Claridade Clara Claridade:
a alegria das cores
em
Pierella Bedoyan
[ cf. Eu Faço Arte e Lavo Panelas ]
BALAIO PORRETA 1986
n° 2282
Rio, 11 de abril de 2008
Iara Maria Carvalho
[ in Mulher na Janela ]
se quero precipícios
é porque de chuva
me visto
me ouso
me abuso
quero no vôo da vertigem
descobrir-me virgem e abismo
pedra e absinto
porque não me dói
o enigma da esfinge
A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS:
LIVROS & AUTORES
Cantadores [1921], de Leonardo Mota. Capa & ilust. Aldemir Martins. Fortaleza : Imprensa Universitária do Ceará /1960/, 304p. [] Um livro definitivo, ou quase, sobre a poesia popular brasileira, a partir de suas raízes nordestinas, considerando-se o rico mapeamento de nomes & poemas, como o incrível Luís Dantas Quesado, paraibano-cearense, que glosou o mote ‘Nem todo pau é esteio’ (p.115-6) com exemplar vivacidade, assim como nos sensibilizou e ainda nos sensibiliza com o inspirado Beijo (p.116), de autoria às vezes questionada, é verdade. No final, há dois capítulos deliciosos: o primeiro, de “causos sertanejos” (p.327-77); o segundo, de vocábulos e expressões regionais da época, anos 10 do século passado (p.279-302). Trata-se de um elucidário verdadeiramente porreta: brochote (= rapaz atrevido, pessoa sem importância); cabra da rede rasgada (= indivíduo desabusado); desmastreio (= contratempo); dormir chiquerado (= dormir separado da mulher); entusiasmado (= orgulhoso, atrevido); entrançar (= vagabundar); farrambamba (= gabolice, fanfarronada); felpa (= qualidade); grungunzar (= remexer); lambugem (= vantagem que se propõe numa aposta); mandureba (= cachaça); na rosca da venta (= face a face); pilóia (= cachaça); quengo (= cabeça, ineligência). [Já quenga, como se sabe, é rapariga, puta, meretriz.] Etc. e tal, etc. e tal.
Velhos costumes do meu sertão, de Juvenal Lamartine de Faria [1954 (1963)]. Natal : Sebo Vermelho; Mossoró : Fundação Guimarães Duque, 3ª ed., 2006, 127p. [] Importante documento antropológico, que é substancioso "depoimento de um sertanejo sobre o sertão do seu tempo" (JLF, setembro de 1963). Um dos livros capitais para que possamos compreender, em toda a sua plenitude social e cultural, o nosso Rio Grande: o Rio Grande do Norte de todas as paixões e de todos os alumbramentos, de todos os seridós, de todos os sonhos, de todas as aventuras e de todas as descobertas – o Rio Grande de todos nós, potengíacos ou não, agrestinos ou não, mossoroenses ou não, seridoenses ou não. Seus temas, variados, recobrem a casa-grande, as indumentárias, a alimentação, a escola, as relações de parentesco, a hospitalidade sertaneja, as festas de casamento, as festas populares e religiosas, os vaqueiros e as vaquejadas, os cangaceiros, os matadores de onça. E mais. E mais. Os velhos costumes do nosso sertão, apesar da globalização, estão mais vivos do que nunca. E quem nunca tomou um banho de chuva, ou viu um açude sangrar, no inverno, não sabe o que é o sertão com cheiro de terra molhada. Claro, há também o sertão da seca, há o sertão da fome, o sertão da miséria..
7 comentários:
Olá Moacy,
'a alegria das flores', coisa mais linda, vou copiar e colar.
gostei bem do poema
'porque não me dói
o enigma da esfinge'
fiquei pensaaaaaaaannnnndo
escrevi pra você
abração
Muito boa postagem: belas cores, belo poema, contundentes comentários a respeito dos textos, sobretudo no tange ao sertão globalizado, suas mazelas, seus avanços, seus costumes... Cumpre lembrar os fetiches em torno do tema, o que me faz recomendar-lhe, caro Moacy, acessar o blog de Caio Muniz: www.camelagemvirtual.zip.net
Lá tem um texto nessa perspectiva. Um abraço.
tentando voltar ao mundo dos blogues, em meio a uma trabalheira daquelas... ;)) beijo grande.
:) grande honra!
olá Moacy,
abraço
Lindo esse Coração em fuga! Lindo!
obrigada pelo privilégio de ocupar um espaço de tão delicado (e afiado) Balaio!
um beijo de todos!
Iara
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