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para ver um dos mais sensíveis e delicados
filmes de animação de todos os tempos:
Pai e filha,
de Michael Dudok de Wit
BALAIO PORRETA 1986
n° 2394
Rio, 9 de agosto de 2008
Todo aquele que ama o cinema entra, mais cedo ou mais tarde, em contato com Ozu. Ele é o mais quieto e delicado dos diretores, o mais humanístico, o mais sereno.
(Roger Ebert. A magia do cinema, 2002)
UM CINEMA EXTREMAMENTE SENSÍVEL
O cinema de animação já tem o seu Yasujiro Ozu, o famoso diretor japonês de Pai e filha (1949). Era uma vez em Tóquio (1953) e Ervas flutuantes (1959). Trata-se do holandês radicado na Inglaterra Michael Dudok de Wit, que, criando na área da animação cinematográfica desde 1978, começou a causar admiração em escala mundial nos anos 90, sobretudo com o ótimo O monge e o peixe, de 1994. Mas seria em especial com Pai e filha, realizado em 2000, e cujo título homenageia o mestre nipônico, que De Wit atingiria o máximo em poesia e delicadeza, ao trabalhar a dicotomia solidão/fantasia a partir de um grafismo minimalista de surpreendente efeito dramático-visual. Pai e filha é uma jóia rara, um momento tocante na história do cinema de animação.
Jeanne Araújo
Se permitires que eu trace
em tua pele distraída
pequenos cursos luminados,
Se permitires que eu caminhe
secretamente entre teus seios
como uma tênue labareda,
Se permitires, enfim, abrir terraços
e alamedas no teu corpo nu
de estreitas paisagens
Se permitires, eu invocarei
o silêncio das tardes
e o vazio das capelas
e catarei poesia entre teus olhos
e cantarei poemas em teu sacrário.
TORRE DE PICHE
Sheyla Azevedo
[ in Bicho Esquisito ]
Meu gato passa horas sentado em algum lugar ermo, numa escolha criteriosa de silêncio e solidão.
O tempo todo, a todo tempo, pessoas também fazem isso. Só não sei se com a mesma determinação dos gatos.
No trabalho. Na rua. No trânsito. No supermercado. No ônibus. Somos uma multidão de irmãos órfãos.
Tenho cá minhas dúvidas sobre se a solidão é uma escolha ou uma condição. Mas nunca gostei de resolver equações. Portanto, abstenho-me.
No máximo me permito, vezencuando, perguntar se há alguém do outro lado que possa dividir sua solidão com a minha.
Mas, geralmente, minha língua em repouso balbucia um dialeto incompreensível para quem prefere as janelas abertas e as cortinas balançando ao vento.
Sempre tive mais fascínio pelas sombras, que medo da descoberta de que o medo é só algo que já está dentro e que não sabemos lidar muito bem.
Hoje, um estilete cego desfia as folhas do caderno onde guardo as lembranças do meu dia. Por isso assim, me fragmento.
Sou peixe no aquário. Presa na torre de piche.
Bom para os gatos.
Sheyla Azevedo
[ in Bicho Esquisito ]
Meu gato passa horas sentado em algum lugar ermo, numa escolha criteriosa de silêncio e solidão.
O tempo todo, a todo tempo, pessoas também fazem isso. Só não sei se com a mesma determinação dos gatos.
No trabalho. Na rua. No trânsito. No supermercado. No ônibus. Somos uma multidão de irmãos órfãos.
Tenho cá minhas dúvidas sobre se a solidão é uma escolha ou uma condição. Mas nunca gostei de resolver equações. Portanto, abstenho-me.
No máximo me permito, vezencuando, perguntar se há alguém do outro lado que possa dividir sua solidão com a minha.
Mas, geralmente, minha língua em repouso balbucia um dialeto incompreensível para quem prefere as janelas abertas e as cortinas balançando ao vento.
Sempre tive mais fascínio pelas sombras, que medo da descoberta de que o medo é só algo que já está dentro e que não sabemos lidar muito bem.
Hoje, um estilete cego desfia as folhas do caderno onde guardo as lembranças do meu dia. Por isso assim, me fragmento.
Sou peixe no aquário. Presa na torre de piche.
Bom para os gatos.
11 comentários:
maravilhosi, impossível não gostar, e um assunto original. gosto muito.
bjosss...
o filme do dudok é absolutamente emocionante. se fosse um livro, o carregaria para sempre para todos os lados. obrigada pela inserção, já ficou lugar comum eu te agradecer pela generosidade, né?
beijos, S.
Moacy: gostei muito do filme de animação, é realmente emocionante. Assim como também gostei da fita de Ozu. Duas obras importantes dentro de dois contextos cinematográficos.
Um abraço...
Saudações Moacy,
é de prender a respiração, a Jeanne, a Sheyla, deixo as imagens pra depois, a máquina aqui é leeeeeeennnnnnnta.
abração
Um pequeno mimo pra ti:
http://estadodelitio.wordpress.com/2008/08/09/premio-dardos/
Moacy, a Jeanne é simplesmente maravilhosa. Quem me dera escrever daquele jeito. Eu a admiro demais!!! Beijos do espartilho que tem boneca de pano.
Gostei mesmo desse poema!
Lembrei-me de outros termos para "apanhar uma bebedeira":
apanhar uma tosga; apanhar uma bezana; embezanar-se; apanhar uma cardina; tomar ou apanhar um pifo; estar com uma cadela;
Ainda agora me lembrava de mais mas varreram-se. Hei-de me lembrar ("hei-de" está quase em desuso pelo Novo Acordo Ortográfico!)
Um abraço
Olá Moacy,
Então, apreciaste a entrevista com o poeta Mauro Gama?
Vim a qui conhecer o Balaio. Embora, verdade dita, já recebi muitos números da versão impressa durante os anos 90. Espero receber sua visita mais vezes lá no rio movediço.
abraços
Olá Moacy,
Então, apreciaste a entrevista com o poeta Mauro Gama?
Vim a qui conhecer o Balaio. Embora, verdade dita, já recebi muitos números da versão impressa durante os anos 90. Espero receber sua visita mais vezes lá no rio movediço.
abraços
Caro Moacy:
Uma beleza, Pai e Filha. O Monge e o Peixe, quando o vi pela primeira vez, foi um alumbramento. Obrigado pela partilha. Abraço.
Moacy, você diz pra clicar na imagem mas eu não vejo a imagem, será que é problema aqui, na lan house? Fiquei curiosa pra ver a animação Pai e Filha!
Ótimos, o poema e o texto de Jeanne e Sheyla!
Beijos.
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