Fotografia de
Rene Asmussen
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Photo Net
BALAIO PORRETA 1986
n° 2167
Rio, 19 de novembro de 2007
A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
O negro no futebol brasileiro [1947], de Mario Filho. Pref. Gilberto Freyre. Rio de Janeiro : Mauad, 2003, 360p. [] Um dos grandes livros da sociologia tupiniquim, indispensável não apenas para aqueles que gostam do futebol e sua(s) história(s). Particularmente, a(s) história(s) do futebol carioca. "... reedição de um livro clássico sobre a formação da identidade nacional. Mario Filho [um dos grandes torcedores do Flamengo, irmão do tricolor Nelson Rofrigues], ao definir a contribuição do negro brasileiro ao futebol, completou um ciclo de obras - tais como Casa grande e senzala, Formação do Brasil contemporâneo ou Raízes do Brasil - voltadas para a interpretação do Brasil, que buscaram entender o que fazia, e faz, o Brasil ser brasileiro" (Epitácio Brunet, historiador da FAPERJ).
O negro no futebol brasileiro [1947], de Mario Filho. Pref. Gilberto Freyre. Rio de Janeiro : Mauad, 2003, 360p. [] Um dos grandes livros da sociologia tupiniquim, indispensável não apenas para aqueles que gostam do futebol e sua(s) história(s). Particularmente, a(s) história(s) do futebol carioca. "... reedição de um livro clássico sobre a formação da identidade nacional. Mario Filho [um dos grandes torcedores do Flamengo, irmão do tricolor Nelson Rofrigues], ao definir a contribuição do negro brasileiro ao futebol, completou um ciclo de obras - tais como Casa grande e senzala, Formação do Brasil contemporâneo ou Raízes do Brasil - voltadas para a interpretação do Brasil, que buscaram entender o que fazia, e faz, o Brasil ser brasileiro" (Epitácio Brunet, historiador da FAPERJ).
LIVROS, AUTORES & CREPÚSCULOS (1)
Costumo dizer que os livros são muito ciumentos. De modo que eu não posso manifestar preferência porque assim vou criar problemas internos aqui na [minha] biblioteca. Certa vez, fizemos uma exposição no Museu Lasar Segall. Você não imagina a dificuldade que tivemos para escolher 100 obras e documentos... Tive muita reclamação. Tinha que dizer aos livros preteridos: "Na próxima exposição você entra". (José MINDLIM. Os homens passam, os livros ficam [entrevista], in Brasil - Almanaque de Cultura Popular, n° 103. São Paulo, novembro de 2007, p. 16)
Decerto, a biblioteca de José Mindlin é incomparavelmente maior do que a minha, com seus escassos 6.800 volumes, entre livros, periódicos, folhetos de cordel, discos e alguns poucos dvd's. Não sou bibliófilo, bem entendido, e não são muitos os livros raros que habitam as minhas estantes e os meus sonhos de leitor e consumidor. Um ou outro Cascudo, um outro Guimarães Rosa, a coleção do Pererê, a coleção da Zap Comix, números isolados d'O Tico-Tico, alguns folhetos de cordel. Para mim, são obras especiais. Fazem parte do meu mundo, da minha história de vida, das minhas fantasias crepusculares. E fazem parte desde junho de 1958, quando ganhei de presente (oferecido por Neide Pereira Cirne, a segunda mulher de meu pai), em Caicó, a Antologia do folclore brasileiro cascudiana, marco inicial da minha biblioteca, com a seguinte dedicatória, quase epígrafe: "Faça-se dono, em relação ao zelo".
Mas a pergunta que me faço agora é bastante simples: - com licença poética, ou sem licença poética, seriam os livros de fato ciumentos? A questão que Mindlin se coloca, para além de sua poeticidade, tem uma certa aura metafísica, em última instância marcada por alguns toques simbolistas. De um simbolismo tardio, é verdade. É verdade. Em se tratando de um homem como Mindlin, quase centenário, é comprensível. Há simbolismos que são desejáveis, há metáforas que são necessárias. Há crepúsculos que são auroras camufladas. E se os livros são ciumentos o são em função de nossos próprios ciúmes, em função de nossas próprias angústias como leitores. Confesso que tenho ciúmes de certos livros; prefiro não emprestá-los. Muitas vezes, sequer mostrá-los. Sei, sei: eu passarei, eles ficarão. Bem cuidados, bem conservados, serão eternos.
