n° 2281
Rio, 10 de abril de 2008
Para o público natalense
MANIFESTO
A magia da sala escura tem início bem antes do apagar das luzes. Na realidade, começa com a compra criteriosa das "baganas", a escolha do lugar mais estratégico e que ofereça um ângulo perfeito de visão, a procura da posição mais confortável na poltrona. Quem curte cinema sabe muito bem o quanto esse ritual é gostoso.
Mas existe uma coisa mais gostosa do que isso: observar a platéia deslumbrada e envolvida com as nuances de cada trama, com as peripécias de cada personagem, com a atuação da estrela preferida. Um prazer que o Cineclube Natal faz questão de proporcionar ao público desde maio de 2005.
Mas o questionamento que nós fazemos hoje é o seguinte: onde está o público do Cineclube? Afinal, nós sabemos que ele existe. Estaria subjugado ao controle da TV? Possuído por uma preguiça tão descomunal, a ponto de não poder se locomover até a sessão mais próxima? Ocupado com uma agenda interminável de compromissos sociais? Preso aos grandes atrativos das salas de cinema dos Shoppings Centers?
Diante dessa inexplicável fuga de espectadores, de todas as sessões, não restou ao Cineclube outra alternativa a não ser REDUZIR o número de sessões. Por isso, a partir do mês de abril a programação cai de sete para quatro exibições mensais, se mantendo apenas uma de cada projeto de exibição: “Cine Vanguarda”, no Teatro de Cultura Popular ‘Chico Daniel’; “Cine Café”, no Nalva Melo Café Salão; “Cine Assembléia”, na Assembléia Legislativa; e “Cine Curumim”, a nova sessão de cinema infanto-juvenil, em parceria com o SESC/RN, no Cine SESC, da avenida Rio Branco.
Mais do que um esclarecimento, este manifesto também é um grito de alerta, um desabafo provocativo. Uma forma de dizer: "A sua cidade tem opções culturais, sim. Programas baratos, gratuitos e de qualidade. Talvez o que falte em você é coragem de levantar desse sofá, meu amigo".
Portanto, que fique bem claro: o Cineclube não é só entretenimento. Você que quer somente ver o filme, será muito bem-vindo. Mas o espaço é também de interação, socialização e debate. Aonde o contemporâneo e o clássico se complementam, a paixão pelo cinema e o trabalho voluntário se encontram, a troca de idéias e visões de mundo sem intelectualismo exagerado, convivem lado a lado.
Portanto, SUA AUSÊNCIA é o único motivo de estarmos reduzindo o número de sessões, indo, a contragosto, no sentido oposto ao desenvolvimento cultural. Nossas atividades só têm sentido se VOCÊ estiver presente. Caso contrário, seremos obrigados a encerrar nossas atividades. E você, meu amigo, continuará fazendo parte da legião de espectadores acostumados a repetir aquele velho e gasto discurso: "Não há nada de bom para ver nesta cidade”.
Cineclube Natal, 08.04.08
4 comentários:
Caro Moacy, o seu Balaio, além de fornido de poesia da mais gostosa, contém o timbre irônico das boas inquietações humanas. Se eu morasse em Natal, com certeza não perderia uma sessão. Ou perderia? Seria eu mais uma das que fomenta um discurso hipócrita e comodista acerca das nossas opções culturais, com a "desculpa" de morar no interior?! Há quem possa pensar assim... mas o que aparece por aqui, de bom, vou curtindo...e ampliando os horizontes, sempre que possível.
A propósito, querido Moacy, A Mulher na Janela está de volta. E com saudades...
Um grande beijo...
Iara Maria
"Bagana". Este termo estava praticamente extinto da minha mente.
Quando estava na universidade, eu e a maioria dos meus colegas sabíamos quem era Alan Resnais, Akira Kurosawa, Buñuel, Orson Wells, Antonioni, Wim Wenders, e outros do gênero. Não tenho estatísticas, mas acredito que pelo menos 50% dos assentos de uma sala de cineclube era freqüentado por universitários. Um programa bom e barato. Até as "baganas" eram vendidas por preços módicos.
Hoje, se observar nos postos de combustíveis com loja de conveniências, há uma concentração de universitários com automóveis de equipamento de som que aproxima-se de um trio elétrico. Eles escutam músicas de: Parangolé, Pisirico, Xande, Bonde do Tigrão, Sany Pitbull, dentre outros do gênero.
Diz-me o que ouves, e eu te direi quem és.
Acredito que a história deu o sinal verde para o começo da decadência dos cineclubes. Infelizmente.
Um abraço!
Amigo, muito bom a divulgação desse manifesto. Infelizmente as coisas aqui na noiva do sol é assim. quando não tem, o povo reclama. e quando há algo a se aproveitar, o povo é ausente. como diria minha sábia avó: "hem, hem, se cria não".
um beijo, S. (sua poesia lá no bicho ficou genial, obrigada)
Olá! Pode publicar como Pierella Bedoyan mesmo. Obrigada Moacy, vc pretende publicar com um texto? São textos seus aqui?
parabéns
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