BALAIO PORRETA 1986
n° 2383
Rio, 29 de julho de 2008
Se a literatura se transformasse em pura propaganda ou em puro divertimento, a sociedade recairia no lamaçal do imediato, isto é, na vida sem memória dos himenópterros e dos gasterópodes. Certamente, nada disso é importante: o mundo pode muito bem passar sem a literatura. Mas pode passar ainda melhor sem o homem.
(Jean-Paul Sartre. O que é a literatura, 1948)
POEMA
Ada Lima
[ in Menina Guache ]
Sonhei um poema.
Ele parecia uma nuvem
esgarçada entre as candeias dos anjos
oprimidas pelos músculos da noite
retesados dos esforços para estender
Tentei tocar o poema.
A nuvem inchou e derramou palavras
que escaparam feito água entre os dedos.
Acordei muda.
Ada Lima
[ in Menina Guache ]
Sonhei um poema.
Ele parecia uma nuvem
esgarçada entre as candeias dos anjos
oprimidas pelos músculos da noite
retesados dos esforços para estender
[ seu tapete escuro sobre o mundo.
Tentei tocar o poema.
A nuvem inchou e derramou palavras
que escaparam feito água entre os dedos.
Acordei muda.
Memória
ASSIM ERA A CENSURA NA ÉPOCA DA DITADURA
A história a seguir foi contada no ENE 2007, em Natal, na mesa-redonda sobre o Pasquim. Um corte no tempo para início dos anos 70. Um general era o responsável pela censura dentro do jornal Pasquim. Acontece que um dia implicou com determinado texto, um poema de Luís Carlos Maciel. O cartunista Ziraldo não entendeu o significado da censura imposta ao colega de redação: ""Pô, general, por que vai cortar o poema do Maciel. Isso aí... isso aí é um poema que não se entende nada, não tem nem pé nem cabeça. Mas por que é que vai cortar isso?" E o Genetal, impávido, mais sério do que nunca, assim respondeu, segundo relato do próprio Maciel: "Ah, por causa disso. Por que o Maciel fez um poema que não tem pé nem cabeça, não se entende nada? Porque ele quer dizer o seguinte: Eu não posso escrever um poema que se entenda porque tem censura no Brasil. Então eu escrevo um poema que não se entende nada. Ele tá querendo dizer que tem censura. Como não tem censura no Brasil, isso é uma mentira e eu veto". Lógica perfeita, não?
ASSIM ERA A CENSURA NA ÉPOCA DA DITADURA
A história a seguir foi contada no ENE 2007, em Natal, na mesa-redonda sobre o Pasquim. Um corte no tempo para início dos anos 70. Um general era o responsável pela censura dentro do jornal Pasquim. Acontece que um dia implicou com determinado texto, um poema de Luís Carlos Maciel. O cartunista Ziraldo não entendeu o significado da censura imposta ao colega de redação: ""Pô, general, por que vai cortar o poema do Maciel. Isso aí... isso aí é um poema que não se entende nada, não tem nem pé nem cabeça. Mas por que é que vai cortar isso?" E o Genetal, impávido, mais sério do que nunca, assim respondeu, segundo relato do próprio Maciel: "Ah, por causa disso. Por que o Maciel fez um poema que não tem pé nem cabeça, não se entende nada? Porque ele quer dizer o seguinte: Eu não posso escrever um poema que se entenda porque tem censura no Brasil. Então eu escrevo um poema que não se entende nada. Ele tá querendo dizer que tem censura. Como não tem censura no Brasil, isso é uma mentira e eu veto". Lógica perfeita, não?
8 comentários:
para início de conversa: bela foto. belo poema. blog muito bom, sempre, ponto
Moacy, que foto! Vou copiar aqui!
Abraço grato.
Ada
Moacy,
Já conhecia as frases de Sartre sobre a literatura e o homem e, modestamente, discordo. E assim era a censura e os que a faziam naquela tenebrosa época. Um abraço.
Moacy, adorei esse negócio de sonhar com o poema e da nuvem que derrama palavras. Ai que lindooo.
Beijos!
Oi Moacy.
Na luta e conferindo as novidades do Balaio. Bela a foto; edificante a histórinha (no sentido de mostrar o tortuoso funcionamento da mente dos generais).
Um abraço.
OI! Uau. A gente vem aqui e fica até sem jeito de comentar. É como uma aula, que não precisa matar. Depois passe lá no meu pedaço para ver uns pequenos textos. Acho que vc vai gostar. Bjs.
OPs! Falha minha! O meu pedaço é
SUZANATHOMPSON.ZIP.NET
bjs de novo.
Caro mestre Moacy,
Essa "lógica" do censor demonstra o quão enlouquecidos eram aqueles tempos... Carpe Diem.
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