terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

RECOMPONDO PARCIALMENTE
O BALAIO 2571,
COM ADENDO HUMORÍSTICO
Rio antigo:
os Arcos da Lapa, o Passeio Público,
o Senado (demolido), a Cinelândia
(sem os prédios atuais, mas já com o Odeon,
na esquina em curva, próximo ao Senado),
em foto sem autoria identificada,
provavelmente do final dos anos 20
ou princípio dos anos 30.
Para quem conhece o Rio,
também é visível a atual
Sala Cecília Meireles,
em plena Lapa.


BALAIO PORRETA 1986
n° 2572
Rio, 18 de fevereiro de 2009


Ninguém, que conheçamos, pintou Deus negro das muitas Áfricas, nem roxo indiano, nem como aborígene da Oceania, nem amarelo coreano, ou mongol, basquimano, esquimó. Então, não seria um deus para todos, mas tão-somente "o" Deus judaico-cristão, com o design correspondente aos padrões antropológicos desses povos.
(Mauro GAMA, in Charles Darwin, 200 anos)


POR JOÃO CABRAL
Romério Rômulo

sempre carrego um rio.
margens de atropelo, ilhotas ávidas
conduzem a água apertada.
sobra-lhes um derivar de peixe,
um corte do corpo do peixe,
a lama escorraçada.
o uivo do rio treme de pedra
e se estatela azul.
quando arcos sobram entre os dedos
o devaneio é morto.

o rio se abate como cão sem plumas.


INTERLÍNGUA
Beatriz M. Moura
[ in Compulsão Diária, em 1/8/2008 ]

Ce suis je
sujeito
Je suis cela

Na floresta
Perdida
Je suis chat

Nesta flor está
Tudo e tanto
cuidado
que o contato

todo

num pulo
se perdeu
flor que resta

sou

detrito
abjeto objeto
moi, je crois

mar
estrela inquieta
sou isso

enigma
noite quente
lábil
cifra em suspense

entre

a língua e o mundo
-intersentida-
Sou toda narrativa

15 comentários:

nina rizzi disse...

belíssimos romério e beatriz. belíssimo o rio que continua a ser, aesar das camas de concreto. me bate uma saudade pra lá de bagdá.

belíssimo vc a me permitir tais viagens. tão dentro de mim...

:)

líria porto disse...

maravilha de rio! rio de janeiro e o do poema do robério!

ah... também não pintaram um deus feminino...

monóico
líria porto

deus é menina
tem cachos eu acho
talvez seja negra
não a vi de frente
percebi pelo cheiro
de flores queimadas
incenso e fumaça
que veio com o vento

foi tal o deleite
na manhã de sol
que pensei
tão bonita
e assim
perfumada
só deus

*

besos

Wescley J. Gama disse...

bem humorado como sempre. grande abraço, Moacy!

Francisco Sobreira disse...

Caro Moacy,
Se a memória não estiver me traindo, na peça "Auto da Compadecida", de Ariano, o Deus que aparece é negro. E por falar em memória, a sua está boa, cara: de fato, utilizei a mesma imagem na minha postagem sobre o carnaval no ano passado. Agora, terá sido por um ato falho?), você, no seu comentário lá no Luzes, se refere ao "seu texto", e não de Cecília. E uma boa viagem. Um abraço.

Beti Timm disse...

meu Mestre querido,

sempre notório no bom gosto, ao postar aqui poesias e textos. E sempre com um humor requintado! Muito bom mesmo!

Beijos humorísticos.

Unknown disse...

Moacy, como era lindo o Rio antigo. Quando vejo uma gravura, fico imaginando se houvessem camelôs, tiroteio e core-corre, se seria lindo como era.
Hoje a escolha dos poetas que aqui desfilam de um esmero magistral!
O humor ganha do Jô Soares!
Mas o que queria dizer é que conheci hoje o Poema /Processo e fiquei fascinada! Não há palavras e nem precisa, é belíssimo!! TODOS, SEM EXCEÇÂO!

Parabéns pelo blog e por tudo!

Abraços

Mirze

Marcos Pontes disse...

Interessante coleção: fotos antiga de um rio que não mais existe; Mauro Gama, a quem eu diria: um Deus judaico-cristão com o designe dos vencedores das cruzadas e da catequese mundial; Romério Rômulo com sua alusão a João cabral, num poema perfeito, mas nada cabralino; Compulsão Diária, Beatri, com um de seus primeiros poemas, perfeito na forma e na linguagem, que já mostrava seu talento e seu jeito para interligar palavras num estilo rico e próprio, preparadinho para amadurecer; e mais o Armando Negreiros com uma deliciosa piadinha com cara de causo. Post perfeito.

Ines Mota disse...

Moacy,
Como sempre prevalece o bom gosto na escolha do seus posts. Belo poema. Linda imagem do Rio. Pra fechar com chave de ouro, o excelente humor potiguar. Casamento perfeito!!
Um dia lindo pra você.
Beijos.

Anônimo disse...

Não sou saudosista, juro que não sou! Mas olhando esta foto do Rio fio a me lembrar da cidade no inicio dos anos 70. De repente, a memória sai do cenário e cai nas gentes. Era um Rio em tudo difrente!
Sobre o texto anterior: parabéns por ele! Um texto onde se alia conhecimento temático, literariedade e bom humor é um presente para qualquer leitor.
Beijo!

Unknown disse...

Moacy:

O Senhor das Alturas invadiu seu pc pq tem um sentimento humano (ou os homens têm esse sentimento divino): amor enciumado pelo que outros escrevem e que pode competir com O LIVRO. Vá ver que Ele ainda fará as pazes com seus adversários e convidará Marx, Buñuel, Pagu, Isadora Duncan e Rimbaud, dentre outros, pra umas cervejas.
Abraços:

Marcos Silva

Marco disse...

Ah, o Rio antigo...
Ao tempo da foto, a atual sala Cecilia Meireles era o antigo Grande Hotel.
Muito bom o causo... ré, ré, ré...
O sobreira tem razão. O Cristo do Auto da compadecida era negro.
Carpe Diem.

Anônimo disse...

Fotos ótimas! Tudo ótimo como sempre!
Desce mais!

WELLINGTON GUIMARÃES disse...

SALVE JOÃO CABRAL, SEMPRE. PARABÉNS A QUEM SE LEMBROU DO POETA DA CARA DE PEDRA. PARABÉNS AO MOACY.

Cosmunicando disse...

belíssima foto, e os poemas são demais, Moacy =)

beijo

Adrianna Coelho disse...


rio antigo e romério rômulo no balaio, isso me lembra de nossos encontros, moa!

beatriz com sua interlíngua fluindo, intersentida... muito bom!

e esse humor potiguar sempre me arrancando risadas... :)