RECOMENDAMOS ESPECIALMENTE: 100 anos de frevo – É de perder o sapato, cd duplo da Biscoito Fino [BF 648 (2007)], com direção geral de Kati Almeida Braga. Sob a regência do Maestro Spok, contém, no cd 1 (instrumental), várias obras-primas do carnaval pernambucano: Frevo da tarde (de Carnera), Mordido (de Alcides Leão), Duda no frevo (de Seno), Gostosão (de Nelson Ferreira), Cabelo de fogo (de Nunes), Fantasia carnavalesca (de Clóvis Pereira, baseado em Vassourinhas). No segundo cd,de igual valor, temos Micróbio do frevo (de Genival Macedo, por Gilberto Gil), Frevo nº 1 (de Antônio Maria, por Maria Bethânia), Valores do passado (de Edgard Moraes, por Maria Rita), De chapéu-de-sol aberto (de Capiba, por Vanessa da Mata), Tempo folião (de Carlos Fernando & Geraldo Azevedo, por Geraldo Azevedo), Madeira que cupim não rói (de Capiba, por Claudionor Germano), Evocação nº 1 (de Nelson Ferreira, por Antônio Nóbrega). Enfim, um grande lançamento.
BALAIO PORRETA 1986
nº 1990
Rio, 7 de abril de 2007
A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (10/111)
As quatro margens do rio, de Giovanni Sérgio & Angeles Laporta. Natal: PROFINC, 1997, 152p. [] Potengi que te quero Potengi, poemas que se fazem poesia e imagem, fotos que nos fazem sonhar: a plasticidade que, lírica e amorosamente, envolve a imaginação delirante de leitores & leitoras. Potengi (dos meus amores) que se cristaliza como um Rio Grande, o nosso Rio Grande do Norte, o nosso Rio Grande do Nordeste, ao som de Carlos Zens, ao som de Mirabô Dantas, ao som do pernambucano Luiz Gonzaga, um dos gênios maiores da música brasileira. Potengi (dos meus pecados) que se abisma diante dos versos de Luís Carlos Guimarães: "O rio se nutre/ de nuvens. Da/ nascente à foz/ sulca o pulso da// terra, semovente". Ou que se encontra com a magia de Newton Navarro: "A noite caminha com pés de/ água, sobre o dorso do rio". Ou, ainda, que se revela por inteiro na poesia de Diva Cunha: "Esse rio/ que atravessa séculos/ não é Grande, nem Pequeno/ apenas potengi no nome/ que lhe tiraram/ das águas os índios". Enfim, as quatro margens da fotografia e dos iluminamentos poéticos. Que revelam as várias margens do Potengi, com sua história e seus mistérios.
Casa-grande & senzala [1933], de Gilberto Freyre. Edição crítica por Guillermo Giucci, Enrique Rodriguez Larreta e Edson Nery da Fonseca (coord.). Madrid, Barcelona, La Habana, Lisboa, Paris, México, Buenos Aires, Lima, Guatemala, São José, São Paulo: Ed. UNESCO / Coleção Arquivos, 2002, 1262p. [] A história das formas literárias e/ou culturais brasileiras apresenta quatro monumentos históricos de porte mundial, a saber: Sermões (Pe. Antônio Vieira), Os sertões (Euclides da Cunha), Grande sertão: veredas (Guimarães Rosa) e este Casa-grande & senzala. Durante muito tempo, a esquerda brasileira via com olhar atravessado a obra maior de Freyre, já que, supostamente, seria preconceituosa, anacrônica e conservadora. Sua própria posição pessoal, em termos políticos, não ajudava muito, a bem da verdade. Nos últimos anos, contudo, tem sido feito um ótimo trabalho de reavaliação crítica, a começar pela excelência de sua escrita marotamente (no bom sentido) anticonvencional e envolvente. E o livro tem crescido a cada (re)leitura como uma das obras fundantes do nosso imaginário social e cultural.
