BALAIO PORRETA 1986
nº 1962
Natal, 1 de março de 2007
Poema/Processo, 40 anos
ERUDIÇÃO BURRA
Nada mais irritante, no mundo da literatura, do que a erudição burra, a erudição pela erudição, pura e tolamente, sem qualquer relação com o saber e o fazer. E o que é um erudito burro? É o sujeito que muito lê, de forma quase compulsiva, e nada apreende, nada assimila, nada (re)cria, alimentando-se, muitas vezes, de reflexões (no melhor dos casos) e citações descontextualizadas.
É verdade que certos livros, certos textos, certos filmes, certos quadrinhos, levam inevitavelmente a conhecimentos inócuos ou mesmo a nenhuma espécie de consciência crítica e/ou criativa. São obras descartáveis, dignas, por exemplo, de um Big Bosta Brazil. Já outras, por melhores que sejam, quando atraem leitores preguiçosos, meros colecionadores de palavras vazias, implicam - sempre e sempre - simples leituras inertes (cf. Bachelard). E da leitura inerte à erudição burra o passo é muito pequeno.
Armazenar informação não significa necessariamente produzir cultura. Escrever difícil, isto é, hermeticamente, não significa escrever em profundidade. Ao contrário. Marx e Nietzsche, e outros, já nos disseram. Citar por citar também não quer dizer nada. A verdade é que, por mais que nos interessemos por filosofia, antropologia, história, política, psicanálise e/ou criação literária, honestamente ou não, a leitura de um só livro, dependendo do livro, dependendo do autor, pode ser mais importante do que o consumo (desvairado?) de 100 ou mais livros, mesmo que alguns deles sejam expressivos. Ou interessantes.
Decerto, um só livro, quando pretendemos aprofundar determinados assuntos, dificilmente será suficiente para nossas descobertas e necessidades intelectuais e/ou vivenciais. Mas uma bagagem (multi)cultural não se constrói da noite para o dia. Pode levar anos de leituras e reflexões consistentes. Só assim será produtiva. Na medida do possível. E do impossível.
4 comentários:
Também, velho, não tive ainda disposição para ver o filme de Eastwood, embora vê-lo ainda esteja nos meus planos. Mas você já leu o livro de Onofre? Varou a noite? Por fim, faço coro com você contra o burro erudito. Aliás, o falecido Merquior (não sei se estou escrevendo correto o nome), segundo ouvi falar, era assim chamado pelas línguas ferinas. Um abraço
É, caro Mestre. Você tem muito a nos ensinar. Ai de mim com minha indolência e erudição burra: não saio do lugar. :(
Abraço.
Eu tb ainda não vi. Aqui só está passando no Shopping Recife e é loooonge.
Beijo daqui.
Oi, professor!
Achei o novo-velho-e-bom Balaio! Coloca um post no antigo dando este novo endereço. Nosso endereço, repassando novamente, é www.disruptores.com.br . Como ando um pouco afastado nesses dias correndo atrás de aliciar um professor para o mestrado, estou sem publicar há um tempo, mas tem muita resenha de cinema do Aristeu e de quadrinhos, do Alexandre. Aquele abraço,
Alex de Souza
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