quinta-feira, 1 de março de 2007

Por incrível que pareça, ainda não vimos Cartas de Ivo Jima (Eastwood, 2006), numa das salas do Me Dei Mal. Em compensação já lemos Simplesmente humanos (Manoel Onofre Jr., 2007), lançado ontem pelo Sebo Vermelho. Trata-se de uma coletânea de perfis não-literários de alguns escritores da província. O livro é simpático, sem maiores pretensões críticas. E os escritores escolhidos são figuras conhecidas em Natal & adjacências.



BALAIO PORRETA 1986
nº 1962
Natal, 1 de março de 2007
Poema/Processo, 40 anos


ERUDIÇÃO BURRA

Nada mais irritante, no mundo da literatura, do que a erudição burra, a erudição pela erudição, pura e tolamente, sem qualquer relação com o saber e o fazer. E o que é um erudito burro? É o sujeito que muito lê, de forma quase compulsiva, e nada apreende, nada assimila, nada (re)cria, alimentando-se, muitas vezes, de reflexões (no melhor dos casos) e citações descontextualizadas.

É verdade que certos livros, certos textos, certos filmes, certos quadrinhos, levam inevitavelmente a conhecimentos inócuos ou mesmo a nenhuma espécie de consciência crítica e/ou criativa. São obras descartáveis, dignas, por exemplo, de um Big Bosta Brazil. Já outras, por melhores que sejam, quando atraem leitores preguiçosos, meros colecionadores de palavras vazias, implicam - sempre e sempre - simples leituras inertes (cf. Bachelard). E da leitura inerte à erudição burra o passo é muito pequeno.

Armazenar informação não significa necessariamente produzir cultura. Escrever difícil, isto é, hermeticamente, não significa escrever em profundidade. Ao contrário. Marx e Nietzsche, e outros, já nos disseram. Citar por citar também não quer dizer nada. A verdade é que, por mais que nos interessemos por filosofia, antropologia, história, política, psicanálise e/ou criação literária, honestamente ou não, a leitura de um só livro, dependendo do livro, dependendo do autor, pode ser mais importante do que o consumo (desvairado?) de 100 ou mais livros, mesmo que alguns deles sejam expressivos. Ou interessantes.

Decerto, um só livro, quando pretendemos aprofundar determinados assuntos, dificilmente será suficiente para nossas descobertas e necessidades intelectuais e/ou vivenciais. Mas uma bagagem (multi)cultural não se constrói da noite para o dia. Pode levar anos de leituras e reflexões consistentes. Só assim será produtiva. Na medida do possível. E do impossível.

4 comentários:

Francisco Sobreira disse...

Também, velho, não tive ainda disposição para ver o filme de Eastwood, embora vê-lo ainda esteja nos meus planos. Mas você já leu o livro de Onofre? Varou a noite? Por fim, faço coro com você contra o burro erudito. Aliás, o falecido Merquior (não sei se estou escrevendo correto o nome), segundo ouvi falar, era assim chamado pelas línguas ferinas. Um abraço

o refúgio disse...

É, caro Mestre. Você tem muito a nos ensinar. Ai de mim com minha indolência e erudição burra: não saio do lugar. :(

Abraço.

Anônimo disse...

Eu tb ainda não vi. Aqui só está passando no Shopping Recife e é loooonge.
Beijo daqui.

Alex de Souza disse...

Oi, professor!
Achei o novo-velho-e-bom Balaio! Coloca um post no antigo dando este novo endereço. Nosso endereço, repassando novamente, é www.disruptores.com.br . Como ando um pouco afastado nesses dias correndo atrás de aliciar um professor para o mestrado, estou sem publicar há um tempo, mas tem muita resenha de cinema do Aristeu e de quadrinhos, do Alexandre. Aquele abraço,
Alex de Souza