Jeanne Dielman ...,
de Chantal Akerman,
lançado em 1975,
o ano de
Barry Lyndon (Kubrick)
O passageiro (Antonioni)
A viagem dos comediantes (Angelopoulos)
Salò (Pasolini)
BALAIO PORRETA 1986
n° 2353
Rio, 28 de junho de 2008
... Jeanne Dielman ... um dos filmes mais radicais e corajosos já feitos, com um poder de rigor e precisão impensáveis.
(Marcelo Ikeda)
CINEMA 2008
Os melhores filmes vistos, até o momento
Nos cinemas & centros culturais:
- Danação *** (Tarr, 1988)
- Tilai ** (Ouedrago, 1990)
- O vento ** (Sisé, 1982)
- Sangue negro ** (Anderson, 2007)
- Serras da desordem ** (André Tonacci, 2007)
- 4 meses, 3 semanas, 2 dias ** (Mungiu, 2007)
- O sol ** (Sokurov, 2005)
- Estômago ** (Marcos Jorge, 2007)
- A banda * (Kolirin, 2008)
- Onde os fracos não têm vez * (Cohen, 2007)
- Antes que o diabo saiba que você está morto * (Lumet, 2007)
- SOS Saúde * (Moore, 2007)
- Desejo e reparação * (Wright, 2007)
- A sociedade do espetáculo * (Debord, 1973)
Em casa:
- Jeanne Dielman... *** (Akerman, 1975)
- Mãe e filho *** (Sokurov, 1997)
- Lições de história *** (Straub & Huillet, 1972)
- Vinyl *** (Warhol, 1965)
- Dans le noir du temps *** (Godard, 2002), curta
- Diaries, notes and sketches ** (Mekas, 1969)
- Sarabanda ** (Bergman, 2003)
- Velvet Underground & Nico ** (Warhol, 1967)
- Diário de uma prostituta ** (Marcelo Ikeda, 2007), curta/vídeo
- A carta * (Luiz Rosemberg Filho, 2008), curta/vídeo
O MELHOR FILME, EM MUITOS E MUITOS ANOS
Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (Bélgica/França, 1975), de Chantal Akerman, com Delphine Seyrig.
Uma obra-prima não se constrói fácil, assim como, muitas vezes, não se faz fácil a sua leitura. Um filme como Jeanne Dielman ..., da diretora belga Chantal Akerman, com suas 3:20h em pouquíssimos ambientes cenográficos, é rigoroso exemplo da mais perfeita e ousada (anti)narratividade minimalista: formalmente contidos são os seus planos e enquadramentos, as suas cores interiores, os gestos de seus personagens, a sua trilha sonora (composta, basicamente, de pequenos ruídos e inevitáveis silêncios), a sua ação dramática aparentemente - mas só aparentemente - nula (a lembrar os "tempos mortos" de Antonioni, a tessitura formal de Straub & Huillet, o absurdo temático de corte camusiano). O tédio e o gesto gratuito da mulher (DS) no final são, ao mesmo tempo, perturbadores e sufocantes. O filme em nenhum momento se deixa seduzir; neste particular, aproxima-se de Straub e não de Antonioni. A diretora, com seu rigor exasperante, dilacerado, visceral, faz do cinema a própria especificidade cinematográfica. Por outro lado, seu olhar sobre o mundo pequeno-burguês de uma dona-de-casa viúva, que recorre à prostituição para sobreviver com um mínimo de dignidade possível, é cruel e desencantado. E o final, trágico, até mesmo por seu absurdo, não poderia ser outro. Neste sentido, o último plano do filme, por mais frio e racional que seja (de resto, como os demais planos da obra), carrega, em seu interior, as marcas de uma emoção inesperada, sobretudo porque a tragédia que o contém não estava anunciada nas 3:15h da trama conteudística até aquele momento, lenta e pausadamente construída como se fora a dolorosa engenharia de alguns raros sentimentos não-explicitados. Sem dúvida, um filme para poucos; um filme como poucos.
(Publicado no Balaio, n° 2216, em 26/janeiro/2008.)
Um comentário:
Ótima, Moacy, a sua crítica. Como você o viu em casa, suponho que foi em DVD. Assim, se ele aparecer por aqui, não vou perder a oportunidade de assisti-lo, até porque não conheço nada da diretora. E Sarabanda é um Bergman dos seus maiores momentos. Abraço.
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