quarta-feira, 4 de março de 2009

Natal, anos 50:
a Pista (Av. Hermes da Fonseca),
na parte central da foto (autoria desconhecida),
ligeiramente perpendicular, em direção ao mar.
Na metade inferior: à direita, a alameda do 16 RI;
à esquerda, em frente, o Aero Clube.
Na metade superior: a direita, as dunas e,
quase imperceptível, a Escola Doméstica;
à esquerda, a Av. Afonso Pena, a Praça Augusto Leite,
a Av. Rodrigues Alves, o América e,
nas brumas do passado, a Igreja Santa Terezinha.
E, ainda, a Avenida Campos Sales.
Na ocasião da foto, que abrange o bairro do Tirol,
com o bairro de Petrópolis ao fundo,
Natal tinha pouco mais de 100 mil habitantes.

Cf. imagens antigas em Natal de Ontem.


BALAIO PORRETA 1986
n° 2587
Natal, 4 de março de 2009

... é no olhar para o desviante, no ódio à banalidade, na busca do que ainda não está gasto, do que ainda não foi capturado pelo esquema conceitual, que reside a derradeira chance do pensamento.
(Theodor W. ADORNO. Minima moralia, 1951)


ADIVINHA
Orides Fontela
[ in Teia. São Paulo, 1996 ]

O que é impalpável
mas
pesa

o que é sem rosto
mas
fere

o que é invisível
mas
dói.


AUTO-EPITÁFIO n° 2
José Paulo Paes
[ in Socráticas. São Paulo, 2001 ]

para quem pediu sempre tão pouco
o nada é positivamente um exagero


POEMA
Ronaldo Santos
[ in 14 Bis. Rio, 1979 ]

um lance de dados jamais abolirá os doidos

um lance de doidos jamais abolirá os dados


ESTAÇÕES
Antonio Carlos de Brito / Cacaso
[ in Beijo na boca. Rio, 1975 ]

Do corpo de meu amor
exala um cheiro bem forte.

Será a primavera nascendo?


Repeteco
A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Bodas em Tipasa [Bodas, 1938, e O verão, 1954], de Albert Camus. Trad. Sérgio Milliet. São Paulo : Difusão Européia do Livro, 1964, 124p. [Adquirido por mim por volta de 1964-65, na Livraria Universitária, em Natal]. Um (duplo) livro extremamente amoroso: um hino à vida, mesmo levando em conta o seu absurdo e as suas perplexidades. Parecia-me uma obra tão apaixonante, e ao mesmo tempo tão "natalense", que, na ocasião de seu lançamento entre nós, a presenteei a vários de meus amigos e amigas potiguares. Era preciso compartilhar a beleza de suas páginas com o maior número possível de pessoas. Era preciso que também saboreassem, com prazer, as palavras do autor franco-argelino, que nos daria O estrangeiro (1942) e A peste (1947): "Compreendo aqui [seja a Argélia, seja o Rio Grande do Norte] aquilo que se chama glória: o direito de amar sem medida" (p.10); "Quando fico algum tempo longe dessa terra [para ele, a Argélia; para mim, o Seridó], sonho com seus crepúsculos como promessas de felicidade" (p.26). Ou, de igual modo, palavras como: "... a esperança, ao contrário do que se imagina, equivale à resignação. E viver não é resignar-se" (p.33); "Não há mais desertos. Não há mais ilhas. Há, entretanto, necessidade de desertos e de ilhas. Para compreender o mundo, é preciso por vezes afastar-se dele; para melhor servir os homens, mantê-los durante um momento a distância" (p.51). Continuemos, continuemos: "Os mitos não têm vida por si mesmos. Aguardam que os encarnemos" (p.82). Uma cidade se mede pela leitura de seus poetas, de seus artistas, de seus professores, de seus estudiosos, pela preservação viva de sua memória e pela paixão que alimenta seus clubes de futebol, dos mais simples aos mais poderosos, dos mais fuleiros aos mais aguerridos. Aliás, é bom registrar, Albert Camus era um verdadeiro entusiasta do futebol. Chegou, inclusive, a praticá-lo. [E hoje - 2009 - acrescento: o Alecrim precisa voltar a ser glorioso, e seria ótimo se o Santa Cruz, o Riachuelo e o Atlético renascessem de suas cinzas; como seria igualmente ótimo se substituíssemos o assexuado milque-sheique pela gostosa garapinhada, o "estrangeiro" caldo de cana com pastel pelo natalense caldo de cana com pão doce, o insosso hot-dog pelo verdadeiro cachorro-quente, à base de carne moída. Enquanto isso, continuamos esperando que o amigo Palocha ganhe sozinho na mega-sena para que tenhamos o Rio Grande de volta...]

9 comentários:

Francisco Sobreira disse...

Moacy,
Como torcedor do Alecrim, gostaria que ele voltasse aos tempos em que cheguei a Natal, quando em 1968 foi campeão INVICTO. Mas a coisa tá braba e eu temo que o clube venha a se acabar. Quanto ao sonho de Paulocha (sonho antigo) seria menos difícil ele ganhar na loteria, SE ELE JOGASSE. Mas ele não joga, aí, não tem jeito, não é mesmo? Um abraço.

o refúgio disse...

Um dia ainda vou ler esse livro, "Bodas em Tipasa". Lembro da primeira vez que você falou sobre ele.
Quanto ao meu Santinha, Moacy, o bichinho, ou melhor, a cobrinha tá começando a subir: foi vice-campeão na primeira da rodada do campeonato pernambucano. Se continuar assim tá massa! Grata pela torcida!
E eu adoro pastel com caldo-de-cana...
Um beijo.

o refúgio disse...

Caldo-de-cana não tem mais hifen não, é? Ou já não tinha mesmo? Eita que eu já me atrapalho com esse português... e mais esse acordo ortográfico...
Beijos.

Mme. S. disse...

ai, esse post está, particularmente, um primor. essa Natal, essas poesias, a biblioteca. nossa, gostoso demais!

Anônimo disse...

É sempre bom relembrar!
Parabéns pelo post!
http://sex-appeal.zip.net

Cosmunicando disse...

essa biblioteca também é dos meus sonhos, Moacy.

a alusão ao Mallarmé feita pelo poema do Ronaldo ficou sensacional =)

e de tudo (que está ótimo como sempre) fico aninhada com a citação do Tehodor sobre o pensamento.

beijos

kahmei disse...

"um lance de doidos jamais abolirá os dados"
Gostei disso, muito bom!

Oi

um cômico trágico!
levar a sério
será um mito!
não, não


abraço

Fernanda Paixão disse...

buscando o que ainda não está gasto na Natal de 2009? rsrs

um grande abraço Moacy
e obrigada por tudo!

Adrianna Coelho disse...


"para quem pediu sempre tão pouco
o nada é positivamente um exagero"


então imagina o que é ter um nr. do balaio como este!

p.s. eu não conheço garapinhada e me parece que caldo de cana com pão doce é uma combinação muito melhor... rs

beijos, moa!