Grandes momentos do cinema:
Blow-up (Michelangelo Antonioni, 1966).
Mais uma vez o cinema do Mestre italiano com suas conotações formalmente apolíneas, mesmo quando embriagadoras, como aqui. Não haverá em Blow-up um duplo olhar que revela o não-revelado, que revela aquilo que não é para ser revelado? Quando o vi pela primeira vez, ainda nos anos 60, havia nele qualquer coisa que me dilacerava, que me queimava, como se a tangível Londres não fosse uma Londres intangível. Ao mesmo tempo, sua modernidade nos angustiava: o filme estava dentro de nosso sangue, de nossas entranhas, de nossos desejos, de nossas desilusões. Visceralmente. Até hoje. Até hoje. (Moacy CIRNE. Luzes, sombras e magias. Natal: Sebo Vermelho, 2005, p.114)
BALAIO PORRETA 1986
nº 2062
Rio, 14 de julho de 2007
OFERENDA
de Laura Amélia Damous
[ in A poesia maranhense no século XX, de Assis Brasil ]
Venho te oferecer meu coração
como o cansaço se oferece aos amantes
o suor aos corpos exaustos
depois de definitivo abraço
Venho te oferecer meu coração
como a lua se oferece à noite
e o vento à tempestade
Venho te oferecer meu coração
como o peixe se oferece à captura
no engano do anzol
A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
666 livros indispensáveis (24a / 111)
Livro de poemas de Jorge Fernandes [1927]. Natal: Fundação José Augusto, 1997, 96p. [] Edição facsimilar: a primeira explosão modernista do Rio Grande do Norte. Manuel Bandeira, Luís da Câmara Cascudo e Mário de Andrade, entre outros, tinham em alta conta os versos regionalistas e, às vezes, onomatopaicos (além do caligramático Rede "suspensa") do poeta potiguar. Jorge Fernandes, com esse único livro, e José Bezerra Gomes, igualmente com a solitária Antologia poética, tornaram-se referência obrigatória para as vanguardas (anti/contra)literárias de Natal, a partir de 1966/67.
O Eu profundo e os outros Eus, seleção poética de Fernando Pessoa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1975, 288p. [Nossa edição dos anos 60, que considerávamos uma verdadeira Bíblia da Poesia, ficou para sempre nas mãos de uma jovem morena carioca, por volta de 1968.] Basta dizer que se trata do maior poeta de língua portuguesa, depois de Camões. É preciso dizer mais alguma coisa? Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos: quatro pessoas numa só - eis aqui o Santíssimo Quarteto da Poesia Universal. Em se tratando de Pessoa, tudo vale a pena, já que a sua poeticidade não é pequena.
O casamento [1966], de Nelson Rodrigues. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, 260p. [] Um romance arrasador, que atinge, com furiosa agressividade, os padrões morais e amorais da classe média suburbana das grandes cidades brasileiras, particularmente o Rio de Janeiro. Ninguém se salva da sujeira lancinante que envolve todos os personagens. Não há compaixão, não há salvação. Mas há a obra-prima: a literatura que, com suas imperfeições, consegue ser perfeita. Como já foi dito, aliás. Não é um livro qualquer - é um livro de Nelson Rodrigues, é a obra de um "anjo pornográfico" (cf. Ruy Castro).
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Não nos desculpemos de amar com a imaginação. Tudo é imaginação. O amor é imaginação concentrada; a poesia, imaginação difusa. (Joaquim NABUCO. Pensamentos soltos. Brasília: AN Editora, s/d, p.305)
666 livros indispensáveis (24a / 111)
Livro de poemas de Jorge Fernandes [1927]. Natal: Fundação José Augusto, 1997, 96p. [] Edição facsimilar: a primeira explosão modernista do Rio Grande do Norte. Manuel Bandeira, Luís da Câmara Cascudo e Mário de Andrade, entre outros, tinham em alta conta os versos regionalistas e, às vezes, onomatopaicos (além do caligramático Rede "suspensa") do poeta potiguar. Jorge Fernandes, com esse único livro, e José Bezerra Gomes, igualmente com a solitária Antologia poética, tornaram-se referência obrigatória para as vanguardas (anti/contra)literárias de Natal, a partir de 1966/67.
O Eu profundo e os outros Eus, seleção poética de Fernando Pessoa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1975, 288p. [Nossa edição dos anos 60, que considerávamos uma verdadeira Bíblia da Poesia, ficou para sempre nas mãos de uma jovem morena carioca, por volta de 1968.] Basta dizer que se trata do maior poeta de língua portuguesa, depois de Camões. É preciso dizer mais alguma coisa? Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos: quatro pessoas numa só - eis aqui o Santíssimo Quarteto da Poesia Universal. Em se tratando de Pessoa, tudo vale a pena, já que a sua poeticidade não é pequena.
O casamento [1966], de Nelson Rodrigues. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, 260p. [] Um romance arrasador, que atinge, com furiosa agressividade, os padrões morais e amorais da classe média suburbana das grandes cidades brasileiras, particularmente o Rio de Janeiro. Ninguém se salva da sujeira lancinante que envolve todos os personagens. Não há compaixão, não há salvação. Mas há a obra-prima: a literatura que, com suas imperfeições, consegue ser perfeita. Como já foi dito, aliás. Não é um livro qualquer - é um livro de Nelson Rodrigues, é a obra de um "anjo pornográfico" (cf. Ruy Castro).
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Não nos desculpemos de amar com a imaginação. Tudo é imaginação. O amor é imaginação concentrada; a poesia, imaginação difusa. (Joaquim NABUCO. Pensamentos soltos. Brasília: AN Editora, s/d, p.305)
4 comentários:
Olha a coincidência, caro Moacy. Terminei há poucos dias de ler, mais uma vez, Livro de Poemas. É um livro fundamental, embora tenha alguns poemas menores. Um dos veros que mais me agradam é aquele que que diz "cajus todos virgulados de castanhas". É, Jorge sabia das coisas. Um abraço.
Perfeita seleção, MOACY querido!!
Moacy! Que cartaz lindo! Ótima postagem. E quanto a citação: você se supera, hein, moço? Um beijo.
"Blow up" explode a cabeça da gente... é um daqueles filmes que deixam a gente sem reação no final, em estado catatônico...
Abraços!
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