Matriz de Nossa Sra. da Conceição
(Foto: autoria desconhecida)
BALAIO PORRETA 1986
n° 2543
Rio, 21 de janeiro de 2009
Há a dor e há a Esperança. Há a dor e há a Vida.
Há a dor e há o Renascimento.
UMA MORTE É UMA MORTE NÃO É UMA MORTE
Moacy Cirne
A morte de uma pessoa amiga não se faz fácil, por mais anunciada que tenha sido nos últimos meses. Não, não se trata da morte de uma criança e/ou de um jovem atingidos pela fome ou pelas bombas inimigas. Esta também, ou mais até, é uma morte dolorosa, terrivalmente dolorosa, assustadoramente dolorosa. Por ser absurda. Por ser irracional.
Mas a morte de uma pessoa amiga, de uma pessoa muito próxima da gente, tem uma dimensão cósmica que não se esgota em palavras de conforto, de bem-querer, de boa vontade. A rigor, tem uma dimensão cósmica que escapa ao próprio sentido da dor. Que escapa ao próprio sentido da vida, por mais que a vida continue. Para suas filhas. Para seu companheiro. Para seus irmãos e irmãs. Para seus amigos e amigas.
Porque é exatamente através da vida daqueles que ficaram - e ainda não partiram, e ainda não se encantaram - que a Sua vida continua entre nós: a memória de sua alegria, de sua fé, de sua ironia, de sua sinceridade, de sua determinação, de sua religiosidade é uma memória viva. E a lembrança que dela temos e teremos a fará viver para sempre, enquanto houver humanidade sobre a Terra, se não mais com a sua presença física, decerto com a sua presença intangível marcada pelas imagens do passado.
Assim é: uma presença intangível que se faz Natal. E que se faz Redinha e Ponta Negra, em noites de luar. Que se faz o cruzamento da Açu com a Afonso Pena, no antigo bairro da Solidão. Que se faz a Ponta do Morcego, em sua meninice. Que se faz a Igreja de Nossa Senhora de Fátima. E outras igrejas. Que se faz através de sua santa protetora: Nossa Senhora da Conceição. Tudo é vida, tudo é paixão. Mesmo que, neste momento, se faça o silêncio. Ou o "silêncio dos ventos" e o "silêncio de todas as cores", como diz o poeta Paulo de Carvalho no poema Ressuscitar-Te, em Cantabile, um livro publicado em Niterói em 2007.
E que se faz Vida. Porque é exatamente a vida de Margarida Miranda - uma batalhadora incansável - que suas filhas, seu companheiro, seus irmãos e irmãs (entre as quais, a minha companheira Fátima), e seus amigos e amigas não esquecerão jamais. Jamais. Mesmo que Natal, para todos nós, tenha morrido um pouco com a sua partida para outras terras e outras gentes.
17 comentários:
Bela e sensível homenagem, Moacy.
Um abraço.
Quem parte leva um pouco de nós, deixando conosco, em nós, um pouco de si.
Manoel Carlos
Caro Moacy,
Um texto comovente, além de bem escrito, como são os de sua autoria. Um abraço solidário.
Morte de alguém tão próximo, para nós tão vivo, é algo que abala. Mas assim é a vida, como alguém já escreveu "Progressiva, degenerativa, irreversivel". / Pode publicar o poema Naufragos no seu blog, sem problemas. Um grande abraço
minha primeira neta está por nascer - então fico tranquila... quando eu me for, haverá outros - a morte, embora se nos pareça perda, é renovação!
besos
Moacy,
conheço bem essa dor que você fala, a dor da perda de um ente querido... meus sentimentos.
um beijo, um abraço
e força aí!
Moacy,
fiquei emocionada com seu texto, meu pai morreu em junho e estou vivendo meu primeiro verão sem ele. O primeiro verão sem Guaibim(onde é a sua casa de praia), o primeiro verão sem as longas caminhadas na areia, conversas no rasinho do mar, as tardes na varanda, eu e ele, cada um em uma rede.
A falta dele me dói e me asusta.
Um abraço,
Martha
EXCELENTE, POETA, MUITO BOM. FIQUEI TE DEVENDO UMA VISITA, E ESTOU PAGANDO-A. SE TODAS AS DÍVIDAS DO MUNDO FOSSEM TÃO FÁCEIS DE PAGAR E DESSEM TANTO PRAZER AO PAGADOR, O MUNDO SERIA OUTRO.
NÃO QUERO FALAR DA "INDESEJADA DAS GENTES, PORQUE CONSIDERO UMA COISA IMPOSSÍVEL, PELO MENOS PARA MIM, QUE NÃO TENHO PLANOS DE MORRER TÃO CEDO. DIGO QUE O HOMEM QUE MORRE SEM TER FEITO PELO MENOS 100 ANOS É UM FRACASSADO.
QUERO LHE FALAR DE OUTRA COISA, UMA COISA QUE ESTÁ NO SEU PERFIL, E QUE ME DEIXOU FASCINADO: LUIZ GONZAGA.
MEU AMOR POR GONZAGA É ESTRANHO, ESCUTO POUCO PORQUE SEI QUE SE ESCUTAR, CHORO. TENHO UMA AMIGA QUE CONHECE MÚSICAS DO LUA , QUE NINGUÉM MAI LEMBRA.
FICO FELIZ POR VOCÊ GOSTAR DO MESTRE.
ABRAÇOS ,
WELLINGTON GUIMARÃES
Bela homenagem você faz à sua amiga, Moacy, como só você mesmo. E a respeito do seu texto, da minha dúvida, boba e da sua resposta, só uma coisa: você é mais que querido e mais que necessário para muitos de nós. Um abraço fraterno para amparar um pouco a sua dor. Sheyla.
linda homenagem, Moacy.
receba meu abraço.
Pensei imediatamente em você quando soube. Meu carinho. Beijo.
Belíssima homenagem, Moacy.
Creio que os anjos conduzirão - se é que já não o fizeram antes mesmo da criação -, as suas palavras ao destino, pois o sentimento e a sinceridade fazem-se presentes em suas linhas.
Aos que aqui ficaram muito simbolizará o fraterno gesto do amigo querido.
Forte abraço,
H.F.
Nestas horas, realmente, não há muito o que consolar senão dizer que o tempo é o único senhor... E a dor passa, dando lugar a uma saudade rica.
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Abraço forte!
Realmente mudei meu perfil..
todo mundo me perguntava de onde era, então achei melhor colocar campina bem vista para todos
rs, então vc conhece a terrinha, legal...
..
voltando ao Balaio
seu texto me fez lembrar uma pessoa querida também.. e como bem disse.. pessoas queridas não se vão, são eternizadas nos seus
além de sua propria história
nemastê
Querido Moacy: Lindo texto, bela homenagem... E por favor, transmita meus sentimentos e de toda a minha família, nossa solidariedade para Fátima e todos da família... Abraços!
Os anos de multiply, desensinaram-me os caminhos dos blogs... é com atraso que chego para parabenizá-lo por tão bela homenagem.
Um abraço e a saudade do nosso encontro,
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