Tractatus logico-philosophicus [1921], de Ludwig Wittgenstein. Int. Bertrand Rusell. Trad. Luiz Henrique Lopes dos Santos. São Paulo: EDUSP, 1993, 282P. [] Um dos livros capitais do séc. XX. O pensamento em estado bruto: “A forma é a possibilidade da estrutura” (2.033, p.141); “ A realidade total é o mundo” (2.063, p.143); “Um pensamento correto a priori seria aquele cuja possibilidade exigisse sua verdade” (3.04, p.147); “O pensamento é a proposição com sentido” (4, p.165); “O fim da filosofia é o esclarecimento lógicoi dos pensamentos” (4.112, p.177); “A teoria do conhecimento é a filosofia da psicologia” (4.1121, p.177); “O que pode ser mostrado não pode ser dito” (4.1212, p.181). Continuemos. Continuemos: “Os limites de minha linguagem significam os limites de meu mundo” (5.6, p.245); “O que não podemos pensar, não podemos pensar; portanto, tampouco podemos dizer o que anão podemos pensar” (5.61, p.245); “A lógica não é uma teoria, mas uma imagem especular do mundo./ A lógica é transcendental”(6.13, p.261); “A matemática é um método da lógica” (6.234, p.265). E mais. E mais: “A morte não é um evento da vida. A morte não se vive” (6.4311, p.277); “O método correto da filosofia seria propriamente este: nada dizer, senão o que se pode dizer ...” (6.53, p.281). Por último, com destaque nosso: “Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar” (7, p.281).
Os grandes escritos anarquistas, de George Woodcock (int. & sel.). Trad. Júlia Tettamanzi & Betina Becker. Porto Alegre: L&PM Editores, 4ª ed., 1990, 361p. Uma das melhores seleções de textos anarquistas publicadas no Brasil, até o momento. Ou, pelo menos, até 1981, ano da primeira edição nacional. Há uma boa introdução histórica do organizador e inúmeros textos básicos, de Malatesta a Proudhon, de Bakunin a Kropotkin. Vale a pena destacar: A igreja e o estado (Michael Bakunin), A política normal e a psicologia do poder (Paul Goodman), A inutilidade das leis (Peter Kropotkin), Sobre a propriedade (William Godwin), Socialismo estatal e anarquismo (Benjamin Tucker), A origem da revolução (Pierre-Joseph Proudhon), Desobediência civil (Henry David Thoreau), A organização da produção (James Guillaume), Anarquismo e ecologia (Murray Bookchin). Outros autores estão presentes, como Oscar Wilde e Herbert Read. Decerto, a discussão sobre o socialismo libertário, que data do século XIX, tem empolgado muita gente boa nos últimos anos, sobretudo depois da falência do socialismo praticado na União Soviética e países do bloco soviético (Polônia, Hungria, Tchecoslováquia e outros). Mas é bom que se diga que o socialismo em questão não passava de um socialismo equivocado desde os tempos de Stalin. Também é bom que se diga que os princípios teóricos do anarquismo são sérios e devem ser levados em consideração, inclusive por aqueles de formação marxista, para criticá-los adequadamente, se for o caso. E diante do capitalismo multinacional dos nossos dias, mais e mais selvagem, mais e mais cruel, não seria o anarquismo uma utopia por demais distante e irrealizável? Seja como for, vale a pena conhecer a crítica e a teoria do socialismo libertário.
