Melancolia
de Adolfo Valente
in Photo Net
BALAIO PORRETA 1986
nº 2148
Rio, 27 de outubro de 2007
Cinema
O MELHOR DO CURTA
segundo a nossa leitura crítico-afetivo-libertinária
1. Noite e neblina (Resnais, 1955)
2. Um cão andaluz (Buñuel, 1928)
3. O olhar de Michelangelo (Antonioni, 2004)
4. La jetée (Marker, 1962)
5. O sangue das bestas (Franju, 1948)
6. Uma semana (Keaton & Cline, 1920)
7. Dois homens e um armário (Polanski, 1958)
8. Gente del Pò (Antonioni, 1943-47)
9. 69 primaveras (Alvarez, 1969)
10. Arraial do Cabo (Paulo César Saraceni
& Mário Carneiro, 1959)
11. Terra sem pão (Buñuel, 1932)
12. Aruanda (Linduarte Noronha, 1960)
13. Entr'acte (Clair, 1924)
14. Blábláblá (André Tonacci, 1968)
15. Guernica (Resnais, 1950)
16. Film (Beckett & Schneider, 1965)
17. Lot in Sodom (Watson, 1933)
18. Di (Glauber Rocha, 1976)
19. Zuiderzee (Ivens, 1933)
20. Chuva (Ivens, 1929)
Notas:
a. Embora, para muitos técnicos e estudiosos, os curtas não devam ultrapassar 22 minutos de projeção, levamos em conta realizações até 36-38 minutos.
b. Preferimos não levar em consideração curtas de animação (como o excelente Labirinto [1962], de Lenica), e episódios isolados de obras ficcionais, incluindo, aqui, títulos de Fellini, Visconti e Pasolini.
BREVES CONSIDERAÇÕES
SOBRE ALGUMAS PEQUENAS OBRAS-PRIMAS
Entre os curtas que já vimos - e mais de 60 poderiam ser destacados, ou mais de 140, se incluíssemos os filmes de animação - quatro deles merecem o nossos especial interesse, embora não sejam necessariamente os quatro melhores da história do curta-metragem: Noite e neblina, Um cão andaluz, O olhar de Michelangelo e La jetée. Amá-los, segundo o nosso entendimento, significa amar uma vertente importante do cinema: a vertente que extrapola qualquer espécie de espetacularização, seja ficcional seja documental.
Vejamos o caso de Noite e neblina. O tema é doloroso, terrivelmente doloroso. Ao mesmo tempo, cruel e melancólico, preciso e neblinante, Resnais antecipa, aqui, a sua preocupação ontológica com a memória. Como esquecer o horror dos campos de concentração da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial? Se o filme se realiza como documentário, também se realiza como a possibilidade de pensar a imagem do presente e do passado. Assim é, assim parece: da imagem-memória à imagem-história.
E o que dizer de Um cão andaluz, depois de tantos e tantos anos de leituras semiológicas, materialistas e psicanalíticas? A partir do famoso plano do olho/lua sendo cortado por uma navalha, tem-se o surrealismo como emblema que se quer significante cinematográfico. Não seria toda a obra de Buñuel - com algumas poucas exceções (haja vista o exemplo maior de Terra sem pão) - uma resposta ao que já está contido neste "cão andaluz" de mil e uma leituras? Decerto, essa resposta implicará novas cenografias e novos roteiros.
O comovente O olhar de Michelangelo, em sendo pura cinepoesia dos sentidos, é o próprio olhar de (Michelangelo) Antonioni: um olhar construído como "a" ficção das aparências entre o não-documentário e a não-simbologia de uma certa ficcionalidade. O uso da computação gráfica, em última instância, faz Antonioni, personagem e criador, criador e personagem, locomover-se no espaço do "tempo sagrado: cinema/catedral", e de forma tão delicada e sensível que os seus efeitos passam a ser mais um elemento estético dentro do filme.
Já o curta de Marker é um filmefotonovela, um filmefotopoesia: suas referências principais são a ficção científica, o ensaio poético e a a arte das impossibilidades textuais em busca de um "significante/significado fantástico". Através de imagens fixas - o único movimento "real" é um piscar de olhos femininos, que dura menos de um segundo -, Marker repensa a narrativa como o lugar da descontrução do espetáculo ficcional. E como nos outros curtas citados, "é preciso ver com olhos livres" (Oswald de Andrade).
