Maria Bunita & Lampião
por
Fábio Eduardo,
artista natalense
BALAIO PORRETA 1986
n° 2515
Natal, 23 de dezembro de 2008
os sonhos
(in) possíveis
não me deixam adormecer
(ACANTHA, in La Vie Bohème)
poema,
arquitetura de coisas esquecidas.
(Mário Cézar, in Coivara)
arquitetura de coisas esquecidas.
(Mário Cézar, in Coivara)
QUASE UM POEMA DE NATAL
Márcia Maia
[ in Tábua de Marés ]
eu queria um natal sem luzes
sem sinos sem coroas sem presentes
sem festas de confraternização
onde se repete quase escandindo
(e à exaustão) a palavra so-li-da-ri-e-da-de
eu queria um natal mais solstício
que natal — um natal pagão —
um natal simples sem palco
onde a gente ousasse ser apenas gente
como a gente que a gente é nos outros dias
Márcia Maia
[ in Tábua de Marés ]
eu queria um natal sem luzes
sem sinos sem coroas sem presentes
sem festas de confraternização
onde se repete quase escandindo
(e à exaustão) a palavra so-li-da-ri-e-da-de
eu queria um natal mais solstício
que natal — um natal pagão —
um natal simples sem palco
onde a gente ousasse ser apenas gente
como a gente que a gente é nos outros dias
DIARIM DE MARIA BUNITA (6 e 7)
Divulgação: Menina Arretada do Seridó
(6)
Xêro-no-Cangote, em 26/11/1924
Meu diarim quirido,
onte, pur essas banda, apareceu uma cigana arretada de boa. Leu minha sorte e qui meu Capitão num saiba, ela disse qui vai aparicê dois homi na minha vida: um tar de Lenandro e um tar de Alequici. Dois homi muito do danado. Eita bixiga, cum mais dois qui é o Capitão, meu amô verdadêro e o Diabo Lôro, tô lascada pra dá conta de tanto macho. Será qui esse Alequici é o mermo do tar Beco da Lama? Sei não diarim, tô até cum medo de aparicê pros lados do Rio Grande. E se eu me apaxoná pur essa vida cum esses minino de lá? Ói qui num é todo homi qui assumi uma muié qui nem qui eu não, cheia de facêrice. Tem qui ser muito homi, muito macho, viu seu Alequici. Num sei se ocê dá conta do recado não... Meu Capitão sim, aquele lá, é homi indo e vortando... aquele num fracatêa de jeito nenhum, e tem mais, viu, topa qualqué furdunço, infrenta qualqué intrupisso. Inté mermo no Natal do ano derradêro, dia de festa de Nosso Senhor das Alturas, o Capitão quiz me enrabá, mais num deixei não, era dia sagrado, ele ficô só carregano na imaginação. E o meu fiofó num é frôr pra qualqué ora não.
(7)
Casa-da-Mãe-Joana, em 27/01/1925
Meu quirido diarim,
tá qui chove muito pur essas bandas de meu bom Deus. O Capitão tá meio brocoió cum a estória da cigana, mais eu disfacei bem, disse qui ela tava mi ensinano umas mezinhas pra essas coisas de muié. Mais o Capitão num é nenhum mané de vazante não. Ele sente cheiro de traição de longe e ocê sabe, né diarim, o qui ele faz cum quem apronta presepada cum ele. Num sobra nem nutícia da alma do fi d'uma égua qui apronta cum ele. A cigana me disse outro dia qui esses minino do Beco são muito do convencido, mais qui parece qui só tem arranque, ocê sabe, né diarim, cachorro qui muito late, não morde... Acho qui já tô inté perdeno a vontade de ir na capitá, parece qui im Mossoró, tumbem tem uns minino arretado de bom, cheio de mungango, tudo Papangu. Ela mi disse qui cunheceu por lá, nas andanças dela, um tar de Tulho Rato, qui veve aperriano os mitido a bacana de lá. Virgulino inté qui podia tê um cabra da peste desse no bando, né não diarim, nem que fosse pra levar um mói de chifre de veiz im quando... Vixe, preciso sê menos bucho furado com meu diarim, apois a minha peceguida tá qui tá e o Capitão num pode nem sonhá com as minhas escrevinhanças. Sol que racha quengo tumbem racha quenga. E quenga eu não sô não. Sô mermo é uma cangacêra as veiz muita atrevida.