Ilusões perdidas, de Honoré de Balzac. Trad. Ernesto Pelanda & Mário Quintana. Porto Alegre: Globo, 1951, 560p. [] Eis, portentosa, a Comédia Humana em sua vertente maior, ou, pelo menos, numa de suas maiores vertentes estéticas, em termos literários: quando o li pela primeira vez, ainda em 1960/61, aos 18 anos incompletos, já sabia da força acadêmica de seu autor, seja pelos contos devidamente lidos, seja pelas informações sobre a literatura francesa da época em manuais de divulgação crítica, ao lado de Flaubert, Stendhal e outros. E outros. Mesmo assim fiquei maravilhado com sua tessitura dramática, que não se reduz à crítica do jornalismo e da aventura romanesca na Paris da primeira metade do séc. XIX. O especialista Ernst Robert Curtius, um dos mais importantes críticos e historiadores da literatura do século passado, escreveu, com inteira propriedade: “A obra de Balzac nos revela na vida humana o jogo infinito de forças ocultas em ação. Ele próprio é a expressão viva e criadora de uma força que não conhecemos perfeitamente, salvo quando a vemos agir” (in A Comédia Humana, XV. Porto Alegre: Globo, 1959, p.XIII). Pela Globo, aliás, o volume com Ilusões perdidas é o VII, com estudo introdutório de Emile Faguet. Recomedamos, em particular, o artigo de Marcel Proust para o vol. XIV da Comédia, que contém O cura da aldeia e O lírio do vale. Contudo, o melhor romance de Balzac talvez seja mesmo O pai Goriot, no vol IV da Comédia (Porto Alegre: Globo, 1949), ao lado de outros títulos, com pequena nota introdutória de Anatole France. Decerto, há livros que são indispensáveis em qualquer boa biblioteca: O pai Goriot, Ilusões perdidas e Eugénie Grandet são três deles. Honoré de Balzac, em que pese o seu academicismo, e suas eventuais “pressas estilísticas”, é um grande nome da literatura mundial.
Les aventures de Jodelle, de Pierre Bartier (argumento) & Guy Peellaert (desenhos). Paris: Eric Losfeld, 1966, 76p. [Álbum adquirido na Livraria Francesa, em São Paulo, em 1967.] Grafismo pop-art, em cores chapadas. Numa Roma antiga, em pleno ano 14 da Era Cristã, o político e o erotismo são as bases não-ditas de encontros & desencontros romanescos. É possível que seja uma obra por demais datada, mas ainda é capaz de conter encantos (gráficos e temáticos) inesperados: se a história se “passa” na Roma Imperial, nada impede que Jodelle – inspirada fisicamente na cantora Sylvie Vartan –, em seu carrão importado, mantenha contatos diretos ou indiretos com os Beatles, Jesus Cristo, James Bond, André Malraux, o presidente Johnson, o papa. E assim por diante. No mesmo ano (1966), aparecia o Surfista Prateado, de Stan Lee & Jack Kirby. E em São Paulo, pela Taika, era editada Clássicos do Terror, e pela Penteado, A Múmia. Um ano depois de Vizunga, de Flávio Colin. E um ano antes de A emboscada fatal, de Eugenio Colonnese.
ALMANAQUE DO BALAIO
Dez filmes marcados pela religiosidade:
1. A palavra (Dreyer, 1955)
2. A paixão de Joana d’Arc (Dreyer, 1928)
3. Diário de um pároco de aldeia (Bresson, 1951)
4. Andrei Rublev (Tarkóvski, 1966)
5. Simão do Deserto (Buñuel, 1965)
6. O evangelho segundo São Mateus (Pasolini, 1964)
7. O sétimo selo (Bergman, 1956)
8. 2001: uma odisséia no espaço (Kubrick, 1968)
9. A última tentação de Cristo (Scorsese, 1988)
10. O processo de Joana d’Arc (Bresson, 1962)
Nota:
A ordem apresentada não é estética,
em termos cinematográficos, e sim
“religiosa”, em termos existenciais, segundo
a nossa leitura crítico-afetivo-libertinária.
16 comentários:
Caro Moacy,
não entendi a presença do filme de Kubrick na categoria "religiosidade". Me parece ter uma certa preocupação filosófica,inserida no plano da ficção científica. Assim o vejo. Um abraço.
Moro em caicó. Tenho algumas ligações com o Oeste do Estado, no caso específico, Janduís, pq presto serviços de assessoria de imprensa por lá. Mas moro em Caicó. Cinema só posso ver mesmo em Natal, neh, pois nossa cidade não possui mais cinemas. E vez por outra compro algum filme pela internet, pois não encontramos clássicos por aqui. Comprei recentemente "Uma Rua Chamada Pecado". Compro muitos livros sobre o tema também. Moacy, meu email/msn é rvlucena@hotmail.com Obs: Ouviu falar da Revista Cultural Balaio, lançada ano passado em Caicó? Sou o editor. Grande abraço!
