentira,
o meu choro já me basta.
Eu já me basto.
QUANDO ME DEITAS
Jeanne Araújo
Quando me deitas
vais abrindo meus caminhos lentamente
tocando os vãos, desvãos inacabados,
cheios de silêncios mórbidos.
Teu olhar me suga, vertiginosamente,
enquanto murmuras águas marinhas,
algas e um tanto de sal.
Pareces pequeno.
No entanto, consegues envolver-me
despojada e extrema
no teu peito vasto.
Quando me deitas
e percorres lentamente meus caminhos,
minhas flores se entregam nesse claustro
de anseios e sussurros.
E as tuas palavras, as mais doces,
vão queimando os muros,
lençóis e o pequeno quarto.
Pareces pequeno.
No entanto, abranges inocente,
todos os meus cantos e recantos.
E tudo é gozo de tanto tempo.
E tudo é cio e umidade.
FEIRA DE CITAÇÕES BOROGODOSAS
[] O assombro é a causa de todo descobrimento.
(Cesare Pavese, 1908-1950)
[] A vida só pode ser compreendida olhando para trás:
mas só pode ser vivida olhando para a frente.
(Soren Kierkgaard, 1813-1855)
[] O desejo é a própria essência do homem.
(Baruch de Spinoza, 1632-1677)
[] Jamais sofri uma mágoa que uma hora de leitura não tenha curado.
(Montesquieu, 1689-1755)
[] A verdade é sempe mais importante que o dogma.
(Henry Lefebvre, 1905-1991)
[] A vida necessita de pausas.
(Carlos Drummond de Andrade, 1902-1987)
[] Maravilhar-se é o primero passo para o descobrimento.
(Louis Pasteur, 1822-1895)
[] O assombro é a causa de todo descobrimento.
(Cesare Pavese, 1908-1950)
[] A vida só pode ser compreendida olhando para trás:
mas só pode ser vivida olhando para a frente.
(Soren Kierkgaard, 1813-1855)
[] O desejo é a própria essência do homem.
(Baruch de Spinoza, 1632-1677)
[] Jamais sofri uma mágoa que uma hora de leitura não tenha curado.
(Montesquieu, 1689-1755)
[] A verdade é sempe mais importante que o dogma.
(Henry Lefebvre, 1905-1991)
[] A vida necessita de pausas.
(Carlos Drummond de Andrade, 1902-1987)
[] Maravilhar-se é o primero passo para o descobrimento.
(Louis Pasteur, 1822-1895)
8 comentários:
"a vida necessita de pausas" - ufa, eu precisava do drummond!
agora vou reler o balaio - besos
líria
Como disse no meu comentário de ontem, não conheço A Chinesa. E esse poema de Luís Carlos é desses poemas que a gente lê mil vezes e a cada vez gosta mais. Grande Luís! Um abraço, velho.
A feira de citações, sim, a feira de citações, eu não posso esquecer a feira de citações. Bom domingo. Abraço.
Ainda bem que hoje é domingo, e o tempo se faz generoso, e podemos sem pressa revirar o Balaio.
Abraço
Moacy, depois de ler o poema do Guimarães, meu deu uma baita saudade do verão.
Um abraço.
Que bom,Moacy, ver Carmen Vasconcelos e Luís Carlos Guimarães
poeticamente aqui reunidos.
Olá Moacy!
Amei la película!
Mas hoje os poemas estão D+++++
Luís Guimarães, Jeanne Araujo, Maria Maria, e.....DRUMMOND!
Maravilhoso!
Parabéns!
Excelente domingo!
Beijos
Mirse
Moa,
Maria Maria sabe arrematar as coisas. Convincentemente.
Abração.
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