A imagem e o crepúsculo.
Depois da tempestade.
Por Julio Segura [ in PhotoNet ]
BALAIO PORRETA 1986
nº 2110
Rio, 2 de setembro de 2007
POEMA de
Alexandre Lourenço
[ in Balaio 1215, 13/10/1999]
O amor impossível
não se intimida com os crepúsculos
de cimento azul.
Nem com as catedrais
grávidas de silêncios barrocos.
O amor impossível
constrói sua geometria do imprevisível.
E se basta em sua impossibilidade desenhada
pelo vôo noturno da gaivota de papel e melancia.
POEMA de
Zé Limeira
[ Republicado in Balaio 1213, de 14/10/1999 ]
Quando D. Pedro II
Governava a Palestina
E Dona Leopoldina
Devia a Deus e ao mundo
O poeta Zé Raimundo
Começou a capar jumento.
Daí veio um pensamento:
Tudo aquilo era boato.
Oito noves fora quatro,
Diz o Velho Testamento.
MÁXIMAS E MÍNIMAS DE STANISLAW PONTE PRETA
[ in Máximas inéditas de Tia Zulmira, 1976 ]
[] Bebia muito sim e nunca teve ressaca. Tinha mesmo era maremoto.
[] Crer em Deus é fácil. Nos padres é que é difícil.
[] Quando um amigo morre leva um pouco da gente.
[] Quem assiste à programação noturna da televisão não é capaz de imaginar que a diurna é pior.
[] Há sujeitos tão inábeis que sua ausência preenche uma lacuna.
APELIDOS SERTANEJOS
[ in No tempo de Lampião, 1930, de Leonardo Mota ]
Barata descascada : Menino muito alvo
Cara de milagre : Sujeito muito feito
Carrapeta doida : Sujeito irrequieto
Prego dourado : Menino louro
Saca de lã : Mulher corpulenta
Tatu enfezado : Sujeito baixinho
Venta de ripulego : Que tem o nariz achatado
A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS (30a / 111)
Trilhas no Grande Sertão, de M. Cavalcanti Proença. Rio de Janeiro : MEC, 1958, 104p. /Os Cadernos de Cultura, nº 114/ [] Provavelmente, o primeiro estudo sério sobre a obra maior de Guimarães Rosa, quando o Autor - com inegável competência crítica - analisa, por exemplo, 'Don Riobaldo do Urucuia, cavaleiro dos Campos Gerais' ou 'O plano mítico' do GS: V. Neblinuras, inaugurências, supersticionamentos: o sertão é o Sertão. Com sua luz, sua aridez, seus espantos, suas memórias. Com seus bichos. Com sua gente. Sempre. Sempre. A verdade é que, até hoje, "O embalo das frases de Grande Sertão: Veredas ainda persiste": um embalo de rede, doce, generoso e suave, que não quer acabar nunca. Nunca.
Panaroma do Finnegans Wake, de Augusto e Haroldo de Campos. São Paulo : Conselho Estadual de Cultura, 1962, 88p. [Há uma segunda edição, ampliada, pela Perspectiva, em 1971] Seleção de fragmentos da mais radical entre as mais radicais obras literárias do século XX, no campo da experimentalidade formal: "Ati mimlênios fim. Till thousendsthee. Lps. Lps. As chaves para. The keys to. Dadas! Given! A via a uma a una amém a mor além a riocorrente, depois de Eva e Adão, do desvio da praia à dobra da baía, A way a lone a last a loved a long the riverrun, past Eve and Adam's, from swerve of shore to bend of bay, devolve-nos por um cômodo vicus de recirculação de volta a Howth Castle Ecercanias". Fimprincípio. Joycecampos. Princípiofim.
|||||||||||||||||||||||
Há vinte anos atrás, se me perguntassem o que valia mais, se o autor, se a idéia, eu responderia sem hesitar que o autor. Agora já não sei mais, vivo incerto. O homem é coisa sublime, porém se as idéias prevalecessem sobre os homens, já de muito que a paz teria pousado sobre a terra. E ando saudoso da paz. (Mário de ANDRADE, A elegia de abril [1941], in Aspectos da literatura brasileira. São Paulo : Martins, s/d, p.195)
9 comentários:
Meu caro Moacy, parabéns pelo eclético post: muitas emoções mescladas! Sobre o crepúsculo, acabei me lembrando de fazer uma 'merchandising' sobre o meu livro "À beira do derradeiro solstício", que, apesar de nunca ter sido publicado, semanalmente tem seus poemas "postados" no blog em conjunto Miscelânea (lá dos Morcegos tem o 'link')!
Adorei os poemas citados e Stanilaw era um homem à frente de seu tempo, fonte ainda atual para quem quer começar num humor inteligente!
Sobre a fase inicial de Lean, gosto muito de Grandes Esperanças, ainda a melhor versão cinematográfica!
Sobre "As 7 Maravilhas de São Luís" (o que estás esperando para vir conhecer a "Ilha do Amor"?!), mandar-te-ei nesta semana as minhas sugestões e queria te fazer uma proposta: no próximo dia 8 será o aniversário de 395 anos da Cidade e gostaria muito que publicasses minha lista de maravilhas até essa data, quando farei uma homenagem à ilha que tanto amo! Abração!
Gostei de aprender alguns apelidos sertanejos e de ler as m�ximas de Stanislaw. Sempre me encantou a capacidade que alguns t�m de explanar uma id�ia ou um sentimento em t�o poucas palavras.
Perfeita reflex�o do grande M�rio de Andrade, ao mesmo tempo t�o antiga quanto a hist�ria da humanidade e t�o atual na sua continuidade.
Bom domingo e �tima semana, Moacy.
Beijo.
Belíssima a poesia de Alexandre Loureiro. O amor impossível se alimenta da impossibilidade de vivermos sem construir anseios, embora vãos. E sobrevivem à incerteza e ao sofrimento do talvez. Sobrevive simplesmente. Fantasticamente, em nós.
As máximas de Stanislaw são pérolas que trazem em si alegria para um dia chato como o domingo. E viva esse blog Porreta!
Um Beijo Moacy.
Ah! Abri um espaço para deixar minhas prosas. Contos, crônicas etc e tal. Rsrsrs.
Você é meu convidado. Apareça por lá e me presenteie com seus, sempre maravilhosos, comentários. Teu link, evidentemente, já consta no
www.prosanaveia. blogspot.com
Tem link dele no Poesia na Veia.
Bom Domingão!
Mininu! isso é melhor que armarinho de bairro: tem de tudo um bocado!
Tô besta.
Licencinha que vou vasculhar o balaio até o fundo!
Excelente postagem, Moacy! E que crepúsculo, cara! Só não é mais belo que os crepúsculos daqui, esses crepúsculos de lá...rsrs.
Um beijo.
Melhorando: os crepúsculos de lá não são mais belos que os de cá. ;)
Beijing.
Ontem vi na Tv, Ligya Fagundez Telles contando que uma vez Mario de Andrade, que gostava muito de ouví-la, ela muito mais jovem, mocinha, perguntou-lhe o que era mais importante: ser bonita ou ser inteligente. Ela na hora respondeu:
"ser inteligente" Ele caiu na gargalhada e disse: "ser bonito é mais importante. Eu que sou um 'canhão', sei disto".
Interessante ler isto aqui hoje.
Abs, Laura Diz
talvez....a virada seja a "ideia coletiva"...um terceiro eu-nosso...rs
Me descobri uma carrapeta doida e tatu enfezado...
Postar um comentário