À FRANCESA
de Simão Pessoa (AM)
Vai ser só a cabecinha
explicou à Antonieta
ajeitando a guilhotina
[ in Matou Bashô e foi ao cinema (1992) ]
BALAIO PORRETA 1986
nº 2019
Rio, 15 de maio de 2007
DINHEIRO & MEMÓRIAS
de Luiz Rosemberg Filho (RJ)
(Para Nina Tedesco, Alexandre DaCosta, Ana Coutinho e Marília Bandeira)
"Hoje, é menos o sexo que incomoda ou amedronta, mas a dor permanente, o cadáver potencial que nós somos. Quem quer olhá-los de frente?" (Julia Kristeva)
Olho o país e vejo um imenso vazio existencial e político. E entre banalidades televisivas e Hollywood a passagem do tempo que passou marcando cada rosto, cada corpo, cada alma. Os "entendidos" dizem que a ditadura acabou. Para o saber ela continua sutil, permanente e freqüentemente truculenta, artificializando com tudos e todos. Ainda ontem acreditávamos num mundo diferente, humano e melhor. E numa ausência real de uma história para o país ficamos à deriva flertando com o nosso próprio fim. Talvez fosse bom abrir mão dos nossos muitos sonhos. Sempre nos faltou uma concepção viva e transparente dois encontros, dos afetos e muito da política-show dos partidos. Daí o desafio de suavizar ou dar leveza ao ainda belo e efêmero ato de criar pequenas "posições" em forma de resistência.
Estou falando de dois trabalhos diferentes mas que se aproximam na utopias das idéias. O dinheiro, pela imobilidade. Já o Memórias, pelo infinito assassinado por um tempo sem muita expressão. Sensibilidade nunca foi o fundamento da política. Menos ainda do poder de onde só jorra sangue, lama e traições. Mais na festa que nunca foi nossa as tantas e tantas comemorações da política aliada ao espetáculo. Não se voltou a reeleger Collor, Maluf e quase todos os Mensaleiros? Antes se tinha a desculpa da ditadura. Depois vieram o PMDB, o PSDB a agora o PT. Alguma diferença? E na certeza de que tudo logo cairá no esquecimento desmaterializa-se todo e qualquer sonho. Sonhar para quê? Ou seja, somos uma infinita repetição do vazio universal, de Bush ao Alvorada.
Nosso modesto trabalho enfatiza o valor das palavras, do pensamento, das idéias, do olhar... Vamos no sentido contrário da ligeireza, da compreensão fácil e imediata. E da cristalização do espetáculo como êxtase do capital. Os dois trabalhos assumem as minhas muitas dúvidas e nenhuma certeza. A única idéia é a encenação ou visualização das nossas ruínas. Os burocratas de ontem e de hoje conseguiram transformar o processo criativo num infindável buraco negro onde, na fixidez obrigatória do horror, só a música realiza o seu vôo solo. Não são trabalhos fáceis, mas nem por isso perdem o seu valor. Pode-se também não entender e não gostar sem que o trabalho ou as pessoas sejam diminuídas. Não fizemos televisão.
O dinheiro e Memórias cumprem o seu papel na perspectiva de uma experiência ética e estética mais profunda na direção de um cansaço real no desmantelamento do humano. Lamentavelmente, a política aqui é um infindável acúmulo de repetições tristes e infinitas. É ainda o ditado do "salve-se quem puder - a vida". E não poderia ser diferente?
2 comentários:
Moacy,
Um texto porreta esse do Rosemberg. De uma grande lucidez crítica. Um abraço.
Oi Moacy, conferindo sempre.
Só a cabecinha... Hehehe.
Um abraço.
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