de Adolfo Valente
in Photo Net
BALAIO PORRETA 1986
nº 2148
Rio, 27 de outubro de 2007
Cinema
O MELHOR DO CURTA
segundo a nossa leitura crítico-afetivo-libertinária
1. Noite e neblina (Resnais, 1955)
2. Um cão andaluz (Buñuel, 1928)
3. O olhar de Michelangelo (Antonioni, 2004)
4. La jetée (Marker, 1962)
5. O sangue das bestas (Franju, 1948)
6. Uma semana (Keaton & Cline, 1920)
7. Dois homens e um armário (Polanski, 1958)
8. Gente del Pò (Antonioni, 1943-47)
9. 69 primaveras (Alvarez, 1969)
10. Arraial do Cabo (Paulo César Saraceni
& Mário Carneiro, 1959)
11. Terra sem pão (Buñuel, 1932)
12. Aruanda (Linduarte Noronha, 1960)
13. Entr'acte (Clair, 1924)
14. Blábláblá (André Tonacci, 1968)
15. Guernica (Resnais, 1950)
16. Film (Beckett & Schneider, 1965)
17. Lot in Sodom (Watson, 1933)
18. Di (Glauber Rocha, 1976)
19. Zuiderzee (Ivens, 1933)
20. Chuva (Ivens, 1929)
Notas:
a. Embora, para muitos técnicos e estudiosos, os curtas não devam ultrapassar 22 minutos de projeção, levamos em conta realizações até 36-38 minutos.
b. Preferimos não levar em consideração curtas de animação (como o excelente Labirinto [1962], de Lenica), e episódios isolados de obras ficcionais, incluindo, aqui, títulos de Fellini, Visconti e Pasolini.
BREVES CONSIDERAÇÕES
SOBRE ALGUMAS PEQUENAS OBRAS-PRIMAS
Entre os curtas que já vimos - e mais de 60 poderiam ser destacados, ou mais de 140, se incluíssemos os filmes de animação - quatro deles merecem o nossos especial interesse, embora não sejam necessariamente os quatro melhores da história do curta-metragem: Noite e neblina, Um cão andaluz, O olhar de Michelangelo e La jetée. Amá-los, segundo o nosso entendimento, significa amar uma vertente importante do cinema: a vertente que extrapola qualquer espécie de espetacularização, seja ficcional seja documental.
Vejamos o caso de Noite e neblina. O tema é doloroso, terrivelmente doloroso. Ao mesmo tempo, cruel e melancólico, preciso e neblinante, Resnais antecipa, aqui, a sua preocupação ontológica com a memória. Como esquecer o horror dos campos de concentração da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial? Se o filme se realiza como documentário, também se realiza como a possibilidade de pensar a imagem do presente e do passado. Assim é, assim parece: da imagem-memória à imagem-história.
E o que dizer de Um cão andaluz, depois de tantos e tantos anos de leituras semiológicas, materialistas e psicanalíticas? A partir do famoso plano do olho/lua sendo cortado por uma navalha, tem-se o surrealismo como emblema que se quer significante cinematográfico. Não seria toda a obra de Buñuel - com algumas poucas exceções (haja vista o exemplo maior de Terra sem pão) - uma resposta ao que já está contido neste "cão andaluz" de mil e uma leituras? Decerto, essa resposta implicará novas cenografias e novos roteiros.
O comovente O olhar de Michelangelo, em sendo pura cinepoesia dos sentidos, é o próprio olhar de (Michelangelo) Antonioni: um olhar construído como "a" ficção das aparências entre o não-documentário e a não-simbologia de uma certa ficcionalidade. O uso da computação gráfica, em última instância, faz Antonioni, personagem e criador, criador e personagem, locomover-se no espaço do "tempo sagrado: cinema/catedral", e de forma tão delicada e sensível que os seus efeitos passam a ser mais um elemento estético dentro do filme.
Já o curta de Marker é um filmefotonovela, um filmefotopoesia: suas referências principais são a ficção científica, o ensaio poético e a a arte das impossibilidades textuais em busca de um "significante/significado fantástico". Através de imagens fixas - o único movimento "real" é um piscar de olhos femininos, que dura menos de um segundo -, Marker repensa a narrativa como o lugar da descontrução do espetáculo ficcional. E como nos outros curtas citados, "é preciso ver com olhos livres" (Oswald de Andrade).
5 comentários:
Caro Moacy,
bela lista, mas 20 curtas acaba sendo pouco para tantos titulos fantasticos... fiquei sentindo a falta de trabalhos de Brakhage, Maya Deren, Bill Viola, Richter, Man Ray, Leger, Dulac e tantos outros... dos brasileiros, os do Arthur Omar...
eu gostei muito de noite na neblina. beijos, pedrita
Caro IKEDA: De fato, os nomes citados são da maior importância. Por exemplo: pensei muito em incluir alguma coisa do Ray ou o 'Vocês' de Arthur Omar, mas como resolvi selecionar apenas 20 títulos, as lacunas se tornaram inevitáveis... Um abraço.
Entrando pra conhecer e bom saber onde encontrar dicas de cinema!!
Gostei.
Bela reflexão de Oswald de Andrade!
beijos e bom domingo
Moacy, você manja de cinema pra cacete.
O único que eu vi foi Um Cão Andaluz, de Dom Luis Buñuel. Gostei.
Um abraço. Bom domingo.
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