Materialista assumido (mesmo levando em conta a minha particular devoção por Nossa Senhora de Sant'Ana), acredito no livro como objeto "sensualmente" material: concretude que pode se fazer essencialidade gráfica e temática. Mais do que o Velho Testamento, o Novo Testamento e o Alcorão, certos livros, para mim, são verdadeiros "templos sagrados" e assim devem ser materialmente compreendidos: Dom Quixote (Cervantes), A divina Comédia (Dante), Hamlet (Shakespeare), Grande sertão: veredas (Guimarães Rosa), Ensaios (Montaigne), basicamente. Entenda-se: são "templos sagrados" e não metafísicos, e que me impressionam por sua materialidade estético-literário-informacional. Como me impressionam, na esfera musical, as Vésperas da Virgem de Monteverdi, a Paixão segundo São Mateus, as Cantatas e a Missa em Si Menor de Bach, as Lições das Trevas de Charpentier.
Costumo dizer que os livros são muito ciumentos. De modo que eu não posso manifestar preferência porque assim vou criar problemas internos aqui na [minha] biblioteca. Certa vez, fizemos uma exposição no Museu Lasar Segall. Você não imagina a dificuldade que tivemos para escolher 100 obras e documentos... Tive muita reclamação. Tinha que dizer aos livros preteridos: "Na próxima exposição você entra". (José MINDLIM. Os homens passam, os livros ficam [entrevista], in Brasil - Almanaque de Cultura Popular, n° 103. São Paulo, novembro de 2007, p. 16)
Decerto, a biblioteca de José Mindlin é incomparavelmente maior do que a minha, com seus escassos 6.800 volumes, entre livros, periódicos, folhetos de cordel, discos e alguns poucos dvd's. Não sou bibliófilo, bem entendido, e não são muitos os livros raros que habitam as minhas estantes e os meus sonhos de leitor e consumidor. Um ou outro Cascudo, um outro Guimarães Rosa, a coleção do Pererê, a coleção da Zap Comix, números isolados d'O Tico-Tico, alguns folhetos de cordel. Para mim, são obras especiais. Fazem parte do meu mundo, da minha história de vida, das minhas fantasias crepusculares. E fazem parte desde junho de 1958, quando ganhei de presente (oferecido por Neide Pereira Cirne, a segunda mulher de meu pai), em Caicó, a Antologia do folclore brasileiro cascudiana, marco inicial da minha biblioteca, com a seguinte dedicatória, quase epígrafe: "Faça-se dono, em relação ao zelo".
Mas a pergunta que me faço agora é bastante simples: - com licença poética, ou sem licença poética, seriam os livros de fato ciumentos? A questão que Mindlin se coloca, para além de sua poeticidade, tem uma certa aura metafísica, em última instância marcada por alguns toques simbolistas. De um simbolismo tardio, é verdade. É verdade. Em se tratando de um homem como Mindlin, quase centenário, é comprensível. Há simbolismos que são desejáveis, há metáforas que são necessárias. Há crepúsculos que são auroras camufladas. E se os livros são ciumentos o são em função de nossos próprios ciúmes, em função de nossas próprias angústias como leitores. Confesso que tenho ciúmes de certos livros; prefiro não emprestá-los. Muitas vezes, sequer mostrá-los. Sei, sei: eu passarei, eles ficarão. Bem cuidados, bem conservados, serão eternos.
