Genipabu,
Natal Natal
Foto:
Alex Uchoa
BALAIO PORRETA 1986
n° 2573
Natal, 18 de fevereiro de 2009
Rio Grande do Norte
Capital Natal
Em cada beco um poeta
Em cada esquina um jornal
(Quadrinha popular, de autoria anônima,
princípios do século XX)
Natal Natal
Foto:
Alex Uchoa
BALAIO PORRETA 1986
n° 2573
Natal, 18 de fevereiro de 2009
Rio Grande do Norte
Capital Natal
Em cada beco um poeta
Em cada esquina um jornal
(Quadrinha popular, de autoria anônima,
princípios do século XX)
A TRISTEZA É AZUL
Sheyla Azevedo
[ in Bicho Esquisito ]
Sheyla Azevedo
[ in Bicho Esquisito ]
Sinto saudades da chuva. E do frio que chega na madrugada. Quando criança, preferia o desenho às letras. Adorava não poder ir brincar na rua porque estava chovendo. Então eu desenhava brincadeiras no papel. Meninos brincando com pipa, meninas brincando de pular corda, amarelinha. Coloria bastante que era para constrastar com o cinza da tarde. E colocava nuvens lá em cima dos telhados. Com a chuva escondida por detrás do arco-íris. Era minha forma de prever o tempo. Um tempo que só tinha portas abertas. E a minha avó, esperando no final da tarde para me fazer cachinhos no cabelo. Vovó e os seus cachinhos no meu cabelo. Quando ela terminava, balançava-os como se fosse um prêmio: Ei, vejam o que a minha avó me deu de presentes! Exibia orgulhosa.
Atualmente, se me sobram brechas, já me contento. Esses dias não tem chovido. E é na chuva onde minhas confissões mais escorrem. Até tento fazer um pacto com o sol. Mas, por mais que tente, faz frio dentro de mim. Não tem jeito. Tenho inclinações para ser feliz compartilhando. E triste do mesmo jeito.
A mãe de uma amiga morreu. O filho de uma outra também. Tudo nesse final de semana. A primeira, se vi muito foram duas, três vezes. O segundo, vi em fotografias. Mas, impossível não me compadecer com a dor do outro. Precisei me escorar nas lembranças. Imaginar quantas vezes eu as vi sorrindo, felizes, por uma banalidade qualquer, para que pudesse suportar a idéia de que a dor delas é grande e cabe uma vida inteira lá dentro.
Viver é estar eternamente em desconfiança do até quando.Talvez fosse diferente se já soubéssemos, se já nos dessem uma pista qualquer sobre o porvir. Mas não seria a mesma coisa. Ou fatalmente viveríamos ansiosos demais por terminar. Saberíamos exatamente que palavras usar para terminar um namoro, um noivado, um casamento. Mediríamos antes mesmo de exercitar o tamanho do amor que poderíamos sentir por aquela pessoa. Viveríamos o enjôo da gravidez meses antes da concepção; nos despediríamos desde o dia em que nascemos do pôr-do-sol e dos nossos avós. Mas, como não sabemos, vivemos ansiosos em como continuar mesmo com essa desconfiança toda.
Gosto da vida. Especialmente dos amigos que ela me trouxe. Dos bem-te-vi que cantam na minha janela. E da poesia que se esconde debaixo do meu travesseiro. Mas tenho limites: uma tristeza incurável nos olhos. Grandes, eles sempre tentaram entender mundo. Mas, sobram muitas dúvidas e, vezecuando, é inevitável chorar.
Palavras tristes fazem festa dentro de mim. Por isso, estou reequilibrando meu silêncio, para que elas não consumam todo o meu olhar.
Atualmente, se me sobram brechas, já me contento. Esses dias não tem chovido. E é na chuva onde minhas confissões mais escorrem. Até tento fazer um pacto com o sol. Mas, por mais que tente, faz frio dentro de mim. Não tem jeito. Tenho inclinações para ser feliz compartilhando. E triste do mesmo jeito.
A mãe de uma amiga morreu. O filho de uma outra também. Tudo nesse final de semana. A primeira, se vi muito foram duas, três vezes. O segundo, vi em fotografias. Mas, impossível não me compadecer com a dor do outro. Precisei me escorar nas lembranças. Imaginar quantas vezes eu as vi sorrindo, felizes, por uma banalidade qualquer, para que pudesse suportar a idéia de que a dor delas é grande e cabe uma vida inteira lá dentro.
