Na tradução deve ir-se até ao intraduzível: só então nos daremos conta da nação estrangeira e da língua estranha. (GOETHE. Máximas e reflexões. Lisboa: Guimarães editores, 1987, p.238)
BALAIO PORRETA 1986
n° 1951
Rio, 9 de fevereiro de 2007
Poema/Processo, 40 anos
Contato: balaio86@oi.com.br
POEMA DE
CARMEN VASCONCELOS (RN)
Aprendizagens
"Não há nada de novo debaixo do sol"
(Eclesiastes, 1,9)
Chego ao sol, meu pasmo é imenso!
Quero enfeitiçar o amanhecer.
Tranço cabelos, destranco roupas,
fico tramando proximidades.
Guardo nesgas da noite nos poros,
trago cartas, cristais, oráculos
e pulsares varados de vidência.
Não me seguro em pensamentos,
o mundo é coisa de sentir.
Abro janelas em mim, e portas,
mas conservo cortinas, transparências,
para reter os avisos do vento.
Todos os dias teço aprendizagens,
todos os dias renasço de assombro.
O sol é um deus que sabe doar-se.
[ in Preá nº 12, Natal, FJA, 2005 ]
POEMA/PROCESSO PARA SER BEBIDO
(de Moacy Cirne)
Nas seguintes opções/versões:
1. Poema da goiaba escandalosa:
Uma vitamina de goiaba, batida durante 44 segundos, em liquidificador azulpotengíaco, com polpa de cupuaçu, sorvete de mangaba e um pouco de licor de menta. Deve-se bebê-lo em noite de lua cheia ao som de Carlos Zens. Ou de Naná Vasconcelos. Em outras palavras: a ave voa dentro do poema de Wlademir Dias Pino.
2. Poema do caju doidão:
Uma garrafa de cachaça de boa qualidade (Topázio, Seleta, Ferreira, Providência, Samanau), tendo-se como parede uma cesta de caju amigo. Convém bebê-lo numa tarde de sábado ao som de Jackson do Pandeiro. Ou de Luiz Gonzaga. Em outras palavras: nos alpendres d'Acauã pousa o sertão de Oswaldo Lamartine.
3. Poema do abacaxi prateado:
Um suco de abacaxi, batido durante 66 segundos, em liquidificador azulseridoense, com três morangos e bastante licor de laranja. Recomenda-se que seja bebido em horas cruvianas, ao som de Hermeto Paschoal. Ou de Tom Zé. Em outras palavras: os pássaros da madrugada recolhem a chuva alfa-silabária da poesia de Regina Pouchain.
4. Poema do sonho americano:
Coca-cola batida com pepsi, fanta laranja, cebola, pimentão, sal, açúcar refinado, um pouco de petróleo e banana com casca e tudo o mais. Para ser bebido exclusivamente por W.C. Bushit e seus amigos hollywoodianos, não importa a hora, não importa o lugar, não importa a cor do crepúsculo, ao som de fuzis neuróticos. Ou de metralhadoras esquizofrênicas. Em outras palavras: mais cedo ou mais tarde o império do mal americano explodirá numa tarde cinzenta de abril.
[ Projeto inaugural: julho de 2005 ]
Relendo Jacob do Bandolim,
de Joel Nascimento
[ RGE 6127 2 (1998) ]
2 comentários:
Tomei as quatro versões do poema, Moacy, e estou bêbado de poesia. Abração.
Casa nova :)
Tem um café esperando por você na minha :)
Um beijo.
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