Divulgação: Menina Arretada do Seridó
(6)
Xêro-no-Cangote, em 26/11/1924
Meu diarim quirido,
onte, pur essas banda, apareceu uma cigana arretada de boa. Leu minha sorte e qui meu Capitão num saiba, ela disse qui vai aparicê dois homi na minha vida: um tar de Lenandro e um tar de Alequici. Dois homi muito do danado. Eita bixiga, cum mais dois qui é o Capitão, meu amô verdadêro e o Diabo Lôro, tô lascada pra dá conta de tanto macho. Será qui esse Alequici é o mermo do tar Beco da Lama? Sei não diarim, tô até cum medo de aparicê pros lados do Rio Grande. E se eu me apaxoná pur essa vida cum esses minino de lá? Ói qui num é todo homi qui assumi uma muié qui nem qui eu não, cheia de facêrice. Tem qui ser muito homi, muito macho, viu seu Alequici. Num sei se ocê dá conta do recado não... Meu Capitão sim, aquele lá, é homi indo e vortando... aquele num fracatêa de jeito nenhum, e tem mais, viu, topa qualqué furdunço, infrenta qualqué intrupisso. Inté mermo no Natal do ano derradêro, dia de festa de Nosso Senhor das Alturas, o Capitão quiz me enrabá, mais num deixei não, era dia sagrado, ele ficô só carregano na imaginação. E o meu fiofó num é frôr pra qualqué ora não.
(7)
Casa-da-Mãe-Joana, em 27/01/1925
Meu quirido diarim,
tá qui chove muito pur essas bandas de meu bom Deus. O Capitão tá meio brocoió cum a estória da cigana, mais eu disfacei bem, disse qui ela tava mi ensinano umas mezinhas pra essas coisas de muié. Mais o Capitão num é nenhum mané de vazante não. Ele sente cheiro de traição de longe e ocê sabe, né diarim, o qui ele faz cum quem apronta presepada cum ele. Num sobra nem nutícia da alma do fi d'uma égua qui apronta cum ele. A cigana me disse outro dia qui esses minino do Beco são muito do convencido, mais qui parece qui só tem arranque, ocê sabe, né diarim, cachorro qui muito late, não morde... Acho qui já tô inté perdeno a vontade de ir na capitá, parece qui im Mossoró, tumbem tem uns minino arretado de bom, cheio de mungango, tudo Papangu. Ela mi disse qui cunheceu por lá, nas andanças dela, um tar de Tulho Rato, qui veve aperriano os mitido a bacana de lá. Virgulino inté qui podia tê um cabra da peste desse no bando, né não diarim, nem que fosse pra levar um mói de chifre de veiz im quando... Vixe, preciso sê menos bucho furado com meu diarim, apois a minha peceguida tá qui tá e o Capitão num pode nem sonhá com as minhas escrevinhanças. Sol que racha quengo tumbem racha quenga. E quenga eu não sô não. Sô mermo é uma cangacêra as veiz muita atrevida.
8 comentários:
Adorei esse "diarim". E, acabei de adquirir uma aquarela de Fábio Eduardo (um mestre de Boi de Reis), lindo! Bom vê-lo aqui. Um beijo meu querido, nosso encontro foi bacanésimo. S.
Meu caro Moacy, essa sirigaita deve lembrar bem do dia 13 de junho de 1927, quando seu bando tentou invadiu Mossoró e ela ficou lá pelo Beco do Rato, no cabaré da Véia Chica. Ela tava toda festiva e foi acunhada a tarde inteira, com espora naquele rabo branco, num quartinho sem luz. Na hora do bem-bom, ela ainda pediu para levar umas chibatadas... Na agonia de ir simbora, ela ainda viu um dono Chica dizendo; "Maria, devolva as calças do seu Alequici".
Amigo Moacyr: eu também tenho vindo aqui muito esporadicamente e a explicação é a mesma que você me deu - as tais "coisas da vida". Mudanças no trabalho, novas obrigações em casa, muita coisa acumulada neste segundo semestre do ano que enfim está acabando. O próprio SOPÃO, coidato, passa semanas sem ums postagenzinha que seja, por absoluta falta de tempo I(físico e dispositivo, você compreende). Mas ano que vem está aí e a gente vai reorganizar a vida de maneira que haja tempos para tudo e para todos. Nem que não não dê, mas a gente tenta, a gente força. Feliz Natal e feliz Ano Novo pra você e seu pessoal todo também.
Belos escritos por aqui.
Abraços d´ASSIMETRIA DO PERFEITO
adoro o sotaque da Maria...rs
o Natal vem chegando, sempre carregado de melancólica alegria!
que seja tudo feliz!
beijos...
Caro Moacy,
Depois de uma leitura divertida, deixo-lhe o meu desejo de um BOM NATAL e um excelente ANO NOVO,com
saúde, paz e harmonia.
Um beijo de FESTAS FELIZES!
Um cheiro
meg
Adorei o "Diarin"! Nunca ví poema tão lindo! Deu-me até vontada de ir conhecer Mossoró e arranjar uma Maria" lá. Obrigado por duvidi-lo!
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