Viver é estar eternamente em desconfiança do até quando.Talvez fosse diferente se já soubéssemos, se já nos dessem uma pista qualquer sobre o porvir. Mas não seria a mesma coisa. Ou fatalmente viveríamos ansiosos demais por terminar. Saberíamos exatamente que palavras usar para terminar um namoro, um noivado, um casamento. Mediríamos antes mesmo de exercitar o tamanho do amor que poderíamos sentir por aquela pessoa. Viveríamos o enjôo da gravidez meses antes da concepção; nos despediríamos desde o dia em que nascemos do pôr-do-sol e dos nossos avós. Mas, como não sabemos, vivemos ansiosos em como continuar mesmo com essa desconfiança toda.
Gosto da vida. Especialmente dos amigos que ela me trouxe. Dos bem-te-vi que cantam na minha janela. E da poesia que se esconde debaixo do meu travesseiro. Mas tenho limites: uma tristeza incurável nos olhos. Grandes, eles sempre tentaram entender mundo. Mas, sobram muitas dúvidas e, vezecuando, é inevitável chorar.
Palavras tristes fazem festa dentro de mim. Por isso, estou reequilibrando meu silêncio, para que elas não consumam todo o meu olhar.
11 comentários:
Pô, Moacy. Fico um dia sem aparecer o Balaio sofre um atentado terrorista? Ainda bem que você resistiu, confirmando que o sertanejo é, antes de tudo um forte. Ou simplesmente teimoso. Se precisar de ajuda na peleja me convoca. Como descendente dos bravos Lanceiros Negros farroupilhas, comparecerei munido de minha lança e, também, se a situação for grave, com a adaga que pertenceu ao negro Adão La Torre, que degolou 400 inimigos na Revolução Federalista (ou da Degola) em 1893. O gaúcho não é forte. É sanguinário.
Um ótimo carnaval pra ti aí em Natal. Tô fazendo as malas pra embarcar pra Floripa de novo. Ninguém é de ferro, hehehe...
Um abraço.
Moacy, que luxo! Vixi Maria, eu to feliz demais! Um obrigada do tamanho da sua generosidade para com todos nós viu? Ei, e eu já estou me programando para nos vermos viu? (te ligo)
Um cheiro, S.
Que beleza de texto, apesar de tão triste. Me fez lembrar um poema:
das prisões da tristeza,
quem,
os meus olhos libertará?
També gostei demais do poema da Compulsão Diária. Ela é fera.
bjs.
O texto da Sheyla é muito bonito, Moacy. Parabéns pela escolha!
Quanto a foto de Genipabu, deixou-me com uma saudade imensa da minha terra. :)
Abraços,
Lou
"Palavras tristes fazem festa dentro de mim"
só esta frase já valeria pelo belo texto. Curioso. Este texto me fez lembrar de uma coisa que li faz tempo e que dizia que os melhores escritores do mundo estão no hemisfério norte porque lá faz frio e que é impossível manter qualidade literária sob 40 graus de temperatura. Um exagero, é claro. mas admito que tempos chuvosos são favoráveis para a inspiração. Parabéns para a Sheila. Carpe diem. Aproveite o dia e a vida.
a chuva fazia tlim tlim tlim nos nossos olhos...tbm gosto da vida.Teu texto é nostálgico.
O Balaio é azul! E Sheyla é liberdade, fraternidade e igualdade! Às vezes é assim, não e sim, cai o pano e Caetano: "Que nem alegre, nem triste, nem poeta"...
lindo esse texto da sheyla!!
moacy, dá um beijo nela por mim e outro no carito... rsrrs
Eita, que eu vou cobrar, viu dona Adrinna. O primeiro cheiro que eu der no Moacy será dele mesmo. o segundo, peço para ele embrulhar numa fita encarnada e te entregar qdo voltar para o Rio.
e quando vc vier aqui, vamos nos conhecer, viu. (não esqueci minha promessa... rs)
beijo, sheyla!
p.s. beijo pra vc tbm, moa! :)
esse texto da Sheyla é algo de belo!
escolha certeira, Moa =)
beijo
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