domingo, 27 de julho de 2008



Homenagem a
MAN RAY
Poema/Processo
de
Moacy Cirne
a partir de foto de Man Ray
e da ilustração do blogue de Joana Reis


BALAIO PORRETA 1986
n° 2381
Rio, 27 de julho de 2008

Sempre houve, e continua a haver,
dois motivos em tudo o que faço:
a liberdade e o prazer.
(Man Ray)


ESTRANHOS SEMELHANTES
/ fragmentos /
Moacy Cirne
Comunicação apresentada, em maio de 2007,
no seminário Segregações,
do Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos,
no Rio de Janeiro
Dezembro de 1959: pela primeira vez, em meus 16 anos, ou um pouco mais, à beira dos 17, encontrava-me longe da minha região. Encontrava-me em São Paulo, passando as férias escolares de dezembro/janeiro na casa de uma tia - a tia Geralda. E não entendia como seus amigos e vizinhos me chamavam de "baiano", se eu sequer conhecia a Bahia. Ou, então, por que me apelidavam de "nortista", quando o Rio Grande do Norte, apesar do nome, era seguramente um Estado nordestino. E se eu os chamasse de "paranaenses" ou de "gaúchos"? Qual seria a reação deles?
(...)
Mais e mais, a possível ignorância paulistana em relação ao Nordeste não me parecia propriamente preconceito - de resto, uma idéia que, à época, me era estranha. E só uma vez fiquei irritado com aquela situação: quando uma senhora me perguntou, com a cara mais inocente do mundo, se na "Bahia" a gente tinha emissoras de rádio. (Ela não ousara perguntar se tínhamos canais de televisão; registre-se que não os tínhamos, na ocasião.) Respondi-lhe, com ironia: "Emissoras de rádio? Nunca ouvi falar! Aliás, também nunca ouvira falar em cinema, só agora conheci um: que coisa mais estranha, não? Aquelas pessoas todas se agarrando, se beijando, ou então brigando umas com as outras, ou correndo feito loucas, nunca vão ao banheiro, não almoçam direito, não sabem dançar xaxado, não conhecem o valor do silêncio. Que coisa mais estrambótica. Na minha terra não tem dessas esquisitices não". Até hoje não sei o que ela achou da minha resposta, se a levou a sério ou não, se me considerou doido varrido ou não.
(...)
Algumas indagações se fazem necessárias, neste espaço e neste agora: terei sentido na pele o famoso "choque cultural" que nos dividia? Em algum momento, deixei de ser "baiano" para me tornar "paraibano", em tom preconceituoso? Ora, todos sabem da minha admiração pela Paraíba e por Pernambuco, sobretudo, entre os vários Estados nordestinos. Temos semelhanças, mas igualmente diferenças profundas. A nossa maneira de sentir, de olhar, de falar, de amar, tem nuanças particulares. No próprio Rio Grande do Norte há consideráveis diferenças entre o homem do litoral, na região da Grande Natal, e o sertanejo do Seridó, sem contar com as outras regiões. ... Como, então, não vivenciar as diferenças entre o Sul Maravilha e o Nordeste Glorioso? Não seriam vivências que se existencializam com o tempo? Como lidar, pois, a partir de nossas memórias afetivas, com essa imponderável existencialidade que nos arrebata e nos faz sonhar?
(...)
Talvez eu fosse um bicho-do-mato, arredio que só a mulesta, mas, decididamente, se eu era um estranho, era um estranho entre estranhos: doces e inquietos estranhos que ficávamos horas nas filas do Paissandu para ver o último Godard, ou o último Bergman, ou o último Buñuel; deslumbrados e inquietos estranhos que pesquisávamos as histórias-em-quadrinhos e suas manifestações gráficas e culturais; loucos e inquietos estranhos que ousávamos enfrentar a fúria dos militares encastelados no Planalto Central; apaixonados e inquietos estranhos que, tricolores, vibrávamos, no Maracanã, com as vitórias do time de Cartola, Chico Buarque, Tom Jobim, Mário Lago, Sérgio Porto, Tio Silvino, Tio Walfredo e Nelson Rodrigues; libertários e inquietos estranhos que fundávamos o poema/processo, contra o poder literário constituído, espantando pela radicalidade. E se é verdade que a solidão e a timidez dos primeiros anos no Rio doíam um bocado, e se a saudade do cheiro da terra molhada do sertão e o ardor distante das mulheres amadas de Caicó e Natal pesavam como navios flamejantes e nuvens grávidas de crepúsculos, também é verdade que as diferenças aqui vividas e sentidas abriam espaços para a liberdade intelectual e criadora que me interessava.
E nelas mergulhei.
E nelas me encontrei.
E nelas me tornei mais e mais nordestino.
Mais e mais norte-rio-grandense.
Mais e mais seridoense.
E mais brasileiro.

