sexta-feira, 29 de agosto de 2008


1.
Clique na primeira imagem
para ver o trêiler anglo-americano de
Pierrot le fou (Godard, 1965)
2.
Clique na segunda imagem
para ver o trêiler original de
La chinoise (Godard, 1967)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2413
Rio, 29 de agosto de 2007


Unida pelo amor ao cinema, pela necessidade de novidades, pela vontade de questionar e por uma sensação de perigo, que não era nem tão real, nem tão imediato, a juventude da classe média carioca viabilizou o novo cinema. O grande diferencial do espaço começou então a se definir em mais elementos do que a seleção da programação. Sessões especiais ocupavam as noites de sexta, 22h, e sábado, meia-noite. ... Para os espectadores mais engajados, estes horários ofereciam o atrativo extra da possibilidade de uma animada noitada de discussões nos bares ao lado.
(Rogério DURST. Geração Paissandu, 1996)


O FIM DO PAISSANDU?

A notícia caiu como uma bomba sobre os cinéfilos mais antigos: o Cinema Paissandu, emblema de uma época no Rio (segunda metade dos anos 60, basicamente), fechará suas portas. Para mais uma igreja evangélica? Para um supermercado? Não se sabe ao certo; ao que parece, o Grupo Estação não está mais interessado em mantê-lo. Alguns afirmam que ele será fechado apenas para uma ampla reforma. Que seja assim. Símbolos não podem ser destruídos. E o Paissandu foi um símbolo na vida da cidade. Aliás, quando conheci o Rio, em setembro de 1966, antes de fixar residência aqui (em março do ano seguinte), tive a oportunidade de ver um de seus lançamentos mais cultuados: Pierrot le fou, de Godard. Tornei-me freqüentador, a partir de 67, das famosas sessões promovidas pela Cinemateca do MAM, aos sábados. Quantas e quantas vezes, depois dos filmes, fiquei nos bares (Cinerama, hoje Garota do Flamengo; Oklahoma, hoje completamente remodelado) discutindo sobre política, poesia, o mundo, as mulheres e, claro, os filmes? Inúmeras. Inúmeras. Éramos sonhadores. Sonhávamos com a Revolução. Com a Utopia. Com o Novo Cinema. E hoje já posso revelar sem maiores problemas: foi depois de ter visto A chinesa, no templo sagrado dos amantes do bom espetáculo cinematográfico, e em função do poema/processo e das várias leituras que eu fazia então (Marx, Lênin, Mao, Althusser), que resolvi me tornar militante do Partido Operário Comunista; em seguida, vivi uma longa experiência na Política Operária Marxista-Leninista. Sem perder a ternura, jamais. A possível morte do Paissandu será como a morte de um ente querido. Há que lamentar.


OS FILMES QUE MARCARAM O PAISSANDU
segundo
Rogério Durst
[ in Geração Paissandu. Rio, 1996 ]

Cinzas e diamantes (Wajda, 1958)
Acossado (Godard, 1960)
Ano passado em Marienbad (Resnais, 1961)
Jules et Jim (Truffaut, 1962)
Deus e o diabo na terra do sol (Glauber Rocha, 1964)
Alphaville (Godard, 1965)
Pierrot le fou (Godard, 1965)
A chinesa (Godard, 1967)
Week-end à francesa (Godard, 1967)
A classe operária vai ao paraíso (Petri, 1971)

Nota1:
Um ou dois desses filmes não foram lançados no Paissandu,
mas lá fizeram grande sucesso quando relançados.
Nota2:
Também marcaram época, no Paissandu,
Terra em transe (Glauber Rocha), A guerra acabou (Resnais),
A bela da tarde (Buñuel), Trinta anos esta noite (Malle),
Persona (Bergman), O desprezo (Godard),
os festivais de curta do Jornal do Brasil.
Nota3:
A deliciosa e irônica canção Mao Mao,
que se ouve em La chinoise,
é de Claudes Channes.

7 comentários:

Marina disse...

Sempre bom passar por aqui.

Um beijo!

Jens disse...

Pois é Moacy, aqui em POA, cinema só nos shoppings. Também tínhamos um cinema de arte, o Baltimore, onde assistíamos Bergmann e filmes italianos. Hoje é um templo do Edir Macedo. Os cines Castelo e Roma (dois pulgueiros no bairro Azenha) tiveram destino semelhante. O primeiro exibia em sessão dupla filmes de sacanagem. O segundo qualquer película que jorrasse muito sangue. Um virou igreja evangélica e o outro casa de bingo, hoje fechada. O progresso, às vezes, é uma merda.
Um abraço e bom findi.

Marco disse...

Curioso, caro mestre Moacy,
mas os dois trailes compõem uma outra obra de arte, em que pese serem recortes de cenas dos filmes. Mas estão editados de uma maneira tão interessante e revolucionária (ave, Eisenstein!), que são bonitos de se ver e tem consistência. Muito bom..
Quanto ao Paissandu, hoje saiu matéria em O Globo com o dono explicando que o cinema não vai virar igreja evangélica. O grupo Estação pode até sair de lá, mas não deixará de ser cinema. Os nossos sonhos não envelhecem. Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.

dade amorim disse...

Assisti a vários desses filmes no Paissandu. Namorei muito naquele espaço que era uma espécie de segunda casa, juntinho da pizzaria, quando era moda freqüentar a cinemateca do MAM e fazer debates sobre cinema. Você conheceu o Cosme Alves Ferreira, que era curador da cinemateca?
Beijo, Moacy, e um fim de semana bem feliz.

Anônimo disse...

Visite o meu blog:
http://homoluddens.wordpress.com/
Douglas Thomaz.
Abraços.

Fernanda Leturiondo disse...

� de se esparramar lamentos mesmo!
Onde moro cinema s� em shopping. E h� um shopping apenas, o que torna tudo ainda mais terr�vel, mais massificado... Filmes um pouquinho menos comerciais, s� �s 15h. Ando numa luta doida, correndo atr�s de abrir uma sala para exibir o circuito alternativo... Tarefa �rdua por estas bandas, mas vai rolar. Sem cinema a vida fica muito cruel. E h� sobretudo, de se resistir!

Moacy, Balaio porreta mesmo, esse seu! Obrigada pela visita e porque assim vim parar aqui.

um bjo

Ane Brasil disse...

é, não há mais cinemas de calçada. triste, muito triste.
Choro contigo a morte do teu cinema!
Sorte e saúde pra todos!