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(xilogravura de Ciro Fernandes)
para verouvir,
na voz de Francisco Aafa,
Arrumação,
uma das obras-primas de
Elomar :
jóia rara da música brasileira
de todos os tempos
(xilogravura de Ciro Fernandes)
para verouvir,
na voz de Francisco Aafa,
Arrumação,
uma das obras-primas de
Elomar :
jóia rara da música brasileira
de todos os tempos
BALAIO PORRETA 1986
n° 2486
Rio, 21 de novembro de 2008
Desde o raiar da aurora, o sertão tonteia.
(Guimarães ROSA. Grande sertão: veredas, 1956)
POEMA-SERTÃO
José Nêumanne Pinto
para Elba e Zé Ramalho,
Ciro Fernandes, Chico César e Chico Salles,
sertanejos
Fomos gerados do mesmo barro duro,
fomos paridos no mesmo porão escuro.
Estamos chegando
ávidos e feridos,
áridos encardidos,
pálidos e papudos,
impávidos e cascudos,
perdidos em grutas,
retidos no chão.
O sol que tudo alumia
nos tocaia, torra e mata
em quebradas de grotão.
O luar, que, à noite, guia,
dispara balas de prata
nas veredas da ilusão.
Somos sementes de pedra
jogadas na paixão:
viemos tangidos por ventos parados
e tocados em tristes refrões
Fomos nutridos no planeta fome,
atraídos para o universo medo,
acolhidos no castelo papão,
devolvidos à galáxia solidão.
Cabritos sem berro ou cheiro,
reses a esmo sem vaqueiro,
pirralhos sem choro ou cloro,
coalhada que não tem soro,
chocalhos que não têm som
- os 12 trabalhos de Cristo
em secas amargas
de nossas almas vãs.
Viramos borregos desgarrados,
tropa de burros sem tropeiro,
cangalhas com cargas turvas,
ancoretas sem aspas curvas,
canoas sem salva-vidas,
feridas curando males,
remédios fazendo mal
e aboios que não entoam,
perdidos na amplidão:
ora somos o sim,
ora somos o não,
na certa ficamos talvez.
Entramos por cancelas que fecham,
saímos por janelas com trave,
plantamos feijão, milho e canto,
tecemos um nada,
que é feito de quanto,
bebemos o parco do alto
e colhemos o broto do chão
em cachos de banana podre,
mangas com aroma doce
e alvos capuchos de algodão
- reflexos do espelho opaco
da lança do capitão.
Choramos do olho cego de Deus,
cruzamos o passo coxo do Cão.
Estamos da boca pra mão.
A vida passada a luto,
a morte jamais por susto,
velada com cera mole
trocada por dois talentos
só para comprar sal e pão.
Desde em breve seremos pó:
chegados tarde,
partimos cedo
nos oito pés quebrados
deste poema-sertão.
José Nêumanne Pinto
para Elba e Zé Ramalho,
Ciro Fernandes, Chico César e Chico Salles,
sertanejos
Fomos gerados do mesmo barro duro,
fomos paridos no mesmo porão escuro.
Estamos chegando
ávidos e feridos,
áridos encardidos,
pálidos e papudos,
impávidos e cascudos,
perdidos em grutas,
retidos no chão.
O sol que tudo alumia
nos tocaia, torra e mata
em quebradas de grotão.
O luar, que, à noite, guia,
dispara balas de prata
nas veredas da ilusão.
Somos sementes de pedra
jogadas na paixão:
viemos tangidos por ventos parados
e tocados em tristes refrões
Fomos nutridos no planeta fome,
atraídos para o universo medo,
acolhidos no castelo papão,
devolvidos à galáxia solidão.
Cabritos sem berro ou cheiro,
reses a esmo sem vaqueiro,
pirralhos sem choro ou cloro,
coalhada que não tem soro,
chocalhos que não têm som
- os 12 trabalhos de Cristo
em secas amargas
de nossas almas vãs.
Viramos borregos desgarrados,
tropa de burros sem tropeiro,
cangalhas com cargas turvas,
ancoretas sem aspas curvas,
canoas sem salva-vidas,
feridas curando males,
remédios fazendo mal
e aboios que não entoam,
perdidos na amplidão:
ora somos o sim,
ora somos o não,
na certa ficamos talvez.