Caro Sobreira: Decerto, "2001" é marcado pela filosofia, ou por certo tipo de filosofia, mas, na época de seu lançamento, uma das questões levantadas era se o monolito não seria a concretude material de uma Singularidade Superior, ou seja, em linhas gerais, o próprio Deus judaico-cristão. De resto, para mim, a "religiosidade" não é uma questão propriamente religiosa, e sim "religiosa" enquanto aparato "filosófico-existencial". Um abraço.
Caro Raildon: "Revista Cultural Balaio", em Caicó? Preciso conhecê-la, rapaz! Um abraço.
Moacir e Milson Lucena? Rapaz, pelo sobrenome "Lucena", talvez alguma coisa, mas não tenho certeza. Quanto a revista, basta dizer o endereço que nós enviaremos para você. A segunda edição deverá sair na Festa de Santana, espero.
Ah, esse cd aí, sobretudo o só tocado, é de perder o sapato e a cabeça. Biscoito finíssimo mesmo.
Agora, Moacy, porque está aparecendo o código do html nos posts?
Beijo recifense.
Márcia: Não tenho a menor idéia. Aqui, no meu monitor, está tudo normal. Um beijo.
Oi Moacy, por incrível que pareça não conheço esse disco. Ando sem grana pra comprar cd. Mas deve ser mesmo de perder o sapato e mais alguma coisa...
A propósito: já encontraste o disco do Junio Barreto? Procura, cara, tenho certeza que cê vai gostar.
Um beijo.
Moacy, seu Balaio é mesmo uma beleza. Imagina que herdei de meu pai uma biblioteca não muito grande, mas preciosa, que inclui os três de Balzac e mais alguns. Um enorme abraço de Páscoa e muita alegria neste domingo.
Meu caro Moacy,
Essas queixas de caracteres estranhos (não é a primeira vez que te questionam a respeito) deve-se unicamente à má configuração do IE, infelizmente AINDA o navegador mais usado pela maioria. A recomendação seria a do prejudicado ir ao menu, clicar em "Exibir", descer até "codificação" e selecionar a opção "Unicode". Isso pe o bastante pra resolver o problema. O estranho é que, vez em quando o próprio IE "resolve" mudar por conta própria.
Bem, espero que tenha ajudado um pouco.
Forte abraço, meu amigo.
Caro Mestre Moacy,
Belas indicações! Lebrei que tenho um CD de frevo que "importei" diretamente do Recife e que não ouço há algum tempo. Preciso redimir isso. No mais, todas as indicações e lembranças tem o meu apoio. Assino embaixo.
Um forte abraço. Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.
Moacy menino...
Quero compartilhar contigo da paixão pela 'última tentação', uma jóia do cinema, uma beleza de crítica.
Agora compartilho o meu abraço, que é sempre devotado a ti com carinho grande!
Cheirão aqui dos Currais!
vim lhe retribuir a visita lá no seridó blig, é uma honra receber sua visita.Um abraço seridoense!
Salve Moacy:
Espero que a Páscoa tenha sido legal pra ti.
Só passei por aqui pra dizer que vi, finalmente, os Infiltrados. Flimaço. O L. Di Caprio finalmente cresceu. Acho que a separação da Gisele lhe fez bem.
Também vi Dejavu com o Denzel Washington. Confuso e por demais inverossímel.
Um abraço.
Moacy,isto aqui é cultura pura. Maravilha!
Hoje estive vom seu almanaque nas mãos, na livraria A S livros, uma delícia.
Vc mora aqui em natal ou n oRio, como diz no blog? eu morava ai... agora estou meio exilada aqui- sem amigos ainda. Sinto mta saudades do Rio. Pensei que fosse mais fácil fazer amigos no nordeste, pero... será que sou eu?
:(
Qdo tiver um tempinho apareça. :)
vc é amigo do Raduan Nassar?
um forte abraço, Laura
Laura: Moro no Rio, embora faça visitas sentimentais ao Rio Grande do Norte com certa regularidade. Aparecer? Você tem blogue? Não foi o que indicou o seu nome colocado no comentário. Um abraço.
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