7 comentários:

benechaves disse...

Moacy: eu nunca entendi este lado geográfico de nosso Estado. Por que chamam de 'Rio Grande do Norte' se estamos numa região nordestina? Não seria lógico chamá-lo de 'Rio Grande do Nordeste', como também o chamam corretamente de 'Rio Grande do Sul'?

Um abraço...

Anônimo disse...

Obrigada Moacy pela visita lá no elienenews. Quanto ao confuso, aceito sugestões. O pior é que eu estou meio atordoada mesmo e tudo parece confusão. bj

Anônimo disse...

pow cara seu blog é muito legal!...será meu caminho nesse mundo virutual...rrsrs venha até o DIARIO tbm e esperamos q vc goste ta bom!... Olha só agora eu quero pedir pra vc uma força um tanto romantica...la no PALACIO REAL...esta tendo uma votaçao pr principe e princesa e eu queria muito ganhar junto com a minha namorada Nizi...por isso peço pr vc essa força...corre lá por favor e vote assim...NIZI PRINCESA E VINI PRINCIPE...AMBOS DIARIO DE UMA PAIXAO...por favor vote na gente???..rsrs caso vc possa vai ai o endereço!... http://kukula.sites.uol.com.br/salaocultural.html É ISSO SE VC PUDER NOS AJUDAR!!..MAIS OLHA O CONCURSO TERMINA DIA 27 HOJE!!...CORRE POR FAVOR ...RSRSR UM BEIJO GRANDE!..ÓTIMO FDS! Viini & Nizi

Anônimo disse...

Oi lindo,vim agradecer o seu voto lá no Palacio,e vi seu coment no Diario tbm,rsrsrs,na verdade td nao passa de uma brincadeira pra descontrair, e vc sabe como é mulher nessas horas faz o namorado correr feito doido pra ganhar,vc disse em estarmos vivendo em um mundo de fantasia, olha pra ser sincera nao estamos mais eu acho q seria a melhor coisa se estivessemos pq assim nao teriamos q ver tanta desigualdade social,tantas doenças,tantas mortes então as vezes brincamos um pouco pra nao viver só de realidades q na maioria das vezes são cruéis e mtas vezes injustas.Bom mais gostei de vc e do seu jeito de encarar td só no realismo e espero q a gente possa trocar coments sobre outros assuntos q não seja fantasiosos tbm ok.A proposito vou montar um site onde o assunto será como as pessoas pensam no proximo vai ser interessante,qdo estiver pronto espero contar com a sua visita,passarei por aqui mais vezes pra te deixar informado.Um beijinho no coração e um lindo inicio de semana.

Anônimo disse...

A cultura mundial num só blog. Parabéns!!! Adorei!!

Anônimo disse...

olá Moacy tive a honra de interpretar um texto de sua autoria no auto de Natal 2005 com a direção de Paulo Jorge. eu era o muçulmano Serquiz! olha esses paulistas são assim mesmo quando eu estava em SP me perguntaram se aqui em Natal Tinha serviço de Táxi! acredita em pleno SEcXXI!!

Adorei seu blog amigo e uma coisa que eu digo nada melhor do que a nossa casa! seja bem vindo ao RN!!!!!

Anônimo disse...

Conta-se que o escritor, dramaturgo, historiador, enfim, o gênio potiguar Câmara Cascudo, ao emitir um cheque num supermercado paulistano, aí pelos anos 60, foi indagado pela moça do caixa onde ficava essa tal cidade de Natal. De bate-pronto respondeu: "minha filha, fica ali, entre Macaíba e Parnamirim, no Rio Grande do Norte".