Entramos por cancelas que fecham,
saímos por janelas com trave,
plantamos feijão, milho e canto,
tecemos um nada,
que é feito de quanto,
bebemos o parco do alto
e colhemos o broto do chão
em cachos de banana podre,
mangas com aroma doce
e alvos capuchos de algodão
- reflexos do espelho opaco
da lança do capitão.
Choramos do olho cego de Deus,
cruzamos o passo coxo do Cão.
Estamos da boca pra mão.
A vida passada a luto,
a morte jamais por susto,
velada com cera mole
trocada por dois talentos
só para comprar sal e pão.
Desde em breve seremos pó:
chegados tarde,
partimos cedo
nos oito pés quebrados
deste poema-sertão.
BALAIO 2500
Em 17 de novembro de 1986, no Balaio 14
JE VOUS SALUE, GODARD
Insistiremos até o final dos tempos: a intolerância religiosa que levantou a bandeira da imoral proibição ao Jevú godardiano não passa de uma intolerância escrotálida, podrefétida e feladaputâmega. Seus mentores ideológicos são todos uns nojentócritos vomitórios. Haja merdabostalância!
Em 8 de setembro de 1992, no Balaio 406
UMA SIMPLES RADIOGRAFIA:
Definição
Balaio: 1. Jornalzine que se realiza como guerrilha anticultural, lançado em Niterói, no interior do IACS [Instituto de Arte e Comunicação Social / UFF], em 8/9/86.; 2. Folha porreta de vertente oswaldiana, ligeiramente marxista, ligeiramente nordestina, ligeiramente anarquista, totalmente esporrenta (quando necessário); 3. Produção anti-acadêmica aberta à poesia, à política, à crítica, ao debate de idéias, ao poema/processo; 4. Publicação alternativa, que investe no cangaceirismo cultural em ocasiões específicas de pura indignação política ou existencial; 5. Folhetim doidão à margem dos sistemas culturais; 6. Obra-em-progresso: contraliteratura da gota serena.
Em 17 de novembro de 1986, no Balaio 14
JE VOUS SALUE, GODARD
Insistiremos até o final dos tempos: a intolerância religiosa que levantou a bandeira da imoral proibição ao Jevú godardiano não passa de uma intolerância escrotálida, podrefétida e feladaputâmega. Seus mentores ideológicos são todos uns nojentócritos vomitórios. Haja merdabostalância!
Em 8 de setembro de 1992, no Balaio 406
UMA SIMPLES RADIOGRAFIA:
Definição
Balaio: 1. Jornalzine que se realiza como guerrilha anticultural, lançado em Niterói, no interior do IACS [Instituto de Arte e Comunicação Social / UFF], em 8/9/86.; 2. Folha porreta de vertente oswaldiana, ligeiramente marxista, ligeiramente nordestina, ligeiramente anarquista, totalmente esporrenta (quando necessário); 3. Produção anti-acadêmica aberta à poesia, à política, à crítica, ao debate de idéias, ao poema/processo; 4. Publicação alternativa, que investe no cangaceirismo cultural em ocasiões específicas de pura indignação política ou existencial; 5. Folhetim doidão à margem dos sistemas culturais; 6. Obra-em-progresso: contraliteratura da gota serena.
3 comentários:
Moacy,
A Igreja merece, de fato, o nosso repúdio por ter levantado bandeiras contra a exibição do filme de Godard. Mas eu continuo insistindo que o governo da época (o tal de Sarney) não teve pulso para comprar a briga.(Se bem que nenhum governo deste país o tenha.) E lamentável que Celso Furtado, com um grande passado, Ministro da Cultura, tenha "ido na onda". Foi uma mancha indelével na sua grande biografia. Lamentável, repito.
Saudações Moacy,
muito bom!
este tipo de arte é das minhas peferidas e Elomar bate fundo.
bonito este poemão do sertão
e gostei até do 'uma simples radiografia', um barato, ahaha
beijo prati
contraliteratura da gota serena
hahahahaha... só tu!
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