Materialista assumido (mesmo levando em conta a minha particular devoção por Nossa Senhora de Sant'Ana), acredito no livro como objeto "sensualmente" material: concretude que pode se fazer essencialidade gráfica e temática. Mais do que o Velho Testamento, o Novo Testamento e o Alcorão, certos livros, para mim, são verdadeiros "templos sagrados" e assim devem ser materialmente compreendidos: Dom Quixote (Cervantes), A divina Comédia (Dante), Hamlet (Shakespeare), Grande sertão: veredas (Guimarães Rosa), Ensaios (Montaigne), basicamente. Entenda-se: são "templos sagrados" e não metafísicos, e que me impressionam por sua materialidade estético-literário-informacional. Como me impressionam, na esfera musical, as Vésperas da Virgem de Monteverdi, a Paixão segundo São Mateus, as Cantatas e a Missa em Si Menor de Bach, as Lições das Trevas de Charpentier.
13 comentários:
Passando pra ver suas aplicadas, e sacar que tá tudo muito bão aqui.
Ótima semana.
Abração.
Moacy,
Penso que Mindlin quis fazer uma "boutade". Como (como?) você, ´não gosto de emprestar meus livros, nem meus DVD e fitas de vídeo. Aliás já tive experiências desagradáveis ao emprestar livros. A não ser a uma pessoa que sei sabe zelar por um livro e que vai devolvê-lo, não empresto essas coisas que guardo com tanto carinho. Um abraço.
Sei que passarei e eles ficarão mas tomo emprestado o "Testamento Lírico" de Renata Pallottini para dizer que "Meus livros lego às traças eruditas..."
Caetano disse com muita sabedoria que "os livros são objetos transcendente, mas podemos amá-los do amor táctil (...)"
Se os livros sentem ciúme, não sei... Mas gente, quando gosta de livro, sente ciúme que dói! Eu não gosto de emprestar os meus, certos livros eu nem comento que tenho, para evitar que peçam e eu faça cara feia.
Tudo muito bom por aqui.
Abraço!
Ada (www.meninagauche.blogger.com.br)
(adalima@gmail.com)
Moacy:
Os livros eu não sei, mas eu sou ciumento em relação eles. Os meus não empresto e não dou. Quando tomo emprestado, reluto em devolver (hehehe...)
Um abraço e uma boa semana.
ahahahahahahahah concordo com você. os livros são realmente ciumentos. tenho uma pilha na minha mesa de cabeceira e eles disputam a minha atenção.
Moacy, grata pela visita!
Sou potiguar de Areia Branca, mas moro em Natal há sete anos.
Abraço!
Ada
Acho pouco provável algum amante da literatura não ter ciúmes dos seus livros. Ainda ontem, arrumando a minha parca biblioteca, me peguei pensando pq não emprestá-los? É meio dificil admitir, mas bate um medo grande de nunca mais vê-los.
Abraço do Seridó meu caro Moacy. Saudade de vir aqui, conferir seus posts fantásticos.
livros livros... por que tê-los... mas se não tê-los, como sabê-los? a relação mágica com os livros quase sempre recai em grande volúpia ou implacável sofrimento... o melhor é se entregar à palavra, pedra que fura e encanta.
um beijo aqui do nosso Seridó.
É a Biblioteca de Babel de Borges!
Gostei do post da vez.
Apareça no Cinco Espinhos!
Moacy, adorei essa metáfora sobre os livros ciumentos. Ciúme é algo tão humano, na verdade é animal. Até a gata daqui de casa é ciumenta. Os livros são tão animais. Eu, você, todo mundo, somos tão animais e tão humanos e tão livros e tão livres...rsrs. Gostou do meu subpensamento vivo? (como diria meu conterrâneo Marconi Leal).
Um beijo, Menino. Gosto de tu pra caralho...rsrs.
Moacy, para mim
"Os livros são como beijos
Não podem ser banalizados.
Receber um livro de alguém
(mesmo emprestado!)
É, pois, como ganhar um beijo
Recheado de carinho
Presentear alguém com um livro
Encerra, igualmente um gesto carinhoso
somente comparado
Ao carinho de um beijo".
Excelente essa sua matéria sobre os livros. Abraços.
Ah! Muito bem! Agora estou mais seguro. Pensava que era muito feio não querer emprestar alguns livros.
Abraços...
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