sexta-feira, 18 de maio de 2007

CINEMA RIO 2007

Recomendamos com entusiasmo:
Boudu salvo das águas (Renoir, 1932), dia 21, no CineMaison
Uma mulher sob influência (Cassavetes, 1974), no Laura Alvim
Homenagem a Mário Carneiro [vários filmes], no CCBB

Recomendamos:
Corações e mentes (Davis, 1974), no Arte UFF, em Niterói
Noite de estréia (Cassavetes, 1977), dia 25, pelo Circuito Estação
Hércules 56 (Sílvio Da-Rin, 2007), no Estação/3

Recomendamos com reservas:
Cartola – Música para os olhos os olhos (Lírio Ferreira & Hilton Lacerda, 2006),
no Estação/3

Pretendemos ver:
Baixio das bestas (Cláudio Assis, 2007), no Arteplex/5


BALAIO PORRETA 1986

nº 2021

Rio, 18 de maio de 2007


FLOR-TITÂNIO

[Blocos iniciais: 8/14]

Regina Pouchain (RJ)

Manhãs que crescem com a flor letal.
Amor estrangulado em âmbar.
Delírio de fogo que se encarna.
Aviões que entram pela eternidade.
A voz minúscula e asmática,
Que brota dos interstícios da terra.
Corpo alterado, sofrimento retroativo.
Azul alarme, um piano irrompe.
Cidades agudas sangram alumínio.
Memórias agarradas ao que cavam.

Sob o silêncio desse ínfimo sábado.

Mundo portátil.
Luz cobalto que nos cega.
No território hostil das catracas.
Harpas em desespero.
É a terra que respirando se dobra.
Destino das folhas-fósseis.
Em tua derme-trajetórias.
Coração pedra-pomes.
Luto para sempre.
A saudade talha.

O paraíso me encosta em ti.

O tempo e o alívio em alquimia.
Musa de areia pilhada.
A boca engole o mergulho.
Um derrame de mar vertical.
No alvo das imagens coagidas.
Voz de cogumelo decantando a terra.
Feridas visuais, legendas átonas.
O sol sabe consolar-se.
Dor de guardar, alta, intacta.

Um cavalo de fogo desce a colina.

Pálpebras soberanas.
Sonora mulher nanquim.
A própria história no granito da pele.
O sal imantado das dúvidas.
Beijo alçapão, alegria acústica.
Ontologia para teus desenhos.
Arrastar o próprio monstro.
Os frutos que nos comem,
O mel e os tiros.

Envelhecer é cansar-se de trajetórias:
A juventude é geométrica.

Entre a corda e o salto.
Bonecas que sonham ser.
Flexível como a sombra.
Algas de metileno.
Eu me escolho nas palavras.
Tempo fictício na imobilidade.
Fome e vínculo crucial.
Clavículas vegetais e metatarsos em flor.

Sinais distintivos,
Cascalho de ti e de mim.

A ira da terra no magma dos vulcões.
O amor é cítrico.
Desligar é construir mundos.
Minúscula paisagem.
Ostentação simétrica.
Luz da febre, casas de sal.
Nada que se possa concluir.
Sementes que desistem.
Ir é sinal de otimismo.

Eu, carne de papel, sangue de letras,
cérebro capitular.

Os penhascos me avassalam.
Nascer do bronze convulsivo.
Fotonostalgiacelulose.
Tuas mãos na retidão da página vítrea.
A saúde que se esforça para não ser.
Fábula natural alagada.
Vértebras de açúcar.
Âmago: alvo inatingível.
Poemas circulam entre tudo que voa.
Em cada órgão um coração.

Vida amável: teu nome.

Móveis etéreos entre legiões de ancestrais.
Musa em clorofila atarantada.
O amor cansou de ser.
Todos os dias entra em casa, para sempre.
Fraturas do vento abissal.
A beleza se desloca, irriga.
O objeto revela civilizações.
Roma cidade-cemitério.
Na enlaçada volumetria do teu corpo.
E o que nos abre em dois.

O homem, um hiato entre duas dores:
Nascimento e morte.

(...)

2 comentários:

Marco disse...

Caro mestre Moacy,
Preciso atualizar a minha agenda cinéfila. Com a minha peça em cartaz, fico com pouco tempo.
Legal esse poema! Gostei especialmente da frase final: "O homem, um hiato entre duas dores: nascimento e morte".
Bom final de semana. Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.

o refúgio disse...

Moacy,
estou numa lan house por isso nâo terei condições de me atualizar nas leituras de suas últimas postagens. Mas isso aqui tá maravilhoso, bem como os pensamentos de Murilo Mendes na postagem acima.

Beijos.